Jackson Araújo esteve em três das quatro noites da temporada de Tatá Aeroplano no Centro da Terra e conta o que viu num texto ótimo. Segue um trecho:
É que Tatá tem esse dom tão raro em tempos tão sombrios: a dádiva. A própria construção do espaço cênico que ele habita não o coloca no centro, transgredindo a norma da estrela se postar no meio do olhar. No palco, que divide com as amigas Bárbara Eugênia –eles estão gravando álbum novo com produção de outros geniais parceiros, Dustan Gallas e Junior Boca– Julia Valiengo –a Grace Ohio, partner de Frito Sampler– e com o poeta parceiro Peri Pane, Tatá se mantém sutilmente na mesma linha imaginária de seus pares, roubando delicadamente a cena com seu solos intensos e movimentos corporais únicos, sob total respeito de quem o acompanha.
Consegui ver naquele contraluz enevoado, sua figura esguia com a leveza de um Bowie e até mesmo de um Ney, meio Rita, meio Jagger, saltitando livremente como se numa pista de dança, onde bailam aqueles que se entregam ao êxtase transcendental das nove Musas filhas de Zeus, ninfas das águas e seu coro feminino. Uma imagem que me parece fazer tanto sentido em tempos de valorização da natureza, da simplicidade e dos afetos.
Em seu tribalismo cosmopolita, Tatá exala na pele a eloquência de Calíope, a poesia de Érato, proporciona os prazeres de Euterpe, faz brotar flores delirantes como Tália… E rodopiando como Terpsícore, atualiza em seu ritual pagão o desejo de conectar alma e corpo à plenitude da vida cósmica. Por meio da música — eletrônica e/ou acústica — Tatá e seus muitos amigos amplificam as vibrações até os limites do divino.
A íntegra do texto está aqui. E você viu que a temporada de abril é com o Negro Leo, né?