Que maravilha a apresentação que Paula Tesser fez no Centro da Terra nesta segunda-feira, revisitando suas raízes culturais – Fortaleza e Paris – com uma banda irrepreensível e convidadas de ouro. O espetáculo Alumia foi dirigido por seu compadre Dustan Gallas (vou te chamar, hein!), que assumiu o piano à frente do baixo de Zé Nigro e da bateria de Samuel Fraga e os três passaram o show inteiro esmerilhando entre si, mas sem tirar o foco da estrela da noite, completamente à vontade no palco. E depois de passar por canções francesas, inclusive a fatal “La Chanson de Prévert” de Serge Gainsbourg, e outras de seu primeiro disco, Paula voltou-se para o Ceará ao visitar Fagner (“Cebola Cortada”), Fausto Nilo (“Tudo Blue”) e Amelinha (“Depende”) e ainda chamou duas divas para dividir momentos específicos do show, como quando pôs Kika para enveredar por “Ingazeiras”, faixa de abertura do disco mitológico do Pessoal do Ceará, Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto na Viagem, que Téti, Ednardo e Rodger Rogério lançaram há 50 anos, ou quando convidou Soledad para dividir a pulsante “Galope Rasante”, de Zé Ramalho. A apresentação já tinha uma carga mágica considerável, que transcendeu quando, acompanhada apenas do trio que reuniu, passeou por “Beira Mar”, numa versão de chorar.
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Conheço Kika há mais de dez anos, quando ela me cutucou para apresentar seu primeiro disco, o delicioso Pra Viagem, quando eu ainda fazia a curadoria do Prata da Casa no Sesc Pompéia, em mil novecentos e guaraná de rolha, e desde então sigo em sua cola, acompanhando o que ela tem feito nesses últimos anos, seja em carreira solo, na dupla que criou com a eterna parceira Tika ou na homenagem que fez ao Passarim de Tom Jobim. No meio do ano ela me chamou pra conversar porque queria fazer um show celebrando os dez anos de aniversário daquele primeiro disco, mas no meio do papo percebi que ela queria voltar a tocar com a banda que montou naquela época e passear por músicas de seu repertório que puxavam para o acento do reggae, gênero que sempre a acompanhou. E assim ela me chamou para dirigir esse show que fazemos nessa última quinta-feira de setembro na mágica Sala Adoniran Barbosa do nosso querido Centro Cultural São Paulo. A banda é pesadíssima: Loco Sosa na bateria, Victor Rice no baixo, Guilherme Held na guitarra, Cuca Ferreira no sax e flauta e a própria Kika tocando guitarra e teclados, passando pelas músicas mais jamaicanas de seu repertório, com direito a versões maravilhosas no percurso – e é claro que a Tika também não ia ficar de fora e foi convidada para fazer uma participação especial. O CCSP fica na Rua Vergueiro 1000 (na estação Vergueiro do metrô), o show começa pontualmente às 19h e é de graça! Mais informações aqui.
O último Festa-Solo de agosto está aqui – e nesta segunda rola o primeiro de setembro lá no twitch.tv/trabalhosujo, a partir das às 21h.
Stranglers – “Golden Brown”
Washed Out – “Too Late”
Boogarins – “Água”
Cut Copy – “Like Breaking Glass”
Ladyhawke – “Paris is Burning”
Kaytranada + Kali Uchis – “10%”
Prince – “1999”
LCD Soundsystem – “One Touch”
Knife – “We Share Our Mother’s Health”
Tame Impala – “Nothing That Has Happened So Far Has Been Anything We Could Control”
Doors – “Horse Latitudes” / “Moonlight Drive”
Mutantes – “Caminhante Noturno”
Sérgio Sampaio – “Não Tenha Medo Não (Rua Moreira 64)”
Ana Frango Elétrico – “Promessas e Previsões”
Negro Leo – “Eu Lacrei”
Billie Eilish – “My Future”
Daft Punk – “Giorgio by Moroder”
Evinha – “Esperar pra Ver (Poolside & Fatnotronic Edit)”
Can – “Vitamin C”
Stereolab – “Metronomic Underground”
Kavinsky + Lovefoxxx – “Nightcall”
Mahmundi – “Nova TV”
Pelados – “O Fim”
Pedro Pastoriz – “Janela”
Tatá Aeroplano – “Deusa de 67”
Tika + Kika + João Leão + Igor Caracas – “Astronauta”
Bob Dylan – “Black Rider”
Jenny Lee – “I’m So Tired”
Michael Stipe + Big Red Machine – “No Time For Love Like Now”
Whitest Boy Alive – “Serious”
Michael Jackson – “Rock With You”
Madonna – “Lucky Star”
Marcos Valle – “Estelar”
Marina Lima – “Fullgás”
Lana Del Rey – “Blues Jeans (Penguin Prison Remix)”
Lipps Inc. – “Funkytown”
Lincoln Olivetti & Robson Jorge – “Eva”
Autoramas – “Garotos II”
Sharon Van Etten + Josh Homme – “(Whats So Funny Bout) Peace, Love and Understanding”
Previously, on Trabalho Sujo…
PJ Harvey – “Sheela-Na-Gig (Demo)”
Burt Bacharach + Daniel Tashian – “Bells of St. Augustine”
Crime Caqui – “Your Forehead”
Sharon Van Etten + Josh Homme – “(What’s So Funny Bout) Peace, Love and Understanding”
Michael Stipe + Big Red Machine – “No Time For Love Like Now”
Jarv Is – “Save the Whale”
Àiyé – “Pulmão”
Jair Naves – “Irrompe (é quase um milagre que você exista)”
Gang of Four – “Forever Starts Now”
Flaming Lips – “Flowers of Neptune 6”
Tika + Kika + João Leão + Igor Caracas – “Astronauta”
Zé Manoel – “História Antiga”
Cat Power – “Toop Toop (A Tribute to Zdar)”
Mano Mago – “Estrelas Mortas”
Angel Olsen – “New Love Cassette (Mark Ronson Remix)”
Chromeo – “6 Feet Away”
Poolside -“Around The Sun (Body Music Remix)”
Kassin – “Relax (DJ Memê Remix)”
Guilherme Held + Letieres Leite – “Sorongo”
Hatchie + The Pains of Being Pure at Heart – “Sometimes Always”
Elvis Costello – “No Flag”
Bob Mould – “American Crisis”
Black Pantera – “I Can’t Breathe”
Stooges – “T.V. Eye (Radio Edit)”
Quando Tika, Kika, João Leão e Igor Caracas se juntaram para homenagear o disco que Tom Jobim lançou em 1987, mal sabiam o quanto esta união iria durar. “Estamos há três anos tocando o projeto que criamos sobre o álbum Passarim e nesse projeto reduzimos os arranjos de um disco gravado com orquestrações e coro para nossa formação de quatro integrantes – quatro vozes, bateria, piano, guitarra e sintetizador”, Kika relembra o início de Passarim30. “Fizemos uma pesquisa de timbres, escolhemos as frases mais marcantes do disco, tiramos as linhas vocais com fidelidade e gostamos do resultado, da sonoridade que alcançamos”. Agora o quarteto começa a gravitar em direção a outro mestre da música brasileira, João Gilberto, ídolo dos quatro, que é revisitado através de sua versão para “O Astronauta”, de Carlos Pingarrilho e Marcos Vasconcellos, lançada em primeira mão aqui no Trabalho Sujo no dia do primeiro aniversário sem sua presença entre nós, já que João morreu no ano passado.
“João Gilberto é uma grande referência pra nós, todos temos uma ligação muito forte com a obra dele. Quem lembrou de ‘Astronauta’ foi a Tika, que estava tirando essa harmonia no violão”, Kika continua. “Pensamos que a letra tinha um subtexto de despedida, ficamos imaginando o João Gilberto como sujeito da canção – ele agora mora só no pensamento ou então no firmamento… – e então decidimos que seria um presente pra ele, que se despediu ano passado quase em silêncio, sem muitas homenagens, sem uma nota oficial sequer. Concordamos que ele foi o maior artista brasileiro de todos os tempos, quisemos fazer nossa interpretação para ficar mais perto dele, como uma maneira de dizer que temos saudade e que sabemos o valor de tudo que ele deixou pra nós. O clipe é assinado por Guilherme ‘Guime’ Destro, que recolheu imagens do recôncavo baiano, filmadas numa vila de pescadores chamada Santiago do Iguape em Cachoeira, na Bahia, imagens que remetem às origens da nossa cultura e diversidade artística, além de já ser uma homenagem ao nosso homenageado, que é também baiano.”
O resultado, produzido por Victor Rice, é o primeiro registro fonográfico do grupo, que só havia se apresentado ao vivo, e traz o imaginário musical de João numa bossa nova setentista que acena para os timbres elétricos do soul e o jazz, mas sem perder o minimalismo e as harmonias ousadas do mestre baiano. “A mágica do João Gilberto está na interação da voz dele com o violão, na escolha dos acordes e tempos”, Kika continua falando sobre a versão. “Procuramos preservar ao máximo a harmonia dele e certas jogadas de tempo que ele faz. A maior dificuldade é a mesma de revisitar qualquer música da bossa nova, recriar algo que muitos julgam intocável, por isso temos um cuidado com a escolha do repertório, em não trazer temas que já foram exaustivamente revisitados.”
O registro faz com que o grupo pense para além da homenagem que vinha fazendo. “Há um tempo estamos trabalhando essa ideia de expansão do Passarim30”, continua a cantora. “Nós vemos um potencial enorme em um grupo formado por instrumentistas que são também compositores, produtores, cantores e têm o seu trabalho solo. Praticamente desde o início do projeto nós sempre demos um jeito de incluir alguma música autoral em nossos shows. Procuramos compor em parceria também, o que pode gerar um trabalho completamente autoral no futuro, mas esse primeiro passeio do grupo fora da obra do Tom com João Gilberto é uma consequência natural dessa nossa busca.” Além de “Astronauta”, o grupo também gravou “Borzeguim”, do Tom Jobim, que será lançada em breve.
Quando Tika e Kika me procuraram para contar que estavam se transformando numa dupla, minha reação deve ter sido parecida com a da maioria das pessoas e cogitei que a aproximação vinha apenas da sonoridade dos nomes únicos e rimados das duas cantoras. Mas a aproximação das duas mostrava camadas que iam para além do jogo de palavras do novo nome artístico e como elas se complementavam: multiinstrumentistas, professoras de canto e de formação clássica, elas também cuidam dos aspectos executivos das próprias carreiras elas mesmas – Kika, melodista de raiz reggae, construiu sua reputação ao compor dois discos deliciosos (Pra Viagem e Navegante), enquanto Tika, de voz clara e timbre macio, reuniu diferentes convidados em seu disco de estreia, Unwritable. Propus uma temporada com as duas no Centro da Terra há quase um ano e a temporada chamada Colar agora gera seu primeiro fruto, quando elas lançam o single “Onda de Amor”, que quiseram aqui no Trabalho Sujo, que apresentam ao vivo nesta quinta-feira, no Sesc Avenida Paulista (mais informações aqui). O single foi produzido por Fabio Pinczowski e o show terá as participações dos músicos Lenis Rino, Igor Caracas e Pipo Pegoraro, todos convidados da temporada que gerou a dupla.
Tika e Kika já tinham carreiras estabelecidas quando começaram a conversar sobre a possibilidade de se transformarem numa dupla – e as duas conversaram comigo sobre isso no mesmo dia sem avisar uma pra outra que fariam isso. Incentivei o gesto na hora, principalmente conhecendo o alcance vocal e as personalidades complementares das duas, e a partir disso elas criaram a temporada Colar, que apresentam nas próximas terças-feiras de outubro no Centro da Terra. As duas são acompanhadas por Igor Caracas e recebem amigos durante toda a temporada (mais informações aqui). Conversei com as duas sobre esta nova fase de suas carreiras e como irão fundir duas carreiras em uma só.
Como vocês duas se conheceram?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tika-e-kika-como-voces-duas-se-conheceram
O que já fizeram juntas?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tika-e-kika-o-que-ja-fizeram-juntas
Como surgiu a ideia de se transformar em uma dupla?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tika-e-kika-como-surgiu-a-ideia-de-se-transformar-em-uma-dupla
Por que a temporada chama-se Colar?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tika-e-kika-por-que-a-temporada-chama-se-colar
Como vão funcionar os shows?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tika-e-kika-como-vao-funcionar-os-shows
Passada a temporada, vocês vão lançar algo em dupla?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tika-e-kika-passada-a-temporada-voces-vao-lancar-algo-em-dupla
Segura a programação do segundo semestre no Centro da Terra, que o Pedro antecipou no blog dele no Estadão (Rakta e Filipe Catto não conseguiram aparecer pra épica foto do Nino Andres)
Agosto:
Segundas (6, 13, 20 e 27) – Rakta
Terças (7, 14, 21 e 28) – Mawaca
Setembro:
Segundas (3, 10, 17 e 24) – Metá Metá
Terças (4, 11, 18 e 25) – Tássia Reis
Outubro:
Segunda e terça (1 e 2) – Filipe Catto
Segundas (8, 15, 22 e 29) – Universal Mauricio Orchestra
Terças (9, 16, 23 e 30) – Tika e Kika
Novembro:
Segundas (5, 12, 19 e 26) – Larissa Conforto
Terças (6, 13, 20 e 27) – Gui Amabis
Tá demais!
A cantora e compositora paulista Kika continua seu rumo devagar, sem pressa, passo a passo, e começa a viagem que planejava ao lançar seu segundo disco, Navegante, que pode ser ouvido em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. Produzido por um dos papas do dub no Brasil, o nova-iorquino paulistanizado Victor Rice, o disco reforça a veia reggae que ela já exibia em Pra Viagem, mas sem perder o prumo nem o foco, colocando em movimento o que parecia ser apenas uma intenção no disco anterior. Sua voz pequena parece inofensiva, mas deixe-se levar…
Ela me contou a história da gravação do disco, que interessante para entender sua sonoridade:
“Eu e o Victor começamos a pensar nesse disco em julho do ano passado. Ele tinha uns dias livres e eu fui ao Copan mostrar as ideias. Ele ouviu tudo e se empolgou, e a partir de então fomos marcando as sessões nas janelas que surgiam na agenda superlotada dele. Gravei as bases em casa, com voz e ukulele, voz e violão, tudo já com mapa, no click, no jeito pra encaixar os instrumentos. A primeira parada foi mandar essas bases pro incrível Loco Sosa, que gravou as baterias no home estúdio dele – Loco Sosa’s Noise Factory – e mandou em faixas super organizadas pra gente começar. A segunda parada foi no estúdio do Klaus Sena – Klaus Haus -, em que ele e o João Leão fizeram uma sessão de baixo e teclado para “De noite desconfia”, “Armour” e “Se você soubesse”.
Depois dessa primeira etapa quase tudo foi feito no Copan. Eu e o Victor rendemos muito juntos, ele vai puxando os timbres e tendo ideias, e eu fico do lado à disposição. Ficamos muitas horas em silêncio profundo enquanto ele trabalha, e quando chega o momento levantamos e gravamos nossas linhas de voz, baixo, guitarra, escaleta, pandeirola, etc. Gravamos poucos takes, na concentração e na confiança mútua. Nossa relação profissional e nossa amizade são fortalecidas por essas horas de silêncio, que são intercaladas pelas sessões de gravação tranquilas e divertidas.
As guitarras a gente gravou na casa do Gui Held, fomos eu e o Victor e trabalhamos lá, pra que ele ficasse bem à vontade e pudesse usar os pedais dele, e pudesse se inspirar com calma. Pra gravar os metais marcamos um dia no Estúdio Traquitana, o Victor escreveu os arranjos, o Cuca chamou o Gralha e fomos. Tudo delícia também, tranquilo, astral, do jeito que a gente queria.
Uma parte importante que acabou surgindo no disco foi a música corporal. Eu sou muito amiga da Helô Ribeiro, dos Barbatuques, acompanho a carreira deles há 20 anos e também sou adepta das auto-batucagens. Atualmente sou integrante de uma Orquestra Corporal que o Barba criou, em que fazemos várias pesquisas de improvisação, harmônicos da voz, e tal. Então resolvi fazer uma sessão livre com o Barba, a Ritamaria, Zuza Gonçalves, Barulho Max e a Helô Ribeiro. Ficamos no Traquitana improvisando e as palmas, chiados e estalos entraram em várias músicas. Nessa mesma sessão gravamos os coros da Helô e da Rita na faixa “Navegante”. Elas são grandes amigas e companheiras musicais, adorei ouvir uma da cada lado do fone cantando “imagina… imagina…”. A Helô gravou também as flautas de “Janela” nesse dia.
Outro personagem importante nessa história: o Alex Tea. Esse cara é um norte-americano que ama capoeira e música brasileira e fala português fluentemente. Ele tem uma carreira bem ligada ao reggae, com a banda Kiwi. Conheci o Alex há alguns anos quando participei de alguns shows com ele e a banda Massa Rara e depois cantei no disco da Orquestra Raiz, produzido pelo Klaus, com músicas do Alex interpretadas por uma galera, tipo o Saulo Duarte, a Luê, Daniel Groove, etc. O Alex gravou na casa dele em New Jersey, fez os coros e a guitarra de “Armour”.
A metáfora do “Navegante” é muito recorrente na língua portuguesa, até meio batida, mas não consegui fugir dela porque realmente consigo uma síntese que percorre o disco todo.
O disco inteiro fala de limites, alguns são transpostos, outros não. As margens do barco e da mente separam o extraordinário do cotidiano, as possibilidades parecem infinitas, mas nem sempre nos atiramos à dúvida, muitas vezes estamos apenas cumprindo a demanda diária, mesmo que tenhamos consciência de todo mistério.
No primeiro disco eu fiz uma viagem bem distendida, sempre de passagem, sem fugir da chuva, sem grandes tensões. A maior diferença é que nessa viagem agora eu assumi vários riscos. Procurei diferenciais musicais e poéticos que saíram um pouco dos limites, tentando desfrutar de outro tipo de prazer que ultrapasse o autoengano, mesmo sob o risco de se perder na noite do mar.
A mudança é uma realidade da vida, as pessoas que nunca se arriscam podem estar ainda mais expostas. Eu acredito mais na atitude de acompanhar o movimento, e assim ficar mais sujeito às ondas, e assim conseguir chegar mais perto do sublime. Meu maior medo é desviver.
Ela também comentou cada uma das faixas do disco, que deve virar um dez polegadas em vinil (como o primeiro) em breve…
“Navegante”
“A canção surgiu de uma ideia musical, eu queria compor uma música em compasso 5/4, sentei no piano e fiquei tentando. Eu queria fazer uma letra que fosse emocionante, por isso pensei muito em “Lets get Lost”, do Chet Baker, que é uma proposta de fuga para os braços um do outro. Essa imagem também me trouxe “Imagina” do Tom e do Chico, e então veio a noite e o mar. A sessão de cordas tem arranjo do Victor, foi gravada no sábado de carnaval no Traquitana, com Buda Nascimento no violino, Renato Rossi na viola e o Victor no cello. Eu mesma operei a gravação esse dia, pra ele tocar. Gravamos também um violão lindo do Lucas Bernoldi.”“Flor de Maracujá”
“Essa eu queria gravar desde 2012, quando incluí norepertório do show Pra Viagem. O Victor sugeriu uma versão reggae desde o início, mas quando fomos gravar ele resolveu radicalizar ainda mais. Pegou um riddim jamaicano e pediu pra eu cantar em cima, sem a harmonia do João Donato. Ele foi falar pessoalmente com o João Donato, que acabou curtindo e dançando.”“De noite desconfia”
“Uma composição de um grande amigo, Danilo Monteiro. Eu gosto tanto das composições do Danilo que já fiz um show só com músicas dele, em 2009. Criamos uma banda chamada Miudezas e Afins, com ele mesmo no violão de aço, Décio7, Pipo Pegoraro, Mauricio Fleury, Cris Scabello e Marcelo Dworecki. O Danilo é jornalista, nos conhecemos na ECA, ele escrevia na revista Bizz e agora é diretor de teatro, uma grande figura. Essa música era do nosso repertório, resolvi regravar porque achei que a letra tinha a ver com minha ideia de narrativa do disco, já falo sobre isso.”“Por aí”
“Essa é o xodó do Victor. Surgiu também de uma ideia musical. Eu estava estudando harmonia e queria fazer uma canção com dois centros tonais. A letra fala de uma sensação que eu tenho sempre, quando estou numa situação de rotina intransponível, quando penso nas infinitas possibilidades de sublimação que não estou desfrutando…”“Armour”
“Aqui o ponto de partida foi a letra, já escrevi um texto sobre ela, lá vai: ‘A vida é linda e mágica, o ser humano chegou a níveis adoráveis em poesia e precisão, e mesmo assim ainda gastamos tempo com bobagens. Um dia todos iremos embora e vai ter sido uma pena cada momento de sabedoria e amor perdido. Nos escondemos e nos defendemos e brigamos, e depois vamos embora para sempre.'”“Janela”
“Essa música surgiu de um groove que eu faço no violão que é uma bossa em 7/4. A letra é simples, ela imita as mulheres do Chico Buarque, a Januária, a Noiva da Cidade… Uma beleza distraída que passa a vida sem mudar de lugar, que suspira de amor pela sua rotina, que nunca faz diferente. Eu tinha a feito faz tempo, mas depois abri a parceria pro Fernando TRZ e pro Bruno Morais. Eles mudaram umas partes da melodia que eu não gostava muito, o TRZ criou esse riff de flauta, o Bruno Morais gravou o coro e deu um molejo bem legal na melodia.”“Pra ficar na sua vida”
“Eu e a Tika estamos fazendo várias músicas juntas, já fizemos duas pro disco dela também. Essa fala de um amor que já começa com hora pra acabar, como quando nos apaixonamos no meio de uma viagem. Ela é triste, mas a ideia é se manter livre mesmo no meio de uma paixão, e dar um jeito de transformar as despedidas. Acabamos nos tornando parceiras do Vinícius de Morais, porque citamos a “Serenata do Adeus” abrindo um cânone no final. É uma faixa bem diferente das outras. Gravamos em trio, na casa do Pipo Pegoraro. Fizemos tudo no mesmo dia, o Pipo gravou charango e umas guitarras bem lindas, a Tika cantou e assoviou – acho maravilhoso saber assoviar, e também adorei a melodia, que ela criou na hora. Toquei piano elétrico também, fizemos quase tudo ao vivo, muito astral.”“Se você soubesse”
“Ela parece uma baladinha prafrentex, mas na verdade eu estava pensando em petróleo, em capitalismo, em consumo e desejo. É uma minirreflexão sobre nosso modo de vida. Nós nascemos no meio de um processo e não dá tempo de reverter nada sozinho, vamos cumprindo as regras sociais e nos encantamos com prazeres, mas existe um lado obscuro, a exclusão, a seletividade…. Mas somos uma peça pequena, chegamos sem manual de instruções e a vida passa depressa.”
Tava com saudade?
Knife – “A Tooth For An Eye”
Atoms for Peace – “Before Your Very Eyes…”
Hurtmold – “SNP”
My Bloody Valentine – “A New You”
Melody’s Echo Chamber – “You Won’t Be Missing That Part Of Me”
Unknown Mortal Orchestra – “From the Sun”
Kurt Vile – “Wakin’ On a Pretty Day”
Curumin – “Paris, Vila Matilde”
Anthony Hamilton – “Freedom”
Kika – “Sai da Frente (Victor Rice Dub)”
Van She – “Jamaica (Mad Professor Dub)”
Little Boots – “Motorway”
Foals – “My Number (Hot Chip Remix)”
!!! – “Slyd”
Justin Timberlake – “Mirrors”
Phoenix – “Entertainment”