Na flor dos seus 72 anos, Cyndi Lauper está fazendo uma memorável turnê de despedida pelos EUA, mas neste sábado ela elevou o status de suas apresentações a um outro patamar, ao reunir convidados ilustres no show que fez no Hollywood Bowl, em Los Angeles. Além de ter cantado alguns de seus hits sem participações (“She Bop”, a música-tema do filme Goonies “I Drove All Night” e “Change of Heart”, entre outras), ela chamou pesos pesados para participar de seus maiores sucessos, com John Legend dividindo os vocais da rasga-coração “Time After Time”, SZA como dupla de “True Colours”, outra balada daquelas, e ninguém menos que a maior diva de todas, Cher, para tocar com ela seu maior hit, o hino “Girls Just Want to Have Fun”. Mas mesmo com essa constelação de primeira grandeza, o maior momento da noite foi quando ela recebeu ninguém menos que Joni Mitchell, sua maior inspiração, que ela já interpretou inúmeras vezes, para dividir os vocais em “Carey”, um dos pontos centrais da obra-prima da senhora folk, o disco Blue, de 1971. Cyndi não estava pra brincadeira…
Um filme sobre Joni Mitchell é uma bola que vem quicando há alguns anos e parece que vai se tornar realidade. Pelo menos foi isso que levantou o jornalista Jeff Sneider, que antecipou o rumor em sua newsletter nesta terça-feira. A gênia canadense seria vivida por duas atrizes: a sensação Anya Taylor-Joy viveria a cantora e compositora folk no início de sua carreira e a imbatível Meryl Streep faria a versão atual de Joni. O nome especulado para a direção tem cacife pra tal empreitada: ninguém menos que Cameron Crowe, de Quase Famosos. Não há nenhuma informação oficial sobre nada, mas só o fato da especulação ter se transformado num rumor mais definido já é de se comemorar.
Apesar de reconhecida como grande dama da canção norte-americana e quase sempre associada à música folk, a carreira de Joni Mitchell sempre esteve próxima ao jazz – e essa proximidade cresceu para além do que parecia ser um flerte no início de sua jornada, principalmente a partir do meio dos anos 70, quando começou a envolver-se com monstros sagrados do gênero, equiparando-se de igual pra igual, inclusive como instrumentista. Pois ela acaba de anunciar o lançamento de mais uma caixa de discos para repassar sua longa relação com o jazz, batizada simplesmente de Joni’s Jazz, que será lançada em setembro deste ano (e já em pré-venda). A caixa, que no formato CD traz quatro discos e em vinil traz oito, passa por toda a carreira da cantora, compositora e instrumentista, começando desde a faixa-título de seu disco mais festejado (Blue, lançado em 1971, mostrando a conexão do álbum com o histórico Kind of Blue, de Miles Davis), passando pelo primeiro disco em que dedicou-se ao gênero (Court and Spark, gravado com o baterista John Guerin e o guitarrista Larry Carlton, em 1974), por sua carta de amor a Charles Mingus batizada apenas com o sobrenome do mestre, o ao vivo Shadows and Light, que gravou com Jaco Pastorius, Herbie Hancock e Wayne Shorter (ambos discos de 1979), suas colaborações tardias com Hancock até a versão que fez de “Summertime”, dos irmãos Gershwin, em sua lendária participação no festival de Newport, em sua volta ao público, em 2022, além de demos e versões alternativas para composições desta vertente. Além de dedicar a caixa a Wayne Shorter (“era uma alegria tocar com ele”, escreveu), ela também deu uma amostra do que vem por aí ao revelar uma demo da faixa “Be Cool”, lançada no disco Wild Things Run Fast, de 1982, em que a toca apenas acompanhada do baterista John Guerin.
Ouça abaixo a nova faixa, além de ver a capa e a relação das músicas de sua nova caixa de discos:
As irmãs Este, Danielle e Alana acabaram de lançar disco novo sexta passada e na rodada de divulgação de I Quit passaram pela BBC, quando fizeram uma versão para “Headphones On”, da sensação Addison Rae, e aproveitaram para emendar com “Got ’til It’s Gone”, hit de Janet Jackson, que, por sua vez, sampleia “Big Yellow Taxi”, da Joni Mitchell, que Danielle reforçou ao reverenciá-la dizendo que “Joni Mitchell nunca mente”, antes de cair num solo daqueles. Coisa fina.
Já viu o filme sobre o Dylan? Um Completo Desconhecido ainda vai ecoar por algum tempo, mas talvez já estejamos na hora de falar de um filme sobre a Joni Mitchell? Porque olha aí embaixo essa Amanda Seyfried tocando dulcimer no programa do Jimmy Fallon…
Não passou o carnaval ainda então dá tempo de remoer o ano que terminou tem quase um mês e meio, por isso segue abaixo a minha votação na lista mais tradicional de melhores do ano da internet brasileira, promovida pelo heróico Scream & Yell do compadre Marcelo Costa.
Como é de se esperar, a cada nova apresentação do show que fizemos em homenagem a Joni Mitchell ele sobe um degrau, mas essa quarta edição que Luiza Villa conduziu no Sesc Avenida Paulista nessa sexta-feira foi um salto em relação às anteriores. Foi o primeiro show feito para o público assistir de pé, o que deu outra cara à apresentação. Também foi a estreia do novo guitarrista, João Vaz, comedido e preciso em suas participações e abrindo vocais com Luiza com frequência, deixando os outros músicos – Pedro Abujamra, revezando-se entre o piano de cauda e o teclado elétrico, Tommy Coelho, que fez um solo maravilhoso de bateria no meio do show, e João Ferrari sempre esmerilhando no baixo – soltarem-se ainda mais, reforçando o vínculo instrumental da banda. Foi o primeiro show com a participação de um músico convidado e a estreia foi de João Barisbe, trazendo seu sax para o universo de Joni sem cerimônias. Mas o principal foi ver como a idealizadora do tributo está cada vez mais à vontade ao encarar uma obra tão rígida. Luiza Villa brilha a apresentação inteira não apenas como vocalista mas também como instrumentista, trocando de guitarras e violões para criar atmosferas especificas para diferentes momentos na noite. O figurino celebrando Patti Smith na capa de seu primeiro disco – a camisa social branca frouxa e a gravata mal amarrada – ajudou-a a soltar-se ainda mais no palco, inclusive nos momentos em que não canta. Mas era a influência de Joni Mitchell que pairava sobre a noite, não apenas com suas letras gigantescas e jogos de palavras, mas com camadas musicais que misturavam folk, jazz, blues e, por que não?, música brasileira, base instrumental de todos no palco. O show contou com músicas novas no repertório: “Goodbye Pork Pie Hat” e “Black Crow”, ambas da fase mais jazz de Joni com Barisbe arrasando em seu instrumento (ele ainda tocou em “Help Me” e no bis do final com “Free Man in Paris”. O show, que ainda teve os belos vídeos de Olívia Albegaria, ainda reverenciou Neil Young no momento acústico, quando Villa chamou Vaz para dividir vocais e violões na maravilhosa “Harvest Moon”. Fácil dizer que o show atingiu outro patamar, vamos ver quais serão os próximos passos.
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Idealizado pela cantora e compositora paulistana Luiza Villa para celebrar os 80 anos de Joni Mitchell em 2023, o espetáculo Both Sides Now chega ao Sesc Avenida Paulista no dia 17 de janeiro, antevendo um bom 2025 para todos. Na apresentação, Villa canta o repertório de um dos maiores nomes da canção norte-americana, como “Coyote”, “Hejira”, “Big Yellow Taxi” e “Little Green” revezando-se entre a guitarra e o violão e os formatos solo e acompanhada por sua banda, formada por Pedro Abujamra (piano e teclados), João Vaz (guitarra), João Ferrari (baixo) e Tommy Coelho (bateria). O show, que tem a direção do jornalista Alexandre Matias, contará com a participação especial do saxofonista João Barisbe e já está com ingressos à venda.
E um dos grandes eventos do ano aconteceu neste fim de semana, quando a mestra Joni Mitchell esgotou por duas vezes (sábado e domingo) o Hollywood Bowl, em Los Angeles, nos EUA, para realizar seus primeiros grandes shows após o aneurisma cerebral que a derrubou em 2015, deixando-a sem falar, cantar ou tocar por um bom tempo. Infelizmente isso não foi uma novidade em sua vida, já que ela que ficou reclusa em seu quarto no início da adolescência, vítima da pólio, tragédia que a transformou em uma instrumentista de excelência ímpar e uma das maiores compositoras da América do Norte. A recuperação da calamidade recente tornou-se pública há poucos anos, quando ela começou a fazer algumas aparições-surpresa: primeiro no festival de folk de Newport em 2022, depóis em dois shows mais longos em 2023 em Washington, capital dos EUA (um em março e outro em junho), e mais recentemente em uma aparição no Grammy deste ano, na mesma época em que anunciou as apresentações deste fim de semana. E ela não veio só: sua famosa banda rotativa Joni Jam, contou com, além da velha amiga Brandi Carlile, que a chama de “minha embaixadora”, Joni reuniu uma constelação de estrelas que incluía nomes como o cantor e compositor Blake Mills, o fleet fox Robin Pecknold, o jazzman inglês Jacob Collier, integrantes da banda Lucius, a soberba Annie Lennox, o inglês Marcus Mumford da Mumford & Sons, o multiinstrumentista Jon Batiste, a cantora e ativista canadense Allison Russell, a dupla afilhada por Prince Wendy & Lisa, a atriz e cantora Rita Wilson, Taylor Goldsmith do grupo Dawes, o imortal Elton John e a deusa do cinema Meryl Streep, além de Lucy Dacus e Chappell Roan, que cantaram com Joni em seu camarim. Separei uns trechos que achei da apresentação abaixo, bem como o setlist dos dois dias (que foram idênticos), e aproveito para agradecer publicamente à maravilhosa Luiza Villa, que há pouco mais de um ano, me cutucou para fazer um show em homenagem à mestra e me reconectou à história deste colossso da canção. Valeu, Lu! E tá na hora de fazer outro show daqueles, hein? Ave Joni Mitchell!
A gravadora Rhino segue a feliz missão de abrir o baú da Joni Mitchell para entregar suas melhores pérolas a nós meros ouvintes e adianta uma das joias da próxima caixa de discos sobre a discografia da cantora canadense que está prestes a lançar. Joni Mitchell Archives, Vol. 4: The Asylum Years (1976-1980) reúne o material que compôs quando começou a se envolver mais com o jazz no final dos anos 70, época em que gravou quatro de seus clássicos pela gravadora Asylum: Hejira (1976), o duplo Don Juan’s Reckless Daughter (1977), o disco que gravou comk o veterano Charles Mingus, chamado apenas de Mingus (1979) e o disco ao vivo que encerra esta fase de sua carreira, Shadows And Light (1980). A caixa com 6 CDs (ou 4 LPs) reúne as participações de Joni na turnê Rolling Thunder Review, de Bob Dylan, versões alternativas em estúdio, demos dos discos e versões ao vivo em turnês do período. A caixa (já em pré-venda) deve ser lançada no dia 4 de outubro e a gravadora Rhino acaba de antecipar a demo de “Traveling”, música que depois se tornaria a faixa que batizaria seu disco de 1976. Ouça abaixo, além de ver a capa e o conteúdo completo da caixa, com todas as músicas e um livro de 36 páginas com fotos e pinturas de Joni e uma conversa dela com seu amigo, o direotr Cameron Crowe.