Tudo Tanto #003: João Donato no Beco das Garrafas

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Na minha terceira coluna para a Caros Amigos, escrevi sobre o show que vi de João Donato no Beco das Garrafas – e falei sobre sua influência na música deste século. Também fiz uns vídeos desse show, numa playlist que segue lá embaixo.

Ave Donato!
João Donato se apresenta no renascido Beco das Garrafas e mostra que sua influência na música brasileira é cada vez maior

Fui para o Rio de Janeiro meio no susto no mês passado e da mesma forma fiquei sabendo que o mítico Beco das Garrafas estava voltando a funcionar como casa de shows. Uma viela sem saída que corta a Rua Duvivier, em Copacabana, logo no início, o Beco atingiu o status legendário ao funcionar como casa das máquinas da cena musical carioca que viu nascer a bossa nova.

Influenciados pelo jazz norte-americano, instrumentistas, compositores e intérpretes se revezavam nos minúsculos palcos de bares chamados Bottle’s, Baccará, Ma Griffe e Little Club para a ira dos vizinhos, que não suportavam as jam sessions que varavam as madrugadas e saudavam os músicos com garrafas jogadas do alto. Foi Sergio Mendes quem batizou a viela de “Beco das Garrafadas”, que na versão que pegou ficou apenas com as garrafas.

Por ali passaram mestres do samba, da bossa nova e do samba-jazz, como Luís Carlos Vinhas, Chico Batera, Dom Um Romão, Airto Moreira, Bebeto Castilho, Baden Powell, Wilson das Neves, Johnny Alf, Jorge Ben e intérpretes históricas como Elis Regina, Alaíde Costa, Dolores Duran, Nara Leão, Sylvinha Telles, Leni Andrade, Claudette Soares e Wilson Simonal.

Depois dos anos 60, o beco foi esquecido, suas casas viraram ruínas de um passado histórico até que Amanda Bravo, filha de um dos músicos frequentadores daqueles palcos, Durval Ferreira, resolveu resgatar o Beco do passado. Conseguiu uma empresa (a cervejaria Heineken) que bancasse a revitalização, que transformou as quatro pequenas casas. O Bottle’s e o Baccará foram transformados em um só ambiente (para 80 pessoas) e o Little Club (para 50 pessoas) virou uma pista de dança com apresentações de DJs. Para tomar conta da programação musical Amanda chamou o produtor Kassin, um dos principais nomes da nova música brasileira deste século, que organizou um mês de apresentações reunindo destaques de uma geração mais nova que a dele, incluindo nomes como as bandas Letuce e Ultraleve, o músico Lucas Arruda, as cantoras Tiê e Alice Caymmi além de encontros entre titãs da velha guarda como João Donato e Marcos Valle e divas da nova safra como Emanuelle Araújo e Camila Pitanga, além do grupo francês Nouvelle Vague. Para o Little Club, Kassin chamou os DJs Marcelinho da Lua, o coletivo Vinil é Arte e Maurício Valladares para discotecar sets inspirados na bossa nova e no jazz brasileiro do início dos anos 60.

Tive o privilégio de assistir à apresentação de João Donato, que pouco a pouco tem sua importância resgatada, principalmente por conta desta nova leva de músicos brasileiros. Donato é precursor da bossa nova e já cantava baixinho antes de João Gilberto ser apresentado a Tom Jobim. A influência de Donato no pai da bossa nova e em seus primeiros filhotes é evidente, bem como seus discos suaves e ousados que gravou nas décadas seguintes. O próprio Kassin, que ensinou o grupo Los Hermanos a tirar o pé do rock, é uma espécie de neto musical de Donato, que é reverenciado por todos os nomes que se apresentaram na curta nova temporada do Beco das Garrafas quanto por novos músicos de todas as cepas, seus 80 (!) anos foram celebraos no Circo Voador em agosto com a presença de nomes tão distintos quanto Caetano Veloso, Luiz Melodia, BNegão e Paula Morelenbaum; em fevereiro deste ano comemorou o aniversário de 40 anos de seu Quem é Quem num show com músicos da banda Bixiga 70, Tulipa Ruiz, Mariana Aydar e Marcos Valle. Assisti o show na microplatéia do novo Bottle’s Bar entre Jards Macalé e o guitarrista Gabriel Muzak, que toca com os Seletores de Frequência de BNegão, além de ter seu próprio trabalho solo.

Todos reverenciando um monstro da suavidade, um senhor de oito décadas de música que se comporta como um menino travesso ao piano, aumentando o tom de voz apenas para falar “água!”, seu código para encerrar as músicas. No palco do Bottle’s Bar, tocando um teclado elétrico, o acreano vinha acompanhado por uma das melhores cozinhas de jazz brasileiro em atividade, o contrabaixo elegante do cearense Jorge Helder e a bateria atrevida do carioca Robertinho da Silva, além de um naipe de metais de respeito – o sax de Roberto Pontes e o trompete de Jessé Sadoc. Juntos, enveredavam por temas clássicos de Donato como “Capricorn”, “Emoriô”, “Bananeira”, “Gaiolas Abertas”, “Vento no Canavial” e “Café com Pão”, além de três números com a participação da cantora baiana Emanuelle Araújo (“A Paz”, “A Rã” e “Sambou, Sambou”), em pouco mais de uma hora de viagem no tempo que, mesmo bebendo no passado, apontava para um futuro exemplar para a música brasileira. Ave Donato!

Vida Fodona #449: A virada dos anos 70 pros anos 80

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Um set pra dançar, mas bem retrô. Segura!

Beirut – “My Night With The Prostitute From Marseille”
ESG – “Get Funky”
Eumir Deodato + João Donato – “Capricorn”
George Benson – “Give Me the Night”
Whispers – “And the Beat Goes On”
Lincoln Olivetti + Robson Jorge – “Eva”
S.O.S. Band – “Take Your Time (Do It Right)”
Tim Maia – “Juras”
Brylho – “Cheque Sem Fundos”
Brothers Johnson – “Stomp!”
Daryl Hall + John Oates – “I Can’t Go For That (No Can Do)”
Marina – “Ensaios de Amor”
Guilherme Arantes – “Cheia de Charme (Extended Remix)”
Ritchie – “Vôo de Coração”

Aqui, ó.

Vida Fodona #445: O tempo está sendo perdido o tempo todo

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Antes de uma pausa estratégica no finde, um VF só com música brasileira.

Marcelo D2 – “Fazendo Efeito”
Paulinho da Viola – “Roendo as Unhas (Victor Hugo Mafra Edit)”
Céu – “O Morro Não Tem Vez”
João Donato – “Nana das Águas”
Elis Regina – “Tereza Sabe Sambar”
Di Melo – “A Vida Em Seus Metodos Diz Calma”
Rica Amabis + Bonsucesso Samba Clube – “Na Ladeira”
Jair Rodrigues – “Coisas do Mundo Minha Nega”
Tom Zé – “Ma”
Chico Science & Nação Zumbi – “Amor de Muito (Mario Caldato Mix)”
Mombojó – “Tem Mais Samba”
Luiz Bonfá – “Don Quixote”
Milton Banana Trio – “Vou Deitar e Rolar”
Karina Buhr – “A Pessoa Morre”
Bárbara Eugênia – “O Peso dos Erros”
Cartola – “Minha”
Marcelo Jeneci + Marcelo Camelo – “Doce Solidão”
Lucas Santtana – “Alguém Assopra Ela”
Sérgio Sampaio – “Não Tenha Medo Não! (Rua Moreira, 64)”

Colaê.

Bixiga 70 + João Donato

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João Donato no disco novo do Bixiga 70 ou Bixiga 70 no disco novo do João Donato? Projeto paralelo ou só uma jam session? Não sei, só sei que eles tocaram juntos esses dias e não devo ser o único a querer ouvir o som desse encontro, presumo.

Vida Fodona #409: A última semana do verão 2014

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Vamos celebrar! Mudança de estação, várias mudanças à vista.

Beto Guedes – “Nascente”
George Harrison – “Gimme Love”
Novos Baianos – “Dê um Rolê”
Tame Impala – “Stranger in Moscow”
JJ – “10”
Alceu Valença – “Girassol (Malandro Edit)”
João Donato – “Me Deixa”
Marcos Valle – “Estelar (Kizum Edit)”
Rapture – “I Need Your Love”
A Certain Ratio – “Shack Up”
Laidback – “White Horse”
B-52’s – “Mesopotamia”
Le Tigre – “Nanny Nanny Boo Boo (Junior Senior Remix)”
Gary Numan – “Cars”
Can – “Fall of Another Year”

Sigam-me os bons.

Quem é João Donato

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Não é uma pergunta. Um dos nomes mais importantes da música brasileira se explica ao teclado, conversando fiado, esquecendo-se dos anos e lugares pois sua entrega é total à música. No último dia do mês passado, celebrando o aniversário do clássico disco Quem é Quem, de 1973, João Donato revisitou seus próprios standards em excelente companhia. Num show bolado pelo compadre Ronaldo e apresentado no teatro do Sesc Pinheiros, João recebeu novos e velhos amigos – as cantoras Mariana Aydar e Tulipa Ruiz (que arrepiou os pelos da nuca do público numa “Até Quem Sabe?” deslumbrante), o mestre Marcos Valle e uma versão amaciada do Bixiga 70 – e fez um show sublime, uma ode à sua própria musicalidade preguiçosa e audaz. Fiz uns vídeos e postei aí embaixo, quem quiser conferir se estou exagerando é só apertar o play – e boa viagem (e quem quiser saber mais sobre o Quem é Quem, o Ronaldo criou uma tag em seu blog só pra falar do disco)

 

Vida Fodona #388: Sabadão frio

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Vamos a uma seqüência musical feita para estimular a preguiça deste inverno de 2013. Recomenda-se ouvir na horizontal.

Erasmo Carlos – “Eu e Maria”
Banda Black Rio – “Chega Mais”
Marcos Valle – “Com Mais de 30”
João Donato – “Me Deixa”
Stereolab – “Refractions In The Plastic Pulse”
Air – “Modular Mix”
Com Truise – “Open”
Slum Village – “Untitled (Fantastic)”
Nightmares on Wax – “Les Nuits”
Beastie Boys – “Car Thief (demo)”
Thievery Corporation – “2001 – A Spliff Odyssey”
Massive Attack – “Group Four”

Deitaê.

João Donato e Pato Fu em vinil

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E a onda do vinil segue de vento em popa e desta vez a Polysom resolveu relançar dois clássicos para duas gerações distintas. O disco de 1975 de João Donato, Lugar Comum, e a estreia do Pato Fu, Rotomusic de Liquidificapum, lançado em 1993. Os dois vinis devem sair ainda este mês.

Vinteonze: A normalidade 302

Mais uma tempestade de cérebros em meia a certa curiosidade artística, Ayn Rayd e o antialtruísmo, o incômodo natural do artista, latinidades e umas coisas meio afro, o falar com a própria voz, a função do rótulo, gente que nem sabe que é artista, MPB enquanto armadilha, a medida do sucesso, as famigeradas listas de melhores do ano, discos sem código de barra, o papel da cobertura cultural, a morte da capa do disco, o momento em que algo ainda está sendo desenhado, o artista sem carreira, o mundo musical que ainda não existe, view ou hit, um ano de maturação, como foi a Goma Laca e as novidades das Noites Trabalho Sujo e do Veneno Soundsystem. Na trilha, Lugar Comum, do João Donato.


Ronaldo Evangelista & Alexandre Matias – “Vinteonze #0029“ (MP3)

Vida Fodona #287: O antídoto do frio

Deixa comigo. E nessa quinta tem festa, hein…

Soulive – “Come Together”
Paul McCartney – “Smile Away”
Mallu Magalhães – “Shine Yellow”
Céu – “Bubuia”
Chalawa – “Waiting in Vain”
Rockers Control – “46 do Segundo Tempo”
Ave Sangria – “Geórgia, A Carniceira”
Rafael Castro & os Monumentais – “Ultrapassa, Pai!”
Eddie – “Pode Me Chamar”
Rolling Stones – “Flight 505”
Sebadoh – “Pink Moon”
Fleet Foxes – “Sim Sala Bim”
Karina Buhr – “Ciranda”
João Donato – “Sambongo”
Rubinho Jacobina e a Força Bruta – “Toc Toc”
Stevie Wonder – “Superstition (Camara Remix)”
Boney M – “Rasputin”
Babe Ruth – “The Mexican”
Marcelo Jeneci + Laura Lavieri – “It’s Very Nice Pra Xuxu”

Vem!