Fui chamado pela Casa do Mancha para fechar a programação da Casinha dentro desta força-tarefa de DJs, produtores, festas e casas noturnas chamada Clube em Casa. Parte da programação da Virada Cultural deste ano, o evento reúne casas de diferentes portes, como o Tokyo, o Mundo Pensante, o Boteco Prato do Dia, a Casa da Luz, o Caracol, a Aparelha Luzia e a Fatiado Discos, que convidam nomes tão diferentes quanto Discopédia, KL Jay, Akin, ODD, Pilantragi, Jorge Du Peixe, Mamba Negra, Millos Kaiser, Lys Ventura, Caverna, Desculpa Qualquer Coisa, Batekoo, Mari G, Gop Tun, entre vários outros nomes para tocar a festa nestes sábado e domingo . Quem divide as picapes comigo é a Joyce Guillarducci, do blog Cansei do Mainstream, mas não vamos tocar juntos não, afinal, apesar de ser na Casa do Mancha, a frequência é reduzida à técnica da transmissão por motivos sanitários. Os trabalhos da Casinha começam às 18h, com o próprio Mancha, que chamou a Liu para discotecar com ele, seguido da festa Caverna, do Alex Correa, que convida a Juli Baldi, a partir das 20h, e a parte Trabalho Sujo da noite começa com a Joyce, às 22h, e eu entro logo em seguida para encerrar. Você encontra todas as informações sobre todo o evento, que será transmitido pela Twitch.tv da produtora Flerte, aqui.
É uma situação inédita que acarreta em um prejuízo sem precedentes: com a epidemia do coronavírus cada vez mais intensa em escala global, o mercado de música ao vivo sofrerá um golpe pesadíssimo que obriga todos seus players a se reinventar – ou quebrar. Escrevi sobre como a pandemia pode mudar completamente a cara do negócio da música hoje em uma matéria para a revista da UBC.
O mercado da música está doente
O impacto da pandemia no mercado de shows, eventos e festivais deve alcançar escala inédita, com prejuízos na casa dos bilhões de dólares só no segmento ao vivo, dizem especialistas
Como tudo relacionado à epidemia do Covid-19, a doença causada pelo coronavírus originário da China, a força de seu impacto total no mercado da música ainda é uma incógnita, mas o prognóstico não é nada bom. Sem expectativa sobre uma possível volta à normalidade — nem mesmo sobre quando alcançaremos o pico das transmissões —, os principais players da música e da cultura em geral cortam na própria carne para conter o alastramento da doença.
A princípio, os cancelamentos começaram na Ásia, pela proximidade com o epicentro da pandemia, e os primeiros “espirros” no resto do mundo foram a conta-gotas: anulações de shows e turnês internacionais que passavam por China e adjacências. Depois foi a vez de Europa, começando pela Itália. Agora, o quadro é grave no mundo todo.
Megafestivais como o SXSW, nos EUA, que aconteceria entre esta sexta-feira (13) e o próximo dia 22, já não serão realizados. O Coachella, que seria em abril, foi adiado para outubro. O Lollapalooza foi cancelado no Chile e na Argentina; no Brasil, foi adiado para dezembro. O Tomorrowland da França foi anulado. A convenção Women’s Music Event, que seria agora no fim de março em São Paulo, foi adiada para 5 a 7 de junho.
Uma cascata de grandes turnês deixará de ocorrer: Bob Dylan, Madonna, Santana, Pearl Jam, Disclosure, Miley Cyrus, Bikini Kill, The Who, Pixies, Cher, entre muitos outros. O DJ brasileiro Alok cancelou duas turnês, na China e nos EUA.
A banda-febre sul-coreana BTS apelou a outro estratagema, assim como o cantor uruguaio Jorge Drexler: transformar turnês em shows ao vivo sem plateia e transmitidos por streaming via redes sociais.
O impacto foi além da música e mexe inevitavelmente com todos os negócios relacionados ao ajuntamento de pessoas. Casas noturnas, museus e campeonatos esportivos inteiros — a começar pela NBA — também suspenderam ou adiaram suas programações, filmes tiveram seus lançamentos adiados, a maior feira de videogames do mundo, a E3, em Los Angeles (EUA), não terá uma edição em 2020, o mítico festival de cinema francês em Cannes e os Jogos Olímpicos de Tóquio ainda não tiveram (oficialmente) o mesmo destino, mas fontes já preveem que não resistirão ao vírus — e ao medo.
Governos de todo o mundo, principalmente na Europa, começaram a restringir aglomerações.
Duas das maiores empresas de shows do mundo, a Live Nation e a AEG, anunciaram também nesta sexta o adiamento sine die de 100% dos seus eventos. Como lembrou o jornalista e produtor cultural Léo Feijó numa coluna publicada no portal Mundo Música, a Live Nation, que tem participação majoritária no Rock in Rio, perdeu mais de US$ 1 bilhão em valor de mercado nos últimos dois dias
“Só no mercado de música ao vivo já se fala em um prejuízo de mais de US$ 5 bilhões”, afirma Juli Baldi, diretora criativa do Bananas Music Branding e do Mapa dos Festivais, citando um número que vem sendo repetido por diversas fontes do mercado, mas ciente de que a cifra deve crescer. “Pelas previsões, se, nas próximas semanas, o vírus se espalhar ainda mais, acredito que outros eventos de grande porte irão aderir aos adiamentos e cancelamentos. Os impactos econômicos são incalculáveis.”
Dentro da música, ela ressalta, o setor de shows e apresentações ao vivo é mesmo o mais obviamente afetado: “Tem toda uma operação por trás, de fornecedores de mão de obra, instrumentos e equipamentos, tecnologia, comunicação… Se não tem show, a casa não abre, o frequentador não consome cerveja, o técnico de som não vai, o equipamento não é alugado, a assessoria não tem o que divulgar. Se não tem festival, não tem venda de passagens, não tem hospedagem em hotel. Vai ser um grande efeito em cascata.”
Ninguém tem uma ideia clara dos custos relacionados ao pagamento de seguros pelos cancelamentos, além da eventual devolução (ou não) de cachês e de ingressos comprados. Os contratos trazem cláusulas variadas relacionadas a isso, e muitos têm recorrido aos conceitos de “catástrofe natural” e “ato de Deus” (comum na legislação de países anglo-saxões) para evitar as polpudas indenizações. As próximas semanas ainda verão uma definição sobre isso no mercado internacional.
Ricardo Rodrigues, da agência Let’s Gig, que cuida das carreiras de artistas como Liniker e Luedji Luna, iria para o SXSW e, depois, para a feira portuguesa MIL, também anulada. Toda a programação do segundo semestre, há bastante tempo planejada, ele diz, agora está em aberto. “É bem preocupante o cenário, coloca empresas em risco. As que não tiverem estruturas para aguentar um ou dois meses mais fracos, com a diminuição grande do volume de faturamento, vão sentir um impacto muito grande. Especialmente em São Paulo, que é a cidade com o principal foco de casos (de coronavírus).”
Ele prevê uma disputa por agendas muito grande no segundo semestre, quando – e se – o pior da pandemia passar. É como se o jogo começasse do zero. “São tempos inéditos para o mercado da música, e é curioso viver isso. É importante que todos os agentes do mercado dialoguem bastante para não termos uma guerra por sobrevivência. Teremos que manter a calma, respirar fundo, ser fortes.”
Para Juli, mesmo com a epidemia contida, haverá uma grave retração na contratação de shows e eventos. “Naturalmente vão surgir outros meios de monetização para artistas e indústria em geral durante os próximos meses de crise. As pessoas não vão parar de consumir música, e acredito que os setores de tecnologia e streaming lucrarão mais neste período. Ainda é preciso levantar dados do tamanho do impacto da epidemia na indústria da música. E que possamos a começar desde já a planejar a retomada.”
Os fluidos frios e as emoções cinzentas vão se dissipando com a distância do inverno e o verão começa a se anunciar a partir deste fim de semana, quando voltamos uma hora no relógio para que o sol se ponha mais tarde. Está começando a época mais feliz e quente do ano, quando o experimento mensal realizado no centro da maior metrópole da América do Sul passa a sintonizar vibrações naturalmente efusivas, tornando mais fácil e envolvente as condições de temperatura e pressão adequadas para elevar o bom astral. Com a formação completa, depois de uma viagem encantadora do estudioso Luiz Pattoli pelo hemisfério norte, o centro de experiências Noites Trabalho Sujo volta a inflamar cérebros e quadris com sua mistura corrosiva de memórias resgatadas do passado e registros contemporâneos de culturas distintas, superpondo sensações e causando justaposições de finas camadas de deleite e prazer no auditório azul. Do outro lado do andar das delícias, a dupla de exploradores sônicos Carlos Costa e Juli Baldi entregam-se, primeiro sozinhos e depois lado a lado, às múltiplas interpretações de sentimentos musicais apresentados sequencialmente, sempre hipnotizando o público voluntário rumo a zonas alheias de conforto. Os convidados só poderão adentrar no recinto após o envio de seus nomes para o correio eletrônico noitestrabalhosujo@gmail.com até às 20h deste sábado.
Noites Trabalho Sujo @ Trackers
Sabado, 14 de outubro de 2017
A partir das 23h45
No som: Alexandre Matias, Danilo Cabral e Luiz Pattoli (Noites Trabalho Sujo), Carlos Costa e Juli Baldi.
Trackers: R. Dom José de Barros, 337, Centro, São Paulo
Entrada: R$ 40, só com nome na lista pelo email noitestrabalhosujo@gmail.com. Aniversariantes da semana não pagam para entrar (avise quando enviar o nome no email, por favor). Os cem primeiros a chegar pagam R$ 25.