Jornalismo

Bonito ver como um projeto toma forma: acabam de abrir as vendas para o espetáculo Melhor do que o Silêncio, que leva Laura Lavieri e Cacá Machado a um disco central na obra de João Gilberto, o fundamental álbum branco de 1973, batizado apenas com seu nome, que completa meio século neste 2023. Gravado em Nova York apenas com voz e violão e pela revolucionária produtora Wendy Carlos (que havia assinado a trilha sonora de Laranja Mecânica com seu nome de batismo, Walter, e transicionava exatamente naquele momento, assinando o projeto como W. Carlos), o disco é a síntese da excelência musical do maior nome da nossa cultura, reduzido ao minimalismo extremo das cordas vocais e seu instrumento, acompanhado apenas da esposa Miúcha em uma canção e de uma cesta de lixo tocada pelo baterista Sonny Carr. Em Melhor que o Silêncio, reuni Cacá e Laura para recriar essa obra-prima nos palcos e a primeira apresentação acontece na Casa de Francisca, dia 11 de novembro, com a participação do percussionista Igor Caracas. Assino a direção executiva do espetáculo, que ainda a direção de arte de Amanda Dafoe e a produção do Guto Ruocco, da Circus. Os ingressos já podem ser comprados a partir deste link.

A experiência Ava Rocha ao vivo sempre transcende o palco e não foi diferente nesta quinta-feira, quando ela mostrou mais uma vez seu suntuoso Nektar, desta vez no palco da Casa Natura Musical. A interação entre a cantora e compositora carioca com seu público é cada vez mais intensa – e ela desceu duas vezes para cantar no meio do povo, depois de entregar maçãs e bebida para os fãs embevecidos que estavam grudados na beira do palco. E amparada por uma banda (quase) sem guitarras, formada por Chicão Montorfano, Vini Furquim, Gabriel “Bubu” Mayall, Charles Tixier e Yandara Pimentel, ela não apenas passou pelo repertório do novo álbum, como visitou hits dos discos anteriores (incendiando os fãs com “Lilith” e “Joana Dark” ou a seduzindo em “Você Não Vai Passar” e “Transeunte Coração”) e outros sucessos populares que já incorporou ao novo show, como “Conselho” do grupo Revelação e “Todo Mundo Vai Sofrer” de Marília Mendonça. Ava no meio do povo é bom demais.

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Lindo demais o show que Loreta fez nesta quarta-feira para mostrar seu disco de estreia Antes Que Eu Caia no palco do Bona. Acompanhada de uma formação nada ortodoxa (o saxofonista e tecladista Fernando Sagawa e o quarteto de cordas formado por Thiago Faria, Michele Mello, Letícia Andrade e Wanessa Dourado), entre o onirico e o erudito, ela deslizou sua voz encantadora por canções melancólicas e esperançosas (incluindo “Ai, Ai Ai”, da espanhola Silvia Pérez Cruz) num show que ainda teve a presença de suas irmãs vocalistas do grupo Gole Seco – as formidáveis Niwa, Gui de Castro e Nathalie Alvin -, que ainda renderam uma apresentação extra para a noite com duas canções só no gogó. E no bis, Loreta chamou o violonista Luca Frazão, “a pessoa com quem eu mais toquei na vida”, para tocar a sua “A Arte de Me Enganar”.

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O anúncio da “última canção dos Beatles”, que será lançada na semana que vem com as duas coletâneas clássicas do grupo (a vermelha e a azul) em versões expandidas, é mais um exemplo que a geração baby boom, nascida durante a Segunda Guerra Mundial e responsável por mexer na história da cultura e do comportamento nos anos 60, segue à toda e sem dar sinal de aposentadoria à vista. Nomes como Rolling Stones, Pink Floyd, Roger Waters e os brasileiros Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ney Matogrosso e Paulinho da Viola endossam sua vida criativa mesmo entrando na oitava década de vida. Foi sobre isso que escrevi na matéria que fiz nesta quinta-feira para o site da CNN Brasil.

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(Foto: Déborah Moreno/Divulgação)

Encontrei com a Rita Oliva por uma acaso numa noite dessas e qual a minha surpresa quando ela falou que seu projeto solo, Papisa, estava ativo e prestes a mostrar novidades. Acompanho seu trabalho desde quando fazia parte da banda Cabana Café (e depois da dupla Parati) e vi este novo projeto tomando forma tanto em dois shows que fizemos em 2017 e 2018 no Centro da Terra quanto em duas apresentações no Centro Cultural São Paulo, quando eu era o curador de música lá (a primeira como parte da programação do Centro do Rock, em 2018, e a segunda quando ela lançou seu disco Fenda no ano seguinte). Projeto solo e introspectivo, Papisa aos pouucos ia desabrochando em conexões e parcerias quando a pandemia nos encurralou naquele tétrico 2020 e Rita embarcou na onda de lives para depois deixar seu projeto musical em segundo plano. A encontrei outras vezes desde então e ela começava a retomar o rumo, até que anuncia seu novo álbum para o início do ano que vem a partir de uma música otimista e solar, adequadamente chamada de “Melhor Assim”, que ela lança nessa sexta-feira, mas antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo (ouça abaixo). “Meu último disco foi feito em solitude, com muita introspecção, e esse single representa uma fase criativa mais mundana e coletiva, em que o meu foco foi para as relações humanas”, ela me explica, reforçando que o próximo álbum fala sobre relacionamentos e tem a produção do Felipe Puperi, do Tágua Tágua. “Essa vontade de trocar com outras pessoas se refletiu também no processo: ele foi gravado em uma imersão na montanha, com muitas cabeças pensando juntas”. Ela começa a mostrar essa nova fase ao vivo no Bar Alto, numa quinta-feira, dia 9 de novembro, quando divide a noite com o cearense Indigo Mood.

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O anúncio mais cedo de que nesta quinta pela manhã teremos mais um lançamento dos Beatles ativou a expectativa por aquela que deve ser “a última faixa gravada pelos Beatles”, anunciada por Paul McCartney em junho, que deixou todo mundo nervoso achando que viria uma abominação gerada por inteligência artificial. Contei melhor essa história juntando especulações, o histórico de relançamentos do grupo e o testemunho de alguém que teria ouvido essa nova faixa – seria “Now and Then”, que foi abortada à época do terceiro Anthology? – e ouvido falar que ela anteciparia uma nova versão das clássicas coletâneas azul e vermelha num texto que escrevi para o site da CNN.

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O Grandaddy já vinha dando pistas em suas redes sociais que viria com novidades em breve e acaba de lançar o primeiro single que anuncia um novo álbum, o primeiro desde a morte do baixista Kevin Garcia, integrante da banda desde os quinze anos de idade, que faleceu logo após o lançamento do disco que marcava o retorno da banda depois de quase uma década sem lançamentos, Last Place. A banda cancelou os shows após a morte do amigo e só retornou às atividades em disco, esticando o luto até durante o período pandêmico, quando o líder da banda Jason Lytle fez lives tocando o clássico disco da banda The Sophtware Slump, lançado no ano 2000, somente ao piano. Esta nova versão animou o grupo para relançar seus discos Under the Western Freeway, The Sophtware Slump e Sumday, mas Lytle só voltou aos palcos em 2022, com um grupo de músicos franceses que batizou de The Lost Machine Orchestra, mas há tempos fala em lançar um disco, “grandioso”, de sua banda, em que abraçaria de vez a country music, gênero musical que ele vê refletido mais na forma de compor do que nos arranjos instrumentais de sua banda. E parece que esse momento chegou. “Watercooler”, lançado nesta quarta, anuncia o lançamento de mais um álbum, chamado de Blu Wav (já em pré-venda), em que ele aproxima os gêneros bluegrass e new wave a partir de alguma conexão que conseguiu imaginar. O novo disco será lançado no dia 16 de fevereiro do ano que vem e o single já escancara o abraço no country com a guitarra pedal-steel abrindo os trabalhos. O single, que fala das relações amorosas em tempos de trabalhos em escritórios, foi lançado com um clipe meio videokê e pode ser assistido abaixo, onde também dá pra ver a capa do disco e a ordem das músicas: Continue

Mais conhecido como o eterno Shaft, o filme que fez o funk explodir nos EUA junto com a onda cinematográfica da blaxploitation, Richard Roundtree morreu nesta terça, vítima de um câncer. Além do filme que faturou o primeiro Oscar dado a uma canção produzida por um negro (a faixa-título, do saudoso Isaac Hayes), Roundtree também era conhecido por ter atuado na clássica série Raízes.

Os Beatles atualizaram seu site com uma imagem de uma fita cassete e um campo para deixar seu email para saber as novidades. Depois de enviado, eles retornam o email com uma contagem regressiva que encerra nesta quinta pela manhã, às 10h de Brasília. Ao que tudo indica é a última música que os Beatles gravaram, que seria lançada nos anos 90 (“Now and Then”), e que voltou à baila graças à inteligência artificial. Tem gente que tem calafrios quando ouve falar da mistura desse tema com arte, mas mais tarde eu falo melhor sobre esse acontecimento…

Sentimental e foda

Foi tão bonito quando Manuela Julian abriu seu primeiro show solo nesta terça-feira no Centro da Terra com a versão que fez para “Conto do Pescador”, funk do MC Menor da VG. Primeiro porque mostrou que basta sua voz – sem nenhum acompanhamento instrumental, ela subiu o tom do funk da pista de dança a um espectro quase etéreo, sobrenatural. Depois porque foi quando a vi cantando sozinha essa mesma música num stories no semestre passado que comecei a pilhá-la para fazer esse show. Depois de algumas conversas, ela falou que faria acompanhada pelo Thales Castanheira ao violão e qual foi a minha surpresa quando vi o palco montado com guitarras, teclados e computador. Mas longe de encher as canções, ela optou por roupas mais minimalistas para seu repertório sentimental (título da apresentação), que além das belas músicas inéditas ainda incluiu versões para as músicas que fez com suas bandas (“Consolação”, da Fernê, e “Música de Término”, “Mesmasmesmasmesmas” e “Mexe Comigo”) e de outros autores, como Ava Rocha (“Você Não Vai Passar”, escrita pelo Negro Leo e com um solo foda do Thales), do Dônica (“Como Eu Queria Voltar”) e da banda argentina El Príncipe Idiota (“Novedades”). Um começo foda para uma carreira promissora.

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