Inferninho Trabalho Sujo apresenta Hoovaranas e Jovita @ Picles (20.6)

Nessa sexta-feira temos mais uma edição do Inferninho Trabalho Sujo no Picles, quando reunimos duas bandas instrumentais psicodélicas que estão despontando na cena brasileira. Quem abre a noite é o trio da Zona Leste Jovina, que já tocou na festa mas estreia no palco do Picles, seguido pelos festejados Hoovaranas, que vêm de Ponta Grossa para tocar pela primeira vez na festa. Depois dos shows, que começam às 22h, quem segura a noite madrugada adentro sou eu e minha comadre Pérola Mathias, que está se segurando para não transformar a pista do Picles numa quadrilha de São João. E quem garantir o ingresso antecipado e chegar antes das 21h30 não paga pra entrar. Vamos?

Três bandas em ponto de bala

Foi lindo o Inferninho Trabalho Sujo que fiz com a Porta Maldita nessa sexta-feira na Casa Rockambole. A ideia, que começou como uma oportunidade de fazer um grande evento para o lançamento do disco de estreia da banda Boca de Leoa, evolui para um encontro de três bandas promissoras da nova cena de São Paulo, todas engatilhando momentos distintos de suas carreiras, mas sempre espalhando uma vibe alto astral e dançante durante todos os shows. A noite começou com uma apresentação precisa da Tietê, usina de som que mistura elementos jamaicanos, paulistanos, latinos e outras groovezeiras e que ainda adia o lançamento de seu segundo álbum, gravado desde o ano passado – e que, em tese, sai ainda em 2025. O entrosamento dos músicos é patente e embora não haja uma liderança musical, o grupo gira em torno do pulso determminado pela baterista e vocalista Rubi e pelo carisma e versatilidade da vocalista e saxofonista Dodó. As duas impulsionam o volume de som do resto da banda, que atravessa o público como um trator grooveado em câmera lenta e acaba de anunciar seu primeiro show num Sesc, quando tocam, no próximo dia 11, no Sesc Belenzinho.

Depois foi a vez das estrelas da noite mostrarem que não estão pra brincadeira. É incrível a desenvoltura e a solidez musical mútua da Boca de Leoa, algo que só se constrói com muito show, trabalho que elas vem fazendo sério há uns dois anos. E mesmo felizes por estar lançando seu No Canto da Boca em grande estilo, é possível perceber o quanto elas já evoluíram em relação à banda que gravou o disco no ano passado – e sua química conjunta é tão empolgante quanto a postura individual de cada uma delas: Be Cruz está esmerilhando na bateria, sempre mantendo o pulso firme que conduz o grupo, a baixista Duriu traz peso e leveza aparentemente contraditórias ao seu instrumento, enquanto Nina Goulios nasceu para ser guitar heroine e Duda Martins domine o público com seu carisma inabalável e vocal que ainda está mostrando sua força. Elas ainda contaram com participações especiai, quando tiveram Rubi e Dodó da Tietê tocando percussão e sax em várias músicas, chamaram o flautista Vitor de Biagi e o acordeonista Pedro Zatz para acompanhá-las em outras e até mostraram uma música nova – um rock (!) composto dois dias atrás que fez o público abrir uma improvável roda de pogo. Ao convidar Luíza Villa, da Orfeu Menino, para o bis (que contou com todas as outras participações especiais), usaram seu primeiro hit “Vem Moreno” como uma forma de transformar a Casa Rockambole em uma quadrilha junina. Showzaço que mostra que elas estão só começando.

E a noite fechou com o melhor show da Orfeu Menino até hoje. Além de composições novas e uma única versão para música alheia (“Tudo Joia”, do Orlandivo, que só surgiu porque o público pediu bis), ainda contou com a transformação do tecladista Pedro Abujamra em showman, que saiu de trás do seu instrumento para brincar com a plateia sem deixar o groove cair. A cozinha formada por Tommy Coelho e João Ferrari segue tanto firme quanto dançante, enquanto o guitarrista João Vaz, que entrou para a banda no início do ano, pinga gotas de rock e blues no mapa musical de jazz brasileiro e MPB dançante dos anos 70 do grupo completamente à vontade. À frente de todas, o furacão Luíza Villa, explodindo seu vocal arrebatador, seu corpo performático numa eterna dança e seu carisma inabalável para deixar o público enlouquecido. Todas essas qualidades se juntaram ao humor inerente dos cinco na inédita “Hondureña”, irresistível música caricata latina em que Luíza encarnou uma aeromoça em portunhol conduzindo o público para uma utopia caribenha enquanto tocava um agogô que por vezes soava como um cowbell, outras caía pro groove, que ainda teve Abujamra conduzindo uma “cuenga humana” com o público, colocando-o para dançar numa fila em plena Rockambole, encerrando a noite com o astral lá em cima. Noitaça.

#inferninhotrabalhosujo #tiete #bocadeleoa #orfeumenino #aportamaldita #casarockambole #noitestrabalhosujo #trabalhosujo2025shows 112, 113 e 114

Inferninho Trabalho Sujo + A Porta Maldita apresentam Orfeu Menino, Boca de Leoa e Tietê @ Casa Rockambole (13.6)

Mais uma vez vamos de Inferninho Trabalho Sujo na Casa Rockambole, desta vez selando a parceria com A Porta Maldita em grande estilo, numa sexta–feira 13 daquelas. No dia 13 de junho apresentamos três bandas reincidentes na festa que estão em pontos-chave de sua carreira, reforçando a ótima fase que atravessa a nova cena paulistana. A noite começa com o show da Orfeu Menino, que segue em ascensão nos palcos de São Paulo, afiando cada vez mais seu repertório autoral, entre o jazz dos anos 70 e o pop dos anos 80. Depois vem o quarteto Boca de Leoa apresentando pela primeira vez ao vivo seu disco de estreia, o irresistível No Canto da Boca. A noite fecha com o show da big band Tietê, prestes a lançar seu primeiro disco, gravado na Inglaterra. Uma noite de muito groove pra não deixar ninguém parado. A Rockambole fica na Rua Belmiro Braga, 119, entre os bairros Vila Madalena e Pinheiros, a festa começa às 20h e os ingressos já estão à venda.

Segura a novíssima geração!

Na sexta-feira tivemos mais um Inferninho Trabalho Sujo no Redoma com uma estreia que valeu por duas, afinal da banda Boia, formada na Unicamp por estudantes de música, não fez apenas seu primeiro show na festa como aquele foi seu primeiríssimo show da vida. Surgida a partir da parceria do violonista Leo Bergamini com a vocalista Luli Mello, a banda surgiu a partir da própria república, uma vez que quatro de seus integrantes moram na mesma casa – e os dois que não moram são vizinhos – em Barão Geraldo, distrito de Campinas onde fica a Unicamp. A convivência constante traduziu-se muito bem no palco e ao lado do flautista e saxofonista Renato Quirino, do guitarrista Murilo Costa Rosa, do baixista Murilo Kushi e do baterista João Decco, os dois dominaram a abertura da noite com um repertório autoral baseado nas canções de Leo e Luli, esta um colosso no palco, tanto em termos de voz quanto de carisma. A banda inteira esmerilha no território do jazz brasileiro mas sem cair na caretice típica das faculdades de música e seu entrosamento de casa os coloca num lugar em que podem embalar versões de Moacir Santos e Hermeto Pascoal sem perder o frescor nem o groove. Uma estreia e tanto de uma banda que tem tudo pra crescer bem esse ano.

Depois foi a vez do Saravá e o trio formato por Joni (guitarra), Roberth Nelson (baixo) e Antonio Ito (bateria) também mostrou que não está pra brincadeira, fazendo o rock clássico e o indie rock conversarem como se fossem da mesma geração. Três instrumentistas de peso, passearam pelo repertório já estabelecido em dezenas de shows pela cidade e mostraram músicas novas, além de recuperar um trecho do show que haviam abandonado, quando se entregavam ao improviso elétrico, meio psicodélico meio jazz, no número que batizam adequadamente de “Fritação”. É outra banda que está criando uma ótima casca e já tem uma reputação, ainda que nova, dentro da nova cena paulistana – que não para de ferver!

#inferninhotrabalhosujo #sarava #boia #redoma #noitestrabalhosujo #trabalhosujo2025shows 108 e 109

Inferninho Trabalho Sujo apresenta Boia e Saravá @ Redoma (6.6)

Nessa sexta-feira temos mais uma edição do Inferninho Trabalho Sujo no Redoma e no palco do Bixiga subirão duas bandas novíssimas em ascensão: a banda Boia, que está fazendo seus primeiros shows com repertório autoral, e o trio Saravá, que já passou pelo Inferninho e faz mais uma de suas apresentações fulminantes. Como as bandas dessa nova geração paulistana, as duas equilibram-se entre o rock independente, a MPB dos anos 70 e 80 e o rock clássico, e mais uma vez discoteco antes, entre e depois dos shows. A noite começa a partir das 21h e os ingressos já estão à venda.

Caos desembestado

Sexta-feira foi dia de um Inferninho Trabalho Sujo pautado pelo acaso e pela criação espontânea, quando os três artistas reunidos na Porta Maldita só tinham uma regra como repertório – como chegar do silêncio do início ao silêncio do final deixando suas ferramentas musicais expandirem o som de forma intensa e desenfreada. A noite começou com os Giallos percorrendo esse percurso com bateria, percussão, theremin, guitarra e trombone, com o vocalista Cláudio Cox soltando sua verborragia e suas maracas num spoken word tenso e agressivo, que ainda contou com a participação do saxofonista do Naimaculada, Gabriel Gadelha, convidado para participar da segunda parte do show. Free jazz com rock de confronto na veia.

Depois dos Giallos foi a vez do Pode Tudo Mas Não Pode Qualquer Coisa, projeto de improviso livre puxado pelos Fonsecas e quem eles quiserem chamar no dia. Como o baixista Valentim Frateschi estava no Rio de Janeiro, eles convidaram o baixista Julio Lino – uma espécie de Thundercat alto astral -, um monstro do baixo de seis cordas, e, de quebra, a tecladista Júlia Toledo e os seis foram do rock desembestado ao jazz funk, com Thalin tinindo jazzman na bateria, Felipe Távora solto entre os vocais e os efeitos e Caio Colasante levando sua guitarra para muito além do rock, num encontro que pareceu que durou horas – ou segundos – enquanto chegou em uma hora de improviso.

A noite encerrou com o dono da casa, Arthur Amaral, experimentando uma nova versão de seu projeto Tranze, que contou com o baterista do Naimacuiada, Pietro Benedan (entre o jazz, o rock e o drum’n’bass!), que tocou pela primeira vez com o guitarrista Arthur Sardinha, o baixista Rafael Penna e o tecladista Lukas Pessoa, da banda Monstro Enigma, num encontro liderado pela pregação anticonformista de Arthur – trajando um jaleco – que deixou todo o flow Doors dominar a noite num caos desembestado. Terminei os trabalhos discotecando faixas improváveis como “A&W” da Lana Del Rey, “Dogs” do Pink Floyd e “Crazy Rhythms” dos Feelies para o público que ficou na casa até quase o sol raiar. Noitaça!

#inferninhotrabalhosujo #gialos #tranze #podetudomasnaopodequalquercoisa #aportamaldita #noitestrabalhosujo #trabalhosujo2025shows 096, 097 e 098

Inferninho Trabalho Sujo apresenta Giallos + Tranze + Pode Tudo Mas Não Pode Qualquer Coisa @ A Porta Maldita (30.6)

Nessa sexta-feira tem mais Inferninho Trabalho Sujo na Porta Maldita, quando reunimos três bandas que trabalham na base do improviso livre de natureza rock, com muito noise, microfonia e caos sonoro. Os Gialos já são uma banda clássica, o Tranze é o projeto beat do dono da Porta Maldita, o grande Tuta, e a bagunça do Pode Tudo Mas Não Pode Qualquer Coisa, reúne integrantes dos Fonsecas, Julio Lino e Julia Toledo. Shows completamente fora de controle, temperados pelo clima caseiro e aconchegante que só a Porta Maldita tem hoje – com discotecagem minha no final da noite. A Porta Maldita fica no número 400 da rua Luiz Murat, entre os bairros Pinheiros e Vila Madalena, e os ingressos já estão à venda neste link.

Uma noite daquelas

Noitaça daquelas no Picles nessa sexta-feira, quando reuni em mais uma edição do Inferninho Trabalho Sujo duas bandas nada próximas pra mostrar que, mesmo tocando estilos musicais diferentes e estando em fases distintas de suas carreiras, estamos diante de uma safra invejável de novas bandas, que se conversam e se frequentam. Fazendo sua primeira apresentação em São Paulo, o quarteto Movimento Náufrago, de Santo André, faz parte daquela safra de artistas desta década que são igualmente influenciados por indie rock, música brasileira e rock clássico, com um elemento poético colocado em primeiro plano graças à excelente vocalista Jeini Cristina, que além das letras literárias também tem um carisma que entretém o público entre as canções. A guitarrista Mari Oliver traz os elementos rock tocando seu instrumento de forma enxuta, melódica e sem firulas, para que o novo baixista Askov (que também toca na Cianoceronte) e o baterista Matheus Rocha encorpem as canções de forma igualmente concisa e precisa. Entre as curtas músicas que apresentaram, mostraram uma que foi finalizada na tarde daquela sexta, tão bem recebida pelo público que foi tocada pela banda novamente no bis. Bem bom.

Depois foi a vez dos cariocas da Glote infestarem o Picles com uma bruma elétrica pesada, hipnotizando os presentes com o peso do shoegaze tocado com duas baterias. Soando como um cruzamento do Television com o Sonic Youth, o grupo, liderado pela dupla de guitarristas João Autuori e Alvaro Mendes (que também respondem como a banda Drogma, em uma encarnação paralela), é 100% cria do Escritório, escola de indie lo-fi inventada por Lê Almeida no Rio de Janeiro, que converge a estética indie e o modus operandi faça-você-mesmo para uma realidade periférica brasileira. E no Glote essa brasilidade está nas letras – tanto no jeito de cantar quanto nos assuntos -, que trazem essa brasilidade para o mar de noise e microfonia tenro e adocicado que formam seus arranjos, sempre pesados, nunca agressivos. Um sonho bom, em que canções de poucos minutos parecem durar horas de transe coletivo ao redor do som. Uma noitaça que terminou com a minha discotecagem ao lado da Fran, numa madrugada particularmente inspirada para os dois, mesmo ela tendo esquecido parte de suas músicas e de ela ter cutucado o meu passado mashup, que eu nem sabia como estava sentindo falta. Só começando…

#inferninhotrabalhosujo #movimentonaufrago #glote #picles #noitestrabalhosujo #trabalhosujo2025shows 083 e 084

Inferninho Trabalho Sujo apresenta Movimento Náufrago e Glote @ Picles (23.5)

Sexta-feira tem mais @inferninhotrabalhosujo no Picles, quando reunimos duas bandas que nunca passaram pela festa. A noite começa com os cariocas do Glote e depois a bola é passada pro Movimento Naufrágo, apresentando nova formação. Depois dos shows, eu e Fran (aniversariante da semana ❤️) começamos a esquentar a pista pra mais uma noite daquelas. Os ingressos já estão à venda e quem segurar os seus antes pode entrar de graça até às 21h30. Se não chegar essa hora o preço é 20 reais. Se você não pegar antes, o ingresso custa 30 reais. Não dê mole que a noite vai ser quente! Garanta seu ingresso aqui/a>.

Duas vertentes de uma nova cena

Mais um Inferninho Trabalho Sujo no Redoma, reunindo duas bandas novíssimas que mostram como a nova cena vem se movimentando, desta vez com cada um dos grupos revelando uma das vertentes desse cenário. A noite começou com o quarteto Copo e Água, que encaixa-se na categoria “bandas de MPB” que comentei outro dia: grupos cuja formação e entrosamento é próximo das bandas de rock, mas que as influências são essencialmente brasileiras e quase sempre buscando referências em discos antigos e gêneros decanos. E assim o grupo liderado pela impressionante vocalista e violonista Amanda Iumatti, aparentemente pequena, mas que cresce no palco com uma presença incrível e um vozeirão surpreendente, passeia com energia por sambas, bossas novas, baladas e frevos acompanhada de uma cozinha precisa, formada pelos ótimos Rodrigo Bergamin e Rafa Sarmento (este último tambem baterista do Devolta ao Léu, que havia tocado na edição anterior da festa naquela mesma casa). O tecladista original, Miguel Allain, não pode comparecer e a banda chamou o xará Miguel Marques, que segurou muito bem a noite tanto em seu instrumento quanto nos vocais, às vezes dividindo números apenas com Amanda.

Depois foi a vez do trio Los Otros com seu rock direto e melódico que bebe tanto das bandas inglesas dos anos 60 quanto do rock brasileiro dos anos 70 e a cena new wave e pós-punk da década seguinte, mostrando todo o entrosamento que uma banda que mora junto pode ter. O casal Tom Motta (guitarra) e Isabella Menin (baixo) está cada vez mais confiante no palco e a química dos dois funciona muito bem, sempre sobre a bateria de Vinicius Czaplinski. O trio sintetizou ainda mais o repertório, deixando blocos de músicas românticas entre as canções, e fazendo apenas uma versão, a já tradicional “Papai Me Empresta o Carro”, de Rita Lee. Em sua segunda aparição no Inferninho, o grupo estreou no Redoma às vésperas de lançar seu primeiro single, “Rotina”, que usou para encerrar sua apresentação.

#inferninhotrabalhosujo #losotros #copoeagua #redoma #noitestrabalhosujo #trabalhosujo2025shows 073 e 074