Jornalismo

O Stereolab voltou à ativa em 2019 e, apesar de fazer shows e relançar parte do seu catálogo em novos e diferentes formatos, não deu nenhum aceno sobre a possibilidade de voltar a compor músicas novas ou lançar discos… até agora! Durante essa semana, tanto sua newsletter Lab Report trazia um link escondido ao final que revelava uma imagem anunciando “Unsolicited Stereolab Material”, como suas redes sociais começaram a mostrar pedaços do que parecia ser uma capa de disco de vinil. E no meio da semana alguns fãs começaram a receber este material não-solicitado do Stereolab: um vinil com uma música que, aparentemente chama-se “Aerial Troubles” (é o nome no rótulo), lançada em versão com vocais de um lado e instrumental do outro. O disco vem num envelope frio, sem muitos detalhes além do carimbo falando do fato daquilo não ser solicitado, outro da gravadora Warp e a descrição do material envelopado (“duofonic U.H.F. disks”), mas traz um encarte com um caça-palavras que os fãs já encontraram termos como “stereolab”, “sadier”, “tim”, “ramsay”, “plastic”, “melodies”, “warp”, “flashes”, “film”, “television”, “transistor”, “transmute”, “disk” e, mais importante que tudo, “album”. Existe a possibilidade que seja algum trecho de alguma música redescoberta nas reedições que têm feito, mas essa pompa – tanto digital quanto física – ao redor de uma única música parece indicar que tem mais algo vindo aí… Isso que o grupo não lança nada desde o disco Not Music? de 2010. Veja abaixo: Continue

Dua Lipa ♥ Lorde

Outra bola cantada desde o início: nesta quarta-feira Dua Lipa fez seu primeiro show da nova turnê na Nova Zelândia e na hora de cantar uma música de um artista local em seu show,.sacou nada mais nada menos que o cartão de visitas de Lorde, “Royals”, numa ótima versão. Nessa e-sexta tem mais um show dela naquele país e minha aposta vai pra “Don’t Dream is Over”, do Crowded House…

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(Foto: Ana Alexandrino/Divulgação)

“Esse é só o começo de uma nova fase”, atesta Marcela Lucatelli sobre Coisa Má, seu primeiro disco em português que marca sua volta ao Brasil, depois de duas décadas desbravando a música contemporânea para além da canção em salas de concertos e palcos experimentalistas pela Europa. Ela antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo o clipe de “Janeiro Junto é Bom”, primeiro de uma trilogia que irá lançar com o novo álbum, que dá a tônica desta nova fase. “Estou explorando um novo território sonoro e mal posso esperar para compartilhar isso ao vivo com o público brasileiro”, continua, referindo-se ao conjunto de artistas que reuniu neste disco que também marca sua primeira incursão na produção musical. Kiko Dinucci, Romulo Fróes, Cadu Tenório e Lello Bezerra são alguns dos nomes que participam do novo disco, que explora o território da canção sem necessariamente incensá-lo. “Voltar ao Brasil neste momento é algo muito especial para mim, pois depois de tantos anos construindo minha trajetória na Europa, trago toda minha experiência para somar à cena daqui”, segue a cantora, explicando que “além dos shows, quero criar conexões com artistas locais, desenvolver novos projetos e fortalecer esse diálogo entre o Brasil e o mundo.”

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Outro dia uma amiga publicou lembranças ressuscitadas pela internet e perguntava-se sobre o paradeiro de Wander Wildner, bardo gaúcho que liderou os Replicantes na fase de ouro do rock gaúcho e cuja carreira solo foi um dos alicerces da formação da atual cena independente. Sem lançar nada de novo desde 2021, no entanto, o heroico punk brega volta à atividade em 2025 ao lançar um disco composto apenas por versões de músicas alheias. Diversões Iluminadas será lançado nesta quinta-feira e traz Wander cantando clássicos de artistas das mais diferentes vertentes, de Echo & The Bunnymen (“The Killing Moon”) a Caetano Veloso (“Um Índio”), passando por Daniel Johnston (“True Love Will Find You in the End”), Novos Baianos (“Dê um Rolê”), Iggy Pop (“Beside You”), Bob Dylan (“Simple Twist of Fate”), Foo Fighters (“Times Like These”), Buzzard Buzzard Buzzard (“Lennon Is My Jesus Christ”), Ednardo (a imortal “Terral”), Secos & Molhados (“Sangue Latino”) e Nei Lisboa (“Pra Viajar no Cosmos Não Precisa Gasolina”), além da faixa que abre o disco, sua versão para “Redemption Song”, que ele antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo. Ao ser perguntado sobre o processo de criação do novo trabalho, Wander responde sucintamente que “tudo que eu gostaria de dizer está no álbum e no livro”, este último batizado com o mesmo nome do disco e que conta a relação do artista com cada uma das canções – e está sendo lançado pela editora Yeah.

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Fora de ação há um bom tempo devido a um câncer na garganta que apareceu em 2014 (e que o ator não tratava adequadamente por um viés religioso), o ator Val Kilmer morreu nesta terça-feira na mesma cidade em que nasceu, Los Angeles, nos EUA. Conhecido por ser o segundo Batman no cinema (assumindo o papel depois de dois filme com Michael Keaton, no filme Batman Eternamente), o rival de Tom Cruise em Top Gun, um dos policiais no melhor filme de Michael Mann (Fogo Contra Fogo) e ninguém menos que Jim Morrison (numa atuação espetacular) no The Doors de Oliver Stone, Kilmer estourou com a paródia de filmes de 007 Top Secret!, dirigida pelo trio Zucker-Abrahams-Zucker, que havia despontado com o filme que zoava filmes-catástrofe Aperte os Cintos O Piloto Sumiu!, atuando como um Elvis Presley de araque infamemente convincente. Seu carisma ainda o garantiu papéis em filmes de pouca importância na história do cinema – como Willow – Na Terra da Magia, Tombstone – A Justiça está Chegando e O Santo -, mas que garantiram bilheteria a ponto de torná-lo um rosto conhecido, o que o manteria empregado por anos a fio, fazendo filmes desimportantes a rodo, enquanto trabalhava em projetos menores de diretores consagrados, como Twixt de Coppola, Vício Frenético de Herzog, Déjà Vu de Tony Scott e Spartan de David Mamet. Ele para de fazer filmes anualmente em 2012 devido ao câncer que descobriu anos depois e desde então fez apenas três filmes, o último deles a continuação do filme que consagrou Tom Cruise, Top Gun: Maverick, repetindo seu papel de Iceman, quase como uma despedida das telas, em 2022.

A cada nova pedalada a Bike adentra numa espiral de groove hipnótico e repetição que transforma cada novo disco em uma imersão em mantras psicodélicos sempre mais herméticos e crípticos, segredos musicais revelados a partir das chaves melódicas que alicerçam suas músicas, sejam elas riffs, grooves, linhas de baixo, refrães, sempre trabalhando no território estruturado da canção. Mas o salto dado pelo grupo no que deverá ser seu sexto álbum extrapola justamente este limite e foi isso que o quarteto paulista apresentou nesta terça-feira, no Centro da Terra, num espetáculo batizado de Noise Meditations que, como revelou o grupo ao final do show, será também o nome do próximo disco. E a característica deste novo conjunto de músicas é que a Bike deixa para trás o circuito fechado das canções, preferindo reforçar a natureza circular de seus temas em faixas extensas e etéreas, que misturam tanto os timbres do noise e dreampop com um niilismo drone e uma placidez ambient, que transmuta sua psicodelia, erguendo icebergs de som. A nova formação do grupo inclui o guitarrista do Applegate, Gil Mosolino, assumindo o baixo da banda, enquanto as guitarras e vocais de Julito Cavalcante e Diego Xavier se entrelaçam cantando letras em loop, enquanto o baterista Daniel Fumega expande sua área de atuação para além do ritmo do rock psicodélico, acrescentando elementos com o motorik kraut e um groove latino que transmuta a sonoridade da banda para uma estratosfera sonora nunca experimentada pelo grupo, sempre conectando os temas uns aos outros, sem espaço para intervalos ou conversa com o público. Uma ousadia recompensada no palco.

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Começamos a programação de música de abril no Centro da Terra com uma banda que já passou pelo palco do teatro (uma vez dividindo o palco com Tagore e outra com Guilherme Held), desta vez tocando material inédito e sem convidados. A clássica banda psicodélica paulista Bike está preparando seu novo álbum e transforma esta apresentação em um laboratória para experimentar músicas novas, trazendo um repertório inédito – e em formação – no show que batizaram de Noise Meditations, quando também apresentam sua nova formação. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados no site do Centro da Terra.

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E nem é primeiro de abril porque a própria Dua Lipa que avisou! A diva dance baixa na América Latina entre novembro e dezembro, passando primeiro por Buenos Aires (dia 7 de novembro), depois por Santiago (dia 11), São Paulo (dia 15 no estádio do São Paulo), Rio de Janeiro (dia 22 no estádio do Botafogo), Lima (25), Bogotá (28) e Cidade do México (dias 1º e 2 de dezembro). Resta saber quais músicas ela vai cantar nessas praças… Mas digo apenas uma coisa: SÓ VEM!

Eis os Beatles no cinema: Harris Dickinson (que fez Triângulo da Tristeza e Babygirl) como John Lennon, Paul Mescal (da série Normal People e dos filmes Todos Nós Desconhecidos e Aftersun) como Paul McCartney, Barry Keoghan (de The Banshees of Inisherin, Dunkirk e Saltburn) como Ringo Starr e Joseph Quinn (que fez a série Stranger Things e os filmes Um Lugar Silencioso: Dia Um, além do futuro Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, que estreia esse ano) como George Harrison. O elenco dos quatro filmes que Sam Mendes dirigirá sobre a história da maior banda de todos os tempos foi oficializado nesta segunda-feira, no primeiro dia do evento Cinemacon, feito pela Sony, produtora do filme, que está acontecendo no Caesars Palace em Las Vegas, nos EUA. Os quatro filmes estrearão no mesmo mês – abril de 2028, embora ainda não hja nenhuma informação sobre a ordem de exibição – e serão chamados oficialmente de The Beatles – A Four-Film Cinematic Event, que o próprio diretor disse ser o primeiro projeto para ser maratonado em salas de cinema. Os quatro atores compareceram ao evento e disseram, cada um deles, um verso da música Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, que abre o disco de mesmo nome: “É maravilhoso estar aqui. Realmente é muita emoção. Vocês são um público tão amável. Queríamos levar vocês pra casa”. Os quatro filmes serão filmados ao mesmo tempo: “Estou tendo flashbacks de Avatar”, brincou o principal executivo do estúdio, Tom Rothman, ao lembrar da megalomnia da franquia de James Cameron, também produzida pela Sony. E aí, qual é a sua expectativa sobre esse projeto? Eu acho que pode dar muito certo.

Missão cumprida

Quando convidei os Fonsecas para assumir uma temporada no Centro da Terra, o ar de nervosismo dos quatro era idêntico ao de excitação e a cada nova conversa sobre o assunto era evidente que eles estavam dispostos a aproveitar as quatro segundas-feiras como uma experiência para exercitar sua dinâmica criativa em grupo e começar a trilhar os rumos para um segundo álbum, que até o ano passado estava no campo das ideias. A forma como dividiram as quatro noites foi crucial para que pudessem exercitar esse músculo rumo à segunda parte de sua carreira, fazendo a primeira apresentação dedicada ao primeiro disco (Estranho pra Vizinha, do ano passado), a segunda só com versões de outros compositores (todos deste século), a terceira trabalhando sua musicalidade sem canções, só no improviso, para culminar na apresentação feita no último dia do mês em que sacaram 40 minutos de músicas que nunca foram gravadas e, salvo poucas exceções, nunca tinham sido tocadas em público. E a forma como apresentaram esse novo momento foi muito bem trabalhada, começando com momentos solos de três de seus integrantes: primeiro veio o baixista Valentim Frateschi, depois o guitarrista Caio Colasante e finalmente o vocalista Felipe Távora, todos tocando uma composição própria sonhos ao violão, isolados entre si, até que o baterista Thalin começa o que parecia ser um início de solo que descamba na primeira canção, ligando então a máquina dos Fonsecas. Mostrando mais força, intensidade e vibração a cada nova canção, o repertório da noite deixou ainda mais evidente as influências do grupo, como os jogos rítmicos de palavra de Itamar Assumpção e de outros assíduos do Lira Paulistana, a informalidade textual do rock brasileiro dos anos 80, o clima urbano das canções de Jards Macalé, uma bagagem nítida de rock clássico e o fato de todos seus integrantes serem músicos absurdos e se conhecerem musicalmente como se fossem um mesmo organismo. Tanto que o consenso geral entre vários que estavam no público em comentários após o show era que o segundo disco já estava pronto, só precisava gravar. E é importante frisar que o conjunto de canções que mostraram nesta segunda-feira (meu show favorito da temporada Quem Vê, Pensa) é muito superior ao ótimo repertório do disco de estreia, o que torna nítida a evolução da banda nestes últimos anos. E ao tocarem só os quatro no palco, sem participações especiais ou músicos convidados, eles ainda reforçam a unidade que formam quando tocam juntos. Muito bom.

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