“Chained to the Rhythm”, o single novo da Katy Perry, é o hino à passividade da cultura pop atual que precisávamos ouvir, servida mastigada para reforçar o consumismo, a apatia e o conformismo. “Estamos malucos? Vivendo nossas vidas através de lentes, presos em nossas cercas brancas como ornamentos, confortáveis vivendo em uma bolha, confortáveis em não ver o problema. Você não se sente só aí em cima na utopia, onde nada será suficiente?”, ela canta sobre uma base dance ironicamente genérica, para reforçar, no refrão, “aumente o volume, é sua música favorita! Dance, dance, dance ao som da distorção. Vamos, aumenta, deixa repetir, se sacudindo como um gasto morto-vivo. É, achamos que estamos livres, beba, essa é por minha conta. Estamos todos acorrentados ao ritmo.”
Qual ritmo? O da pista de dança? O da política? O do Facebook? O do shopping center? O da televisão? O do trânsito? Abrindo a geladeira mesmo sem ter fome, como se só precisássemos saber que tudo continua exatamente do mesmo jeito. E tanto o lyric vídeo com seus hamsters vendo hamsters e suas comidinhas de brinquedo ao fato do single ter sido lançado junto com o momento “Katy Perry ficou loira” reforçam o protesto. Sem contar sua apresentação minimalista no Grammy deste ano, em que ela parte do conceito dos cercados individuais que comenta na letra para uma crítica contra o muro de Trump – e contra o muro político que é Trump.
https://www.youtube.com/watch?v=RY8vThQdYwk
Já é um dos grandes acontecimentos de 2017.
Vamos lá?
Wire – “Keep Exhaling”
Courtney Barnett – “Depreston”
Mac McCaughan – “Lost Again”
Spoon – “Rainy Taxi”
Violeta de Outono – “Declínio de Maio”
Blur – “Trimm Trabb”
Chromatics – “Lady Night Drive”
Strausz + Ledjane Motta + Maria Pia – “Não Deixe De Alimentar”
Katy Perry + Juicy J – “Dark Horse”
Christina Aguillera – “Genie in a Bottle”
Disclosure + Eliza Doolittle – “You & Me (Flume Remix)”
Tops – “Outside”
Haim – “If I Could Change Your Mind”
Guilherme Arantes – “O Melhor Vai Começar”
Toro Y Moi – “Empty Nesters”
Of Montreal – “Bassem Sabry”
Que tal Yoko Ono cantando a versão lenta de “Firework“?
Não parece, mas é piada: o vídeo original é esse.
E esse mashup que o Mr. Manson me fez ouvir? Ponha os fones de ouvido, porque a hora em que a Ana Carolina (WTF indeed) começa a falar, você não vai querer que outras pessoas te vejam ouvindo isso. Sério mesmo.
Tiago Spears – “California Picas“ (MP3)
E por falar em Katy Perry…
Mais uma retrospectiva-mashup do DJ Earmworm, com os 25 maiores hits nos EUA no ano que termina. Impressionante como o que é hit nos EUA cada vez importa menos pro resto do mundo…
A lista com todos os hits segue abaixo:
Stevie Wonder
Fiz um exercício de eliminar o Rock in Rio da minha vida e me senti como se não acompanhasse uma novela, um reality show, um campeonato de futebol – e olhando assim à distância é fácil perceber, pela escalação e natureza do evento, o quanto que o mainstream do pop caminha sozinho, na inércia, feito um zumbi – e carrega massas de zumbificados no embalo. Separei uma lista enorme de shows inteiros colocados no YouTube (essa moda nova), mas repare na natureza descartável e supérflua das bandas listadas, algumas jogando reputações inteiras na vala do “show pras multidões”. Separo o Stevie Wonder e Elton John como mestres desse mesmo mercado, idealizado entre os anos 70 e os 80 (não por acaso a época em que os dois artistas se consolidaram como hitmakers), mas repare como é possível viver completamente alheio a esse tipo de música. Isso porque eu não precisei listar Ivete Sangallo, Sepultura, Angra ou Capital Inicial, só pra ficar nuns exemplos mais óbvios.
Elton John
Segura! Esse Madeon não é fácil…