Fazia tempo que eu não via o show da Yma e, vou te contar, tá melhor do que nunca. A banda está redondíssima e esta característica é imprescindível à apresentação proposta pela cantora e compositora, deixando-a à vontade para deslizar sua voz e seu carisma arrebatadores sem se preocupar, colocando o público na palma de sua mão. E vê-la tocando no Inferninho Trabalho Sujo dessa quinta-feira teve um sabor especial, justamente pelo fato de ser no Picles. O astral underground da casa parece paradoxal em relação à sofisticação pop conduzida pela banda, mas acabou sendo complementar, algo que foi traduzido no momento em que um dos senhores Picles, o grande Rafael Castro, subiu no palco para dançar com a Yma (olha o palco te chamando de volta, Rafa!), num equilíbrio entre leveza e força, dia e noite, céu e terra. Foi bonito demais – e depois só lembro que emendei “Velvet Underground” do Jonathan Richman com “The Chain” do Fleetwood Mac quando já eram quase quatro manhã…
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E a felicidade de ter ninguém menos que Yma como atração da edição desta semana do Inferninho Trabalho Sujo? Um dos grandes nomes da cena independente paulistana, a cantora e compositora está aos poucos burilando o que deverá ser seu segundo disco solo, mas mostra músicas do excelente Par de Olhos e outras novidades nesta noite de quinta-feira, que tem entrada livre até às 21h. O show deve começar pelas 22h e logo após a apresentação da Yma eu e a Fran atacamos uma saraivada de hits para não deixar ninguém parado! O Picles fica no número 1838 da Cardeal Arcoverde, na meiota de Pinheiros, e a noite vai longe… Vamos?
Depois de uma apresentação sensível e flertando com o silêncio, a percussionista Nath Calan foi para o outro extremo de sua versão no palco. A sutileza do concerto Música Cênica do Princípio ao Fim ficou na semana passada, abrindo espaço para a força de sua bateria e de sua presença de palco ao lado dos compadres Carlos Gadelha (guitarra) e Eristhal (contrabaixo). No espetáculo As Canções Que Toquei Por Aí ela assumiu sua natureza rocker para cantar músicas de Itamar Assumpção, Porcas Borboletas, Stela do Patrocínio, Maurício Pereira, Danislau TB, Malu Maria e Peri Pane, estes três presentes em participações surpresas, entre elas o próprio filho de Nath, o pequeno Benício, que cantou em uma música e dançou em outra. Pura energia!
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Morreu, nesta quarta-feira, um dos maiores nomes do free jazz norte-americano, a pianista e compositora Carla Bley, fundadora da Jazz Composers’ Orchestra e autora da jazz ópera Escalator Over The Hill, lançada em 1971.
Depois do susto no meio do ano, Madonna mostrou que voltou com tudo. A deusa do pop fez a primeira apresentação de sua Celebration Tour neste fim de semana, em Londres, show que estava programado para acontecer em julho mas foi adiado porque Madonna foi parar na UTI. Mas foi só um susto e neste sábado e domingo ela mostrou que não está pra brincadeira, num longo espetáculo dividido em cinco atos em que ela e um enorme elenco passeiam por quatro décadas de hits, alguns deles ressuscitados apenas para esta turnê (como “Rain”, que ela não tocava ao vivo há 30 anos!). Ela ainda temperou a apresentação ao tocar, sozinha ao violão, uma versão para “I Will Survive”, de Gloria Gaynor, quando comentou o problema de saúde que deixou os fãs preocupados no meio do ano, usando o refrão da música para reforçar sua majestade. A turnê ainda terá 76 shows e passará por 15 países até abril do ano que vem – e não há referência ao Brasil por enquanto. Abaixo, alguns trechos do show de sábado filmados por fãs e o setlist completo do primeiro show: Continue
Na segunda noite de sua temporada Ficções Compartilhadas no Centro da Terra, Paula Rebellato optou por trabalhar num território conhecido, o do improviso livre, ao lado de três músicos com quem já esteve nestas incursões em várias outras ocasiões. Mas em vez de trabalhar numa certa zona de conforto, ela embrenhou-se por caminhos menos espasmódicos que funcionam como caminhos já traçados neste cenário e optou pela sutileza, abrindo trilhas menos óbvias para que o trumpete de Rômulo Alexis, o baixo e os eletrônicos de Berna e a bateria de Cacá Amaral buscassem refúgios inusitados, transformando o que poderia ser uma massa de som extática em uma bruma cósmica que parecia fazer os quatro flutuar, hipnotizando o público presente até o silêncio final.
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“Tenho um segredo sobre aquele final”, disse o comediante Jerry Seinfeld ao ser perguntado por alguém da plateia em um de seus shows em Boston, nos EUA, há uma semana. “Mas eu não posso contar ainda porque é segredo. Alguma coisa vai acontecer que tem a ver com aquele final. Algo que ainda não aconteceu. E do mesmo jeito que vocês estão pensando, eu e Larry (David, cocriador do seriado original) também estamos pensando”. Tudo indica que ele vai reunir o elenco de seu clássico seriado – a melhor série de todos os tempos, por não ter um único episódio ruim – para fazer algo relacionado à infame punição recebida por Jerry, Elaine, Kramer e George depois de nove temporadas de sucesso durante os anos 90. Tomara que não seja só um comercial…
A atriz de 91 anos que morreu neste sábado começou sua carreira na era de ouro de Hollywood fazendo papel de garota inocente ao lado dos galãs da época, como Ronald Reagan, Rock Hudson e Donald O’Connor, até ganhar sua primeira indicação para o Oscar de melhor atriz ao contracenar com Paul Newman em Desafio à Corrupção, de 1961. Após isso, ela aposentou-se do cinema por considerar que sempre fazia o mesmo papel, até retornar às telas nos anos 70 vivendo outros tipos de personagem, como a mãe da protagonista do filme Carrie – A Estranha (1976), de Brian de Palma, em sua performance mais intensa, que lhe rendeu mais uma indicação, agora de atriz coadjuvante, para o Oscar. O retorno lhe garantiu outros papéis memoráveis, em especial no filme Filhos do Silêncio (1986), que lhe valeu outra indicação para o prêmio de melhor atriz coadjuvante. Quatro anos depois, estrearia na TV vivendo a executiva Catherine Martell, na série Twin Peaks.
A aula nem havia começado e Bernardo Oliveira já erguia as sobrancelhas ao olhar para o material que havia preparado enquanto os alunos entravam na sala: “Matias, não vai dar tempo!”, dizia antes de começar as três horas sem intervalo que havia preparado sobre música negra brasileira dentro do curso História Crítica da Música Brasileira, que estou coordenando no Sesc Pinheiros. Não deu, mas deu: Bernardo nos conduziu rumo a jornada que comparava as culturas de diferentes povos africanos e seu impacto em nossa história – e não apenas cultural. Falando sobre ciência, técnica e tecnologia, mostrou tradições que atravessam séculos mesmo vivendo sob violenta opressão e mostrando como elas moldam o próprio conceito de identidade cultural brasileira. E tome doses pesadas de Clementina de Jesus com audições de rituais de celebração de exu por todo o país, citações de José Ramos Tinhorão, o verdadeiro modernismo do Estácio de Sá, o papel político dos terreiros das tias que abrigavam o samba carioca, loas tecida às transformações em Mario de Andrade e como o termo “funk” está sendo descartado para explicitar a raiz africana deste gênero urbano brasileiro, sendo referido atualmente como “macumbinha”. Bernardo poderia falar mais ainda o dobro de tempo porque assunto e eloquência não faltavam, mas conseguiu condensar as principais problemáticas relacionadas à música negra brasileira, principalmente no que diz respeito ao que pode ser considerado brasileiro ou não. “Racionais é música negra brasileira? Eu acho que é, tem gente que acha que não é”, provocou.
Não estava programado, mas encerrar a segunda aula do curso História Crítica da Música Brasileira, que estou fazendo no Sesc Pinheiros, com um show gratuito do Metá Metá convidando Jards Macalé dentro do festival Mario de Andrade (organizado pela Biblioteca Municipal que carrega o nome do escritor e pensador paulista) no Paço das Artes, no Centro de São Paulo, deu um tempero especial para o sábado frio de São Paulo. E a experiência não é só pessoal, uma vez que tanto Bernardo Oliveira (que deu a aula deste sábado) e Rodrigo Caçapa (que dará a aula no próximo e estava como ouvinte na aula passada) também concluíram essa jornada comigo, como alguns alunos que pude reencontrar entre o público. O show pecou pelo som baixo – nada justifica terem colocado as caixas de PA rente ao chão e não apontadas para o público -, mas a química entre o trio paulistano e o mestre carioca é irresistível. O Metá Metá começou a apresentação sozinho, enfileirando seus hits irresistíveis, todos recebidos pelo público como bênçãos coletivas: “Oyá”, “São Jorge”, “Orunmilá”, “Atotô”, “Cobra Rasteira” e “Vias de Fato”, esta última cantada baixinho pelo público e ganhando sua condição de reza. Depois o trio chamou o velho Macau para o palco, que logo depois assumiu o show sozinho puxando hinos como “Soluços” e “Vapor Barato”, esta tocada ao lado do sax de Thiago França. Kiko Dinucci e Juçara Marçal voltaram ao palco para acompanhar o compadre em outros clássicos, como “Pano pra Manga”, a nova “Coração Bifurcado”, a imortal “Negra Melodia”, composta com Waly Salomão (te dedico, Juliana Vettore), e “Let’s Play That”, que o Metá já toca em seu repertório habitual. Os quatro não resistiram ao clamor do público e voltaram para o bis cantando “Juízo Final”, de Nelson Cavaquinho, que transformou o local numa missa sobre a vitória da luz sobre as trevas. Ave música!
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