Impressão digital #113: Fadiga de Facebook

E na minha coluna no Link dessa semana foi sobre como o Google deve sobreviver ao Facebook.

Está cansado do Facebook? Espere só a eleição começar…
Google pode sobreviver à ascensão do ‘Feice’

Todos querem saber qual será o “próximo Facebook”. Ou pelo menos a rede social vai substituí-lo. Isso em menos de uma década após o Orkut ter aparecido no Brasil dando início a uma sucessão de novos serviços de relacionamento online que foram ganhando adeptos – e ultrapassando os anteriores – pouco depois de os primeiros usuários perguntarem-se “para que serve isso, afinal?”.

Orkut, MySpace, Twitter, Facebook, Tumblr. LinkedIn, Pinterest, Instagram. A lista continua para todos os lados, levando em conta a quantidade de redes sociais de nicho que não param de surgir. Mas a apreensão em relação ao substituto do Facebook não vem apenas a partir da substituição sazonal que já nos acostumamos em relação a este tipo de site. Pelo contrário – a expectativa de uma nova rede social está mais ligada a uma espécie de fadiga que cada vez mais as pessoas estão sentindo em relação à maior rede social do mundo.

Veja o que aconteceu na semana passada, por exemplo. Desde a segunda, à espera da final da Taça Libertadores, que aconteceria na quarta, a rede social foi tomada por uma polarização drástica – corintianos versus anticorintianos versus pessoas que “não supoooooortam ouvir falar em futebol”. Pior que isso é que estes grupos resolveram entupir suas próprias timelines com uma avalanche de imagens, mensagens e links relacionados à disputa. Eu, corintiano, não reclamei. Mas houve quem cogitasse seriamente sair do Facebook.

Isso fora as práticas nada agradáveis que a rede social sempre tenta esconder, como a mudança do e-mail pessoal exposto no perfil de cada um. O Facebook simplesmente sumiu com o e-mail que cada um de seus usuários dispôs para entrar na rede, trocando-o pelo próprio e-mail @facebook.com. É só mais uma na enorme lista de ações desagradáveis praticadas pela rede social.

Mas haverá mesmo uma rede social que suplantará o Facebook? Há quem ainda aposte na tal “camada social” que o Google criou para interligar todos seus produtos, o Google Plus. Mas como há uma oferta cada vez maior de redes sociais de nicho no mercado, não duvide que a presença do Facebook possa ser substituída por vários destes diferentes serviços, cada um deles voltado para uma atividade ou grupo de amigos.

O que nos leva à discussão sobre o tempo de validade do Facebook. Mesmo que continue crescendo, a rede social cada vez mais age como um player de publicidade, interligando seus milhões de cadastrados a empresas que queiram ter acesso a esta base de dados de usuários. Tudo bem que o Google também age como uma empresa de publicidade e que é daí que vem sua maior fonte de renda, mas ele não oferece apenas um ambiente digital de relacionamentos, mas uma série de recursos – mapas, e-mail, o YouTube, o sistema operacional Android, o navegador Chrome, entre muitos outros – que convergem rumo às palavras-chave que caracterizam seu modelo de negócios.

Já o Facebook apenas aprimora um formato já existente. A maior novidade oferecida pela rede ainda é especulação – depois do botão “Curtir”, eles estariam prontos para lançar o botão “Querer”. Mas este botão só facilita a vida dos possíveis parceiros do Facebook, e não oferecem novas formas de interação que vão além das já existentes.

O Google, por sua vez, segue expandindo seus tentáculos. Mostrou no mês passado um novo sistema operacional, um tablet e até seus óculos futuristas, que tiram fotos e filmam, além de enviarem dados por suas lentes. Tudo termina em publicidade, mas são atividades e produtos realmente novos.

A fadiga em relação ao Facebook, por outro lado, está só no começo. E para quem lamenta o cansaço a partir de um jogo de futebol, não esqueça que as eleições vêm aí. E que ela pode dar início a uma evasão em massa da rede social.

Por mais que permaneça atuante por muito tempo (o MySpace ainda existe, não custa lembrar), cogito que o Facebook deve aos poucos deixar de ser tão central em questão de um ano ou menos. Já o Google, por ampliar seu horizonte cada vez mais, deve seguir importante por mais tempo que isso.

Impressão digital #112: Hackers e jornalistas

E na minha coluna da edição dessa semana no Link continuei falando sobre o Hackatão.

O que a lógica do programador e a do jornalista têm em comum
A tecnologia ajuda a traçar conexões

Jornalistas e hackers juntos, não apenas ocupando o mesmo espaço, mas trabalhando nos mesmos projetos. Esta era a utopia imaginada quando colocamos em pé o projeto do Hackatão, que aconteceu no fim de semana anterior ao passado, na sede do Estado, no bairro do Limão, na cidade de São Paulo.

Havia uma expectativa natural sobre como o evento se desenvolveria. Olhando de fora, as duas profissões parecem antagônicas: hackers que invadem sites de jornal ou jornalistas que denunciam hackers que surrupiam dados de empresas e pessoas. São situações que já entraram no imaginário coletivo. Felizmente, os dois estereótipos estão se esvaziando e aos poucos ambos começam a reconhecer-se um no outro.

Vale rebobinar a fita do tempo para lembrar como era o trabalho de um jornalista antes da digitalização dos dados. Se era preciso buscar informações sobre determinada pessoa ou instituição, o pobre repórter tinha de passar horas e horas num arquivo cheio de estantes e pastas de papel e pesquisá-las manualmente para, aos poucos, dar uma cara ou um rumo à matéria que estava sendo apurada. Não é preciso nem voltar muito no tempo – em algumas cidades ou em certas instituições, os dados ainda estão em formato físico, e exigem paciência e disposição de um investigador para traçar conexões entre processos, pessoas e empresas.

Já o programador usava esta mesma lógica no mundo digital. Para desenvolver um programa ou aplicativo, era preciso testar formatos, conexões, permissões e extensões para ver o que funcionaria melhor com o quê. A vantagem do desenvolvedor é que, ao lidar com informações eletrônicas, o trabalho de apuração torna-se mais simples e prático, pois é possível criar scripts, algoritmos ou pequenos programas para fazer estes testes sem que haja interferência humana direta. Assim, o processo torna-se bem mais rápido – e, ao mesmo tempo, mais preciso.

Ao aproximar os dois profissionais, abrimos a possibilidade de esmiuçar bancos de dados com o mesmo rigor que fazia parte da pesquisa daquele velho jornalista, sem correr o risco de falha humana ou de lidar com pilhas de papéis e pastas de documentos (haja poeira!). Com os dados digitalizados, basta usar os recursos da ciência da computação para chegar a cruzamentos e resultados que levariam dias – talvez meses – para serem apurados.

Mas isso tudo era o mundo ideal. Temíamos que pudesse haver algum estranhamento ou que as lógicas do jornalismo e da programação de dados demorassem um pouco para engrenar. Não foi o que aconteceu. Depois que Daniela Silva e Pedro Markun (ambos do grupo Transparência Hacker, que ajudou o Estado a produzir o encontro), os temas começaram a ser apresentados e as tarefas foram divididas.

Tudo muito tranquilo, sem discussão, sem briga por pautas, sem afobação. Aos poucos os grupos foram se formando naturalmente e os assuntos foram divididos de maneira orgânica, sem que houvesse a necessidade de alguém designar funções ou organizar quem faz o quê com quem.

Por mais que já esteja acostumado com a noção da hierarquia horizontal dos tempos digitais, é sempre um prazer vê-la na prática. Ainda mais na minha área de atuação – o jornalismo –, que ainda é cheio de vícios dos tempos analógicos. Mas uma prova de que isso está mudando – e é um prazer fazer parte deste processo – é justamente este primeiro Hackatão, que ainda está dando pano para a manga e cujos projetos estão aos poucos sendo concluídos (leia mais aqui).

Nesta terça-feira, durante o evento YouPix, às 19h30, conversarei mais um pouco sobre a relação entre estes dois fuçadores – o hacker e o jornalista – reunindo gente que participou do Hackatão: Raphael Molesim, Jonas Abreu e Wesley Seidel, que desenvolveram o site Para Onde Foi o Meu Voto? e dois repórteres do núcleo Estadão Dados, Amanda Rossi e Daniel Bramatti). O debate acontece no Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, e a entrada é gratuita.

Impressão digital #110: Microsoft e Apple, de novo

Minha coluna na edição de segunda do Link foi como a Apple pós-Steve Jobs pode entrar em decadência por falta de inventividade e do futuro estranho da Microsoft…

A Apple pode virar a Microsoft. E a Microsft, pode virar o quê?
MS fará anúncio misterioso nesta segunda

Com o anúncio de uma série de melhorias em software e hardware feito na segunda-feira passada em São Francisco, Tim Cook praticamente encerrou o que Steve Jobs iniciou ao lançar o iPhone. Um plano que começou em 2007, com o evento que reinventou o conceito de smartphone (quando o iPhone foi mostrado pela primeira vez) e que culminou com a apresentação do iPad, há dois anos. Plano que envolvia a criação da economia dos aplicativos e a criação da App Store e que, de acordo com Jobs, terminaria com o lançamento da Apple TV. Com sua própria smartTV, seu smartphone e seu tablet, a Apple tornaria o computador tradicional obsoleto. Tanto que Jobs apresentou o iPad como o primeiro capítulo da “era pós-PC”.

A Apple TV e o novo iPhone devem ser os últimos componentes da fase final de Steve Jobs na empresa. O anúncio da segunda passada apenas azeitou o que já estava engrenado. E, uma vez que as peças finais se encaixarem neste novo ecossistema, a Apple entra definitivamente na era Tim Cook. E resta saber o que o atual CEO fará a partir do plano original de Jobs.

Pois Cook é reconhecido como bom administrador, mas não tem o carisma nem o caráter visionário de seu antigo patrão. Por isso, ele tem duas opções adiante. Numa delas, apenas administraria o que já foi criado, lançando upgrades e afinando soluções anteriores aos problemas do futuro. Na outra, tentaria reinventar a roda da empresa, lançando novos produtos e serviços que tentariam, como Jobs gostava de dizer, “revolucionar” a vida das pessoas.

Aposto que Cook deverá ir pela primeira opção, sem sair de sua zona de conforto para não dar com os burros n’água caso alguma novidade ousada demais não funcionar depois do lançamento. Entre o certo e o duvidoso, a Apple optaria pela primeira opção e perderia o posto de empresa líder para assumir o papel de gigante corporativo de vez.

Foi algo que já aconteceu com a Microsoft. A empresa de Bill Gates nunca teve a aura cool da rival de Steve Jobs, mas houve um momento, lá pela metade dos anos 90, que seu ecossistema era onipresente, principalmente quando embutiu seu Internet Explorer no Windows 95 e estrangulou o primeiro browser gráfico da história, o Netscape. Mas à medida em que a internet foi se tornando mais popular, a empresa patinou em suas escolhas, cresceu demais e suas subdivisões pareciam empresas diferentes. Lançou o Xbox como uma tentativa de criar seu próprio hardware, mas acabou segmentando seu público. De um lado ficaram os usuários do Hotmail e do MSN, do outro os da rede Live (que funcionava através do console de games da empresa), sem contar os do Windows Mobile.

Ao mesmo tempo, o Windows foi perdendo a onipresença, o Office foi ficando para trás com os softwares online, o Firefox e, depois, o Chrome fizeram o Explorer perder mais usuários… e a Microsoft foi ficando cada vez menos relevante. Ela foi o equivalente do Google e do Facebook (ao mesmo tempo) da última década do século 20 e passou a década passada inteira tentando dar alguma cartada para garantir seu futuro.

Tentou por duas vezes comprar o Yahoo, sem sucesso. Fez o mesmo com o Facebook e Mark Zuckerberg desdenhou a proposta. Se associou à Nokia para recuperar terreno no mercado de celulares (e até hoje especula-se que a MS pode comprar a empresa finlandesa de vez). Seu único acerto nos últimos anos foi o dispositivo Kinect. Muito pouco para uma empresa tão grande.

E semana passada viu aparecer mais boatos. Que a Microsoft poderia comprar a rede social Yammer pelo mesmo preço que o Facebook pagou no Instagram. Até que jornalistas de tecnologia dos EUA receberam um convite para um evento que acontecerá na tarde desta segunda-feira. Nem o local foi revelado, só iriam anunciar na segunda pela manhã. E as especulações indicavam que a empresa poderia lançar um serviço de música online de peso ou até mesmo seu Windows Tablet.

Será que a última década da Microsoft funcionará como uma parábola da próxima década da Apple?

Impressão digital #109: O legado de Ray Bradbury

Também escrevi sobre a importância de Ray Bradbury na minha coluna na edição de segunda-feira do Link.

Ray Bradbury: o autor que nos despertou a paixão pelo futuro
Ele trouxe o futuro para mais perto do presente

De todos os grandes nomes da ficção científica, Ray Bradbury, que morreu na semana passada, era o menos geek. Enquanto outros autores igualmente importantes se deixavam levar por devaneios científicos (como Asimov, Heinlein, Clarke) ou metáforas tecnológicas (K. Dick, Gibson, Farmer, Burroughs), Bradbury se via como um escritor, não como um visionário ou um filósofo. E foi assim que trouxe o futurismo distante que encantava o pequeno público inicial do gênero mais importante do século 20 para as massas.

Seu truque era contar boas histórias sem se ater a detalhes técnicos ou precisões tecnológicas. Veja o exemplo de seu título mais popular, As Crônicas Marcianas, coleção de contos que narrava como os terráqueos invadiram o planeta vermelho, invertendo a lógica do pioneiro H.G. Wells, que fez marcianos invadirem a Terra num dos primeiros clássicos do gênero (Guerra dos Mundos, de 1898). Mas, ao escrever sua saga, Bradbury tinha menos Wells em mente – e mais o John Steinbeck de As Vinhas da Ira. Pouco importava a tecnologia que era usada para colonizar o planeta ou problemas considerados críticos por escritores mais científicos (como gravidade ou atmosfera). O que Ray queria era usar a ficção científica como gancho para falar sobre relações humanas.

O mesmo vale para seu livro mais reconhecido, Farenheit 451, o clássico onde a queima de livros simboliza a destruição de toda uma cultura para a manutenção da autoridade de controle. Ele poderia estar falando do futuro, mas também estava falando de seu tempo – afinal, o livro foi lançado em 1953, quando o macartismo norte-americano gritava denúncias contra qualquer suspeita de comunismo e instaurava o clima de paranoia e caça às bruxas nos EUA.

Usar o futuro como metáfora para o presente não é uma das principais condições da ficção científica, embora muitos tenham usado deste recurso (até mesmo escritores que não pertenciam ao gênero, como n’As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, ou 1984, de George Orwell). Na verdade, Bradbury fazia o caminho inverso de uma das principais qualidades do gênero, que é permitir que cientistas, que normalmente se enfurnam em pesquisas e perdem o referencial externo, possam vislumbrar possibilidades criativas que não podiam cogitar antes. Com escritores deixando a imaginação correr solta, tecnologias e oportunidades que não haviam sido imaginadas anteriormente (como a viagem pelo espaço sideral, a teoria dos universos paralelos, a inteligência artificial, entre outros exemplos) passaram a entrar na rotina destes teóricos.

Bradbury ia na contramão. Em vez de assustar ou encantar o público com suposições apocalípticas e fantásticas, preferia tratá-las com indiferença, fazendo com que o público não-geek pudesse imaginar um futuro em que, mesmo com a onipresença de tecnologias novas e inéditas, parecesse com o seu presente. Assim, foi aos poucos acostumando o planeta com um futuro implacável, que não era trágico ou impossível. “É bom renovar o encanto”, escreveu nas Crônicas Marcianas, “a viagem espacial nos tornou crianças novamente.”

E aos poucos nos fez crer que a inevitabilidade de novas tecnologias não era algo a ser temido, mas aceito, como um presente da humanidade para ela mesma no futuro. Um Edgar Allan Poe otimista, Ray Bradbury não temia o desconhecido, mas o aguardava como uma criança em véspera de Natal. Não fosse sua habilidade de fascinar o público, talvez fôssemos mais temerosos em relação às novidades que nos assolam diariamente. Muitos até podem se sentir saudosos com esse futuro neoludita que, felizmente, não aconteceu. Pois para cada problema e paranoia criada pelo século digital (ausência de privacidade, excesso de controle, consumismo, déficit de atenção), tantas outras soluções e possibilidades benéficas surgem a todo instante, transformando nosso presente numa velocidade nunca vista na história.

Tudo graças a este artista que, antes de tudo, era um defensor dos livros e das boas histórias. “Meu trabalho é fazer que você se apaixone”, dizia. E, graças a ele, nos apaixonamos pelo futuro.

Impressão digital #108: O dia em que minha conta do Facebook foi desativada

Minha coluna na edição desta semana do Link foi sobre como desativaram minha conta no Facebook.

O dia em que minha conta do Facebook foi desativada
Estamos às vésperas de um êxodo em massa do Facebookistão?

Sexta passada acordei, li o jornal, tomei café e liguei o computador. Abri meu e-mail e, quando comecei a abrir as abas subsequentes para continuar minha rotina matutina dentro da rede, um aviso a interrompeu: “A sua conta do Facebook foi suspensa”.

Um microssegundo de pânico (“Minhas fotos! Minhas mensagens! Meus contatos!”) foi seguido de um longo segundo de paz (“Imagine não ter que me preocupar mais com o Facebook…”). Enquanto a metade mecânica do meu cérebro abria novas abas para buscar “Como recuperar minha conta no Facebook” em fóruns específicos, a outra, a racional, procurava pelo telefone da assessoria de imprensa da rede social ao mesmo tempo em que eu pensava em você, caro leitor do caderno que edito, que pode passar por uma situação semelhante sem saber a quem recorrer.

Porque nem sequer há um e-mail para quem você possa mandar sua reclamação. O máximo que dá para fazer é acessar a página facebook.com/help e ver o que é que você pode ter feito para ter a conta suspensa. Milhares de perfis do Facebook são suspensos ou bloqueados diariamente pelos motivos mais diversos: os usuários infringem direitos autorais, publicam conteúdo impróprio ou tentam se passar por pessoas que não são. Outra possibilidade de ser defenestrado da rede social – ou ter algumas funções do perfil desabilitadas – é a falta de noção ao usar ferramentas básicas do site. Quem adiciona centenas de amigos no mesmo dia, publica fotos ininterruptamente ou convida desconhecidos para participar de grupos, por exemplo, pode ter desativado o recurso que usou sem parcimônia.

E enquanto tentava descobrir como fazer para minha conta voltar a funcionar (e em todas as dificuldades que alguém que não tenha contato direto com a equipe do site poderia passar), fiquei pensando que este tipo de atitude pode acabar frustrando o usuário casual.

Motivos para deixar o Facebook – como motivos para permanecer lá – não faltam. O site é constantemente acusado de utilizar informações valiosas sobre cada um de nós para transformar-se num negócio bastante lucrativo – isso sem contar as teorias de conspiração que acusam a rede social de ser uma máquina de espionagem governamental. Mas não chegamos àquela fase que aconteceu logo depois do auge do Orkut no Brasil, antes da tal “orkutização”, quando centenas de usuários da primeira rede social do Google resolveram cometer o que foi batizado, à época, de “orkuticídio”.

Mas os números de crescimento do Facebook vêm diminuindo. A rede passou os 800 milhões de cadastrados no final de 2011 e levou quase seis meses para atingir os 900 milhões de usuários que ainda não foram oficializados em comunicado, apenas nas especulações que precederam sua abertura de capital na Nasdaq.

E os casos de contas desativadas, por motivos diferentes, vêm aumentando. E se eu, que me encaixo na categoria hard user da rede social, pensei na possibilidade de uma vida sem Facebook, imagine quem entrou na rede porque os amigos insistiram (“todo mundo está lá!”) ou porque se sentiram por fora, mesmo sem ter intimidade com o meio digital…

Steve Coll, jornalista da revista norte-americana New Yorker, nem precisou passar pelo perrengue que passei para decidir deixar a rede social. No artigo “Deixando o Facebookistão”, ele explica a série de motivos que o fizeram abandonar o site e conta que, ao encontrar o botão escondido que permite desativar a sua conta, foi perguntado sobre os motivos da saída. Não encontrou as alternativas reais que motivaram sua desistência (sugeriu “regras cidadãs inadequadas” e “dúvidas sobre governança corporativa”) e escolheu a que mais se encaixa com sua insatisfação: “Eu não me sinto seguro no Facebook”.

No início da tarde de sexta-feira, uma mensagem chegou ao meu e-mail dizendo que minha conta havia sido desativada “por engano”. Vai entender… Mas não duvide se começarmos a ver, até o fim do ano, um êxodo massivo da maior rede social do mundo.

Impressão digital #0107: Me rendi ao Instagram

E na minha coluna da edição de segunda do Link escrevi sobre a minha rendição ao Instagram.

Um oásis de quietude dentro do oba-oba das redes sociais
Comecei ‘lurker’ e logo passei a fotografar o céu

Me rendi ao Instagram.

Não havia aderido ao aplicativo de fotos pelo simples fato que não tenho iPhone e o aparelho era o único que permitia o uso do aplicativo. Até o mês passado. A versão para o sistema operacional móvel do Google chegou e instalei o programinha no meu telefone para ver como ele funcionava.

A princípio, me comportei apenas como um lurker (no jargão digital, lurker é aquele que só observa e não participa – boa parte dos usuários do Twitter, por exemplo, são lurkers, o que quer dizer que nunca twittaram, se limitando a ler o conteúdo dos outros). Muitos no Instagram também se comportam dessa mesma forma, sem publicar nenhuma foto e, portanto, sem seguidores.

De cara, percebi uma mudança drástica em comparação com outras redes sociais. Por não prezar por textos, os usuários do Instagram se comunicam por fotos. Mas há uma diferença crucial entre a publicação de fotos no Instagram e, por exemplo, no Facebook. Ao permitir apenas fotos – e não vídeos, textos, links e todo tipo de conteúdo que pode ser compartilhado e curtido no Feice –, o Instagram tem um ar zen, que mistura a contemplação com a paciência, o silêncio com a luz.

Por isso ele é bem diferente do oba-oba típico do Facebook. Sim, as pessoas postam fotos de comida, dos próprios animais, de paisagens, dos amigos, mas os ângulos são diferentes e a abordagem, díspar. Quando você sai para jantar com amigos e posta fotos no Facebook, a imagem é quase sempre da mesa cheia, todos sorridentes, olhando para a câmera. No Instagram, o foco vai apenas para o prato. As fotos de festas são difusas, quase impressionistas, ao contrário da eterna coluna social das fotos de festas no Facebook, em que é possível taguear todos os amigos que foram ao evento. Enquanto no Facebook e no Twitter há uma urgência em mostrar o que está acontecendo naquele exato momento, no Instagram, a impressão que temos é que o tempo parou. Para sempre. E sempre num momento lúdico, tranquilo, satisfeito – nada eufórico, corrido ou megalomaníaco como em outras redes sociais.

Por isso, antes de começar a tirar fotos e postá-las no Instagram, me limitava a ver os recortes visuais para a vida de amigos e conhecidos. Empurrando a barra de rolagem para baixo com o polegar, entrava em um oásis de tranquilidade e calma sempre que lembrava de visitá-lo. Como é uma rede que se movimenta basicamente pelo celular, os comentários são poucos e breves, quase sempre no tom contemplativo das fotos. Não há discussões ferrenhas, confrontos de opiniões nem listas intermináveis de bate-bocas entre pessoas que mal se conhecem. Pelo mesmo motivo, não é preciso ficar checando a rede o tempo todo. Tira-se alguns momentos do dia para visitar esta clareira pacífica na selva de informações que a internet se transformou.

Depois de um tempo, comecei a publicar fotos. E entre trechos de livros, rótulos de discos de vinil, imagens tiradas da TV ou de cantos específicos de lugares onde estou, comecei a tirar fotos do céu. Deve ser um dos três principais clichês do Instagram (os outros dois são fotos de comida e de bichos), mas deixei a arrogância de lado e comecei a tirar fotos do céu.

Foi quando percebi uma mudança na minha rotina. Não dirijo, vivo de táxi para cima e para baixo e quase sempre alterno o olhar entre algo dentro do carro (quase sempre o celular, maldito Angry Birds!) ou para a rua, sem atenção. Mas foi só começar a fotografar o céu que me peguei algumas vezes olhando para cima enquanto o taxista me levava rumo ao meu destino.

E semana passada o Facebook anunciou a primeira novidade relacionada ao Instagram após comprá-lo por um bilhão de dólares, ao revelar um aplicativo que permite que se tire fotos com os filtros vintage da outra rede social. Mas o Facebook Camera é mais poluição informativa para uma rede social em polvorosa. A graça do Instagram está em ser um canto de quietude e introspecção longe do desfile de egos e opiniões deformadas que infestam a internet.

A foto que ilustra o post saiu deste disco

Impressão digital #0106: O papel de Eduardo Saverin

Minha coluna na edição do Link desta semana foi sobre o cofundador brasileiro do Facebook.

A contribuição histórica de Eduardo Saverin ao Facebook
Brasileiro revoltou norte-americanos ao renunciar à sua cidadania

Já é bem conhecida a saga de como um brasileiro foi passado para trás por um dos maiores nomes da história da internet e perdeu a oportunidade de entrar para a história. Na semana em que o Facebook finalmente se tornou uma empresa pública, abrindo capital na bolsa de valores Nasdaq, o site Business Insider revelou detalhes sobre como Mark Zuckerberg decidiu que Eduardo Saverin não faria mais parte da empresa que fundaram juntos.

A história é o ponto central do filme A Rede Social, de 2010, que mostra como dois alunos de Harvard, a partir de um fora que Zuckerberg tomou de uma garota, começaram um serviço online que, a princípio era fechado apenas para estudantes da universidade, mas que aos poucos se tornou um dos sites mais acessados da história da internet. Só que, em dado momento, os dois divergem sobre como gerir a rede social e Zuckerberg decide tirar da empresa o primeiro diretor financeiro. O golpe foi tão duro que Saverin foi banido da história da própria rede até que o filme tornasse sua história pública – e, através dos tribunais, conseguisse reaver 4% das ações da rede (quase nada, em comparação aos 30% que teve antes de ser defenestrado por Mark).

Nos e-mails que foram divulgados pelo Business Insider, Zuckerberg não é nada lisonjeiro ao se referir ao ex-sócio: “Ele se ferrou…”, escreveu. “Ele deveria ter criado a empresa, obter financiamento e bolar um modelo de negócio. Ele falhou nas três. Agora que eu não vou voltar para Harvard não preciso me preocupar em ser espancado por capangas brasileiros.”

Mas o tom das conversas de bastidores no início da rede social não foi a única vez que Saverin apareceu no noticiário dos últimos dias. No dia 11, a agência de notícias Bloomberg anunciou que o brasileiro renunciou à cidadania norte-americana para morar de vez em Cingapura. Foi o suficiente para gerar especulações em relação ao motivo da decisão: Saverin estava deixando os EUA para fugir de impostos.

A especulação irritou os norte-americanos, que o acusaram de sair do país com dinheiro ganho lá. O jornalista Farhad Manjoo chegou até a dizer que Saverin era um mal agradecido, em um longo artigo em que explicava por que Saverin havia sido salvo pelos EUA, ao lembrar que sua família mudou-se de São Paulo para os EUA pois havia descoberto que o nome de Eduardo, com 13 anos à época, estava numa lista de possíveis sequestráveis no Brasil.

Mas Manjoo foi além e disse que Saverin era “ingrato e indecente”, pois além de seu país ter acolhido o brasileiro, ainda foi graças aos EUA que Eduardo Saverin conheceu Zuckerberg. E que se não fossem os Estados Unidos, que inventaram a internet, ele não seria nada. A confusão ao redor do brasileiro foi tanta que até mesmo senadores norte-americanos colocaram em pauta a possibilidade de bani-lo para sempre do país.

Um exagero do tamanho das proporções que o Facebook têm hoje.

Mesmo porque, traidor (dos EUA) ou traído (por Zuckerberg), Saverin tem um mérito único: foi a primeira pessoa a perceber que o site que seu colega de faculdade estava criando poderia ser lucrativo. E desembolsou parcos US$ 15 mil para comprar os primeiros servidores do hoje gigante digital.

Pode-se fazer uma série de especulações sobre este momento, principalmente em cima do fato de Zuckerberg poder ter criado o Facebook com outro investidor. Mas a própria criação do site é marcada por confusões. O filme de David Fincher também conta como Mark poderia ter copiado os códigos de programação de um site semelhante que estava sendo criado na mesma época, em Harvard, pelos gêmeos Winklevoss. Do mesmo jeito, um primeiro investidor na ideia de Zuckerberg poderia roubá-la dele.

Não foi o que aconteceu. Saverin investiu no Facebook e a história depois disso todos conhecemos. E o mérito de ter sido o primeiro a perceber a possibilidade da rede social crescer e dar dinheiro é de Eduardo. Seja ele cidadão norte-americano, brasileiro ou de Cingapura.

Impressão digital #105: Beastie Boys, Paul’s Boutique e direitos autorais

Aproveitei a última notícia antes da morte do MCA para falar, mais uma vez, da importância do Paul’s Boutique, na minha coluna do Link dessa semana

A obra-prima que não pediu licença ao direito autoral
Paul’s Boutique, dos Beastie Boys, não poderia ser feito sob regras atuais

Um dia antes da morte de Adam Yauch, sua banda, os Beastie Boys, foi notificada pelo uso indevido de trechos de duas canções do grupo TroubleFunk. Yauch – também conhecido como MCA – morreu no último dia 4, vítima de um câncer na garganta contra o qual lutava desde o fim de 2009. No dia 3, a empresa que representa os direitos do grupo de funk de Washington, TufAmerica, entrou com uma ação pedindo indenização pelo fato do trio de Nova York ter usado trechos de duas músicas em seus dois primeiros discos.

Um pedaço de “Drop the Bomb” foi utilizado nas faixas “It’s the New Style” e “Hold it Now, Hit It” do primeiro disco dos Beastie Boys, Licensed to Ill, de 1986. Outro trecho da mesma música apareceu no disco seguinte, na faixa “Car Thief”, do álbum Paul’s Boutique, de 1989. O mesmo disco ainda trazia um trecho de outra música do TroubleFunk, “Say What”, na faixa “Shadrach”.

O verbo-chave no centro desta disputa é o neologismo “samplear”. O termo é um anglicismo que vem da palavra “sample” – amostra, em inglês –, mas começou a ser utilizado desta forma depois que a empresa japonesa Akai decidiu categorizar o modelo S900 de seu gravador digital como “sampler”. Com ele, era possível selecionar um trecho de áudio e repeti-lo por várias vezes, tornando possível a utilização de pedaços de músicas para a composição de novas canções. Este tipo de gravador já existia antes do Akai S900, mas foi graças a esse modelo – muito mais barato que seus antecessores – que a prática começou a ser mais difundida.

E os primeiros a utilizar o novo aparelho como instrumento musical foram os órfãos da disco music, que inventaram a música eletrônica como a conhecemos hoje. Depois que a discoteca implodiu no fim dos anos 1970, uma geração de novos fãs perdeu o referencial de onde conseguir novas músicas. E, aos poucos, foram eles mesmos se transformando em compositores, primeiro utilizando toca-discos para reproduzir trechos instrumentais. Foi assim que surgiram as dezenas de subgêneros da música eletrônica, como o techno de Detroit, o house de Chicago, o Miami Bass em Miami, o jungle em Londres, o funk carioca no Rio de Janeiro. Todas estas cenas musicais ficaram deslumbradas com o surgimento do novo aparelho.

Inclusive os de uma nova cena nova-iorquina que, diferentemente de seus parentes citados acima, dava mais ênfase ao vocal do que à base musical. O hip hop surgiu no mesmo momento em que a disco music foi induzida à overdose de exposição pela indústria fonográfica que a criou. Em 1979, o grupo Sugar Hill Gang lançava a música “Rapper’s Delight”, em que um trio de MCs rimava sobre uma base que consistia num loop de um trecho da música “Good Times”, do grupo Chic. Foi o início de uma das manifestações culturais mais influentes das últimas décadas.

Quando o sample surgiu, as bases usadas em discos de vinil deram lugar às bases que usavam o sampler como disparador de trechos. O DJ seguiria como o principal instrumentista do gênero até hoje, mas, no final dos anos 80, houve uma renascença musical criada a partir de artistas que usavam trechos de músicas alheias para compor novas músicas. Mas ninguém foi tão longe quanto os Beastie Boys – especialmente em Paul’s Boutique.

São centenas de trechos de discos, músicas, filmes e programas de TV usados ao longo de suas quinze músicas. O resultado dá a impressão de uma audição esquizofrênica, mas o disco é tão bem costurado que foi chamado de o “Dark Side of the Moon do hip hop”, em referência ao clássico disco do Pink Floyd, pela revista Rolling Stone.

Quando foi lançado, deu origem a uma série de questionamentos em relação a tal prática, que era inédita – os beasties não perguntaram se poderiam fazer, simplesmente foram fazendo. E deram origem a uma obra-prima da música moderna que seria impossível de ser realizada hoje em dia sem que a banda desembolsasse algumas centenas de milhares de dólares para gravar o disco. Mas, sem pedir licença, criaram um dos principais marcos da cultura do remix.

Impressão digital #104: Google e Facebook obsoletos?

E na minha coluna no Link desta segunda, comentei um artigo escrito na Forbes sobre o futuro do Google e do Facebook.

Como a web 3.0 pode tornar Google e Facebook obsoletos
Futuro Jetsons: Aparelhos conectados vão se adaptar à rotina

Na semana passada, o especialista em tecnologia da revista Forbes, Eric Jackson, fez uma profecia controversa. Dizia que, talvez, em cinco anos, grandes nomes digitais como Google e Facebook podem perder completamente a importância. Parece alarmista, mas a tese de Jackson tem embasamento.

Ele diz que o Google era um típico site da web 1.0, quando o mais importante era a organização da rede. Em sua infância nos anos 90, a web já era composta de milhares de sites – longe dos bilhões atuais – e seu público ainda tateava em suas primeiras navegações. Era preciso que alguém facilitasse o rumo naquele primeiro momento – época em que todo site tinha uma seção de links recomendados, lembra? Foi a partir dessa necessidade que surgiram sites como o Yahoo (um diretório de sites) e a Amazon (que organizava as compras online). O Google foi o principal nome da última fase desta infância e resumia os anseios do cidadão digital oferecendo apenas um campo de busca. “O que você quer saber?”, parecia perguntar.

Veio em seguida a web 2.0, oferecendo ferramentas para as pessoas publicarem o que quisessem online, sem precisar saber nada de códigos ou linguagens de programação. Surgiram os blogs, os sites de hospedagem de vídeos e fotos, podcasts e outros megafones virtuais para ampliar o alcance do conteúdo produzido pelos usuários. E quando todos se perguntavam quem poderia se interessar em assistir a um vídeo feito sem muito cuidado ou ver fotos feitas com celular, surgiram as redes sociais, que responderam à pergunta mostrando que os consumidores dos conteúdos gerados por pessoas comuns eram elas mesmas, em nichos. Foi nesse território que surgiu o segundo maior site da década , o Facebook.

Mas, do mesmo jeito que o Google patina para entrar na camada social dominada pelo Facebook, a rede social também pasta na hora de conseguir se transferir para a internet móvel. Todo aplicativo do site feito para funcionar em dispositivos portáteis ficam muito aquém da experiência em desktops ou laptops. Segundo Jackson, eis o problema do Facebook. Do mesmo jeito que o Google não conseguiu – apesar de todas as tentativas – entrar na era da web 2.0, o Facebook também não conseguirá entrar na web 3.0, que, segundo ele, é a web em que os celulares e smartphones são os principais dispositivos de acesso.

Permita-me discordar. Primeiro porque a web 2.0 está essencialmente associada à mobilidade. Não apenas de tablets e celulares, mas também de computadores portáteis. Fotos são tiradas pelo celular e compartilhadas em diferentes redes sociais quase que simultaneamente. Os protestos (Primavera Árabe, Occupy, entre outros) que vimos no ano passado foram protagonizados por celulares e câmeras portáteis, não por desktops.

Discordo também do fato de a web 3.0 ser a internet móvel. O que convencionou-se chamar de web 3.0 é a tal web semântica, que entende o que seu usuário quer e oferece exatamente aquilo que ele precisa. Assim, se a web 1.0 perguntava o que você queria, a web 2.0 traz o que você quer sem mesmo que você saiba que queira (pense na quantidade de assuntos que conheceu graças a links de amigos no Facebook). A web 3.0 facilitaria isso ainda mais – e você nem perceberia que está entrando na internet ao receber tais informações.

Eis meu ponto: a web 3.0 não é de computadores e celulares, mas de todos os aparelhos da sua casa, que, aos poucos, conectam-se à internet. Primeiro a TV, e depois logo virá o rádio, o carro, a cozinha e tudo que puder ser conectado. Não é simplesmente um navegador que, a partir de seus hábitos online, lhe entrega o que você nem sabe que está procurando e, sim, um futuro dos Jetsons – sem o carro voador. Você acorda e em dez minutos a água do banho está esquentando. E logo que você desliga o chuveiro, a cafeteira começa a preparar seu café. A web 3.0 nos desconecta de aparelhos, por completo.

Mas concordo em um ponto com Jackson: o Google desta web 3.0 ainda não surgiu. E pode sim tornar Google e Facebook obsoletos em pouco tempo.

Impressão digital #103: Os melhores filmes que ainda não foram feitos

Na minha coluna do Link desta semana, comentei sobre a profecia que Jimmy Wales, da Wikipedia, fez sobre o iminente fim de Hollywood.

Os melhores filmes de todos os tempos ainda não foram feitos
O cinema não vai acabar, mas mudar

Há uma semana, durante o encontro Global Inet, realizado em Genebra, na Suíça, o fundador da Wikipedia, Jimmy Wales, deu uma declaração no mínimo polêmica. Entusiasmado com a recente notícia de que seu site fez a vetusta Encyclopedia Britannica, que era impressa desde 1768, aposentar sua versão em papel, ele profetizou sobre o futuro da indústria do cinema: “Ninguém se dará conta quando Hollywood morrer. E mais, ninguém vai se importar”.

Não é uma continuação do velho discurso deslumbrado com o digital que o transformava em carrasco final de velhas mídias e tecnologias. Ao contrário do que foi alardeado por todo o século 20, o rádio não matou o jornal, como a TV não matou o cinema, nem o telefone matou a conversação. E quando o tema é internet, tais “mortes anunciadas” parecem apenas provocações – afinal, a internet não “mata” a indústria da música, do audiovisual, da fotografia ou das notícias, mas agrega cada faceta destes universos dentro de sua interface.

A questão, frisou Wales, não é tecnológica, mas social, citando a própria filha, Kira, de 11 anos, como exemplo: “Ela maneja com total desenvoltura uma câmara de alta definição, que usa para captar, editar e produzir seus próprios filmes na internet”. E continuou: “Quando essa geração completar 22 anos realizará filmes com mais qualidade que os de Hollywood. Esses mesmos filmes serão mais populares e destruirão o modelo de negócio vigente. Ocorrerá o mesmo que ocorreu com a Wikipedia, que fez que a Encyclopaedia Britannica deixasse de ser impressa 11 anos após a criação (da Wikipedia)”, declarou. E ao finalizar, cravou: “Há uma grande possibilidade que todo o modelo de produção esteja completamente ultrapassado em muito pouco tempo.”

Isso não quer dizer que o cinema vai acabar – longe disso. Wales falava especificamente da indústria cinematográfica norte-americana, concentrada nos estúdios de Hollywood, em Los Angeles. O modelo funcionou por décadas e foi se adaptando aos tempos: das salas de exibição à chegada da locação (primeiro o VHS, depois o DVD, outros candidatos a “assassinos do cinema”, cada um em seu tempo), passando pela TV a cabo e seu pay-per-view, filmes exibidos em voos até a tecnologia 3D. Tudo isso ficava concentrado na mão de alguns executivos, uma panela de técnicos, uma turma de atores e outra de autores. Mas eis que chegam as mídias digitais e, de repente, qualquer um pode fazer cinema. A princípio apenas alguns filminhos, feitos às vezes com o celular. Acontece que aos poucos outros truques típicos de uma indústria centenária (do figurino aos efeitos especiais, da iluminação à direção de arte, do roteiro à fotografia) são absorvidos por uma geração que nem sequer chegou à maioridade, como a filha de Wales.

Quando chegarem, em menos de dez anos, assistiremos a filmes completamente diferentes, que não se limitam a apostar no que é certo e fugir do que for mais ousado (este sim, o grande erro da indústria tradicional).

Falando de outra indústria, a da música, o ex-guitarrista do grupo inglês Oasis, Noel Gallagher, disse que “o consumidor não queria Sgt. Pepper’s (o clássico disco dos Beatles), nem Jimi Hendrix, nem Sex Pistols”, ao reclamar que a indústria havia se tornado uma imensa pesquisa sobre as vontades do público. Ele ecoava uma frase de Henry Ford muito repetida por Steve Jobs: “Se perguntássemos o que os consumidores queriam, eles não iriam querer o carro, e, sim, um cavalo mais rápido”.

A mídia não vai morrer, mas precisa se reinventar para se adequar. E se a indústria que toma conta disso não assumir logo estas rédeas, outros vão fazer isto por ela, criando uma nova indústria. A melhor analogia sobre a mudança remete à invenção da fotografia, que, teoricamente, acabaria com a função dos retratistas, uma vez que ninguém pagaria para ter um retrato pintado. O que aconteceu? Os pintores da virada do século 19 para o 20 criaram o impressionismo e o modernismo. E isso deve acontecer com o cinema, e logo. Como diz um amigo meu, ainda não vimos os melhores filmes de todos os tempos.