Todo o Show: João Gilberto no Festival de Águas Claras

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Se você não viu O Barato de Iacanga, documentário sobre as mitológicas edições do maior festival hippie que já aconteceu no Brasil, pare tudo que está fazendo e assista agora – tem no Netflix, corre enquanto é tempo. Mas se você já assistiu ao filme, sabe que um dos pontos máximos é a inesperada e antológica participação de João Gilberto na terceira edição do Festival de Águas Claras, que o maior nome da história da música brasileira considerava um de seus melhores shows. O mais legal é descobrir que esse show está inteirinho no YouTube, aumenta o volume…

https://www.youtube.com/watch?v=iAAAGKCkRCA

Rei Sem Coroa – Repertório Inexplorado de João Gilberto

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Parte do repertório dos shows de João Gilberto nunca foi gravada – canções que ouvia no rádio quando ainda morava na Bahia, que não chegou a registrar em disco e que eram lapidadas, lentamente, em seus shows pelo mundo. O espetáculo Rei Sem Coroa, idealizado por Paulo Carvalho e Kassin com as presenças das cantoras Nina Becker e Mãeana, estreia neste sábado no Centro Cultural São Paulo, às 19h, e traz justamente este repertório inexplorado do maior nome da nossa música (mais informações aqui).

Arthur Nestrovski explica João Gilberto

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Em quatro vídeos feitos pela Piauí, o diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Arthur Nestrovski, sintetiza a importância do maior artista brasileiro, João Gilberto, que morreu há um mês.

Todo o show: João Gilberto no Auditório Ibirapuera

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Eis a íntegra do penúltimo show que João Gilberto fez em São Paulo, o único show dele que vi ao vivo, no dia 14 de agosto de 2008. 29 clássicos da música brasileira – a maioria da primeira fase de sua discografia – na voz de seu maior intérprete. Cada segundo deste vídeo é uma aula de história, de música e de estilo.

“Aos Pés da Santa Cruz”
“Treze de Ouro”
“Wave”
“Caminhos Cruzados”
“Doralice”
“O Amor, o Sorriso e a Flor”
“Preconceito”
“Disse Alguém”
“O Pato”
“Corcovado”
“Samba do Avião”
“Lígia”
“Você já foi á Bahia?”
“Rosa Morena”
“Morena Boca de Ouro”
“Desafinado”
“Estate”
“Não Vou Pra Casa”
“Chega de Saudade”
“Isso Aqui o Que é?”
“Chove lá Fora”
“Esse Nosso Olhar”
“Bahia com H”
“Da Cor do Pecado”
“Retrato em Branco e Preto”
“Samba de Uma Nota Só”
“Guacyra”
“Pra Machucar meu Coração”
“Garota de Ipanema”

João Gilberto não morre nunca. E um salve ao pirateiros!

Vida Fodona #596: João Gilberto (1931-2019)

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Um guia sentimental.

João Gilberto – “Se é Tarde Me Perdoa”
João Gilberto – “Chega de Saudade”
João Gilberto – “Bim-Bom”
João Gilberto – “É Luxo Só”
João Gilberto – “O Samba da Minha Terra”
João Gilberto – “Samba de Uma Nota Só”
João Gilberto – “Desafinado”
João Gilberto – “Só em Teus Braços”
João Gilberto – “Insensatez”
João Gilberto – “Outra Vez”
João Gilberto – “A Primeira Vez”
João Gilberto – “Meditação”
João Gilberto – “Saudade Fez um Samba”
João Gilberto – “Doralice”
João Gilberto – “Rosa Morena”
João Gilberto – “Bolinha de Papel”
João Gilberto – “Discussão”
João Gilberto – “Brigas, Nunca Mais”
João Gilberto – “Aos Pés da Cruz”
João Gilberto – “Corcovado”
João Gilberto – “O Barquinho”
João Gilberto – “Este Seu Olhar”
João Gilberto – “Amor Certinho”
João Gilberto – “Lobo Bobo”
João Gilberto – “O Pato”
João Gilberto – “Trem de Ferro (Tremzinho)”
João Gilberto – “Trevo de Quatro Folhas”
João Gilberto – “Morena Boca de Ouro”
João Gilberto – “Saudade da Bahia”
João Gilberto – “Hô-Ba-Lá-Lá”
João Gilberto – “Coisa Mais Linda”
João Gilberto – “Você e Eu”
João Gilberto – “O Amor em Paz”
João Gilberto – “Um Abraço no Bonfá”

João Gilberto (1931-2019)

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Apesar de inevitável, a notícia da morte de João Gilberto veio como uma pedra no peito – doeu fundo. Ele é o maior nome da música brasileira e talvez o maior de nossa cultura, um autor que inventou um Brasil em que vivemos até hoje, Brasil que infelizmente vemos se despedaçar no momento de sua morte. Pude vê-lo em uma de suas últimas apresentações (obrigado mais uma vez Lillian), no dia 14 de agosto de 2008, no Auditório Ibirapuera, num show perfeito, em que ele visitou minha parte favorita de seu repertório (seus três primeiros discos). Temendo ser flagrado filmando e comprometer aquele contato supremo, liguei a câmera apenas no final, registrando sua despedida.

Mal sabia que estava vendo o primeiro de sua última série de shows. Ele faria mais um show no dia seguinte em São Paulo, no dia 24 no Rio de Janeiro e no dia 5 de setembro, em Salvador. Mal sabia que estava me despedindo de um dos meus maiores ídolos. Obrigado, João.

João Gilberto, nosso maior artista

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Ainda abalado pela notícia da morte de João Gilberto, fui chamado pelo UOL para escrever sobre a importância do mestre no momento de sua partida – leia lá a minha análise.

Os melhores de 2017 na música segundo a APCA

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Eis o resultado da eleição dos melhores do ano na categoria música popular segundo o júri da Associação Paulista de Críticos de Arte, do qual faço parte:

Grande prêmio da crítica: João Gilberto
Artista do ano: Rincon Sapiência
Melhor álbum: Boca, Curumin
Melhor show: Mano Brown (Boogie Naipe ao vivo)
Revelação: Pabllo Vittar
Projeto especial: Selo Discobertas (Acervo)
Música do ano: “As Caravanas”, Chico Buarque

Além de mim, participam do júri Fabio Siqueira, José Norberto Flesch, Marcelo Costa, Tellé Cardim, Lucas Brêda e Roberta Martinelli, estes dois últimos estreando na votação este ano.

Nick Drake foi influenciado por João Gilberto

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O músico e jornalista Thomas Pappon assistiu a um bate-papo com o produtor Joe Boyd em Londres e não esperava ser surpreendido por uma bomba intercontinental: Nick Drake teria se inspirado em João Gilberto para buscar sua própria sonoridade, uma das assinaturas musicais mais fortes da música britânica, mesmo que registrada em parcos três discos e gravações esparsas. Ele contou brevemente a história em seu perfil no Facebook e pedi para que ele compartilhasse sua descoberta aqui no Trabalho Sujo. Valeu Thomas!

Peter Paphides e Joe Boyd (foto: Thomas Pappon)

Peter Paphides e Joe Boyd (foto: Thomas Pappon)

Trilhas da Hammer e cocktail jazz: a conexão Nick Drake – João Gilberto

O que era para ser um programinha bacana num fim de tarde chuvoso de domingo trouxe uma bomba, pelo menos para os jornalistas de música: Nick Drake, o trágico bardo depressivo que morreu no ostracismo para ser redescoberto nos anos 80 e influenciar deus e o mundo – de Robert Smith a Renato Russo – passava horas no quarto ouvindo João Gilberto.

Pelo menos é o que sugeriu Joe Boyd, o produtor americano que descobriu Drake na Grã-Bretanha e produziu seus dois primeiros álbuns, num evento no bar/restaurante audiófilo Spiritland, em Londres.

Boyd participou de uma conversa sobre Nick Drake, respondendo a perguntas feitas pelo jornalista Peter Paphides e, ao final, de membros do público.

Ele contou como conheceu Drake: através de um bilhete de Ashley Hutchings, baixista do Fairport Convention, deixado sobre sua mesa com um número de telefone e um nome. Hutchings tinha visto Drake tocar num concerto contra a guerra do Vietnã na noite anterior (uma das raras apresentações ao vivo del, pelo visto) e ficara impressionado.

Boyd ligou, chamou Drake ao escritório, ouviu suas músicas e assim começa a trajetória de três álbuns lançados pela gravadora Island, Five Leaves Left (69), Bryter Layter (71) e Pink Moon (72). Drake morreu em 1974, aos 26 anos, de overdose de antidepressivos (30 comprimidos, o que levou muita gente, inclusive a irmã dele, Gabrielle, a acreditar que foi suicídio).

“Com os anos, fiquei surpreso em ver que muitas pessoas próximas pintavam um quadro de Nick bem diferente do que eu conheci”, disse Boyd. “Diziam que ele era popular na faculdade (Cambridge), que participava de corridas (atletismo)…o Nick que conheci era bashful (Boyd usou essa palavra ao menos duas vezes para descrevê-lo, significa ‘relutante em chamar atenção sobre si, tímido, reservado’).

Boyd deu detalhes sobre as gravações. Falou do fiasco dos arranjos de cordas de Robert Hewson, que tinha trabalhado com James Taylor, e do alívio que Drake sentiu quando soube que Boyd também não tinha gostado. Sobre a tímida indicação de Drake – “tem um amigo meu de Cambridge que conhece minhas músicas” -, Robert Kirby, que acabou cuidando dos arranjos de cordas, parte tão orgânica das canções.

E contou que Kirby se recusara a fazer o arranjo para River Man, talvez música mais conhecida – e reverenciada – do repertório de Drake.

“Kirby era ligado a música barroca. Ela não se sentia à vontade para fazer um arranjo de uma música em (andamento) 5 por 4. Haendel não tinha 5 por 4”, disse Boyd.

“Quem acabou sendo chave nessa história foi o engenheiro de som, John Wood. Wood perguntou a Drake: ‘Que tipo de arranjo de cordas você quer?’ ‘Algo tipo Delius (compositor britânico)’. Wood era o dono do estúdio e estava acostumado a gravar trilhas sonoras de filmes. Ele conhecia um cara que fazia arranjos imitando qualquer compositor. Se você precisa de uma trilha tipo Mahler, ele fazia. Tipo Wagner, ele fazia.”

Esse cara era Harry Robinson, “que compunha trilhas para os filmes de terror da Hammer”.

“Eu e Nick fomos de carro conhecê-lo. Nick levou um violão e um gravador cassete. Ele tocou o cassete com o violão de ‘River Man’ e tocou, junto, a ideia que tinha de arranjo. Portanto Harry Robinson fez o arranjo a partir da ideia de Drake e do pedido de fazer algo ‘tipo Delius’.”

Boyd contou que tudo foi gravado em um só take ao vivo: Nick Drake, voz e violão, e o grupo de cordas executando as partituras de Harry Robinson, ao vivo. “O John Wood diz que a voz de Drake foi gravada depois, ms não é essa a lembrança que tenho”.

Depois, veio a bomba: “A forma como a voz e o violão parecem ter duas vidas próprias segue o estilo do cantor e violonista brasileiro João Gilberto”.

“Isso só me ocorreu mais tarde. Mas um amigo de Drake, da Universidade de Cambridge, me disse que ele ouvia João Gilberto, que tinha discos dele”.

O comentário passou batido, menos para mim e meu amigo, o também jornalista Rogério Simões, fã de longa data de Nick Drake. Não tínhamos ideia…

Na sessão de perguntas do público, o Rogério perguntou por que os discos de Nick Drake não venderam (nem 5 mil cópias cada) na época.

Boyd deu, como pista, uma resenha que tinha saído na época na Melody Maker, do álbum Bryter Layter, que dizia que a música “parece uma mistura esquisita de folk e cocktail jazz”.

E depois, o serviço da casa foi interrompido, para que os pouco mais de 100 presentes pudessem ouvir, à meia-luz em em silêncio total, à mistura esquisita – e mágica – de folk e cocktail jazz do Bryter Layter.”

Vida Fodona #424: Voltamos à nossa programação normal pós-Yo La Tengo

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Ora vejam só:

Yo La Tengo – “Deeper Into Movies”
Lana Del Rey – “Shades of COol”
Quincy Jones – “The Pawnbroker”
João Gilberto – “Undiú”
MØ – “Don’t Wanna Dance”
Flume + Chet Faker – “Drop the Game”
Nação Zumbi – “Novas Auroras”
Nick Waterhouse – “It No. 3”
Charles Bradley – “Changes”
Giancarlo Ruffato – “Cancioneiro”
Tame Impala – “Prototype”
Tennis – “Petition (Vacationer Remix)”
Black Keys – “In Our Prime”
Garotas Suecas + Lurdez da Luz – “A Nuvem”
Pharrell – “It Girl”

Vamo!