O Sesc não atualizou seu site oficial com a programação do Jazz na Fábrica, que acontece no mês que vem no Sesc Pompeia, mas é fato: o músico Thundercat, conhecido por apresentar-se ao lado de Kendrick Lamar e Flying Lotus, vem apresentar seu ótimo Drunk, lançado este ano, no palco da choperia nos dias 17 e 18 de agosto, com ingressos a 60 reais. Os ingressos para o Jazz na Fábrica (que ainda terá a presença de nomes como os trompetistas Eddie Allen e Roy Hargrove, da Globe Unity Orchestra alemã, do saxofonista sul-africano Abdullah Ibrahim, da etíope Debo Band, da tecladista Annette Peacock e do grande Hermeto Paschoal, entre outros).
Cassandra Wilson, Roscoe Mitchell, Dr. Lonnie Smith, Ibrahim Maalouf, Sun Rooms, Raul de Souza, João Donato e Eliane Elias, Ivo Perlman, Macy Gray, Richard Bona e David Murray são algumas das atrações que passam pelos palcos da choperia do Sesc Pompéia no mês de agosto, quando acontece a terceira edição do Jazz na Fábrica, o maior festival de jazz da cidade que se consolida aos poucos como uma grande vitrine mundial do gênero. O mês de atividades começou nesta quinta-feira passada, quando o grande McCoy Tyner deu início aos trabalhos, e segue até o primeiro dia do mês seguinte. Bati um papo com o Thiago Freire, sobre o festival e sua importância cada vez mais em alta para o gênero e para a cidade.
O que é o Jazz na Fábrica?
O Jazz na Fábrica é um festival de caráter panorâmico. Foi assim nas duas primeiras edições e assim deve permanecer. Desse modo, ele é calcado na ideia de pluralidade: gêneros, origens culturais e geográficas, formações e timbres. A terceira edição aposta ainda na ideia de “contaminações mútuas” – ao longo do século vinte o jazz se esparramou pelo globo, influenciando a produção musical de diversas regiões e carregando, em contrapartida, influências também diversas. Isso fica evidente na programação de artistas brasileiros, extremamente respeitados no cenário internacional como João Donato e Raul de Souza. Procuramos contemplar gostos diversos, as sonoridades mais tradicionais, as sonoridades mais jovens e os experimentalismos.
São Paulo é carente de jazz?
Pergunta difícil. São Paulo está inserida num circuito bastante interessante e recebe anualmente uma programação artística bastante rica em todas as linguagens. Há ainda uma proliferação de jovens grupos e diversos artistas com carreira longa tocando por aí em bares e casas de espetáculo. Desse ponto de vista, eu diria que não, não temos essa carência.
Contudo, acho importante considerarmos as questões da acessibilidade e das condições técnicas em geral. Se considerarmos que existe sim em São Paulo uma razoável oferta de apresentações jazzísticas e festivais, precisamos nos perguntar se, em geral, elas são acessíveis ao público do ponto de vista dos valores dos ingressos. Muitas vezes não são. No caso das casas voltadas ao público mais jovem, as condições de escuta nem sempre são as mais adequadas por diversos fatores, o que de modo algum compromete o seu importante papel. Mas nem sempre, ouvir a música é o foco da oferta, e mesmo, da procura. Desse ponto de vista, talvez não sejamos carentes de jazz, mais sem dúvida alguma quanto mais iniciativas tivermos, quanto melhores forem as condições propostas ao público e quanto mais claras forem as intenções de apresentar ao público um conteúdo relevante, melhor.
Quais as maiores dificuldades para escalar um evento como esse?
Eu diria que, por um lado, há uma abundância de propostas. Por outro, os nossos limites de natureza diversa – financeira, espaços, duração e prazos. Artistas estrangeiros lidam com o calendário de maneira diferente de nós e temos muito a aprender com isso. Mas sobretudo, o desafio reside no conteúdo: compor um todo bem arranjado, que levante questões com relação ao universo do jazz e que dê conta de passar por essas mesmas questões ao propor uma grade de programação.
Quais são seus maiores orgulhos nesta edição?
A programação foi construída a muitas mãos. A equipe de programação do Sesc Pompeia e os colegas da administração central. Isso garantiu a pluralidade e a articulação do festival e do resultado da curadoria. Por conta disso, o todo me deixa orgulhoso. E aos demais, creio, também.
O que deve surpreender o público?
Considerando “supreender” como “ser pego positivamente pelo desconhecido”, o trompetista Ibrahim Maalouf – ainda pouco conhecido no Brasil e que é um acontecimento na Europa – certamente deve surpreender. Eliane Elias, que toca pouco no Brasil, cantora e pianíssima habílissima, também. Todos os artistas brasileiros do recorte Café com Leite – que reúne mineiros e paulistas – certamente surpreenderão e comprovarão que se temos alguma carência quanto ao jazz, não é de talento!