Terça passada aconteceu mais uma premiação da Associação Paulista dos Críticos de Arte (desta vez transmitida online, dá pra conferir aqui) e esta semana a comissão de música popular da APCA, da qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (TV Cultura), Bruno Capelas (Programa de Indie), Camilo Rocha (Bate Estaca), Cleber Facchi (Música Instantânea), Felipe Machado (Istoé), Guilherme Werneck (Meio e Ladrilho Hidráulico), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell), Pedro Antunes (Estadão e Tem um Gato na Minha Vitrola) e Pérola Mathias (Poro Aberto), escolheu os 25 melhores discos do primeiro semestre deste ano. Uma boa e ampla seleção que não contou com alguns dos meus discos favoritos do ano (afinal, é uma democracia, todos têm voto), mas acaba sendo uma boa amostra do que foi lançado neste início de 2024. E pra você, qual ficou faltando?
Na última noite da temporada Aprendendo a Rezar, Luiza Brina reuniu duas sacerdotisas da canção como ela para transformar um conjunto de orações em uma missa à música. Ao lado de Iara Rennó e Josyara, ela passou por músicas de seu terceiro álbum Prece, que será lançado neste mês de abril, e por rogos escritos pelas duas convidadas, harmonizando cordas e vocais de três mulheres fortes de nossa música de forma sublime. A noite começou e terminou com a mesma canção, a prece “Oração 18”, que ela apresentou na terceira noite da temporada no Centro da Terra, e que será lançada ainda esta semana. Um desfecho divino.
Em mais uma matéria que fiz para a revista da UBC, conversei com Jadsa, Josyara e Anelis Assumpção sobre uma mudança no mercado de música e no processo criativo da música brasileira deste início de século que é a ascensão de mulheres ao cargo de produtora musical, território dominado pelas três a partir de diferentes experiências pessoais. Leia abaixo:
Este fim de semana viu a segunda edição do espetáculo Conjunto Nordeste, idealizado pelo produtor Duda Vieira e pelo maestro Regis Damasceno, no Sesc Pinheiros. Se a primeira, realizada em junho do ano passado, priorizou novos nomes da música nordestina – reunindo um elenco estelar formado por Alessandra Leão, Almério, Flaira Ferro, Getúlio Abelha, Larissa Luz, Luiz Lins, Otto e Potyguara Bardo -, esta segunda preferiu voltar para as raízes e celebrar artistas da região que estão aí há tempos – mas sem tirar o pé da contemporaneidade. Este foi representado por Josyara, que abriu a noite com sua voz e violão estupendos encantando corações que estavam, em sua grande maioria, esperando os veteranos da noite. Depois foi a vez de Ednardo, aos poucos recuperando sua voz depois de um problema de saúde, mas com carisma intacto, fazendo todos cantar “Enquanto Engoma A Calça”, “Pavão Mysteriozo” e “Terral” (e não teve como não dar uma choradinha nessa hora), seguido de Hyldon, que brincou com o fato de ninguém lembrar que ele era baiano (“do polígono da maconha”, riu, reforçando que foi “parceiro do Tim Maia e vizinho de Raul Seixas, sou um sobrevivente!”), e emendar os hits “Dores do Mundo”, “Na Sombra de Uma Árvore” e inevitavelmente “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”. A estrela da noite foi a gigante Anastácia, eterna alma gêmea de Dominguinhos, que lembrou, no show de domingo, que seu companheiro e parceiro morrera há exatos dez anos, e aproveitou a oportunidade para reforçar que discorda da lógica que brasileiro não tem memória, citando aquele espetáculo como prova disso, antes de passear pelos sucessos “Sanfona Sentida”, “Amor Que Não Presta Não Serve Pra Mim” (bolero eternizado por Angela Maria) e “Tenho Sede”. Os quatro foram acompanhados por uma banda dirigida por Régis, que alternava-se entre a guitarra e o violão de doze cordas, e ainda contava com Danilo Penteado (tocando sanfona, teclado, cavaquinho e violão), Charles Tixier (tocando percussão e sampler), Magno Vito (no contrabaixo) e Alana Ananias (na bateria). Os quatro voltaram tocando “Só Quero um Xodó” e mostrando que este formato tem vida longa. Que venha o próximo!
Foi assim, desvirtuando de leve (ma non troppo, porque tá tudo ali), que Maria Beraldo, Josyara e Mariá Portugal (que entrou como convidada-surpresa) celebraram o amor sapatão ao desfilar o repertório de Cássia Eller à base de guitarra (e por vezes clarone), violão e cajón (que Mariá trouxe à tona de duas décadas sem tocá-lo, pronta para ressuscitar o instrumento de percussão no cenário pop brasileiro). A segunda apresentação da temporada Manguezal de Maria Beraldo no Centro da Terra foi intimista e acolhedor ao mesmo tempo que apaixonado e bem humorado, fazendo as três passear por composições de Nando Reis, Renato Russo, Ataulfo Alves, Gilberto Gil, Luiz Capucho, Djavan, Caetano Veloso, Itamar Assumpção (que Beraldo misturou com a base de sua “Da Menor Importância”), João do Vale e Tião Carvalho sempre muito à vontade, brindando taças de vinhos, pedindo para o público (que lotou a casa) cantar junto, numa noite mágica e apaixonante. Bonito demais.
Prazer enorme receber Maria Beraldo para sua temporada no Centro da Terra, que toma conta do palco do teatro do Sumaré a partir desta segunda-feira até o final de julho. Em Manguezal ela recebe chapas e comparsas em fusões de diferentes ecossistemas – daí o título da temporada, esta vegetação que funciona como palco para o encontro de águas, floras e faunas, que ela se refere como berçário do mar. A cada nova segunda ela recebe diferentes convidados para aproveitar o momento de transição entre seu disco de estreia e o próximo álbum, que vem burilando há tempos. Ela começa convidando a irmã Mariá Portugal para uma noite de improviso nessa primeira apresentação, dia 10, e na semana seguinte recebe a maravilhosa Josyara para um tributo a Cássia Eller, no dia 17. Depois, dia 24, ela envereda pelo pagode ao lado do compadre Rodrigo Campos e encerra a temporada no dia 31, reunindo os chapas Marcelo Cabral e Lello Bezerra para mostrar algumas canções inéditas. As apresentações acontecem sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.
Alessandra Leão e Rafa Barreto encerraram a minitemporada de retorno de sua banda Punhal de Ferro, que celebra os clássicos da psicodelia nordestina dos anos 70, em uma noite mágica nesta terça-feira no Centro da Terra. Não bastasse revisitar no formato guitarra e voz (ou rabeca e voz) músicas de nomes como Ave Sangria, Alceu Valença, Zé Ramalho, Cátia de França e Geraldo Azevedo, os dois ainda contaram com as presenças esotéricas de Siba e Josyara, que diviram canções épicas como “Molhado de Suor”, “Coito das Araras” e “Sol e Chuva”. E Alessandra encerrou filosofando sobre o estado de experimentação do teatro: “Semana passada a gente tava conversando depois do show e eu disse que o Centro da Terra é um lugar que a gente faz um pacto, que a gente pode cair que ninguém quebra os dentes, ninguém se machuca”, contou. “Mas é um pacto que não só entre quem tá aqui no palco e quem tá aqui trabalhando, mas também com quem vem assistir também.” Bem sabemos 🙂
Nas últimas duas terças-feiras de abril, Alessandra Leão retoma a dupla que fazia com o guitarrista Rafa Barreto para afiá-la com convidados muito especiais no Centro da Terra. Quase dez anos depois de criar esta apresentação em que saúdam grandes nomes da psicodelia pernambucana como Alceu Valença, Cátia de França e Ave Sangria, os dois músicos visitam a programação original com a interferência de nomes de novos parceiros: Fernando Catatau, Bella e Thiago Nassif os acompanham neste dia 18, seguidos por Siba e Josyara, os convidados do dia 25, em apresentações inéditas que prometem deixar todos em ponto de bala. Os espetáculos começam pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados aqui.
Que delícia a terceira apresentação de Big Buraco, a temporada que Jadsa está fazendo durante este mês no Centro da Terra, quando reuniu as duas cantoras que fazem backing vocals em seu show – Marina Melo e Marcelle – a uma de suas principais inspirações musicais – a conterrânea Josyara. Dividindo a apresentação para mostrar o trabalho de cada uma de suas convidadas, ela começou sozinha cantando as duas “big” composições que inventou para conduzir este salto no vazio, depois apresentou músicas de Marina e Marcelle para finalmente receber Josy em um dos momentos mais bonitos desta safra de shows. As duas também tiveram seu próprio momento sozinhas no palco, quando visitaram “Run, Baby”, a música do primeiro disco de Jadsa que sua conterrânea faz parte. Muitos sentimentos inflamados por este buraco que não acaba.
Quem toma conta das noites de segunda-feira no Centro da Terra é a baiana Jadsa, que completa dois anos de lançamento de seu disco de estreia, o lírico-paulistânico Olho de Vidro, olhando para o que construiu neste início de carreira e como isso misturou-se com o nefasto período pandêmico. Ela reúne a velhos e novos compadres e comadres para revisitar o disco em encontros que prometem ser históricos. No primeiro deles, dia 3 de abril, ela convida o conterrâneo Giovani Cidreira para mergulhar em seu passado comum. Na segunda que vem, dia 10, é a vez de se encontrar com o guitarrista Kiko Dinucci. Na semana seguinte, dia 17, ela junta-se às cantoras e compositoras Marcelle, Josyara e Marina Melo, e termina a temporada, chamada de Big Buraco, no dia 24, quando recebe, na mesma noite, Alessandra Leão e Juçara Marçal. Vai ser lindo e intenso, como só Jadsa sabe fazer. Os espetáculos começam sempre pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.