Maior satisfação receber o primeiro show solo da Manuela Julian no Centro da Terra nesta terça-feira. Vocalista das bandas Pelados, Fernê e Pequeno Cidadão, ela já vinha mostrando umas músicas novas em suas redes sociais quando perguntei se não tinha um show dela ali. Ela pediu tempo pra pensar e logo depois retornou topando e chamou o compadre Thales Castanheira para acompanhá-la ao violão e apresenta o espetáculo Sentimental, em que mistura suas referências artísticas, composições próprias e alheias aos poucos moldando esta sua nova faceta musical. A apresentação começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda neste link.
Para reforçar a chegada de seu disco ao vivo em tributo a Bob Dylan, nossa querida Cat Power acaba de anunciar que fará o mesmo show no Canergie Hall, em Nova York, no início do ano que vem (os ingressos começam a ser vendidos na próxima sexta neste link). O show original, gravado em novembro do ano passado, aconteceu no Royal Albert Hall londrino, famosa casa de shows em que Bob Dylan teria gravado um de seus shows mais memoráveis de sua primeira turnê elétrica pelo país, em 1966, quando tornou-se alvo de fãs ortodoxos que achavam um absurdo que seu ídolo tocasse guitarra. O show de Dylan tornou-se famoso graças a um disco pirata que identificava a apresentação como sendo na dita casa de shows de Londres quando, na verdade, ele aconteceu no Free Trade Hall, em Manchester. Cat Power preferiu viver a lenda e recriou o disco imortalizado pelo disco não-oficial (que foi oficializado por Dylan no quarto volume de suas Bootleg Series, no final dos anos 90) e recriou aquele show faixa a faixa que, a partir do anúncio sobre o show em Nova York, deve seguir percorrendo outros teatros clássicos pelo mundo. Chan Marshall aproveitou o anúncio para mostrar mais duas músicas do disco ao vivo que será lançado dia 10 de novembro, nada menos que “Mr. Tambourine Man” e “Like a Rolling Stone” (ouça abaixo). E imagina esse show na Sala São Paulo ou no Municipal… Continue
Mais uma segunda-feira com Paula Rebellato no Centro da Terra e desta vez a noite de suas Ficções Compartilhadas foi ao lado de sua nova banda, Madrugada, tocando pela primeira vez num teatro. O fato do transe krautrock das apresentações do grupo partir do ritmo fez com que a performance ganhasse nova conotação naquele palco, colocando o grupo em uma hipnose central tensa e densa à medida em que o groove ia ganhando corpo. A cozinha formada pelos irmãos Dardenne (capos do selo Selóki) e pelo percussionista Thalin determinava diferentes rumos para o grupo, que fazia com que o noise do teclado de Paula e da guitarra de Raphael Carapia se desprendessem soltos criando camadas de interjeições elétricas que às vezes eram temperados pela fala em loop do baixista ou pelos devaneios solo dos vocais de Paula. Uma noite memorável.
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Que maravilha ver o Cine Joia cheiaço neste domingo para assistir ao show de lançamento do segundo disco dos Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, Música de Esquecimento. Com abertura do Jonnata Doll e os Garotos Solventes e participações do próprio Jonnata, Negro Leo, Vítor Araújo e Felipe Vaqueiro (vocalista da banda Tangolo Mangos, tocando gaita em “O Pato Vai Ao Brics”, do Leo), o show mostrou como o grupo está cada vez mais coeso musicalmente e como as músicas novas se contrapõem às antigas de forma radical, embora encarada pelo público como uma enorme saudação coletiva. Foi muito bom vê-los tocar a mesma “Idas e Vindas do Amor” que a Sophia me mostrou quando a banda ainda engatinhava cantada por um público completamente inebriado pela sensação indescritível de estar com sua banda favorita, transformando o grupo e os fãs numa pequena comunidade. Isso infelizmente foi posto à prova num incidente tenso, quando um fã subiu no palco e se atirou de cabeça no chão, sem tempo para alguém pudesse segurá-lo, fazendo-o perder os sentidos em um dos grandes momentos do show, quando tocavam “Delícia Luxúria”, do primeiro disco. E a banda, mesmo abalada (era possível ver nos rostos deles), foi precisa ao lidar com a situação: Sophia parou o show na hora, pediu para o público abrir espaço para que os médicos da casa pudessem retirá-lo e logo todos deixaram o palco avisando que dariam um tempo até saber como estava o fã. A banda voltou minutos depois com a notícia de que o enfermo estava melhor (tanto que até voltou para o público no final do show) e encerrou a apresentação tocando duas músicas além do previsto. Foi um momento crítico que podia comprometer ainda mais o show (e até a carreira do grupo), mas eles souberam lidar com a situação como muitos artistas com mais tempo de carreira talvez não soubessem, embora tenha encerrado uma apresentação que estava com a energia muito pra cima num tom acridoce. Felizmente foi só um susto.
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A primeira vez que a palavra “samba” aparece documentada na história do Brasil foi num jornal pernambucano. O primeiro cantor a mudar a forma de cantar antes mesmo da chegada do microfone não foi Mario Reis e sim o alagoano José Luis Rodrigues Calazans, o Jararaca. O grupo Oito Batutas de Pixinguinha e Donga, antes de se vestir de terno e fazer turnês internacionais, fantasiava-se de nordestinos para tocar música regional do Recife e de Salvador, bem como o primeiro grupo de Noel Rosa e Almirante. Estas foram algumas das muitas revelações que Caçapa apresentou na terceira aula do curso História Crítica da Música Brasileira, que estou ministrando aos sábados no Sesc Pinheiros. A aula desta semana foi sobre música nordestina – ou, como se referia no começo do século passado, nortista – e o professor preferiu se debruçar nas três primeiras décadas do século 20 para mostrar como esta sonoridade ajudou a consolidar a música popular como sucesso de massas e a indústria fonográfica como plataforma para esta mesma música – e porque ninguém mais fala sobre isso hoje em dia. No próximo sábado recebo Pérola Mathias para falarmos sobre a mulher na história da música brasileira. Até lá!
Luiza Villa encara o palco em que estará à frente em menos de dez dias, celebrando as canções de Joni Mitchell no espetáculo Both Sides Now, que vamos apresentar no Belas Artes. Os ingressos para este primeiro show já estão esgotados, mas deveremos ter novidades em breve.
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Morreu neste sábado Celso “Kim” Vecchione, guitar hero do Made in Brazil, uma das principais bandas de rock da história do país. Celso era irmão e fundador do capitão da banda, Oswaldo Vecchione, e desde 1967 desbravava o país levando a palavra elétrica do rock por aí. Meus sentimentos à família.
A chuva de boas vibrações que um show de Paulinho da Viola emite parece emanar apenas de sua presença serena no palco. A fala suave, o canto manso e o toque macio no cavaquinho ou no violão são o centro gravitacional de toda a noite, não importa se toque sozinho, acompanhado por um músico ou pela banda completa. Mas há outro elemento central em seus shows que é o fato de estarmos quase sempre assistindo a uma aula sobre a história do samba carioca. Ele nasceu entre sambistas e pode conviver com quase todo o panteão do samba carioca, sendo parceiro de muitos deles e gravando versões de outros, protagonizando ou assistindo de perto a momentos únicos dessa história. Por isso suas apresentações, como a deste sábado no Sesc Pinheiros, são sempre temperadas por explicações informais misturadas com causos sobre grandes nomes dessa história e sua relação com Paulinho. Modestamente, como lhe é de praxe, ele põe-se como espectador ou agente involuntário da história e cita passagens durante a apresentação, falando sobre a centralidade da caixinha de fósforo nas antigas rodas de samba antes de mostrar sambas de Zé Kéti e Elton Medeiros, sobre seu encontro com Capinam, sua parceria com Eduardo Gudin ou como Hermínio Bello de Carvalho não gostava de ser referido como o descobridor de Clementina de Jesus, esta citada como uma oração ao final da apresentação. Falou sobre como foi a primeira pessoa a gravar “Acontece” de Cartola ou quando Hermínio o transformou em coautor de um samba sobre a Mangueira que foi defendido num festival da canção por Elza Soares – e o constrangimento que isso causou em sua escola, a Portela. Mas em quase uma hora de show, o mestre octagenário (que parece não ter envelhecido nada desde que surgiu em nossa história) resolve abrir sua parte dessa história e enfileira clássico atrás de clássico numa sequência desconcertante: “Sinal Fechado”, “Roendo as Unhas”, “Dança da Solidão”, “Coração Imprudente”, “Pecado Capital”, “Coração Leviano”, , “Argumento”, “Bebadosamba”, “Timoneiro”, “Prisma Luminoso” e “Foi um Rio que Passou em Minha Vida”. Somos privilegiados de sermos contemporâneos deste mestre.
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Mick Jagger está com oitenta anos, Keith Richards completa suas oito décadas em menos de dois meses e Ronnie Wood fez seus 76 anos no meio deste ano – e mesmo octagenários os Rolling Stones lançam um de seus melhores discos. Hackney Diamonds, lançado nesta sexta-feira, é o primeiro disco de inéditas do grupo em quase 20 anos e é o melhor disco da banda desde, provavelmente, Tattoo You, lançado em 1981. O grupo sabe disso e não o fez por mera autopromoção – ao cogitar que o novo álbum talvez seja seu último disco de estúdio, os três remanescentes da banda o transformaram em uma grande celebração à sua importância, não apenas subindo o sarrafo para apresentar um repertório bem acima da média dos discos anteriores, como convidando compadres e ídolos para participar desta celebração. Só a mera participação de Paul McCartney tocando baixo em “Bite My Head Off” já desequilibra completamente qualquer balança do mundo pop e todos esperamos o momento de vê-la encarnada em algum palco do mundo num literal museu vivo dos anos 60. Mas o disco ainda traz Stevie Wonder e Lady Gaga numa mesma faixa (a deslumbrante baladaça gospel soul “Sweet Sounds of Heaven”, que foi mostrada ao vivo no show surpresa que a banda fez em Nova York nesta quinta-feira no clube Racket, para 600 pessoas, com a participação da própria Gaga), o baixista original da banda Bill Wyman (o Stone mais velho de todos, já com 86 anos!) e Sir Elton John e encerra com uma versão da banda do blues de Muddy Waters que lhes deu o nome. Fechar o disco superproduzido com uma versão crua para “Rolling Stone Blues” foi a forma nada sutil que o grupo cogitou para encerrar sua carreira em estúdio. Em estúdio! Porque a vida nos palcos continua – esperamos vê-los ao vivo em breve.
Assista abaixo a participação de Lady Gaga no show de lançamento do novo álbum: Continue
Ele atuou em Chinatown, MASH, Comboio e até em Boneca Russa, mas Burt Young, que morreu nesta terça, sempre será lembrado como o Paulie dos filmes em que Sylvester Stallone encarnava o lutador Rocky.