O rock do século 21 para além da caricatura do século 20

Bem bom o show que o Interpol fez neste sábado no Áudio. Foi o último show que a banda nova-iorquina fez no Brasil nesta vinda, em que passou pelo Rio de Janeiro e fez duas datas em Sâo Paulo, celebrando seus dois primeiros discos, sabidamente a fase clássica da banda. Para não repetir exatamente o show que fizeram na sexta, inverteram a ordem dos discos e começaram com o segundo, Antics, lançado há vinte anos, e essa opção deu uma outra cara à apresentação. Afinal, sua obra-prima é seu disco de estreia, Turn On the Bright Lights, lançado em 2002, e o disco seguinte, apesar de manter o vigor e a energia do anterior, perde nos quesitos tensão e climão, qualidades que tornam o primeiro álbum tão memorável. Assim, a noite começou com um pique mais intenso, mas sem queimar os principais hits, opção que seguiu na segunda metade da noite, quando o grupo, ao contrário do que fez ao tocar seu segundo disco, mexeu na ordem das faixas. No palco, o trio fundador da banda segue firme como ícones do rock do século 21, que mantém alguns dos valores do estilo musical mais popular dos últimos 60 anos, mas sem cair na caricatura roqueira que prende o gênero no passado. O guitarrista Daniel Kessler segue a linhagem da guitarra pós-punk – que ruge mais do que sola – e deixa o ritmo do seu instrumento determinar a intensidade da banda, por vezes mais estridente, outras mais soturno. À frente de todos, Paul Banks encarna a intersecção entre a personlficação do cool e a pose de rockstar, começando o show de jaqueta de couro e óculos escuros e hipnotizando os fãs com seu grave implacável e sua postura ao mesmo tempo distante e quente, trocando pouquíssimas palavras com o público e regendo a multidão apenas com suas cordas vocais. Os outros três músicos – o baixista Brad Truax e o tecladista Brandon Curtis, ambos há mais de uma década na banda, e o baterista Chris Broome, que substituiu Sam Fogarino nesta turnê – não gravaram os discos celebrados na noite, mas estão completamente dentro da vibração do grupo, tornando a dinâmica da banda norte-americana quase inglesa – pouco movimento em cena (à exceção de Kessler, hiperativo), emoções contidas e entrega plena. Entre um disco e outro a banda fez uma pausa, saiu do palco, para retomar o primeiro álbum com a ordem das músicas trocadas – heresia para os fãs mais radicais, mas que fez sentido no decorrer do show. A parte de Turn On the Bright Lights começou com uma música que não está no disco (“Specialist”, lançada no primeiro EP da banda), pulou para a quinta do lado A (“Say Hello to Angels”) e só retomou a ordem original com a terceira faixa (“Obstacle 1”). Daí pra frente o grupo meio que seguiu a versão do primeiro disco (apenas puxando uma faixa do lado B, “Roland”, para depois de “NYC”, do lado A) e deixou claro o motivo de ter alterado o setlist em relação ao disco para deixar o grande hit “PDA” como penúltima música da noite, tocada antes de encerrar mais uma etapa, sair do palco e só aí retornar com a abertura épica do disco, “Untitled”, que neste contexto funcionou como o melhor jeito de encerrar a noite, fazendo o público que cantou todas as músicas o show inteiro, sair sonhando com os versos “Surprise sometime will come around” ecoando na cabeça. Bem bom – só pecou por tirar a música que encerra o disco, “Leif Eriksson”, que tocaram no dia anterior, do repertório da noite.

Assista a um trecho aqui.

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Os nomes que faltavam pra fechar a escalação do Terra

Anunciados nessa quarta Interpol, Goldfrapp, Broken Social Scene, Criolo, White Lies e Garotas Suecas se juntam ao Beady Eye, Peter Bjorn & John, Toro Y Moi e Strokes para formar o Planeta Terra desse ano. Deu pra salvar um tanto o festival de uma possível mesmice, mas é a edição mais sem graça desde a criação do evento. Tomara que isso não queira dizer que o festival esteja perdendo a mão – afinal de contas, ele ainda é o melhor evento dessa natureza no Brasil.

Interpol para o Rio Fanzine

Essa entrevista com o Paul Banks eu fiz em 2003:

Etéreo e abrupto

Como grande parte da dita “volta do rock” atual é baseada na regurgitação retrô de elementos do passado recente do gênero (especificamente o período 1979-1982), parece ser difícil resistir à tentação de rotular o Interpol como “o novo Joy Division”. Preguiça, má vontade ou falta de informação: basta ouvir o recente Turn On the Bright Lights e perceber que, fora o timbre grave do vocalista Paul Banks e o ímpeto trôpego da banda quando engata a terceira, há muito mais do que o fantasma de Ian Curtis assombrando as ondas musicais do grupo nova-iorquino.

“Crescemos ouvindo este tipo de música, no meio dos anos 80”, explica Paul, pelo telefone, em meio à parte final da turnê americana de lançamento do grupo, que começou no fim do ano passado. “Por isso é natural que ela reapareça agora. O público que consome este tipo de música hoje é o mesmo que consumia na época – a diferença é que hoje há ouvintes mais novos, que estão sendo apresentados agora a este tipo de som”. Mas além do Joy Division, é possível ouvir todo um séquito de bandas pós-punk que pavimentou o caminho para o grupo. Pelas faixas do disco, que se equilibra entre o etéreo e o abrupto, passeiam timbres e andamentos de nomes como Wire, Cure, U2 no começo, Echo & the Bunnymen, Buzzcocks. O próprio estigma de vestuário – o Interpol se veste com ternos escuros bem cortados – parece vir destes grupos, embora Paul desconverse: “Apenas gostamos de nos vestir bem”.

Além de suas raízes musicais inglesas, a banda ainda bebe na fonte do noise escocês: há My Bloody Valentine e Jesus & Mary Chain nas entrelinhas do jogo de guitarras do grupo, um senso pop digno do Teenage Fanclub em dias de ressaca e não é por acaso que um de seus três primeiros EPs foi lançado pela Chemikal Underground, a mesma gravadora do Mogwai. E embora a influência britânica seja decisiva, o DNA do grupo é o mesmo do típico popstar indie da Costa Leste americana – e o fato de serem artistas da Matador não deixa dúvidas quanto a isso.

“Não posso reclamar”, Banks fala do recente assédio que a banda vem sofrido desde o lançamento americano do primeiro álbum, em setembro do ano passado, “há um ano eu estava num emprego que eu não gostava, num café, e escrevia de graça para revistas de conhecidos. Parece engraçado que todo mundo resolva te reconhecer ao mesmo tempo, porque as pessoas tendem a falar sobre os mesmos assuntos. Mas isso é bom – do mesmo jeito que os Strokes abriram caminho para que as pessoas procurassem novas bandas, como nós, acredito que abriremos caminho para outras bandas”.

Mesmo sem uma posição definida sobre a troca de arquivos de músicas pela internet, Paul concorda que o sucesso do Interpol aconteceu devido aos programas P2P e músicas em MP3. “É claro que é um péssimo negócio para quem investe muito dinheiro em publicidade, campanhas de mídia e outras estratégias de mercado. Como trabalhamos em outro nível, não nos afeta tanto – muitas pessoas compram nossos discos após nos ouvir em MP3. Se não fosse o MP3, talvez ele não nos ouviria. Ou copiaria o disco de um amigo, como fazíamos há vinte anos, com fitas cassete. Como as tendências musicais, as de mercado tendem a ser muito cíclicas. Mas os executivos de gravadora acham que conseguem parar isto com dinheiro. E não dá”.

Preparando-se para enfrentar nova bateria de shows pela Europa, Paul dedica as horas fora do palco à audição de discos de outras bandas de Nova York. “Adoro os Warlocks, tocamos em uma turnê com eles, o disco novo do Walkmen é excelente e o do Coup, de hip hop, é outro que não paro de ouvir. Mas quase sempre retorno para o melhor disco de todos os tempos, Teenager of the Year, do Frank Black. Aquilo sim, é perfeito”.

Interpol 2010

Rapaz, que música ruim é essa “Lights” que eles acabaram de botar no site pra download, hein… A banda já tá fazendo hora-extra há pelo menos um disco… Melhoraê, porra.


Interpol – “Lights

As 300 melhores músicas dos anos 00: 41) Interpol – “Obstacle 1”

As 300 melhores músicas dos anos 00: 108) Interpol – “NYC”

Os 100 melhores discos dos anos 00: Franz Ferdinand / Interpol

19) Franz Ferdinand – You Could Have It So Much Better (2005)

20) Interpol – Turn on the Bright Lights (2001)

Vida Fodona #191: Talvez o último Vida Fodona da década

Será que eu faço mais um VF antes dos anos 00 acabar? Só o tempo sabe…

Foals – “Balloons”
Hurtmold – “Chuva Negra”
Interpol – “NYC”
Passion Pit – “Sleepyhead”
Dan Le sac vs. Scroobius Pip – “Thou Shalt Always Kills”
Digitalism – “Zdarlight”
Goose – “Bring It On (MSTRKRFT JFK Remix)”
Britney Spears – “Gimme More”
Kelly Key – “Baba Baby (Instrumental)”
Dr. Dre + Eminem – “Forgot About Dre”
Calvin Harris – “Merrymaking at My Place”
Dragonette – “I Get Around”
New Young Pony Club – “Ice Cream”
Fujiya & Miyagi – “Collarbone”

Enquanto isso, venha pra cá.

Vida Fodona #152: NYC

Billy Joel – “New York State of Mind”
Prince – “All the Critics Love U in New York”
LCD Soundsystem – “New York, I Love You But You’re Bringing Me Down”
Genesis – “Back in NYC”
T-Rex – “New York City”
Cat Power – “New York”
Desolation Wilderness – “Paris to New York”
Serge Gainsbourg – “New York, U.S.A.”
Yoko Ono – “Midsummer New York”
John Lennon – “New York City”
Juicy – “New York New York”
Frank Sinatra – “New York, New York (Chew Fu Big Room Remix)”
Soulwax – “NY Excuse (Nite Version)”
Kills – “What New York Used to Be”
Rakim – “New York (Ya Out There)”
Strokes – “New York City Cops”
Interpol – “NYC”
Kylie Andrews – “Naked in NYC”
Razorlight – “Englishman in New York”
Belle & Sebastian – “Piazza New York Catcher”
Sara Lov – “New York”
R.E.M. – “Leaving New York”

De brinde, meia hora de free jazz: Ornette Coleman – “The Tribes of New York”

Venham por aqui e fiquem bem.

Vida Fodona #147: Que venha o mês três!

Recepcionando o mês The Wall sem dar um pio, só deixando a música rolar.

Cut Copy – “Lights & Music”
New Order – “Regret”
Rapture – “The Devil”
Laid Back – “White Horse”
Can – “Mushroom”
Blur – “Far Out (Demo)”
M.I.A. – “Paper Planes”
Tim Maia – “Me Enganei”
Massive Attack – “Safe from Harm”
Velvet Underground – “I’m Set Free”
Pink Floyd – “Wot’s… Uh the Deal”
Walter Franco – “Feito Gente”
Interpol – “Hands Away”
Prince – “When Doves Cry”
Paul & Linda McCartney – “Uncle Albert/Admiral Halsey”
Bonifrate – “Estudo em Ré Menor”
Lô Borges – “O Caçador”
Radiohead – “Reckoner”

Se aprochegue.