Reencontro a querida Juliana de Faria, que faz um balanço de seu trabalho à frente do Think Olga e Think Eva, dois projetos que ajudaram a disseminar a causa feminista no Brasil e a começar a fazer ruir o machismo estrutural que ancora nossa sociedade. Mas também falamos sobre como a quarentena levantou questionamentos sobre vida, trabalho, relacionamentos e arte, além de ela abrir-se sobre uma tragédia que mudou sua vida no ano passado.
Acompanho o trabalho da Juliana de Faria mesmo antes de ela lançar o site Think Olga, que faz parte de um novo movimento feminista no Brasil que aos poucos consegue voz usando a internet como plataforma. Foi através do Think Olga que a Ju fez a pesquisa Chega de Fiu Fiu, sobre a tênue linha entre a cantada e o assédio sexual, mostrando como esse tipo de abordagem é mais frequente do que imaginávamos e transformando a pesquisa em campanha. Há menos de um mês ela lançou um convite via crowdfunding para transformar o resultado da campanha em um documentário e em menos de 24 horas conseguiu bater a primeira meta – mas ainda há outras metas pela frente.
Conversei com a Ju por email sobre o Think Olga, o Chega de Fiu Fiu e sobre jornalismo.
Queria que você começasse falando de como começou o Think Olga e como vocês chegaram à conclusão que deu origem à pesquisa do Chega de Fiu Fiu.
Wow! Essa é uma longa história. Hehe. Vou tentar resumir. Sou jornalista e me especializei em jornalismo feminino. Em determinado ponto da minha carreira, senti que minhas ideias de pautas já não tinham mais espaço nos veículos femininos tradicionais. Decidi então criar a Olga não apenas para publicar as matérias que tinha vontade de escrever, mas também queria criar um espaço para discutir o espaço da mulher na sociedade, o feminismo e, principalmente, a forma como a representatividade na mídia. Bem, e como falei minhas propostas de pautas eram rejeitadas por não conversar com a linha editorial das revistas. E uma delas era sobre assédio sexual. Eu havia até mesmo sugerido criar, gratuitamente, a Chega de Fiu Fiu para uma revista. Como foi rejeitada, achei que valia a pena tocar por conta própria mesmo.
A internet foi crucial para a divulgação e realização da pesquisa, mas vocês esperavam a resposta do jeito que ela aconteceu?
Ao longo de toda a jornada da Olga e da Chega de Fiu Fiu, fui constantemente surpreendida por reações cada vez maiores e mais engajadas das participantes. No entanto, quando você para para pensar, não é tão surpreendente assim. Estamos atacando um problema que atinge muitas mulheres, mas que sempre foi tolerado. E conectar em torno de um mesmo problema, de uma mesma questão é basicamente a essência da internet.
Queria que você falasse um pouco também de como os temas começam a ser postos de forma extrema quando discutidos textualmente na internet. Presumo que vocês tiveram que lidar com radicais de todos os tipos. Como é lidar com isso?
Pessoalmente, sempre é muito difícil. Você tenta fazer um trabalho que pode de alguma forma mudar a situação da violência contra as mulheres e precisa enfrentar pessoas, algumas delas conceituadas, que distorcem sua mensagem e muitas vezes te ofendem. Mas é claro que você não vai conseguir tirar o privilégio de milênios de alguns grupos sem incomodar algumas pessoas. O interessante é ver como homens supostamente inteligentes e liberais se transformam rapidamente em conservadores ao perceber que há sim gente batalhando para equiparar os privilégios de uma minoria com o da maioria em que estão inseridos.
Por que fazer um documentário?
Foi o desenvolvimento natural da campanha. Acreditamos que o documentário pode ser uma chance de nos aprofundarmos no tema, assim como usa-lo, quando pronto, como ferramenta de informação acessível e gratuita para a população.
E depois do documentário feito, como vai ser sua divulgação?
Queremos que o documentário seja uma ferramenta acessível a todos. Nossa ideia é disponibilizá-lo gratuitamente na internet, de forma a ser exibido por escolas, universidades, ONGs e instituições públicas. Queremos também que ele seja utilizado em formações de advocacy. Além disso, já há canais de TV interessados também em exibi-lo. 🙂
Vocês já ultrapassaram a cota sugerida. Quanto tempo demorou para isso ser atingido entre a divulgação e o cumprimento da meta?
Em 19 horas, batemos nossa meta. Nosso financiamento coletivo para o documentário foi o 4º projeto que mais arrecadou nas primeiras 24 horas de existência em toda a história do Catarse – e o 1º no ranking da categoria Cinema & Vídeo. É uma conquista enorme, pois se trata de um projeto feminista, que fala sobre violência contra a mulher — tópicos que normalmente geram polêmica, não geram o interesse que merecem ou causam uma resposta extremamente violenta por pessoas mais, digamos, conservadoras. Além disso, oferecemos pouquíssimas recompensas materiais. Ou seja, as pessoas estão apoiando, pois sabem que é um assunto que deve ser debatido e solucionado com urgência. Ficamos muito felizes!
Quais os próximos projetos do Think Olga?
Nosso próximo passo é começar a trabalhar com empresas, ONGs e instituições governamentais para aumentar a representatividade das mulheres. Sentimos que em todos os meios de comunicação a mulher costuma ser retratada de uma maneira tradicional que não condiz mais com a realidade.
Isso é jornalismo? Como você vê o jornalismo que está sendo produzido no Brasil hoje, dentro e fora das redações?
A Olga lida com colaboração, comunidades online, conteúdo em várias midias e com um propósito muito honesto e bem definido. Sem dúvida, pro público que a segue, é uma publicação relevante e confiável. Não sei se é o futuro do jornalismo, mas acredito que podemos tirar boas lições disso que estamos fazendo 🙂
Deu no JC:
A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, curtiu o show no camarote da prefeitura. “Tenho família em Pernambuco e participo do Carnaval do Estado há 25 anos. Adoro todas as manifestações culturais, o maracatu, o caboclinho e principalmente o Carnaval de rua, que já tive a oportunidade de participar várias vezes”, disse a ministra, que também vai prestigiar da abertura do Carnaval do Recife, neste sexta-feira (04). Além do Recife, Ana de Hollanda tem “agenda de Momo” em Salvador e no Rio de Janeiro.
Um produtor cultural, que preferiu não se identificar, aproveitou a presença da ministra para protestar. “Ministra deixe de ser autista. Ecad rouba o artista. #foraAna”, trazia o cartaz exibido pelo manifestante. “O Governo parece não se interessar em mudar as regras do direito autoral. O Ecad prejudica as pessoas que fazem a cultura, pois a verba é distribuída sem nenhuma fiscalização e, infelizmente, sem reforma, isso deve continuar”.
Deal with it.
A Ju que botou esse cara no Feice dela.