A homenagem de Jeff Tweedy para Tom Verlaine


Foto: Howard Barlow

De todos seus discípulos do Television, o Wilco talvez seja a banda que mais explicitou a importância do grupo liderado pelo falecido Tom Verlaine em sua obra, tanto que o escalou para tocar em uma das edições de seu próprio festival, em 2017. Mas o tributo que o líder do Wilco, Jeff Tweedy, faz para o recém-falecido mestre vai além das palavras que exaltam seu papel como guitarrista e vem na forma de uma versão simples e direta para uma canção incrível, “Venus”, que ele postou em seu blog, Starship Casual. Ouça abaixo:  

Um ano sem Daniel Johnston

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No dia 11 de setembro do ano passado perdemos o doce e alucinado Daniel Johnston, ícone do rock independente norte-americano e um dos compositores que, de uma forma improvável, bissexta e errática, fez a conexão entre o rock clássico dos anos 60 e o indie rock a partir dos anos 80. Sua família juntou fãs célebres para fazer uma homenagem ao seu legado no aniversário de um ano de morte no espetáculo online (claro) Honey I Sure Miss You – A Tribute To The Life, Art, And Music Of Daniel Johnston, que aconteceu nesta sexta. E entre popstars como Jeff Tweedy, Beck, Devendra Banhart, Phoebe Bridgers e Kevin Morby, quem brilhou mesmo foi o próprio Jonston, que roubou a festa póstuma quando, ao final da apresentação, foi revelado um vídeo do primeiro dia do ano de 1991, em que ele compõe “When I Met You”, que iria gravar três anos depois numa versão sem instrumentos, ao piano, fazendo anotações nos intervalos da composição, num momento único de criação de um gênio ímpar.

É de chorar, diz aí.

Jeff Tweedy e o Black Lives Matter

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Em um ensaio publicado nas redes sociais do Wilco na última quarta, o líder da banda Jeff Tweedy escreveu sobre a possibilidade de a indústria do entretenimento indenizar financeiramente a questão racial nos EUA, à luz dos incidentes ocorridos após o assassinato brutal de George Floyd e do movimento Black Lives Matter. Para dar exemplo, ele comprometeu 5% dos royalties de suas obras para organizações que combatem o racismo nos EUA, como Movement for Black Lives e Black Women’s Blueprint. Eis a íntegra de sua carta aberta:

“A indústria da música moderna é construída quase inteiramente a partir da arte negra. A riqueza que por direito pertencia aos artistas negros foi roubada e até hoje segue crescendo para além de suas comunidades. Nenhum artista poderia chegar perto de pagar a dívida que devemos com os criadores negros de nossa música moderna e com seus filhos e netos. Como indivíduo, reconheci a injustiça da vida em que vivo em relação à privação de pessoas cujo trabalho é apenas uma sombra. Eu tentei compensar essas desigualdades na minha vida pública e privada. Não foi o suficiente.

Eu sempre pensei que deveria haver um plano em todo o setor para lidar com essa enorme injustiça. Considerando que nossa empresa se orgulha de seus ideais e compromissos progressistas com a justiça social, esperei, pensando que eventualmente colocaríamos algum tipo de dízimo sustentado – alguma iniciativa que permitiria que todos redirecionássemos uma parte de nossa receita para o comunidades que foram privadas dele. Resisti a ser o único a iniciar esse plano por razões que considero pouco convincentes agora. Sinto que é importante prometer meu compromisso pessoal de pagar essa dívida e pedir publicamente a todos os meus colegas que trabalhem para fazer o mesmo.

O que proponho daqui para frente é um programa que permita que compositores e músicos direcionem uma porcentagem da receita de ‘parte do autor’ para organizações que assistem e apóiam comunidades negras. Isso pode assumir a forma de uma caixa para verificar contratos de gerenciamento de direitos, colocando-a na base de nossos negócios. Ou poderia assumir outra forma inteiramente. Não possuo o conhecimento necessário para manifestar essa iniciativa, mas posso começar a fazer minha parte comprometendo 5% da minha receita de escritor para organizações que trabalham em prol da justiça racial, que incluem, entre outras, o Movement for Black Lives e a Black Women’s Blueprint.

Para BMI, ASCAP, SESAC e todas as outras organizações que coletam e desembolsam royalties dos compositores, peço que vocês investiguem uma maneira de implementar esse programa. Aos líderes da indústria: junte-se a mim na formação de uma coalizão. Minha pequena contribuição por si só é um gesto sincero, mas insuficiente. Centenas de nós, reunidos, poderiam proporcionar um tremendo alívio. Milhares de pessoas que se comprometerem com uma iniciativa de reparação podem mudar nossos negócios e o mundo em que vivemos. Black Lives Matter. Obrigado.”

Palmas para o Jeff!

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A statement from Jeff Tweedy.

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Wilco 2020: “I wanna hold your hand”

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“Não esqueça de dizer aos seus amigos, quando vê-los de novo: ‘Eu te amo'”, cantam em uníssono, os integrantes do Wilco em “Tell Your Friends”, balada que lançaram no programa Late Show, do humorista Stephen Colbert, nesta quarta, em uma vídeo que os reuniu à distância, cada um com sua família:

https://www.youtube.com/watch?v=ZxnVYd3TpJs&feature=emb_title

A faixa cita clássicos do rock para lembrar e celebrar da importância do amor, da amizade e da presença em tempos de isolamento social e está para download no Bandcamp da banda, revertendo o arrecadamento da venda do novo single para a ONG World Central Kitchen, que está colaborando com alimentos para comunidades mais pobres nos EUA.

No mesmo programa, o vocalista Jeff Tweedy mostrou uma versão solitária para um dos clássicos da banda, “Jesus Etc.”

https://www.youtube.com/watch?v=MJF6BunIdF0

Vida Fodona #581: As 75 melhores músicas de 2018

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Quase cinco horas no ano passado.

Jorja Smith – “The One”
Duda Beat – “Bixinho”
Raffa Moreira – “Bro”
Liniker – “Lava”
Nação Zumbi + BaianaSystem – “Alfazema”
Brockhampton – “San Marcos”
Sara Não Tem Nome – “Cidadão de Bens”
Norah Jones + Jeff Tweedy – “Wintertime”
Lady Gaga – “Always Remember Us This Way”
Bonifrate – “Alfa Crucis”
Jpegmafia – “Macaulay Culkin”
Elza Soares + Edgar – “Exu nas Escolas”
Ava Rocha – “Joana Dark”
Orchestra Santa Massa – “A Casta”
MC Carol + Heavy Baile – “Marielle Franco (Desabafo)”
Pabllo Vittar – “Problema Seu”
Guizado + Negro Leo + Andrea Merkel – “Modern Fears”
David Byrne – “I Dance Like This”
Gorillaz + George Benson – “Humility”
Brisa Flow – “Grillz”
Emicida – “Inácio da Catingueira”
Stephen Malkmus + Kim Gordon – “Refute”
Childish Gambino – “This is America”
Criolo – “Boca de Lobo”
Baco Exu do Blues + Tuyo – “Flamingos”
Billie Eilish – “You Should See Me in a Crown”
Courtney Barnett – “Need a Little Time”
Rincon Sapiência – “Placo”
Saulo Duarte – “Avante Delírio”
Baggios + Céu – “Bem-Te-Vi”
Kassin – “Relax”
BK’ – “Porcentos”
Malu Maria – “Diamantes na Pista”
Ariana Grande – “Thank U, Next”
Lupe de Lupe – “Midas”
FBC – “Contradições”
MC Loma e as Gêmeas Lacração – “Envolvimento”
Cat Power + Lana Del Rey – “Woman”
Teto Preto – “Pedra Preta”
Nicki Minaj – “Barbie Dreams”
Drake – “Nice for What”
Cardi B + Bad Bunny + J Balvin- “I Like It”
Sophie – “Immaterial”
Caroline Rose – “Jeannie Becomes a Mom”
Juliano Gauche – “Pedaço de Mim”
Maria Beraldo- “Da Menor Importância”
Brockhampton – “New Orleans”
Ventre – “Pulmão/Alfinete”
Elza Soares – “Banho”
Luiza Lian – “Iarinhas”
Gilberto Gil – “Quatro Pedacinhos”
Janelle Monáe – “Make Me Feel”
Disclosure – “Moonlight”
Rosalía – “Malamente (Cap.1: Augurio)”
The Carters – “Apeshit”
Lana Del Rey – “Venice Bitch”
Yma – “Par de Olhos”
Gilberto Gil + Yamandu Costa – “Yamandu”
Jay Rock + Kendrick Lamar + Future + James Blake – “King’s Dead”
Kali Uchis – “Miami”
Arctic Monkeys – “One Point Perspective”
The Internet – “Come Over”
Arctic Monkeys – “Four Out of Five”
Courtney Barnett – “Crippling Self Doubt and a General Lack of Self Confidence”
Blood Orange – “Charcoal Baby”
Gilberto Gil – “Na Real”
Luiza Lian – “Azul Moderno”
Arctic Monkeys – “Star Treatment”
Ava Rocha – “Periférica”
Kali Uchis – “Just a Stranger”
Maurício Pereira – “Outono no Sudeste”
Gui Amabis – “Miopia”
The Carters – “Heard About Us”
Gilberto Gil – “Ok Ok Ok”
The Internet – “Roll (Burbank Funk)”

As 75 melhores músicas de 2018: 68) Norah Jones + Jeff Tweedy – “Wintertime”

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“I know it’s in the light”

https://www.youtube.com/watch?v=9_pZn7eojlA

Quando Norah Jones encontra Jeff Tweedy

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Norah Jones vem tateando novos caminhos desde o início do ano, lançando faixas isoladas (o single “My Heart is Full“) e colaborações (fez um dueto com Willie Nelson no disco tributo do ícone country a Frank Sinatra e vai participar do remake que o grupo Mercury Rev irá fazer do disco The Delta Sweete, de Bobbie Gentry) como se estivesse em busca de um novo rumo a seguir. Mas ela acaba de repetir um padrão nesta série de novidades, com a melancólica “Wintertime”, lançada parceria com o líder do Wilco, Jeff Tweedy, e que ainda conta com o filho de Jeff, Spencer na bateria.

É a segunda faixa que Norah grava com Jeff. A outra, “A Song With No Name”, foi lançada em setembro.

Será que os dois cogitam um disco juntos? Não tem como dar errado…

Courtney Barnett: “I come up here for perception and clarity”

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Nossa querida Courtneyzinha transforma um lamento sobre o sentido da vida confundido com tentativa de suicídio em uma oportunidade de estar com seus amigos e compadres ao estilo Saturday Night Live – e assim o clipe de sua “Elevator Operator” é um desfile de participações especiais que incluem o trio Sleater-Kinney e o líder do Wilco Jeff Tweedy como personalidades mais conhecidas, mas também inclui uma série de nomes famosos em sua terra-natal Austrália mas semidesconhecidos (ou simplesmente anônimos) para o resto do mundo. Gostei de ver que ela chamou os líderes de duas bandas de seu país que eu acompanhei em momentos distintos da vida: o Tim Rogers da banda You Am I (fãs de Big Star podem ir atrás) e o Vincent Vendetta do Midnight Juggernauts (minha banda favorita da cena dance local que deu ao mundo nomes como Cut Copy, Miami Horror, Bag Raiders e Van She).

Abaixo, a lista das participações especiais em ordem de aparição, como ela mesma colocou na descrição do clipe:

Sleater-Kinney
Glory! Bangs
Courtney Barnett
Bones Sloane & Dave Mudie
Magda Szubanski
Tim Rogers
The Finks
Tweedy
The Drones
Garret & Will Huxley, Gabi Barton
Sunny Leunig
Vincent Juggernaut
Tain Stangret
Izzi Goldman and John
Nicholas & Thea Jones
Batpiss
Loose Tooth
Camp Cope
Jo Syme (Big Scary)
East Brunswick All Girls Choir
Paul Kelly
Michael Leunig
Meaghan Weiley, Jess Tyler, Thommy Taranto (Milk! Records)
Jen Cloher
Fraser A. Gorman
Ouch My Face
Marni Kornhauser & Radar Rad

Fargo e o universo indie dos irmãos Coen

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Estou completamente por fora da nova temporada de uma das melhores séries do ano passado, Fargo, produzida pelos irmãos Coen, mas plenamente ciente do quão ela parece ser melhor que a temporada anterior. Não duvido. Só de ver os nomes da nata indie que eles conseguiram reunir pra regravar clássicos do cancioneiro norte-americano, dá pra ter uma ideia do alto nível. O Britt Daniel, vocalista do Spoon, regravou “Run through the Jungle”, que os Coen já haviam utilizado no clássico Big Lebowski, porém em sua versão original, do Creedence Clearwater Revival.

O quarteto texano White Denim recriou outra música que os Coen usaram no Lebowski, “Just Dropped In (To See What Condition My Condition Was In)”, de Jerry Lee Lewis, eterninzada por Kenny Roggers:

E o vocalista do Wilco, Jeff Tweedy, compareceu tocando “Let’s Find Each Other Tonight”, de José Feliciano, que já havia aparecido pessoalmente no filme que deu origem à série cantando exatamente a mesma música (mas não consegui achar a versão de Tweedy online), alguém viu por aí?

Lee Ranaldo e Jeff Tweedy tocando Neil Young

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“Walk On” foi a escolhida, sente o drama: