Jornalismo

Nesta terça-feira recebemos a apresentação Rastros no Centro da Terra, um espetáculo de improviso livre que reúne luz, dança, música e ruído. Quase que didaticamente representando cada um dessas áreas, Rastros é composto no palco pelos lasers de Paulinho Fluxuz, pelo corpo em movimento de Mariana Taques, pela viola de dez cordas de Ivan Vilela e pelos efeitos e baixo elétrico de Bernardo Pacheco. Este último aproveita a oportunidade para exibir o curta Estilo Livre #4, produzido pelo canal Choloz, que registrou a última apresentação da temporada que Chicão Montorfano fez no Centro da Terra, quando reuniu-se com o próprio Berna, o produtor Barulhista e a saudosa instrumentista Wanessa Dourado, que nos deixou há pouco, como uma homenagem póstuma à musicista. A apresentação começa pontualmente às 20h e os ingressos estão sendo vendidos neste link.

Já tivemos Freddie Mercury e Elton John, agora temos Bob Marley e Amy Winehouse e seria inevitável que a nova leva de biografias musicais chegasse nos Beatles. Pois aconteceu: como revelado com exclusividade ao site Deadline, o estúdio Sony e o diretor Sam Mendes (de Beleza Americana, Skyfall e 1917) fará não apenas um, mas quatro filmes sobre a história dos Beatles, contando a biografia e os pontos de vistas de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. É a primeira vez que os Beatles dão a algum projeto cinematográfico total acesso às suas biografias e ao seu catálogo e o projeto foi anunciado para 2027, mas ainda não há previsão se os quatro filmes chegarão ao mesmo tempo no cinema ou se terão algum distância entre seus lançamentos. O projeto ainda não tem título oficial nem elenco escolhido e não se sabe se a história da tetralogia será focada apenas no período em que a banda existiu ou se acompanhará as carreiras solo de seus integrantes. Mas o certo é que ainda falaremos muito sobre Beatles até lá – sem contar esses boatos de que uma caixa de discos do Rubber Soul está sendo finalizada e que Peter Jackson conseguiu reunir material sonoro dos Beatles em Hamburgo para lançar um disco dessa época em parceria com a Apple.

Bem bonito o encontro dos alagoanos João Menezes e Marina Nemésio no palco do Centro da Terra nesta segunda-feira. Entrelaçando doces joias de seus repertórios com músicas de Joyce (“Linda “), Luiz Vagner (“Virou Lágrimas”, eternizada por Evinha) e Gilberto Gil (“João Sabino”), os dois deram ênfase à sutileza de seus timbres de voz com a maciez com que tocam seus instrumentos, contando com o auxílio luxuoso de Meno Del Picchia, que fez algumas dessas canções ganhar um brilho especial graças ao seu piano, violão e contrabaixo acústico. Uma bela amostra da nova geração de cancioneiros brasileiros que vem surgindo nesta terceira década do novo século.

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Prometido há mais de vinte anos, finalmente sai em outubro deste ano (e já em pré-venda) o tão aguardado The Moon and Serpent Bumper Book of Magic ou, como bem traduziu o compadre Érico Assis, com toda propriedade, “Almanacão de Férias Mágicas da Lua e da Serpente”. Bumper book é o nome em inglês para livros enormes de passatempos feitos para crianças passarem as férias e sua versão brasileira foi trazida para o Brasil por Maurício de Souza em seus Almanacões de Férias da turma da Mônica, nos idos do século passado. A diferença é que este calhamaço tem a grife do mestre dos magos Alan Moore, que vinha trabalhando com seu mentor Steve Moore (que lhe abriu as portas dos quadrinhos para o pupilo ainda nos anos 70, quando Alan começou a assinar uma tira no semanário Sounds), desde o início do século a partir dos experimentos com magia que vinha fazendo em performances ao vivo ao lado de seu The Moon and Serpent Grand Egyptian Theatre of Marvels. Steve faleceu em 2014, mas Alan seguiu o trabalho ao lado de cinco de seus artistas favoritos, Kevin O’Neill, John Coulthart, Steve Parkhouse, Rick Veitch e Ben Wickey, concebendo um manual ilustrado de magia em capa dura e com mais de 350 páginas que traz encantamentos, guias de viagem para dimensões alienígenas, uma dissertação sobre o tema (“Adventures in thinking”), biografias de 50 magos históricos desde a última era glacial e “o significado definitivo da lua e da serpente que torna transparente os sempre obscuros segredos da magia, da felicidade, do sexo, da criatividade e do Universo conhecido ao mesmo tempo em que explica por que estes símbolos lunares e ofídios aparecem com tanta proeminência no peculiar nome desta ordem”, que data de 150 anos antes de Cristo. Ou seja, pura diversão!

Mais dois alagoanos que vêm mostrar sua face nesta primeira segunda-feira pós-carnaval no Centro da Terra, quando o compositor João Menezes recebe a comadre cantora e compositora Marina Nemésio para o espetáculo 12 Metros Terra Adentro, em que ambos mostram músicas de seus respectivos repertórios. Os dois vêm apenas com suas vozes e seus instrumentos (João toca violão e baixo, Marina toca violão) e com o compadre Meno del Picchia, que os acompanha no piano e no baixo em versões intimistas de suas músicas, incluindo inéditas. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados neste link.

Vamos a mais uma festa daquelas? É a segunda Desaniversário do mês, mas como a primeira foi nosso Baile à Fantasia de Carnaval, resolvemos fazer outra em fevereiro para mostrar que 2024 já começou daquele jeito! Aquele nosso encontro que você dança até se acabar mas volta cedo pra casa porque quer aproveitar o domingo acontece neste sábado, dia 24 de fevereiro, quando eu, Clarice, Claudinho e Camila nos reunimos para mais uma daquelas sessões de descarrego feliz, com a vantagem de estarmos comemorando outro aniversário em pleno Desaniversário, desta vez da nossa musa da moda Camila Yahn! A festa, como sempre, acontece lá no nosso cantinho favorito do Pacaembu, o Bubu, que fica na marquise do estádio, na Praça Charles Miller, s/n°, começa às 19h e termina à meia-noite, como toda festa de adulto que se preze… Vamos lá?

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Ao apresentar seu Favelost neste sábado no Sesc Avenida Paulista, Fausto Fawcett reuniu uma banda que deu um sabor ao mesmo tempo novo e retrô ao seu poema épico e decadente sobre a megalópole do terceiro mundo. Ao lado do casal Leela (Bianca Jhordão e Rodrigo Brandão, ambos empunhando guitarras, Bianca às vezes arriscava-se no theremin), ele substituiu a cozinha de uma banda de rock pelos sintetizadores de Paulo Beto, soando simultaneamente dance e rock e deixando sua verborragia apocalíptica, ir rumo à psicodelia dançante da Manchester do final dos anos 80, a famigerada Madchester, mas com o tempero sensual, decadente e brasileiro característico de sua poética. Misturando samples de Rolling Stones, Led Zeppelin, Bee Gees e “Please Don’t Let Me Be Misunderstood” no meio de pérolas de seu repertório como “Facada Leite Moça”, “Santa Clara Poltergeist”, “Drops de Istambul” e “Caligula Freejack”, ele ainda recebeu a presença de Edgard Scandurra e Fernanda D’Umbra, com quem tocou “De Quando Lamentávamos o Disco Arranhado” da banda desta última, o Fábrica de Animais. O espetáculo ainda teve os visuais do diretor Jodele Larcher e a reverência ao hit imortal “Kátia Flávia”, revisitado com direito a parte dois, quando a protagonista sai do submundo cão para assumir o “supermundo cão” fazendo OnlyFans para agentes de inteligência e do crime organizado em troca de segredos de estado. E, de repente, em 2024, as hipérboles de Fausto não parecem tão exageradas quanto eram no século passado. Showzaço.

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As minas do Miquelina, simpático pub que fica ali na Bela Vista, me chamaram pra tocar lá no primeiro sábado pós-carnaval, por isso assumo a pista num set comprido a partir das dez da noite, passando por clássicos do rock, hits R&B, hinos da música brasileira, petardos da música eletrônica, joias pop e todo o tipo de música que faça todo mundo se mexer sem parar. O Miquelina fica na Rua Francisca Miquelina, 66, e a entrada custa 15 reais. Vamos lá?

Acabou a moleza?

“A temporada de treino acabou”, canta Dua Lipa em seu novo single, “Training Season”. Será? Afinal de contas, mesmo com todos os instrumentos e vocais de apoio do senhor Tame Impala (Kevin Parker), que assina a música ao lado da vocalista e do midas pop Tobias Jesso Jr. (que depois de abandonar sua carreira solo com o ótimo disco Goon, de 2013, escreveu hits para Adele, Shawn Mendes, John Legend, Pink, Florece and the Machine, Haim, Elle Goulding, FKA Twigs, Harry Styles e Miley Cyrus), a música parece uma mera continuação de seu disco de 2020, Future Nostalgia, algo que já havia acontecido com o primeiro single que ela lançou, “Houdini”. O clipe, que mostra ela sendo blasé ao ser desejada por uma multidão de homens num bar em Londres, está longe de ser uma boa ideia e por melhor que seja executada parece tão descartável quanto a nova canção. Só dá pra entender que ela pode apontar para um outro lado se esses dois primeiros singles são justamente uma forma de desviar a atenção para uma mudança (daí a ênfase na frase que destaquei no início do texto) que não a faça apenas repetir as fórmulas de seu segundo disco. Falta sustança:

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Ave Tom Zé!

Não consegui assistir à estreia de Tom Zé na Casa de Francisca no mês passado, mas felizmente (e graças a um bem-vindo ingresso em cima da hora, valeu Leoni!) pude ver o mestre em ação num dos palcos mais emblemáticos da cidade nesta quinta-feira, em sua segunda aparição num dos palcos mais emblemáticos de São Paulo. E como o mestre baiano cai bem naquele lugar. Mais à vontade do que na média de seus shows, ele aproveitou a intimidade com o público para esticar longas conversas sobre assuntos mais diversos entre – e às vezes durante – suas músicas. Sem um show recente específico, Tom Zé passeou por pérolas de seu repertório que passeiam tanto por clássicos de sua discografia quanto discos mais recentes, acompanhado da mesma banda que reuniu depois que conseguimos sair do pesadelo da pandemia, com o guitarrista Daniel Maia, a tecladista e vocalista Cristina Carneiro, o baixista Felipe Alves, o baterista Fábio Alves e a vocalista Andreia Dias, todos atentos ao velho mago entre suas estrepolias e causos contados no palco. Ele abriu o show lembrando do desfile do bloco de carnaval em sua homenagem, o Abacaxi de Irará (e cantou a música que deu origem ao nome do bloco), que sai neste sábado e aproveitou para lembrar histórias do tempo em que sua cidade tinha só três mil habitantes, enquanto percorria por pérolas como “Hein?”, “Não Urine no Chão”, “Jimi Renda-se”, “Xique-Xique”, “Tô”, “2001”, “Não Tenha Ódio no Verão”, “Jingle do Disco”, “Menina Amanhã de Manhã”, “Aviso Aos Passageiros”. “Politicar” e “Amarração do Amor”, antes de reverenciar Adoniran Barbosa em duas músicas que diz ter se inspirado no clássico sambista paulistano, “Augusta, Angélica e Consolação” e “A Volta do Trem das Onze”, e nesta última Tom Zé puxou uma longa conversa sobre sua infância e sobre a ausência de ferrovias no Brasil. Sério e austero quando começava a falar, parecia estar passando um pito no público que só queria se divertir, mas logo em seguida derretia-se em gingado e sorrisos assim que começava a cantar, uma usina de energia que o tempo todo nos faz esquecer que ele está com quase 90 anos de idade. Um patrimônio vivo da cultura brasileira. Ave Tom Zé!

#tomze #casadefrancisca #trabalhosujo2024shows 19

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