Quem voltou a dar o de sua graça foi Johnny Jewel, a cabeça por trás dos saudosos Chromatics e capo do selo Italians Do It Better, que acaba de anunciar o lançamento da trilha sonora do filme holandês The Witch, escrito e dirigido por Fien Troch. Com influências confessas John Carpenter, Goblin, e Tangerine Dream, a trilha foi anunciada com a música batizada com o nome da protagonista do filme, uma adolescente de quinze anos chamada “Holly”. É inevitável perceber as referências à trilha do Suspiria de Dario Argento que a banda prog italiana Goblin compôs em 1977. A trilha já está em pré-venda e deverá ser lançada no dia 13 de outubro.
Não bastasse estar à toda com seus Chromatics (sacando versão dupla do ótimo disco que lançou ano passado, seguido de música inédita), o norte-americano Johnny Jewel parece ter entrado num flow criativo intenso – e acaba de lançar uma versão estridente e sinuosa para a clássica “Bizarre Love Triangle” com mais uma de suas inúmeras bandas, desta vez o trio Desire, composto por ele, o comparsa de Chromatics Nat Walker e a cantora canadense Megan Louise.
Uma versão bem simples, mas absorta no universo sonoro de nosso herói.
Quando, no início de março, a gravadora Echo Park Records anunciou que os Chromatics estariam envolvidos com a trilha sonora de Twin Peaks, o fez soltando uma imagem no Twitter que, entre elementos caros à série e à banda, ainda trazia discos de vinil quebrados – todos com o rótulo de Dear Tommy.
Harry, I'm going to let you in on a little secret: Chromatics and Johnny Jewel are involved with the new season of Twin Peaks pic.twitter.com/RHpx1SrEVd
— Echo Park Records (@echoparkrecords) March 7, 2017
Os fãs sabem, mas quem não acompanha a trajetória sabe que Johnny Jewel vem adiando o lançamento do segundo disco dos Chromatics – o tal Dear Tommy – há anos. Com o anúncio do envolvimento de Johnny com a trilha da nova temporada do seriado de David Lynch, o dono da Echo Park, Alexis Rivera, publicou uma série de tweets falando sobre como Johnny destruiu todas as cópias do disco que estava prestes a ser lançado – e como isso é um bom sinal. Entenda:
Enough people have asked about Dear Tommy and the status of the album, I think it's time for an update https://t.co/5A3znJr4Fs
— Echo Park Records (@echoparkrecords) May 3, 2017
“Muita gente vem me perguntando sobre Dear Tommy e a quantas anda o disco, acho que é hora de uma atualização.”
Christmas day 2015 Johnny almost died in Hawaii. I don't want to go into details, but I'm sure he'll discuss it in interviews at some point.
— Echo Park Records (@echoparkrecords) May 3, 2017
“No natal de 2015, Johnny quase morreu no Havaí. Não quero entrar em detalhes, mas tenho certeza que ele discutirá isso em entrevistas em algum momento.”
When he came back home to California he destroyed all copies of Tommy. 15K CDs & 10K vinyl in the Italians warehouse in Glendale, all gone
— Echo Park Records (@echoparkrecords) May 3, 2017
“Ele voltou para sua casa na Califórnia e destruiu todas as cópias de Dear Tommy. 15 mil CDs e 10 mil vinis que estavam no galpão da Italians Do It Better, em Glendale, todos destruídos.”
When we announced "Twin Peaks" in March, you can see some of those broken Tommy records https://t.co/Ink9W8hI24
— Echo Park Records (@echoparkrecords) May 3, 2017
“Quando anunciamos a participação em Twin Peaks, em março, dá para ver alguns destes Dear Tommy quebrados.”
Is it weird to destroy & delete your album once it's done? Fuck yes. It's also financially insane. But it wasn't the first time he's done it
— Echo Park Records (@echoparkrecords) May 3, 2017
“É estranho destruir e deletar seu disco depois que ele está feito? Porra, sim. E também é financeiramente insano. Mas não foi a primeira vez que ele fez isso.”
March of 2011: Glass Candy was playing in Guadalajara & Johnny gave me a box of Kill For Love CDs. He wanted the album out later that month.
— Echo Park Records (@echoparkrecords) May 3, 2017
“Em março de 2011, o Glass Candy estava tocando em Gadalajara e Johnny me deu uma caixa com os CDs do Kill for Love. Ele queria que o disco saísse no final daquele mês.”
Then he got hired to score Drive, then that went absolutely snafu. Shit comes up all the time that changes things. Sometimes it's a blessing
— Echo Park Records (@echoparkrecords) May 3, 2017
‘Então ele foi contratado para fazer a trilha de Drive e ficou completamente maluco. Merdas acontecem o tempo todo e mudam tudo. Às vezes, é uma bênção.”
Johnny destroyed the CDs & vinyl of that version of Kill For Love in April 2011. Publicly no one knew. But it kickstarted a creative streak
— Echo Park Records (@echoparkrecords) May 3, 2017
“Johnny destruiu todos os CDs e vinis daquela versão de Kill for Love em abril de 2011. Ninguém soube disso publicamente. Mas deu início a um surto criativo.”
He worked more on Kill For Love, he worked on Symmetry's Themes, he worked on more music that I hope we'll hear sooner rather than later
— Echo Park Records (@echoparkrecords) May 3, 2017
“Ele trabalhou mais em Kill for Love, trabalhou nos temas do Symmetry, trabalhou em mais música que eu achei que íamos ouvir bem mais tarde.”
He even referenced the other version of Kill For Love (and multiple changes) in an interview with @pitchfork in 2012 https://t.co/PZTySumQOU pic.twitter.com/8c7XBsS14l
— Echo Park Records (@echoparkrecords) May 3, 2017
“Ele ainda fez referência à outra versão de Kill for Love (e múltiplas mudanças) e em uma entrevista à Pitchfork em 2012.”
“Eu originalmente imaginava que Kill for Love fosse sair em 2010; havia uma versão que já havia sido feita, mas era risível, constrangedora. Eu fico muito feliz de ter desistido dela. No total, acho que fiz dez versões do disco com mixagens, masterizações e velocidades diferentes para as canções. O disco foi masterizado seis vezes diferentes ao todo e então eu fiz uma coletânea com os melhores momentos de todas as masters, os edits e os tempos que formavam o arco mais eficaz. Mas todo mundo achava que éramos loucos.”
Anyway back to Johnny almost dying. After he went on another streak. Doing Tommy. Producing new acts like Heaven. Doing films & "Twin Peaks"
— Echo Park Records (@echoparkrecords) May 3, 2017
“Bom, de volta à quase morte de Johnny. Depois disso ele teve um outro surto. Ao fazer Tommy. Produzir novos artistas como Heaven. Fazer filmes e Twin Peaks.”
As for Dear Tommy, now that we are getting closer to the release of the album, Johnny wanted the music from it to come down
— Echo Park Records (@echoparkrecords) May 3, 2017
“Sobre Dear Tommy, acho que estamos chegando perto do lançamento do disco. Johnny queria que a música dele soasse caindo.”
Enquanto Dear Tommy não aparece, os Chromatics oficializam a versão de “Shadow” que fizeram para a trilha sonora do novo Twin Peaks – quando tocaram a faixa ao vivo no segundo episódio da série.
Estamos esperando por Dear Tommy, o sucessor do incrível Kill for Love dos Chromatics, há anos. O líder da banda, Johnny Jewel, já soltou várias faixas antecipadamente e avisou tantas outras vezes que o disco estava prestes a ser lançado. Enquanto atrasa ainda mais a vinda o disco, Johnny aproveita o compasso de espera para lançar outros trabalhos sem pressa – como é o caso dos dois curtos EPs instrumentais que ele acaba de lançar o tenso The Key e o sinistro The Hacker, que seguem aquela linha típica do autor, que mistura sintetizadores dos anos 80 com a atmosfera etérea do dream pop, e podem ser ouvidos abaixo:
Os dois EPs (mais um tanto de outras coisas que ele lançou recentemente) podem ser baixados no site de sua gravadora Italians Do It Better por apenas um dólar cada lançamento.
Um Vida Fodona mais de leve…
Johnny Jewel – “Birds of Prey”
Chromatics – “In Films”
Ratatat – “Cream on Chrome”
Cidadão Instigado – “Green Card”
FFS – Johnny Delusional
Mac McCaughan- “Box Batteries (Single Version)”
Bleachers + Grimes – “Entropy”
Caxabaxa – “Agito Desanimado (Pesadelo Gostoso)”
Alabama Shakes – “Future People”
Led Zeppelin – “Everybody Makes It Through (In the Light)”
Tame Impala – “‘Cause I’m a Man”
Drake – “Energy”
Saint Pepsi – “Strawberry Lemonade”
Sinkane – “Yacha”
People Under the Stairs – “Dewrit!”
Sants – “Chavoso”
Taylor Swift – “Style”
Já falei aqui que o dono dos Chromatics está fazendo a trilha sonora da estreia de Ryan Gosling na direção, o filme Lost River, que, ao juntar os dois novamente na telona, pode causar o mesmo impacto do filme que marcou a maturidade dos dois, aquela joia retrô chamada Drive. No novo filme, a personagem Rat, interpretada pela irlandesa Saoirse Ronan canta canções de ninar para si mesma para acalmar-se. Jewel acaba de liberar a música que abre o filme, a doce “Tell Me” e ele conta como foi a gravação da música:
“No script, Rat se nina para dormir toda noite com uma canção de ninar cheia de esperança.
É a forma que ela encontrou pra lidar com a dor ao seu redor e transcender aquele inconsolável arrastar de tempo que todos nós sentimos nas noites infindáveis de nossa juventude.
Enquanto trabalhávamos no filme, Ryan decidiu que ele queria que Saoirse cantasse na tela.
Continuamos falando disso por meses, tentando encontrar a música certa.
Depois que a edição ficou pronta, Saoirse estava aqui em Los Angeles gravando vozes para o filme.
Do nada eu recebi uma mensagem do Ryan que dizia apenas “Rat está na cidade. Você está pronto?”
Peguei um microfone, um gravador e um amplificador e dirigi o mais rápido que pude pra sala de mixagem.
Quando eu chego lá, eles me mostram uma sala de gravação enorme, mas ela estava um pouco nervosa.
Mesmo que ela seja incrivelmente talentosa na tela, ela nunca havia gravado uma música pop antes.
Para quebrar o gelo, armei o gravador de oito canais no chão da cozinha ao lado.
Quando ela chegou, nós três empilhamos todos os móveis e malas no canto para bloquear a porta.
Queria que ela se sentisse o mais segura possível e queria que ela cantasse da forma mais íntima que pudesse.
Como se ela fosse a única pessoa no mundo.
Prometi pra ela que não havia como passar por aquela porta até que terminássemos.
Ryan apagou todas as luzes e nós três sentamos no chão em círculo, no escuro.
Gravamos em dois takes com um único microfone e sem fones de ouvido.
Não há palavras para descrever aquele momento.
Foi pura magia.
Já ouvi essa música mil vezes desde aquela noite… e ainda fico impressionado toda vez que a escuto.
Saca só:
Às vésperas de lançar o novo disco do Chromatics, Johnny Jewel continua esvaziando seu HD em sua conta do Soundcloud, liberando faixas inéditas tanto de sua principal banda quanto de projetos individuais ou paralelos como Desire, Glass Candy e Simmetry. Na página do Facebook da banda, ele libera para download por blocos, em arquivos zipados. E é cada pérola…
É só ficar de olho no Soundcloud dele…
Vamos lá?
Johnny Jewel – “Birds of Prey”
Dusty Springfield – “Windmills of Your Mind”
Sia – “Soon We’ll Be Found”
Lana Del Rey – “Brooklyn Baby”
Tops – “Change of Heart”
Unknown Mortal Orchestra – “So Good At Being in Trouble”
Leo Cavalcanti – “Inversão do Mal”
David Bowie – “‘Tis A Pity She Was A Whore”
Sonic Youth – “Superstar”
Supercordas – “Mumbai”
Can – “Fall of Another Year”
Lucas Santtana – “Jogos Madrigais”
Lykke Li – “I Follow Rivers (The Magician Remix)”
Gang of Four + Alison Mosshart – “Broken Talk”
Johnny Jewel continua desenterrando raridades e extras de seus trabalhos, principalmente de sua banda Chromatics, em sua conta no Soundcloud – e tudo pra download gratuito. Entre as pérolas dessa última leva estão duas versões para faixas do excelente Kill for Love gravadas portaestúdios de oito canais.
Mas se eu fosse você, passava lá no Soundcloud dele e baixava tudo.
Faz mais ou menos um mês que Johnny Jewel começou a despejar sobras de estúdio, versões alternativas e músicas velhas inéditas do Chromatics em sua conta no Soundcloud. O som é aquela clima etéreo entre a distopia cyberpunk e o delírio apaixonado que é característico do som da banda, mas levanta uma hipótese – será que ele está limpando o HD para começar uma nova fase? Dedos cruzados!