J.G. Ballard para crianças

Tom Gauld imaginou livros do Ballard escritos para crianças e já atestou que eles não fizeram sucesso.

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Mas isso hoje. Acho que em pouco tempo livros infantis como esses irão fazer sentido.

J.G. Ballard (1930-2009)

Outra coisa que aconteceu enquanto estive fora foi a morte do mestre Ballard. Uma senhora perda. O vídeo acima é a primeira parte de um especial que a BBC fez em 91 com o escritor. As parte 2, 3, 4, 5 e 6 estão nos links listados.

Entrevista: J.G. Ballard


Foto: tim2ubh

Em 2005, entrevistei o mestre por fax, pra Folha. Até nos falamos por telefone, mas ele preferiu responder a entrevista em sua máquina de escrever, no papel timbrado de seu escritório. Pelo telefone, ele elogiou algumas perguntas que fiz, mas guardo até hoje o papel enviado à distância, com um “good luck” e a assinatura do mestre no pé do papel. Um dia, quem sabe, enquadro.

Feira de atrocidades

Em “Terroristas do Milênio”, J.G. Ballard descreve a revolução da classe média para elucidar questões sociopolíticas atuais

Apesar de não se considerar mais um escritor de ficção científica (“A ficção científica morreu quando o homem pisou na Lua, em 1969”), J.G. Ballard, 74, ainda navega pelo gênero que o consagrou. Seu mais novo livro, “Terroristas do Milênio”, não cogita as destruições apocalípticas de suas primeiras obras, embora continue lidando com um dos principais aspectos da ficção científica: futurologia como laboratório de ensaio para idéias.

Em “Terroristas…”, à moda de seus livros mais recentes (como “Super-Cannes”, 2000), Ballard cogita previsões imediatistas para tentar elucidar charadas sociopolíticas do presente. Pelos olhos do psicólogo desiludido David Markham, ele nos apresenta uma revolta elitista de um condomínio fechado londrino como uma nova versão para a revolução.

Descreve a classe média como um novo proletariado que se rebela contra a força opressora da mesmice inventada para mantê-la em seu lugar. Liderada pelo esguio e carismático pediatra Richard Gould, esta nova revolução desordena a estrutura da rotina com pequenos atentados ao dia-a-dia -em paralelo a outro tipo de atentado, como uma bomba que explode no aeroporto de Heathrow logo no início do livro. Leia a seguir a entrevista que o escritor concedeu à Folha.

Como em seus últimos livros, “Terroristas do Milênio” parece funcionar ao mesmo tempo como uma profecia sombria e um sonho esperançoso. O sr. se considera um otimista?
Sim, mas temos de ser realistas a respeito do mundo em que vivemos. Acho que vivemos uma época muito perigosa. A velha ordem mundial -o Ocidente contra o bloco soviético- acabou, e ninguém sabe quem são seus verdadeiros aliados. Tanto o Islã quanto os Estados Unidos são vistos como uma ameaça. Nossa cultura de entretenimento deixa as pessoas entediadas. A política, a monarquia e a religião fracassaram. Será que o consumismo consegue manter tudo junto? Talvez o esporte, especialmente o futebol, seja o único cimento que previne toda a estrutura de desabar.

As questões políticas estão se tornando parte da textura do século 21? Como o sr. relaciona isso com o fracasso dos sistemas políticos do século passado?
A política fracassou completamente no mundo inteiro e não é mais capaz de resolver nossos principais problemas -intolerância étnica e racial, desigualdades de renda, epidemias globais, a destruição do ambiente, o aquecimento global, ajudar o Terceiro Mundo e tantos outros. Onde a política falha, soluções mais perigosas e radicais tendem a aparecer -como a Alemanha nazista, uma cruzada religiosa e racial fingindo ser um movimento político.

A classe média está ficando entediada consigo mesma?Acho que sim. Todas as pessoas, mesmo as mais bem-sucedidas da classe média, têm necessidades espirituais e criativas profundas, que não podem ser satisfeitas com uma bolsa da Gucci, uma viagem para Miami ou um BMW novo. Precisamos achar significado para nossas vidas. Hoje vivemos como crianças que podem comer o quanto quiser dentro de uma fábrica de chocolates.

À medida que o novo século começa, as pessoas tornam-se mais individualistas devido à desilusão para com as instituições ou começam a agir de uma forma mais coletiva? Isso é consciente?
As pessoas de hoje são muito menos individualistas do que eram há 50 anos. Nós vivemos uma época muito conformista. Um número enorme de regras e convenções sociais domina nossa vida -limites de velocidade, como educar os filhos, quando e onde eles devem ir à escola, como tratar nossas mulheres e maridos, que drogas podem ser tomadas ou não, e por aí vai. A maior parte das grandes decisões econômicas de nossas vidas hoje são decididas por companhias multinacionais, pelo Banco Mundial e pelo FMI. Mas as pessoas são incansáveis, e vemos isso em crimes sem sentido; o ataque do 11 de Setembro foi um protesto contra o modo de vida ocidental e sua cultura de entretenimento corrupta, que aplaca nosso impulso religioso.

Qual é o papel do terrorismo atualmente? É uma questão de desestabilizar o status quo ou são as Forças Armadas dos fracos?
Ambos. Atos terroristas espetaculares, como o 11 de Setembro, podem desestabilizar nações inteiras e até mesmo o mundo, a ponto de os Estados Unidos atacarem o Iraque como uma resposta cega e movida por emoções. Quando as pessoas se sentem enfraquecidas, elas voltam-se para suas emoções, como fizeram Bush e os novos conservadores depois do 11 de Setembro, e as emoções são muito mais perigosas do que ambição fria.

Revolução e crise são sinônimos para a mesma coisa, vistas por ângulos diferentes?
A maior parte das revoluções fracassou, e aquelas que foram bem-sucedidas tenderam a esmaecer, deixando apenas rastros ou continuaram fluindo, como rios por baixo da terra.

O entretenimento matou o sonho?
Nossa cultura de entretenimento atual sufoca tudo e redefine a realidade, ao, com efeito, provar que a cultura de entretenimento é a nova realidade.

Por que sempre parecemos viver em um momento crucial da história?
A mudança acontece tão rapidamente hoje que nós podemos sentir as variações no terreno. Mas é uma época genuinamente desafiadora. Em contraste, os anos 70 e 80 foram épocas mais calmas, até a queda do Muro de Berlim e a derrota do comunismo global.

Qual é a sua opinião sobre a era eletrônica?
A internet é um fenômeno impressionante, com o mesmo potencial de mudar o mundo que o rádio e a TV. Ela já começou a expandir a consciência humana. Tudo pode acontecer. Surgirá a primeira religião da internet, a primeira aldeia, o primeiro movimento político. Percebo uma mudança na consciência humana.

O sr. ainda se considera um escritor de ficção científica?
Não. Parei de escrever ficção científica nos anos 60. A ficção científica morreu quando o homem pisou na Lua, em 1969. Mas, de muitas formas, a ficção científica venceu, foi bem-sucedida ao atingir seus alvos e foi absorvida pelo mercado comercial.

O sr. usa a internet?
Uso o computador da minha namorada -adoro a poesia acidental que se encontra na rede. No site do litoral da Califórnia, em que você pode flutuar como um pássaro por horas. Você pode explorar silos nucleares em desuso. Acompanhar a migração de aves equipadas com rádio em viagens enormes entre a Europa e a África.

“Terroristas do Milênio” poderia acontecer nos EUA?
Já está acontecendo nos EUA. Cultos religiosos estranhos, movimentos antiaborto, hostilidade para com a evolução darwiniana. Esse grupos de protestos são, em sua maioria, da classe média, insatisfeitos com a ordem atual.

Com qual personagem o sr. melhor se relaciona, Richard Gould ou David Markham? O intelectual em dúvida é o par perfeito para o revolucionário carismático?
Acho que Richard Gould está mais próximo de mim; concordo com suas idéias, mas não com suas ações. Como reconciliar ambas as coisas é o grande problema.

Quais são os melhores e piores legados do século 20?
O melhor: liberdade individual, a dedicação da ciência em fazer um mundo melhor e o sentido que somos um mesmo planeta e uma mesma família humana. O pior: a facilidade com que um ditador ambicioso pode escravizar as pessoas, seja fisicamente como Stálin, ou mentalmente, como Hitler. É triste, mas as duas coisas devem ocorrer novamente.

Como o sr. vê o declínio da Europa e dos Estados Unidos enquanto faróis culturais dos séculos passados? Quem deverá sucedê-los?
A Europa e a América são lugares muito diferentes. Os Estados Unidos têm uma cultura de entretenimento popular que é atrativa, mas que não satisfaz, como um hambúrguer ou um pacote de chicletes. A Europa tem uma cultura mais elitista, que não é simples de ser compartilhada, mas que satisfaz muito melhor. Mas a nova supereconomia chinesa mudará tudo.

E o Brasil?
Eu visitei o Rio em 1969 e fiquei muito surpreso com sua vitalidade, charme e as mulheres mais lindas do mundo. O Brasil sempre ocupou um lugar especial na imaginação ocidental, graças em parte ao Rio, em parte à nossa imagem da Amazônia e suas florestas imensas, que representam um sonho profundo do coração primevo da humanidade. Desejo-lhes tudo de bom!

Pequenas epifanias à medida em que o ano embica pro fim

Reciclando um post do meio do ano:

– Um poste no final da ladeira do Paraíso
– Catra + Digital Dubs na Casa da Matriz
– Grenade no Milo e abrindo pra Nação em Curitiba
– Sorvete noturno
– Camilo x Nepal duas vezes, no Fosfobox e na Casa da Matriz
– 15 dias em Floripa
– Quatro parafusos a mais
– Jamie Lidell no Tim Festival
– Catra + Dolores, Nego Moçambique + Gerson King Combo no trio elétrico do Skol Beats
– Batman Begins
– Imersão em Rolling Stones (quatro bios, todos os discos oficiais, filmes, outtakes, raridades)
– Paulo Nápoli na Popcorn
– Disco do primeiro semestre: O Método Tufo de Experiências, do Cidadão Instigado
– DJ Rupture no Vegas
– Tarja Preta 4
– Kings of Convenience no Tim Festival
– Disco de Ouro – Acabou Chorare com Lampirônicos, Baby Consuelo, Luiz Melodia, Rômulo Fróes, Elza Soares e Davi Moraes no Sesc Pompéia – catártico
– Wax Poetic e Vitallic numa mansão em Floripa
– Publicar o Cultura Livre no Brasil
– Damo Suzuki e convidados no Hype
– Baladas gastronômicas
– A mixtape do Nuts
– Quinto Andar e Black Alien no falecido Jive
– Disco do segundo semestre: Futura, Nação Zumbi
– Pipodélica na Creperia
– “Capitão Presença” – Instituto
– Curumin, Jumbo Elektro e KL Jay na Casa das Caldeiras
– Úmero de titânio
– Television no Sesc Pompéia
– Violokê no Chose Inn
– Turbo Trio
– Stuart e Wander Wildner no Drakkar
– Rockstar: depois dos GTA, Beaterator
– Lafayette & Os Tremendões no Teatro Odisséia
– Donnie Darko
– Sandman pela Conrad
– Mylo no Skol Beats
– “The Other Hollywood”
– Weezer em Curitiba
– Buenos Aires
– Comprar livros em Buenos Aires
– Disco de Ouro – Da Lama ao Caos com Orquestra Manguefônica no Sesc Pompéia
– Anthony Bourdain
– Instituto + Z’África Brasil no Vivo Open Air
– Animal Man, de Grant Morrison
– Bátima, com direito à entrevista em vídeo
– Segundas-feiras no Grazie a Dio (Cidadão Instigado, Moreno + 2, Junio Barreto, Hurtmold, Wado, Curumin)
– Transformar uma discotecagem num toque de atabaque pós-moderno (as minhas melhores: duas vezes na Maldita, abrindo pros Abimonistas na Revolution da Funhouse, aniversários da Laura e da Fernanda na Vila Inglesa, esquema lo-profile no Adega, duas vezes duelando com o Guab na Rockmixtape e abrindo pro Satanique Samba Trio e pro Diplo no Milo, aniversário da Tereza no Berlin, com o Cris numa festa fechada no Vegas)
– “Promethea” – ufa!
– Paul Auster
– A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Tim Burton
– Papo sobre o futuro do jornalismo com o Alex Antunes e o Claudio Julio Tognolli na Abraji
– Oséias e Los Hermanos no Trama Universitário
– O melhor duelo de sabres de luz de todos os tempos
– E.S.S. duas vezes, no Atari e na Funhouse
– Dar a dica pro Diplo tocar Cyndi Lauper no bis do set na choperia do Sesc Pompéia (que, aliás, tá com uma caixa nova que, ela mesma, é uma epifania)
– MP3s dos Sebozos Postiços
– O sábado do II Encontro de Mídia Universitária
– A volta do Pink Floyd clássico e Saucerful of Secrets do Nicholas Schaffner
– Sopa e chá na hora certa
– O novo do Cronenberg
– Sebozos Postiços no Vivo Open Air
– Temporada no Takara no Coisa Fina
– Ju, Ana, Dan, Fab, Tati – uma senhora equipe de trabalho
– DJs residentes: MZK, Bispo, Guab e Miranda
– China e Mombojó no Sesc Pompéia
– “Quanto Vale ou É Por Quilo” – só falta ser mais pop pra sair do cineclube (alguém explica o Michael Moore pro Sérgio Bianchi e ele pára com o pessimismo “já era”)
– Labo e SOL num Blém Blém quase vazio
– Wilco no Tim Festival
– Ter certeza que nunca tanta música ruim e desinteressante foi produzida na história como hoje – fora do Brasil (inclua o nome que você imaginar nessa lista – do Nine Inch Nails ao Coldplay passando pelo Wolf Eyes e Teenage Fanclub, ou Weezer e Sleater-Kinney). Só o Jack Johnson e o Franz Ferdinand salvam
– Aqui dentro, por outro lado, é outra história
– Jazzanova no Ampgalaxy
Piratão, do Quinto Andar
– Walverdes no Rose Bon Bon
Milo Garage
– Pipodélica e Zémaria no Avenida
– “Feel Good Inc.”, colosso
– It Coul Have Been So Much Better – Franz Ferdinand
– Jurassic 5 em duas noites em Santo André
– Bad Folks abrindo pro Mundo Livre em Curitiba
Sites de MP3 e mixtapes de funk carioca
– De La Soul no Tim Festival
– Mike Relm no Vegas
– “I Feel Just Like a Child”, Devendra Banhart
– Entrevistar o J.G. Ballard por fax
– Mercury Rev, perfeito, em Curitiba
– Sessão privada do Sou Feia Mas Tou na Moda com a Laura, a Denise, o Bruno, o Boffa, o Diplo e a Mia
– O livro do Sílvio Essinger
– Sonic Youth no Claro Q É Rock de São Paulo
– Chopinho vespertino numa Curitiba belga
– Acompanhar as turnês do Mundo Livre S/A e da Nação Zumbi pelo sul do Brasil
– Superguidis ao vivo
“Galang”
– Abajur pra sala no quarto
– “Music is My Hot Hot Sex” – Cansei de Ser Sexy
– As voltas do Akira S e do DeFalla
– Gravação do DVD do Otto
– Chaka Hot Nightz
– A volta da Bizz (muito istaile)
– R2D2 do Burguer King
– “Nada melhor do que não fazer nada…”, Rita Lee, mesmo que só em canção, realmente sabe das coisas
– Cuba! – e com a Laura…