Alex “Don KB” Cecci (1969-2017)

donkb

Vi num post do Magrão compartilhado pelo Nuts e não botei fé – mas era verdade: Alex Cecci, o Don KB, havia sofrido um infarto fulminante na praia de Maresias neste sábado e não resistiu. Morreu antes de completar seus 50 anos – um produtor, promotor e DJ que ajudou a moldar a São Paulo (e o Brasil) musical que vivemos hoje.

Nos tempos em que as poucas casas noturnas decentes que existiam em São Paulo tinham maior foco em um só gênero musical, o Jive, que fundou com seu irmão Marcio, surgiu como uma alternativa que mostrava que a cultura DJ ia para muito além de um único estilo musical. Depois de começar na Rua Caio Prado, estabeleceu-se em seu endereço mais tradicional – no número 376 da Alameda Barros -, ao lado do tradicional Clube Piratininga, em Santa Cecília. Decorado com as pinturas com motivos tiki do MZK, o clube era gerido por Don KB, que, ao lado do próprio ZK, era seu principal DJ e cuidava da programação da casa. Além de discotecagens de monstros das picapes brasileiras de todas as vertentes (de Nuts ao DJ Hum, do Tony Hits ao DJ Primo, do DJ Patife ao KL Jay), a casa também recebeu shows de artistas que o próprio KB agenciava, como o Mamelo Sound System, Black Alien, Max BO e Speedy e até um dos pais fundadores do hip hop, Afrika Bambaataa, que ele trouxe três vezes ao Brasil – duas em aniversários de sua casa.

Era uma época em que quem curtia rock só ouvia rock, o povo do samba não se misturava com o pessoal do reggae e muitas festas black não tocavam hip hop. Era uma época também que a internet começou a demolir barreiras entre gêneros, quando novos colecionadores de música juntaram-se aos escavadores de sebos de disco fuçando em HDs alheios discografias inteiras e raridades lendárias surgiam gravadas em CD-Rs. Isso ajudou a popularização do samba-rock, gênero até então considerado “menor” no cânone da música brasileira, educou uma nova geração de rappers, DJs e MCs, ajudou a proliferação do dub e pérolas desconhecidas de gêneros diferentes começavam a se popularizar nas pistas. Outros lugares tiveram seu papel nesta transição musical – como o AfroSpot, o KVA, o Susi, o Sarajevo, o Grazie a Dio, o Green Express, o Avenida Club e o Hole -, mas o Jive com certeza era o mais ousado, abrindo espaço até para rock e para uma noite de música da Polinésia.

Se hoje a cultura de São Paulo respira a música dos vinis, vive a conexão direta entre a África e o Brasil, transita bem entre gêneros de diferentes naturezas e seu hip hop vai muito além do gangsta dos anos 90, não há dúvida que isso aconteceu por causa de uma série de transições musicais que tiveram no Jive seu ponto de encontro, seu trampolim, sua inspiração. Claro que Don KB não foi o único responsável por isso – a abertura do Jive foi consequência de uma transformação que ele havia detectado -, mas não dá para dissociar seu nome da raiz desta fase atual.

Pedi pro Nuts escrever sobre a importância dele pra cena:

“Os seus sets ajudaram a revelar o samba rock para um público jovem e até então norte-americanizado, Uma opção fora do circuito tradicional de bailes de nostalgia, eu aprendi aplicar muitas dessas musicas na pista com ele, comecei a visualizar que seria possivel utilizar esses discos que até então estavam só na prateleira. Alguns desses temas marcaram a época do Jive, vejo assim, depois junto com o Zé e DJ Primo tive a oportunidade de fazer uma festa de rap semanal sempre fui bem recebido pelos dois irmãos e equipe todos firmeza, descanse em paz Cabeçada”

Valeu, KB! Seguimos por aqui, inspirados pelo que você conseguiu mostrar e fazer por todos nós.

Segue uma amostra de seu som num set gravado ao vivo há três anos, no DJ Club:

Pequenas epifanias à medida em que o ano embica pro fim

Reciclando um post do meio do ano:

– Um poste no final da ladeira do Paraíso
– Catra + Digital Dubs na Casa da Matriz
– Grenade no Milo e abrindo pra Nação em Curitiba
– Sorvete noturno
– Camilo x Nepal duas vezes, no Fosfobox e na Casa da Matriz
– 15 dias em Floripa
– Quatro parafusos a mais
– Jamie Lidell no Tim Festival
– Catra + Dolores, Nego Moçambique + Gerson King Combo no trio elétrico do Skol Beats
– Batman Begins
– Imersão em Rolling Stones (quatro bios, todos os discos oficiais, filmes, outtakes, raridades)
– Paulo Nápoli na Popcorn
– Disco do primeiro semestre: O Método Tufo de Experiências, do Cidadão Instigado
– DJ Rupture no Vegas
– Tarja Preta 4
– Kings of Convenience no Tim Festival
– Disco de Ouro – Acabou Chorare com Lampirônicos, Baby Consuelo, Luiz Melodia, Rômulo Fróes, Elza Soares e Davi Moraes no Sesc Pompéia – catártico
– Wax Poetic e Vitallic numa mansão em Floripa
– Publicar o Cultura Livre no Brasil
– Damo Suzuki e convidados no Hype
– Baladas gastronômicas
– A mixtape do Nuts
– Quinto Andar e Black Alien no falecido Jive
– Disco do segundo semestre: Futura, Nação Zumbi
– Pipodélica na Creperia
– “Capitão Presença” – Instituto
– Curumin, Jumbo Elektro e KL Jay na Casa das Caldeiras
– Úmero de titânio
– Television no Sesc Pompéia
– Violokê no Chose Inn
– Turbo Trio
– Stuart e Wander Wildner no Drakkar
– Rockstar: depois dos GTA, Beaterator
– Lafayette & Os Tremendões no Teatro Odisséia
– Donnie Darko
– Sandman pela Conrad
– Mylo no Skol Beats
– “The Other Hollywood”
– Weezer em Curitiba
– Buenos Aires
– Comprar livros em Buenos Aires
– Disco de Ouro – Da Lama ao Caos com Orquestra Manguefônica no Sesc Pompéia
– Anthony Bourdain
– Instituto + Z’África Brasil no Vivo Open Air
– Animal Man, de Grant Morrison
– Bátima, com direito à entrevista em vídeo
– Segundas-feiras no Grazie a Dio (Cidadão Instigado, Moreno + 2, Junio Barreto, Hurtmold, Wado, Curumin)
– Transformar uma discotecagem num toque de atabaque pós-moderno (as minhas melhores: duas vezes na Maldita, abrindo pros Abimonistas na Revolution da Funhouse, aniversários da Laura e da Fernanda na Vila Inglesa, esquema lo-profile no Adega, duas vezes duelando com o Guab na Rockmixtape e abrindo pro Satanique Samba Trio e pro Diplo no Milo, aniversário da Tereza no Berlin, com o Cris numa festa fechada no Vegas)
– “Promethea” – ufa!
– Paul Auster
– A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Tim Burton
– Papo sobre o futuro do jornalismo com o Alex Antunes e o Claudio Julio Tognolli na Abraji
– Oséias e Los Hermanos no Trama Universitário
– O melhor duelo de sabres de luz de todos os tempos
– E.S.S. duas vezes, no Atari e na Funhouse
– Dar a dica pro Diplo tocar Cyndi Lauper no bis do set na choperia do Sesc Pompéia (que, aliás, tá com uma caixa nova que, ela mesma, é uma epifania)
– MP3s dos Sebozos Postiços
– O sábado do II Encontro de Mídia Universitária
– A volta do Pink Floyd clássico e Saucerful of Secrets do Nicholas Schaffner
– Sopa e chá na hora certa
– O novo do Cronenberg
– Sebozos Postiços no Vivo Open Air
– Temporada no Takara no Coisa Fina
– Ju, Ana, Dan, Fab, Tati – uma senhora equipe de trabalho
– DJs residentes: MZK, Bispo, Guab e Miranda
– China e Mombojó no Sesc Pompéia
– “Quanto Vale ou É Por Quilo” – só falta ser mais pop pra sair do cineclube (alguém explica o Michael Moore pro Sérgio Bianchi e ele pára com o pessimismo “já era”)
– Labo e SOL num Blém Blém quase vazio
– Wilco no Tim Festival
– Ter certeza que nunca tanta música ruim e desinteressante foi produzida na história como hoje – fora do Brasil (inclua o nome que você imaginar nessa lista – do Nine Inch Nails ao Coldplay passando pelo Wolf Eyes e Teenage Fanclub, ou Weezer e Sleater-Kinney). Só o Jack Johnson e o Franz Ferdinand salvam
– Aqui dentro, por outro lado, é outra história
– Jazzanova no Ampgalaxy
Piratão, do Quinto Andar
– Walverdes no Rose Bon Bon
Milo Garage
– Pipodélica e Zémaria no Avenida
– “Feel Good Inc.”, colosso
– It Coul Have Been So Much Better – Franz Ferdinand
– Jurassic 5 em duas noites em Santo André
– Bad Folks abrindo pro Mundo Livre em Curitiba
Sites de MP3 e mixtapes de funk carioca
– De La Soul no Tim Festival
– Mike Relm no Vegas
– “I Feel Just Like a Child”, Devendra Banhart
– Entrevistar o J.G. Ballard por fax
– Mercury Rev, perfeito, em Curitiba
– Sessão privada do Sou Feia Mas Tou na Moda com a Laura, a Denise, o Bruno, o Boffa, o Diplo e a Mia
– O livro do Sílvio Essinger
– Sonic Youth no Claro Q É Rock de São Paulo
– Chopinho vespertino numa Curitiba belga
– Acompanhar as turnês do Mundo Livre S/A e da Nação Zumbi pelo sul do Brasil
– Superguidis ao vivo
“Galang”
– Abajur pra sala no quarto
– “Music is My Hot Hot Sex” – Cansei de Ser Sexy
– As voltas do Akira S e do DeFalla
– Gravação do DVD do Otto
– Chaka Hot Nightz
– A volta da Bizz (muito istaile)
– R2D2 do Burguer King
– “Nada melhor do que não fazer nada…”, Rita Lee, mesmo que só em canção, realmente sabe das coisas
– Cuba! – e com a Laura…