Os 50 melhores discos de 2023 segundo o júri de música popular da APCA

Estes são os 50 discos mais importantes lançados em 2023 segundo o júri da comissão de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e apresentadora do Mistura Cultural), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell) e Pedro Antunes (Tem um Gato na Minha Vitrola, Popload e Primavera Sound). A amplitude de gêneros, estilos musicais, faixas etárias e localidades destas coleções de canções é uma bela amostra de como a música brasileira conseguiu se reerguer após o período pandêmico com o lançamento de álbuns emblemáticos tanto na carreiras de seus autores quanto no impacto junto ao público. Além dos discos contemporâneos, fizemos menções honrosas para dois álbuns maravilhosos que pertencem a outras décadas, mas que só conseguiram ver a luz do dia neste ano passado, um de João Gilberto e outro dos Tincoãs. Na semana que vem divulgaremos os indicados nas categorias Artista do Ano, Show e Artista Revelação, para, no final de janeiro, finalmente escolhermos os vencedores de cada categoria. Veja os 50 (e dois) discos escolhidos abaixo:  

Tudo Tanto #147: Juliano Gauche

O mineiro tornado capixaba sentiu o impacto do mar. Juliano Gauche refugiou-se no litoral do Espírito Santo logo no início da pandemia, onde passou boa parte da quarentena e perdeu pessoas queridas – entre elas, seu próprio pai -, quando abriu seu inconsciente para conectar-se com o que estava acontecendo. Compôs uma série de canções neste período e separou algumas delas para exorcizar estas sensações no disco Tenho Acordado Dentro dos Sonhos, que acabou de lançar. Conversei com ele sobre este processo e como ele tem se envolvido cada vez mais com espiritismo e sonhos lúcidos e como isso dialoga com sua criatividade e… com o mar.

Assista aqui.  

Inconsciente livre


(Foto: Pedro Clash/Divulgação)

Lembro quando Juliano Gauche me procurou para testar no palco do Centro da Terra o disco que havia acabado de gravar em São Paulo. Ele estava repensando os próximos passos da carreira no início de 2020, quando lançou o EP Bombyx Mori, um mês antes da chegada da pandemia que paralisou nossas vidas, e havia acabado de mudar-se para a praia de Manguinhos, no Espírito Santo, depois de um tempo morando no interior daquele estado. Como aconteceu com muitos, o período de isolamento social o colocou em contato mais intenso com seu inconsciente e ele passou a dar atenção ao que acontecia em seus sonhos. Inspirado em questões metafísicas levantadas por estas viagens, Gauche reduziu a sonoridade de suas canções a arranjos mínimos, conduzidos e produzidos pelo comparsa Klaus Sena, que coproduziu seu novo álbum, além de tocar pianos, teclados, xilofones e sintetizadores, deixando sua voz mostrar as paisagens sonoras que recolhia após dormir. Tenho Acordado Dentro dos Sonhos, este novo disco, foi apresentado ao vivo em novembro do ano passado e além de Sena, Gauche também contou com a guitarra e o violão de Kaneo Ramos, que também participa do disco. De fora daquele show, apenas o vocalista da banda mineira Moons, André Travassos, com quem divide os vocais da única música em inglês do disco, “Ondas Que Acordam”. “Das vinte músicas que escrevi nesse período de isolamento, escolhi as sete que foram mais direto nas feridas, as que para mim traduziram melhor as mudanças ocorridas, as que abordaram tudo pela ótica espiritual”, explica Juliano, que lança o novo trabalho nesta sexta-feira, mas antecipa o disco na íntegra aqui pro Trabalho Sujo, não sem antes apontar para o próximo estágio: “As mais violentas e eufóricas ficaram para o próximo.”

Ouça abaixo:  

Juliano Gauche: Tenho Acordado Dentro dos Sonhos

Quem sobe no palco do Centro da Terra nesta quarta-feira – e não na terça, porque foi feriado – é o grande Juliano Gauche, que apresenta pela primeira vez ao vivo as canções que estarão em seu próximo disco, que também batiza o espetáculo desta noite. Acompanhando-o neste Tenho Acordado Dentro dos Sonhos, que o reaproxima das guitarras elétricas, estão o tecladista Klaus Sena e o baterista Victor Bluhm. O espetáculo começa pontualmente às 20h e ainda tem ingressos disponíveis neste link.

Centro da Terra: Novembro de 2022

Chegando nos finalmentes do ano, eis a programação de música de novembro do Centro da Terra, último mês do ano em que usamos todas as segundas e terças do mês para fazer espetáculos únicos no já clássico teatro do Sumaré. Quem domina as segundas-feiras do mês é Ava Rocha, com sua temporada Femme Frame, em que desconstrói seu cancioneiro ao lado de convidados especialíssimos como Victoria dos Santos, Chicão, Negro Leo, entre outros. São quatro segundas-feiras sob os encantos da maga, que ainda realizará um workshop durante esta programação – semana que vem ela dá mais detalhes desta jornada. Na primeira terça-feira do mês quem pousa pela primeira vez no Centro da Terra é o Violeta de Outorno, clássico grupo psicodélico brasileiro, que visita canções compostas nos anos 90 com sua formação clássica: Fabio Golfetti, Angelo Pastorello e Claudio Souza. Na segunda terça, dia 8, é a vez da cantora e compositora Helô Ribeiro dissecar os descaminhos de seu primeiro disco solo, A Paisagem Zero, em que visita a obra de João Cabral de Melo Neto, e vai além. A terceira terça do mês é feriado, por isso jogamos a noite de música para a quarta-feira, dia 16, quando o cantor e compositor capixaba Juliano Gauche começa a mostrar o que será seu próximo disco, Tenho Acordado Dentro dos Sonhos, assumindo de vez a guitarra como instrumento condutor, em vez do violão. Na terça dia 22 é a vez do duo Marques Rodrigues, formado pelo trumpetista Amílcar Rodrigues e pelo baterista Guilherme Marques, de explorar possibilidades sonoras desta formação a partir do disco que lançaram no início deste ano, (I)Miscível. E encerrando o mês, recebemos o vocalista e fundador da banda baiana Maglore, que lançou o ótimo V, Teago Oliveira, que faz seu primeiro show solo depois da pandemia no dia 29. Os ingressos já estão à venda neste link. Curtiu?

Vida Fodona #645: Madrugada Adentro

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Aquela sensação de dever cumprido…

David Bowie – “Five Years”
Talking Heads – “Air”
Tom Zé – “A briga do Edifício Itália com o Hilton Hotel”
George Harrison – “Behind That Locked Door (Demo)”
Saulo Duarte – “Flor do Sonho”
Juliano Gauche – “Pedaço De Mim”
Zuttons – “Valerie”
Diagonais – “Novos Planos para o Verão”
MGMT – “Electric Feel (Aeroplane Remix)”
Estelle – “Superstition”
Marcos Valle – “Freio Aerodinâmico”
Bears – “Please Don’t”
Kamau – “Sabadão (Os Embalos de…)”
Beyoncé – “End of Time”
Legião Urbana – “Plantas Em Baixo Do Aquário”
Sambanzo – “Capadócia”
Xx – “VCR”
Gus Gus – “Polyesterday”

Juliano Gauche em transição

Foto: Ellen Flegler

Foto: Ellen Flegler

“Ao meu redor só se fala em fase de transição”, desabafa o cantor e compositor capixaba Juliano Gauche, quando lhe pergunto sobre a inspiração para seu novo trabalho, o EP Bombyx Mori, que ele antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo e que chega nessa sexta às plataformas digitais. “São tantas as mudanças necessárias que fica até difícil enumerar. acho que tudo que eu tenho lido, ouvido ou assistido, gira em torno disso. O Água Viva da Clarice Lispector foi uma rajada de inspiração; a literatura espírita, principalmente os livros do Chico Xavier, de onde tirei a expressão que dá título ao EP, foi outra rajada; a leveza de cantoras como a Alice Phoebe Lou, a YMA, a Angel Olsen, também. a inspiração, de uma forma geral, veio das necessidades de mudança mesmo”

Bombyx Mori é o nome científico do bicho da seda, escolhido a partir de uma aparição como metáfora na literatura espírita, que havia embarcado. “Mas não foi só o que ele significa que me prendeu. Foi como apareceu no momento da leitura, a grafia da palavra, bomb, byx, y x, muito moderna, minha cabeça pop também olha essas coisas. Eu ainda nem tinha escrito as músicas, mas quando olhei essas palavras eu disse, vai ser isso.”

Bombyx Mori começa com um trovão que é antônimo de toda sua leveza musical. Gravado ao lado dos compadres Kaneo Ramos (violão), Klaus Sena (synth) e Marcos Vitoriano (piano), ele soa acústico e delicado, radicalmente oposto do elétrico e pop (quase rock, como o trovão do início) Afastamento, o ótimo disco que lançou, em 2018. Mas sua matriz composicional segue firme o caminho que já vinha trilhando, afastando-se mais esteticamente do que em termos essenciais. Ele escolheu lançar as três canções juntas pois fazem parte de um mesmo arco artístico: “As três canções estão ali pra contar a mesma história, é bom que sejam ouvidas juntas, naquela ordem, elas pertencem ao mesmo corpo”, explica.

Mas a mudança também faz parte da essência deste trabalho. “Ela só me faz crescer, é assim que eu sinto. Num momento em que o conservadorismo quer voltar com tudo, o simples fato de abraçar as mudanças passa a ser instinto de sobrevivência. Me parece o único movimento possível. Do jeito que as coisas estão é que não dá mais. E é claro que vale repetir que para as coisas mudarem nós temos que mudar. Gradativamente eu fui parando de comer carne, cortando o álcool, dormindo mais cedo, tentando me manter o mais forte possível. Politicamente, me sinto numa guerra desde 2013. E desde lá venho trabalhando nisso”, disseca.

A mudança também foi geográfica, quando mudou-se de volta para o Espírito Santo depois de uma temporada em São Paulo. “Sair um pouco de São Paulo faz parte de todas essas transformações que estou falando”, explica. “A repetição é um inferno, estou tentando me movimentar o máximo que posso, internamente e geograficamente. Mas não consigo me ver desconectado de São Paulo mais não. Mesmo não estando ai, toda a vibração da cidade ainda está em mim. E ainda tenho feito tudo ai, como a gravação deste EP, por exemplo. Corro, corro, mas na hora H eu só penso em Sampa.”

O disco também não está só. “O EP é só mais um movimento. Tem dois livrinhos que escrevi enquanto compunha as músicas que também gostaria de lançar este ano”, antecipa.

Vida Fodona #587: Clima de fim do mundo

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O tempo fechou mas dá pra voltar ao normal.

Rakta – “Fim do Mundo”
Alessandra Leão + Kiko Dinucci – “Tatuzinho”
Midnight Juggernauts – “Into the Galaxy”
Isaac Hayes – “Medley: Ike’s Rap II / Help Me Love”
Pavement – “The Hexx”
Richard O’Brien – “Science Fiction, Double Feature”
Tim Maia – “Me Enganei”
Fellini – “Valsa de La Revolución”
Angel Olsen – “Special”
Los Hermanos – “Corre Corre”
Boogarins – “Sombra ou Dúvida”
Gabriel Muzak – “Estética Terceiro Mundo”
Juliano Gauche – “Pedaço de Mim”

Juliano Gauche: Entre Árvores

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Imensa satisfação em receber o capixaba Juliano Gauche em mais uma transformação musical, desta vez no Centro da Terra. Nesta terça-feira, dia 19 de fevereiro (mais informações aqui), o cantor e compositor explora um lado mais sensível e introspectivo de suas canções no espetáculo Entre Árvores, em que toca ao lado dos músicos Kaneo Ramos, nos violões, e Klaus Sena, nos pianos, em busca de uma sonoridade mais vazia: “A intenção é chegar nesse lugar mais atemporal, da voz e do violão”, explica Juliano, “tem um lugar em que o tempo não pega muito, menos efeitos, menos ritmos – tudo isso tem um tempo, uma época, que vai junto com esses arranjos. Quando fica só a voz e o violão fica mais atemporal e talvez eu esteja buscando isso mesmo, se existe algum traço de atemporalidade nas minhas músicas.” Abaixo, ele explica melhor o que esperar desta apresentação.

Centro da Terra: Fevereiro de 2019

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Começamos os trabalhos da curadoria de música do Centro da Terra em 2019 já com algumas mudanças. A sessão de segunda-feira, Segundamente, segue no formato já estabelecido, mas a terça-feira se desmembra para além das temporadas mensais também receber shows únicos ou curtas temporadas. E é com o maior prazer que anuncio as atrações de fevereiro, o primeiro mês de atividades do ano do teatro no Sumaré, que já trazem as mudanças na prática, com shows de Rodrigo Campos, Fernando Catatau, Juliano Gauche e Josyara.

O sambista paulistano Rodrigo Campos é o dono das segundas-feiras na temporada Qualidades Primordiais, em que recebe convidados toda segunda para mostrar diferentes facetas da sua musicalidade. A cada dia um elemento básico é representado pelo encontro entre temperaturas e umidades. Na primeira segunda, dia 4, é o dia da terra: no show Frio e Seco ele recebe os percussionistas Fumaça, Raphael Moreira e Victória dos Santos. Na segunda segunda, dia do fogo, dia 11, Quente e Seco, Rodrigo convida a instrumentista Maria Beraldo. O convidado do dia 18, dia da água, Frio e Úmido, é Kiko Dinucci e Rodrigo encerra a temporada no dia 26, com a noite Quente e Úmido, dia do ar, com as presenças de Maurício Badê e Thiago França (mais informações aqui).

As terças-feiras começam com o guitarrista do Cidadão Instigado, o cearense Fernando Catatau, mostrando as composições de seu trabalho solo na minitemporada Luz do Fim de Tarde em duas apresentações, dias 5 e 12. Acompanhado apenas de programações eletrônicas, violão e guitarra, ele abre para o público composições inéditas que ainda estão sendo desenvolvidas, rascunhos abertos para testar o formato e a natureza das músicas (mais informações aqui). Depois é a vez do capixaba Juliano Gauche apresentar o espetáculo Entre Árvores, na terça-feira dia 19, em que experimenta o repertório de seus dois discos no formato semi-acústico e minimalista, além de fazer versões para outros autores e trazer músicas inéditas, acompanhado de Kaneo Ramos, nos violões, e de Klaus Sena, no piano (mais informações aqui). O mês de fevereiro termina dia 26, uma terça-feira, com o espetáculo Abraça, em que a cantora baiana JosYara mostra seu repertório ao lado da cantora Luê e da atriz Bárbara Santos, que ajudam a desconstruir o disco mais recente da cantora, o belo Mansa Fúria (mais informações aqui). E é só o começo das novidades do ano!