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Sob o signo de João

Sempre que falamos de João Gilberto o cuidado deve ser redobrado – ou triplicado -, por isso tinha expectativa de ver como Marina Nemesio e Rodrigo Coelho defenderiam o mestre no palco do Centro da Terra no espetáculo que fizemos ao redor das primeiras gravações não-oficiais da musicalidade que João lapidou durante os anos 50. E por mais que já tivesse visto os dois tocar aquele repertório, havia toda uma expectativa em relação a vê-los tocando para outras pessoas. Porque, como nos grandes momentos do pai da bossa nova, João 1958 é uma apresentação pensada unicamente para voz e violão – a voz com Marina, aniversariante do dia, e o violão com Coelho, retomando o instrumento acústico depois de anos debruçados no baixo, synths e equipamentos eletrônicos. Vê-los tocando na minha frente, como único espectador presente, era uma situação completamente diferente da que mostramos nessa terça para um público que, ciente da grandeza de João, apreciou os quase sessenta minutos da apresentação sem dar o pio, quietos como quem assiste a uma missa. E foi isso que Marina e Coelho fizeram: uma celebração religiosa à musicalidade brasileira, passando por músicas que depois seriam registradas por João nos álbuns gravados nos anos seguintes, e outras que nunca mais revisitaria, como canções próprias sem letras e clássicos da velha guarda da nossa música, como “Chão de Estrelas” de Sílvio Caldas e “Preconceito” de Wilson Baptista que João só retornaria quando participou do festival de Montreux, em 1985. E essa missa não poderia ter melhores sacerdotes: Coelho, que não é virtuose mas audiófilo, tocou seu instrumento com delicadeza e precisão, cantarolando por sobre as bases em alguns momentos, e Marina, com sua voz delicada e suave, tomando conta do teatro. Foi lindo demais…

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Rodrigo Coelho + Marina Nemesio: João 1958

Vamos voltar ao período em que João Gilberto mostra como seria o futuro do século 20 ao mostrar pela primeira vez em público a nova forma de tocar que inventou depois que mudou-se para o Rio de Janeiro. O espetáculo João 1958, concebido por Rodrigo Coelho e Marina Nemesio com minha direção, resgata o repertório que o mestre baiano mostrou para os amigos depois de chegar à capital do Brasil à época, depois de passagens por Porto Alegre, Diamantina e Juazeiro, onde lapidou aquele novo jeito de tocar e cantar. Essas primeiras demonstrações de seu som foram registradas pelo fotógrafo Chico Pereira, que apresentou João a Tom Jobim. Parte das músicas desta gravação foram eternizadas por João em seus discos seguintes, mas boa parte delas, algumas compostas por ele mesmo, nunca mais foram registradas. Elas formam a base de João 1958, que será apresentado pela primeira vez no Centro da Terra. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda no site do teatro.

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Um Brasil entre dois Joões e uma Mãeana

Finalmente consegui ver nessa sexta-feira na Casa Natura o show em que Mãeana entrelaça os repertórios de dois JGs (João Gomes e João Gilberto) para traçar um paralelo entre dois momentos diferentes do Brasil e buscar um sentimento comum para estas duas nações aparentemente distintas, mas que, sob esta luz, tornam-se unidas emocionalmente. Como a própria autora da noite fez questão de frisar, é um show sobre amor romântico, mas que reflete as ansiedades e inseguranças dos indivíduos nestes dois momentos diferentes. Quis o destino que o show que assisti caísse no exato aniversário de três anos da primeira apresentação, quando Mãeana, morando em Salvador, cogitou a possibilidade de juntas bossa nova e piseiro mostrando que, apesar da distância do samba minimalisticamente acústico de um João harmonizasse e bem com o forró eletrônico do outro, graças ao carisma arredio da anfitriã, que ainda citou Miúcha quando explicou que o motivo de sucesso de um casamento. Infelizmente tive que sair antes do final pois tinha um @inferninhotrabalhosujo pela frente.

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João Gilberto nos anos 60, a cores

Quem me acompanha sabe que eu sou completamente fissurado por João Gilberto – e sempre fico de olho na mina de ouro que é o canal no YouTube mantido pelo caçador de pepitas do mestre Pedro Fontes, o Esqueleto Lavrador. Ele agora pinça duas joias direto da TV alemã em 1968, quando João apresentou-se ao lado do francês Pierre Le Marchand (tocando chimbal) e do alemão Hans Koller (no sax) dentro do programa Monsieur 100.000 Volt, apresentado pelo francês Gilbert Bécaud (cujo programa era batizado em homenagem a seu apelido, por ser muito esquentado) na emissora ZDF (Zweites Deutsches Fernsehen, a TV pública da então Alemanha Ocidental). O programa, exibido originalmente em novembro daquele ano, reúne dois momentos mágicos como só João sabe fazer, cantando “O Samba da Minha Terra” de Dorival Caymmi e “Garota de Ipanema” de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, ambas em trechos coloridos com uma imagem linda de encher os olhos. Isso sem contar o som, que delícia…

Assista abaixo:  

Vida Fodona #808: 13 anos de Vida Fodona

Comemorando atrasado.

Justice + Tame Impala – “Neverender”
David Bowie – “Stay”
Happy Mondays – “Bob’s Yer Uncle”
Itamar Assumpção – “Fico Louco”
Jorge Ben – “Cinco Minutos”
Sade – “No Ordinary Love”
Massive Attack – “Black Milk”
Curumin – “Vem Menina”
Yo La Tengo – “Well You Better”
Yumi Zouma – “Catastrophe”
Tops – “Change of Heart”
Yma – “Vampiro”
Erasmo Carlos – “Sorriso Dela”
Ava Rocha – “Beijo no Asfalto”
João Gilberto – “É Preciso Perdoar”

Ouça abaixo:  

Só com João

Depois eu falo do disco novo da Taylor Swift, agora só consigo ouvir o disco novo do João Gilberto que acaba de chegar às plataformas digitais. Live in San Francisco 2003 é uma edição com o material que o heroico fã Pedro Fontes (que reúne material que encontra sobre João online em seu perfil no YouTube, Esqueleto Lavrador) encontrou há um mês no Internet Archive com 55 canções dos dois shows que o mestre fez nos dias 25 e 26 de julho de 2003 no San Francisco Jazz Festival, disponibilizado pelo próprio festival. Abaixo, duas playlists: a original que Fontes reuniu em seu canal e o disco recém-lançado por uma tal Ipanema Discos que acaba de chegar às plataformas, misturando clássicos do repertório de João (como “Bolinha de Papel”, “Ave Maria no Morro”, “Corcovado”, “Bahia com H”, “Caminhos Cruzados”, “Meditação” e “A Felicidade”) e versões inéditas ao vivo para “Você Vai Ver” de Tom Jobim e “Sem Você” de Jobim e Vinicius de Moraes, além de “Samba do Avião” de Tom e “Às Três da Manhã” de Moraes Moreira, que ele nunca gravou em estúdio. Coisa finíssima, claro:  

Os 50 melhores discos de 2023 segundo o júri de música popular da APCA

Estes são os 50 discos mais importantes lançados em 2023 segundo o júri da comissão de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e apresentadora do Mistura Cultural), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell) e Pedro Antunes (Tem um Gato na Minha Vitrola, Popload e Primavera Sound). A amplitude de gêneros, estilos musicais, faixas etárias e localidades destas coleções de canções é uma bela amostra de como a música brasileira conseguiu se reerguer após o período pandêmico com o lançamento de álbuns emblemáticos tanto na carreiras de seus autores quanto no impacto junto ao público. Além dos discos contemporâneos, fizemos menções honrosas para dois álbuns maravilhosos que pertencem a outras décadas, mas que só conseguiram ver a luz do dia neste ano passado, um de João Gilberto e outro dos Tincoãs. Na semana que vem divulgaremos os indicados nas categorias Artista do Ano, Show e Artista Revelação, para, no final de janeiro, finalmente escolhermos os vencedores de cada categoria. Veja os 50 (e dois) discos escolhidos abaixo:  

Tempo suspenso

Mais uma noite linda nesta quinta-feira, quando Cacá Machado e Laura Lavieri apresentaram sua versão para o disco de 1973 de João Gilberto no Sesc Pompeia. É a segunda apresentação que os dois fazem do disco, que continua no próximo sábado, com outra noite dessas no Sesc Jundiaí. Foi bonito ver a ideia original que tivemos – eu que apresentei Cacá para Laura, que procurava alguém para realizar o sonho que era fazer esse disco ao vivo – florescer ainda mais lindamente do que o ótimo show que já havíamos feito na Casa de Francisca, há exatos dois meses. No novo palco, o silêncio era palpável e os dois burilavam as texturas musicais de seus instrumentos – voz e violão, a epítome de João – acompanhados mais uma vez dos efeitos especiais delicados da percussão cirúrgica e orgânica de Igor Caracas, que deveria ser efetivado como terceiro integrante de fato da apresentação. Juntos, os três suspenderam o tempo e a respiração de todos os presentes, imersos na sensível grandeza pautada por outro trio, há cinquenta anos, quando a produtora Wendy Carlos e o baterista Sonny Carr envolveram a realeza do maior artista de nossa cultura de uma forma única e precisa em sua carreira.

Assista aqui:  

De volta ao 1973 de João Gilberto – duas vezes

Nesta quinta e sábado, Cacá Machado e Laura Lavieri mais uma vez apresentam o espetáculo Melhor Do Que O Silêncio, dedicado ao clássico disco de 1973 de João Gilberto, em que assino a direção executiva. As apresentações desta vez acontecem em duas unidades do Sesc – nesta quinta-feira, às 21h, no Sesc Pompeia, e neste sábado, às 19h, no Sesc Jundiaí. Os dois são mais uma vez acompanhados do percussionista Igor Caracas e juntos desbravam o disco que também é conhecido como “o álbum branco de João Gilberto”, devido à cor de sua capa, que mostra o maior artista brasileiro no momento mais minucioso de sua voz e violão, registrados pela produtora Wendy Carlos com acompanhamento cirúrgico do baterista Sonny Carr. Os dois conversaram com o blog Farofafá sobre essa apresentação, que ainda conta com a luz de Fernanda Carvalho, a direção de arte de Amanda Dafoe e a produção de Guto Ruocco da Circus. Ainda há ingressos disponíveis para as duas apresentações, embora as do Sesc Pompeia estejam quase no final…