Uma caixa monumental disseca de forma o ápice da fase política de John Lennon, quando o ex–beatle passou da teoria para a prática e organizou dois shows enormes no mesmo 30 de agosto de 1972 no Madison Square Garden, em Nova York, para arrecadar fundos para a Willowbrook State School, instituição estatal de amparo para crianças com deficiência intelectual que encontrava-se em situação deplorável. Batizada de Power To The People, a enorme compilação reúne doze CDs de gravações deste período (sendo que três são discos com Blu-ray com versões em alta definição de áudio dos discos com o show em Nova York), tanto a íntegra das duas apresentações (a de tarde e a da noite), breves apresentações ao vivo em programas de TV ou protestos com fins políticos, os extensos ensaios com gigantes como Frank Zappa, Eric Clapton, Keith Moon, George Harrison, Nicky Hopkins e Klaus Voorman e gravações caseiras de John (inclusive uma sessão ao lado de Phil Ochs), além de vários outros itens como um livro de duzentas páginas, um pôster que imita uma capa de jornal, dois postais, duas folhas de adesivos, réplicas de ingressos, de credenciais de acesso aos bastidores e convites para a festa depois do show. Três dos CDs são discos Blu-ray e trazem o que o produtor da caixa, o próprio filho de John, Sean Lennon, batizou de “documentário da evolução”, reunindo trechos diferentes do ensaio de várias músicas, mostrando como elas foram chegando ao formato final apresentado nos shows, batizados de One to One. Na prática foi o único show completo que Lennon deu após sair dos Beatles (os outros foram participações em shows ou eventos alheios) e ele estava realmente feliz em poder voltar aos palcos. Para antecipar a caixa, que será lançada no dia 10 de outubro e já está em pré-venda, foi lançada uma versão remasterizada da versão que John fez para sua “Come Together”, a faixa que abre o último disco dos Beatles.
Um dos discos mais turbulentos da carreira solo de John Lennon está ganhando um tratamento de luxo e sendo dissecado de diversas formas para ser relançado em outubro deste ano. Mind Games é o disco que marca a separação de John de sua esposa Yoko Ono num período de 18 meses que ficou conhecido como “O Fim de Semana Perdido” na biografia do ex-beatle, numa referência ao título original do filme Farrapo Humano, de Billy Wilder, sobre alcoolismo. Mas em vez de lamentar o término do relacionamento dos dois, que foi retomado no ano seguinte, a reedição prefere celebrar a história do casal buscando referências desde o primeiro encontro e traz imagens inéditas da exposição You Are Here (“Você está aqui”) que Lennon montou em 1968 literalmente influenciado pela poesia e pela arte de sua nova namorada – imagens que se tornaram um novo clipe para a faixa do mesmo título que encerra o disco. Diz John: “Fiz a exposição ‘You Are Here’ na galeria Robert Fraser, que consistia numa galeria sem nada com uma grande tela circular em que escrevi: ‘você está aqui’. Você tinha que descer as escadas e passar por diferentes latas coletoras de dinheiro para instituições como fundos a favor dos direitos humanos, dos animais e da luta contra o câncer – o lugar estava cheio delas – e no lado esquerdo havia uma parede com essa tela enorme escrito ‘você está aqui’ com um chapéu em que as pessoas poderiam colocar dinheiro – para o artista – e uma jarra cheia de pequenos bottons brancos que vinham com ‘você está aqui’ escrito. Filmamos as pessoas por trás de uma janela escurecida com a equipe da versão inglesa do programa Câmera Escondida e deixamos balões com bilhetes escrito ‘mande uma mensagem quando entender’ para que as pessoas mandassem cartas dizendo de onde elas vinham. ‘Você está aqui’ é mais só uma piada, acho. As pessoas leem e de repente percebem que é uma verdade: ‘é, estou aqui’, pensam, ‘como essas outras pessoas estão aqui. Nós todos estamos aqui juntos’. E é aí que as vibrações começam a ser trocadas. Boas e más, dependendo de quem as envia ou como elas se sentem. Muita gente foi para a Índia para descobrir onde estavam, como Richard Alpert, aquele amigo do Timothy Leary , que foi para a Índia, viu vários gurus, procurando-os por toda a parte e tudo que esses gurus diziam para ele era: ‘lembre-se de estar aqui agora’. É tudo o que os gurus vão te dizer. Lembre-se deste momento agora. Estava conversando com George outro dia e esqueci de perguntar para ele: ‘o que você está procurando? Você está aqui!”. A versão mais parruda da reedição de Mind Games é uma caixa limitada com apenas 1100 cópias, que conta com reproduções numeradas de artes de John e Yoko (além de seus certificados de autenticidade), um EP com um holograma aplicado, nove LPs (entre eles dois do tipo picture), dois livros, quatro pôsteres, dois mapas, dois postais, três bottons, um Caça-Palavras, moedas de I Ching e uma camiseta da causa levantada por John na época, da Nutopia, um selo postal Nutópico e uma réplica da placa da embaixada de Nutopia. O preço, claro, é uma facada: 1650 dólares – e já está em pré-venda.
Morreu nesta terça-feira o poeta e ativista John Sinclair, que além de promover o antirracismo e a legalização da maconha no auge dos anos 60, também foi empresário do grupo MC5 e homenageado por John Lennon numa música batizada com seu nome.
Os Rolling Stones liberaram online a primeira performance de seu clássico “Sympathy for the Devil” ao vivo, quando a tocaram pela primeira vez no mitológico especial Rock and Roll Circus, que gravaram no final de 1968, logo após terem lançado o disco Beggar’s Banquet, mas que só foi oficializado quase trinta anos depois, em 1996 (falei desse clássico num CliMatias dia desses). Nesta primeira versão, que ficou de fora da versão final do especial, não só assistimos à estreia como a vemos tocada com apenas uma guitarra, uma vez que o fundador dos Stones, Brian Jones, limita-se a tocar maracas. E pelas performances de Mick Jagger e Keith Richards dá pra cravar que este é o momento em que os dois assumem as personalidades que iriam ditar os rumos da banda pelas décadas seguintes. Jagger em especial está brilhante, numa apresentação histórica desde o início – sem contar quando ele tira a camisa para revelar um certo desenho tatuado no peito.
E cuidado pra não perder o John Lennon fritando perto dos cinco minutos do vídeo.