Como disse, na minha coluna de ontem no Caderno 2 peguei o gancho do Inception para falar da onipresença da ficção científica nos dias de hoje.
Parece invenção
A influência da ficção científica
Há menos de um mês, neste mesmo espaço, comentei sobre a dificuldade que Christopher Nolan teve para manter o tema de seu novo filme, Inception, em sigilo absoluto. De roteiro complicado e histórias que se superpõem, a produção estreou sexta passada no Brasil com o insosso título de A Origem (sendo que os personagens se referem o tempo todo a uma certa “inserção”).
Mas pode ficar na boa: não vou falar sobre sua história – e recomendo, caso você não o tenha assistido ainda, que se blinde contra possíveis spoilers (o termo em inglês que designa informações que estragam a surpresa de um determinado filme ou série).
A Origem é só mais um dos inúmeros exemplos de como a ficção científica é onipresente no imaginário do século 21. Se formos analisar apenas cinema, os exemplos vão desde nomes gigantes (Matrix e Wall-E) a filmes menores (Moon, Filhos da Esperança, Donnie Darko) e passam tanto por remakes (Planeta dos Macacos, a nova trilogia de Guerra nas Estrelas e o Jornada nas Estrelas de J.J. Abrams) quanto pelos inúmeros filmes de super-herói.
Sim: super-heróis são a forma mais trivial e rasteira de ficção científica. Não são seres fantásticos e mitológicos, embora se comportem como se fossem. Mas por trás de todo super-herói há uma origem explicada cientificamente – mesmo que à base da pseudociência.
Nascido no século 18 com As Viagens de Gulliver (que terá versão para o cinema, com Jack Black, no final do ano), o gênero tornou-se popular no fim do século seguinte graças a nomes como H.G. Wells e Júlio Verne e entrou no século 20 como uma espécie de subliteratura, feita para ser consumida de forma rápida e rasteira. Longe da crítica literária, os autores do novo gênero aproveitaram esta liberdade para usar discos voadores, robôs, viagens no tempo e alienígenas como metáforas para a condição humana. Assim, autores como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, Philip K. Dick, William Gibson e Neal Stephenson podiam criar seus universos livremente, o que serviu de base para a atual onipresença do gênero no mundo todo.
Acontece que esta liberdade que a ficção científica deu a esses autores permitiu que eles pudessem viajar em uma ciência inexistente, imaginária – que serviu como inspiração para muitos cientistas criarem invenções que nasceram na cabeça de escritores.
Eis o motivo do gênero estar em voga atualmente: vivemos num século cujas principais inovações científicas foram imaginadas por artistas. Sim – vivemos em um mundo de ficção científica. E parece que não há nada mais para ser inventado ou imaginado.
Que nada. A Origem – e outros tantos filmes de ficção científica que ainda virão por aí – cogita uma ciência que parece de mentira, inventada. Até que algum cientista se disponha a transformá-la em realidade…
E a minha coluna de ontem no Caderno 2 foi sobre a dominação brasileira nos trending topics.
Trending Trópicos
…E o Brasil dominou o Twitter
As coisas andam mais depressa no mundo digital. A Copa do Mundo terminou há mais de um mês, mas o movimento “Cala Boca Galvão” parece que aconteceu anos atrás. Para quem não lembra, a tentativa de calar o locutor da Globo começou a partir das reclamações de brasileiros no Twitter, o que fez que a frase chegasse aos trending topics da rede social. Esses tópicos funcionam da seguinte forma: quando um termo é repetido várias vezes pelos usuários do Twitter, ele aparece em uma lista que apresenta quais são as frases, palavras ou expressões mais twittadas naquele instante. Eis um dos grandes trunfos do Twitter: funcionar como um termômetro do inconsciente coletivo mundial – ou ao menos das pessoas conectadas à sua rede.
“Cala Boca Galvão”, portanto, foi uma das expressões que apareceram nos trending topics logo que a Copa começou. Quem não era brasileiro e viu aquela expressão em português nos tópicos, passou a perguntar o que era aquilo. Irônicos, alguns brasileiros começaram a brincar com o significado e disseram que a frase era o slogan de um movimento que queria salvar aves em extinção no Brasil – isso foi assunto até desta coluna, domingos atrás.
Não foi a primeira vez que o Brasil chegou à lista dos tópicos mais falados no Twitter. Em junho do ano passado, o ator Ashton Kutcher resolveu brincar com a seleção brasileira e aprendeu, na lata, o significado da expressão “Chupa!” Twittou e, em pouco tempo, o termo “Chupa” estava nos trending topics.
Mas depois do “Cala Boca Galvão”, algo mudou. Cientes de que haviam emplacado um termo na lista, brasileiros começaram a twittar freneticamente para ver se alguma bobagem entrava nos trending topics. E elas começaram a entrar. Foi questão de tempo para que quem não fosse brasileiro começasse a se perguntar, como perguntaram sobre o Galvão, o que era “Fiuk”, “Cala Boca Stallone” ou “Bruna Surfistinha”. E nas últimas semanas, não apenas um ou dois, mas todos os dez tópicos mais comentados no Twitter tinham sido criados por brasileiros.
Isso gerou uma repulsa brasileira ao próprio comportamento dos brasileiros – gente inconformada, reclamando da presença de algum termo no Twitter, sem perceber que, ao reclamar dele, o ajudava a mantê-lo no topo. Mas é um comportamento típico: reclamar que o brasileiro avacalha tudo e que isso é coisa de subdesenvolvido.
O engraçado é que essa avacalhação é uma das bases da nossa cultura – vide Oswald de Andrade, o Amigo da Onça, o Pasquim, Chacrinha e Hermes e Renato. E agora, as brincadeiras no Twitter entram nessa tradição, como uma manifestação em massa que pode ser chamada de “trending tropicalização”.
Mais barato
Kindle: Às vésperas da popularização?
Foi posta em pré-venda na semana passada, a terceira versão do e-reader da Amazon, o Kindle. Menor e mais leve que as versões anteriores, a maior novidade é a redução de preço. O aparelho, que começou a ser vendido a US$ 399, agora custa US$ 139, três anos depois de seu lançamento. Analistas acreditam que, uma vez que o dispositivo passe a custar US$ 10o, ele deixa de ser um produto de nicho e ganha o mercado de vez.
Eis minha coluna no Caderno 2 de ontem…
“Aquela da sanfoninha”
“Stereo Love”, um ringtone do inferno
Aconteceu na redação. O mês de junho ainda não havia começado, era tarde da noite no jornal e, na calma noturna da quase meia-noite, uma pequena sanfoninha tocou a distância. E tocou. E tocou. Era o celular que alguém havia esquecido sobre a mesa enquanto ia tomar água, ao banheiro, fumar um cigarro. A sanfoninha tocava uma melodia simples e chorosa, quase um forrozinho, com um mínimo ritmo dançante, daquele de bater o pé e só. Dada a época do ano, pensei que o dono do aparelho pudesse estar em clima de festas juninas. Vai saber.
Até que comecei a ouvir aquela musiquinha repetidas vezes. Em situações diferentes, ela vinha aos poucos acrescida de uma batida de dance music (hã?) e um vocal sussurrado num inglês com sotaque, cantando uma letra genérica sobre amor. Sempre trechos, quase sempre iniciados pela sanfoninha brega, ouvidos a distância, de passagem – sempre ouvidos através do celular de alguém.
Descubro, tardiamente, graças à repórter Ana Freitas, que trabalha comigo no Link, que “Stereo Love” foi o hit que lançou a carreira do DJ romeno Edward Maya no final do ano passado, em parceria com a DJ e vocalista russa Vika Jigulina. Tão sem graça quanto grudenta, a música tornou-se sucesso de downloads na França (justamente para se tornar ringtone de celular) e depois começou a crescer entre os países da Europa central – Bélgica e depois Suíça, para finalmente, em abril deste ano, ser lançada nos EUA e, finalmente, chegar aos ouvidos brasileiros. A música é sucesso nas rádios dance do Brasil e Vika Jigulina já até veio para cá, quando se apresentou em uma festa no Rio de Janeiro, no dia 10 deste mês.
Três dias antes, o dono do perfil /konelindo no YouTube subia um vídeo que resumia o drama que eu havia começado a sentir. Sem imagens, o clipe apenas apresenta uma tela preta que mostra letras em branco que, aos poucos, formam a frase “eu odeio quem coloca essa música como toque de celular”, seguida da infame sanfoninha de forró dos Bálcãs que vinha me perseguindo. Foi assim, através da Ana, que me passou o tal vídeo, que matei uma dúvida que eu nem sabia que tinha.
Mas o ponto dessa história toda não diz respeito apenas a uma música semidesconhecida que virou sucesso de uma hora para outra, e sim ao fato desta ser usada como toque de celular. Se fosse apenas Stereo Love, já seria motivo para essa coluna. Mas não é só ela.
Donos de celulares que permitem trocar o tom de chamada por músicas muitas vezes nem pensam ao escolher uma canção favorita para ser seu ringtone. Mas se esquecem que aquela música será tocada toda vez que seu celular for acionado – ou se lembram, mas esquecem que aquela música será repetida para todos os que estiverem ao seu redor. E não pense com os seus botões que a música que você escolheu é boa e que seus amigos não ligam. É bem provável que eles liguem sim e comentem sobre a música chata que toca toda vez que o seu telefone toca.
Quer personalizar o toque do seu celular? Escolha uma música discreta e que não seja facilmente reconhecível – o telefone pode tocar em uma reunião com alguém que odeia aquela música, aí já viu…
É só uma questão de etiqueta digital. Nem vou entrar no mérito daqueles que ouvem música no celular sem fone de ouvido (você já deve ter dividido o elevador com um tipo desses). Porque aí não é etiqueta – é só falta de noção mesmo.
Minha coluninha no 2 de ontem…
Sobre o que é A Origem?
Mantendo segredos na era digital
“A sua mente é a cena do crime”, diz a frase que anunciava Inception, a nova produção do mesmo Christopher Nolan que dirigiu os últimos filmes do Batman, Amnésia e O Grande Truque. O filme estreou sexta passada nos EUA e será lançado no Brasil no início de agosto com o título sem graça A Origem (alguém me explica o motivo de acrescentar o artigo definido na tradução?).
Com nomes de peso como Leonardo Di Caprio, Ellen Page, Cillian Murphy e Michael Caine, A Origem vinha cercado de muita expectativa. Primeiro pelo fato de ser um projeto particular de Nolan, que foi adiado devido à agenda que assumiu ao dirigir os filmes do Homem-Morcego. Depois vieram as primeiras cenas, que mostravam ruas e prédios se dobrando em curvas impossíveis e tiroteios que desafiam a gravidade. Mas, o principal motivo de especulação sobre A Origem era sua história. Afinal, do que trata esse filme?
Durante meses, Nolan trabalhou com sua equipe em sigilo total, distribuindo partes do roteiro em separado, para que a história não vazasse. Complexo e denso, cheio de referências a sonhos, ao inconsciente coletivo e, talvez, a uma possível realidade virtual, A Origem partia da premissa de que sua trama era tão importante quanto os nomes que participavam da produção.
Deu certo: Nolan conseguiu manter o segredo até que o filme começou a ser exibido para executivos do cinema e jornalistas – e, a princípio, parecia que o sigilo era até desnecessário, pois muitos nem sequer o entenderam. Logo surgiam elogios que ligavam o filme a nomes como Kafka, Kubrick ou Jung e, aos poucos, a história do filme começava a tornar-se pública.
Se A Origem vai fazer sucesso ou não, só conseguiremos saber em breve. Há quem acredite que éapenas marketing e que o filme será o oposto de Avatar – que era motivo de riso antes da estreia e depois fez história.
Mas independentemente do que aconteça, vale reconhecer o mérito de Nolan: produzir um filme caro (US$ 160 milhões) e manter o suspense sobre seu tema em uma época em que parece que se sabe tudo sobre tudo.
Sem inventar nada
Uma eleição pouco bizarra
Com o fim da Copa, as eleições começam a entrar na rotina do brasileiro. E antes que surjam brincadeiras, piadas e especulações sobre candidatos e partidos (que já começaram – procure “Dilmaboy” por sua conta e risco no YouTube), não dá para fugir da própria eleição como motivo de riso. Vide o perfil www.twitter.com/eleicaobizarra, dedicado a linkar candidatos improváveis – de verdade – que disputarão nossos votos.
E a minha coluna de ontem no Caderno 2 foi sobre Copa e Twitter.
Twittando o grito de gol
A última Copa do Twitter?
3.200 tweets por segundo. Essa foi a marca atingida pelo Twitter durante a Copa do Mundo deste ano. Não é pouco, ainda mais levando em conta que a rede social dos 140 caracteres havia acabado de estrear na Copa de 2006 e, meros quatro anos depois, já contava com 125 milhões de entusiastas espalhados pelo mundo.
A Copa da África do Sul movimentou o Twitter de forma inédita por um motivo. Antes os picos de audiência no site tinham a ver com acontecimentos-relâmpago, que explodiam no site para, minutos depois, serem absorvidos por toda a web, quase todos eles de alguma forma associados a algum acontecimento, produto ou personalidade norte-americana. A Copa mudou essa regra. Pela primeira vez era um assunto que pouco interessava à massa norte-americana no Twitter, mas que era central a quase todos os outros usuários fora dos EUA.
Isso fez com que os torcedores do mundo procurassem um novo canal para acompanhar a Copa. Se a TV foi o veículo do torneio durante anos, em 2010 gente de todo o mundo procurou o Twitter – e não simplesmente a tela do computador, já que o site tem uma vasta audiência em celulares – para, além de acompanhar os jogos, comentar, palpitar, xingar, especular e rir. Deram adeus aos comentaristas de futebol tradicionais, das insuportavelmente tediosas mesas-redondas de domingo para ouvir o que seus amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos tinham a dizer sobre os jogos. No Brasil, até mandaram calar Galvão Bueno na base da colaboração em massa.
Foi o suficiente para que todos que quisessem atenção durante a Copa optassem pela rede social como veículo para atingir seus públicos, aproveitando o fato de os dados do Twitter serem abertos e criando aplicativos para celular, testes, hashtags, perfis específicos apenas para a Copa. Um dos melhores exemplos disso veio do jornal britânico Guardian, que criou em seu site uma área chamada Twitter Replay, em que os jogos podiam ser revistos a partir da movimentação de palavras-chave na rede social.
No fim de uma década em que as redes sociais mudaram a cara da mídia, da internet e das relações sociais, é sintomático que uma delas – não por acaso a mais jovem e elétrica – se tornasse um dos veículos mais festejados no torneio mais popular do mundo. Há quem se empolgue e diga que esta é a primeira Copa do Twitter.
Mas do mesmo jeito que o Twitter praticamente não existia na Copa passada, não duvide se ele deixar de existir na próxima – ou se ao menos perder a importância. Num mundo com tantas mudanças velozes como o digital, não duvide se esta também for a última Copa do Twitter.
Minha coluna de ontem, no Caderno 2.
O futuro de Futurama
A volta do sci-fi de Matt Groening
Futurama voltou. A série de ficção científica do criador dos Simpsons, Matt Groening, foi lançada em 1999 e contava a história de Fry, um entregador de pizza que cai em uma máquina do tempo de suspensão criogênica e vai parar só acorda no ano 3000. Menina dos olhos de Groening, a série, no entanto, não decolou. Durou quatro temporadas e depois foi cancelada. De 2003 até o ano passado, o desenho animado sobreviveu em quatro longas produzidos para o canal a cabo Comedy Central (considerados, em conjunto, a quinta temporada do desenho), sempre à sombra da possibilidade de terminar de vez. Isso quase aconteceu no início de 2009, quando foi lançado Into the Wild Green Wonder, que teoricamente seria o final da saga.
Não foi. Desde o início do ano passado Futurama deixou de ser uma série ameaçada de extinção para comemorar seu novo futuro – que começou na última quinta do mês passado, no próprio Comedy Central.
Futurama não diz respeito apenas ao mundo digital em que vivemos hoje. Passado no século 31, o desenho animado mistura referências nerds que vão de clássicos de ficção científica a terminologia de computadores. Por exemplo, num episódio em que seus personagens vão à Lua, eles são repreendidos por uma força policial chamada Moon Patrol, nome de antigo game do Atari.
E as referências vão além das meras citações. Campanhas publicitárias de produtos fictícios passam em microssegundos atrás dos personagens – é preciso usar o botão do “pause” para conseguir pescar todas as piadas. Algumas, nem assim: os produtores do seriado criaram três idiomas e alfabetos alienígenas para incluir brincadeiras e piadas de duplo sentido em frases que passam rapidamente pela tela. E fazem o idioma Klingon, criado em Jornada nas Estrelas, parecer brincadeira de criança – afinal seus criadores avisaram que não criarão livros didáticos para ensinar esses idiomas. Cabe aos telespectador decifrar e desvendar estes e outros mistérios.
Talvez tenha sido este hermetismo e a torrente de referências subjetivas que tenham feito o seriado afundar em 2003. Mas é isso que o torna duradouro. No hiato entre o cancelamento e a reestreia, Futurama não morreu. Seguiu vivo firme e forte graças aos fãs.
Um deles, o americano Matt De Lanoy, começou a construir uma versão da Nova Nova York (o cenário de Futurama) em Lego assim que anunciaram que a série iria terminar. Para sua – minha e de muitos fãs -, felicidade, ela voltou. E ele completou seu monumento ao século 31.
Efeito Copa do Mundo
Twitter caiu junto com Dunga
Não foi só Dunga quem caiu feio na sexta passada. “Estamos nos recuperando de um período de alta indisponibilidade“, avisou o blog do Twitter durante o jogo contra a Holanda. O site tem sofrido muito com a Copa – e quedas no sistema têm sido mais frequentes do que o habitual. A rede também foi dominada pelos brasileiros após o jogo de sexta, que puseram dez termos em português entre os assuntos mais discutidos no site.
Minha coluna no caderno 2 de ontem…
O ano da vuvuzela
A tag da Copa do Mundo 2010
Na última quinta-feira, o YouTube acrescentou um botão em todos os vídeos hospedados no site. Sinalizado com uma pequena bola de futebol, o botão ligava, ao ser acionado, uma faixa de áudio que disparava o zumbido insuportável das vuvuzelas, a trombeta onipresente nos jogos da Copa do Mundo deste ano. E pelo futebol apresentado pelos times até agora, não tem para ninguém: a Copa de 2010, pelo menos por enquanto, é a Copa da Vuvuzela.
E não foi só no YouTube, nem apenas na internet, onde a corneta sul-africana deu origem a piadas, fotomontagens e sites engraçadinhos. A vuvuzela está por toda parte, nas matérias da TV, nas ondas do rádio e nas ruas do mundo. Mas além de atordoar nossos ouvidos e render brincadeiras de duplo sentido de toda natureza, a vuvuzela pode ajudar a muitos que ainda não estão familiarizados com o conceito de “tag” a compreender o significado desse termo, tão importante na estruturação atual da web.
O termo em inglês significa “marca” e já foi traduzido para ser usado neste caso como “marcador”, “tópico” ou “palavra-chave”. É um dado que é vinculado a uma informação para que esta seja encontrada mais facilmente. Sejam posts em blogs, vídeos no YouTube, fotos no Flickr ou arquivos de MP3, as tags ajudaram a hierarquização da rede na década passada. Graças a elas, quem busca por “Los Hermanos” no Google, por exemplo, bifurca-se entre o termo “os irmãos” em espanhol e a banda de rock do Rio de Janeiro. As tags facilitam mecanismos de buscas e ferramentas online a separar quais hermanos são apenas irmãos e quais deles dizem respeito à banda indie carioca.
E se nenhum artilheiro despontar, se nenhuma partida for inesquecível ou nenhum gol fizer olhos brilharem de emoção, nos próximos dias, nos lembraremos da Copa atual como sendo a Copa da Vuvuzela. Mais ainda, será inevitável associar 2010 do termo, fazendo com quem quiser buscar informações sobre o ano atual no futuro, pode usar a tag “vuvuzela” como guia.
Exemplo: se daqui a dez ou vinte anos encontrarmos um filme ou livro que faça referência ao termo, é muito provável que ele tenha sido lançado depois de junho de 2010. A tag funciona como um filtro, uma guia na busca por informações. Difícil era prever que uma corneta sul-africana se tornaria uma referência, por que não, histórica.
Tudo 3D
Muito além da TV, cinema e games
Nesta segunda-feira, o caderno de cultura digital do Estado de S. Paulo, o Link, traz uma edição especial dedicada ao tema 3D. A pauta do caderno vai além da mania que assola filmes, games e aparelhos de TV e aborda o uso da tecnologia em outras frentes, como museus e até impressoras 3D. E além do conteúdo em três dimensões, todas as imagens do caderno simularão a sensação de profundidade no papel, que pode ser experimentada graças aos óculos que virão encartados, gratuitamente, na edição.
“Cala Boca Galvão”
E se a campanha o calasse?
“Eu com certeza estou nessa campanha”, riu amarelo Galvão Bueno, ao ser entrevistado na Globo, semana passada, para comentar a maior piada interna da história do Brasil. A já clássica frase “Cala Boca Galvão” começou a ser twittada por brasileiros logo que as transmissões dos jogos da Copa do Mundo tiveram início e, como acontece no Twitter, quando um termo é muito repetido por vários usuários da rede, ele foi parar na lista dos “trending topics” – os assuntos mais quentes da hora.
Só que não foi só por uma hora. Nem por um dia. Nem só nos “trending topics” de assuntos brasileiros. Por vários dias consecutivos, a frase – em letras maiúsculas e sem acento – ficou em destaque na lista dos assuntos mais importantes da rede social. Tudo por causa de uma piada, que o jornal The New York Times chamou de “uma das pegadinhas mais bem-sucedidas da história da internet”.
Pois logo que o termo apareceu na rede, quem não sabia português ficou perdido querendo saber que novidade era aquela. Foi quando o humor dos brasileiros se mostrou sagaz e infame, como de praxe. Começaram a explicar que “Galvão” era um pássaro em extinção (pois tradutores online transformavam “Galvão” em “gavião”), que poderia ser salvo via Twitter. Cada vez que a frase era escrita, teoricamente 10 centavos de dólar eram depositados na conta de um certo Instituto Galvão. A campanha, de mentira, logo ganhou cartaz e comercial – tudo em inglês para enganar não brasileiros.
A brincadeira cresceu tanto que logo povoou a mídia – e jornais como o Times americano e o espanhol El País explicaram a piada para seus leitores. E uma faixa com a frase foi estendida na torcida do primeiro jogo do Brasil na Copa.
Até que não deu para Galvão fingir que não era com ele – e deu uma entrevista para a Globo, na terça passada, rindo sem graça da campanha de mentira. Disse que apoiava a brincadeira e começou a falar que era conhecido como “papagaio” no círculo da Fórmula 1, falou de Ayrton Senna e enrolou mais um tanto. Mas não calou a boca.
Muitos brasileiros comemoraram a piada como se fosse um grande trunfo nacional. Claro que não é – toda a campanha para salvar os pobres “galvões” é só uma das inúmeras brincadeiras que começaram na web brasileira e atingiram a mídia tradicional e, finalmente, a rua.
Não dá para comemorar só isso. Como brincadeira, “Cala Boca Galvão” é genialmente cara de pau. Como campanha, é só um trote. Só seria bem-sucedida se realmente calasse Galvão. Sigo na torcida.
Mashup de mídias
Como será a TV do Google
Anunciada no meio deste semestre, a Google TV promete finalmente unir televisão e internet numa mesma interface. Nesta semana, o site divulgou um vídeo que mostra como será o funcionamento do sistema (assista em www.youtube.com/user/Google). A principal novidade é a integração da grade de programação a um sistema de busca. Será que o teclado vai substituir o controle remoto?
Minha coluna no 2 de domingo…
Fake no facebook
João Gilberto social?
“mentirosa. anti-ética. jamais. dei entrevista. à revista.não have.rá nenhum dvd japão.adoro caetano.não pedi comida.japonesa.reportagem …para boi.dormir.farsa!merece o lixo”
Assim, só com minúsculas e pontos entre as palavras, um certo “João Gilberto Prado Pereira” respondeu, via Facebook, a uma entrevista publicada na semana passada com o cantor João Gilberto. Na entrevista, o verdadeiro João dizia nunca ter usado o Facebook, além de não ter computador em casa.
Não precisa ser nenhum especialista em joãogilbertices ou em Facebook para descobrir que o perfil, criado em abril e com mais de cinco mil “amigos”, é falso. Afinal, o “João Gilberto” do Facebook é fã de Marcelo Bonfá, Ray Charles e Pat Metheny, xinga o papa de pedófilo, se refere a Tom Jobim como “mestre” (como assim?) e posta vídeos e mais vídeos de “si mesmo” no Facebook.
Não que João não pudesse ter um computador, estar no Facebook ou ficar passeando no YouTube assistindo a vídeos antigos – atividades que têm a ver com a contemplação e tranquilidade de um músico que, segundo a biografia de Ruy Castro sobre a bossa nova, Chega de Saudade, era conhecido nos anos 50, como “Zé Maconha”.
João Gilberto, perfeccionista e cheio de manias, até perderia seu tempo assistindo aos próprios vídeos no YouTube, mas não os espalharia por aí. Vale até a dica para o João Gilberto fake – o verdadeiro João provavelmente se encantaria ao descobrir que, no YouTube, pode ouvir músicas que ouvia nos tempos em que ainda morava em sua cidade natal, Juazeiro, no interior da Bahia.
Em tempos digitais, sempre é bom desconfiar de personalidades online. Como links recebidos por e-mail, às vezes elas podem não ser quem aparentam.
“Last decade”
A volta-relâmpago dos Strokes
Começou com um tweet: “Bom dia, Londres”, disseram os Strokes no início da semana passada pelo Twitter, antecipando um show surpresa que fariam na casa noturna Dingwalls, para apenas 500 pessoas. Era o primeiro show da banda desde 2006, antes de seus integrantes lançarem trabalhos-solo. Mais tarde twittariam o logotipo da banda com o nome alterado para “Venison”. O show aconteceu quarta passada e, apesar de matar a saudade dos fãs, não trouxe nenhuma novidade. No estúdio desde janeiro, esperava-se que eles tocassem músicas novas ou até que anunciassem novo disco. Em vez disso, voltou aos hits. Será que uma das bandas-símbolo dos anos 00 esgotou-se? Só o tempo dirá, mas ao que parece, a banda virou cover de si mesma.
Minha coluna no 2 de domingo…
Uma ajuda da internet
Mark Millar, quadrinhos e cinema
Kick Ass – Quebrando Tudo, que estreia na próxima sexta-feira nos cinemas do Brasil, pode até não ser candidato às listas de melhores filmes de 2010 feitas por críticos de cinema. Mas, desde que foi anunciado, ele já estava entre os filmes mais legais que seriam lançados este ano. Basicamente porque seu autor, o escritor Mark Millar, criou todo o conceito do novo super-herói pensando nos fãs. Mas antes de falar do filme, vale contar um pouco a história de Millar.
Escocês, ele decidiu que se tornaria um escritor de quadrinhos quando viu uma palestra de Alan Moore (autor de clássicos modernos como Watchmen e V de Vingança) e estreou no mercado norte-americano sob a guarida de outro ídolo, Grant Morrison (da série Os Invisíveis), em 1994. Em menos de cinco anos, ele já era festejado como um dos grandes nomes daquela indústria, continuando o trabalho de Warren Ellis em Authority, e criando uma das melhores histórias do Super-Homem, Red Son, que imagina o último sobrevivente de Krypton chegando à Terra pela antiga União Soviética.
No ano 2000, mudou-se para a Marvel e começou a virar do avesso aquele universo de super-heróis, primeiro reinventando o Homem-Aranha para o século 21 e fazendo, mais tarde, o mesmo com os X-Men, Capitão América, Hulk e Thor. Em comum, estas novas histórias tinham o fato de atualizar aqueles heróis para o mundo pós-internet (Peter Parker, por exemplo, era o estagiário que cuidava do site do Clarim Diário). Mas depois de muitos anos escrevendo histórias criadas por outros, decidiu inventar seus próprios mitos.
E, entre eles, Kick Ass. A minissérie em quadrinhos foi lançada mirando em sua adaptação para o cinema. Millar já brincava com as duas mídias na Marvel – em uma edição dos Supremos (sua versão para os Vingadores), os heróis discutem quem seriam os melhores atores a interpretá-los no cinema.
Com Kick Ass a metalinguagem vai além – e a internet ajuda a misturar realidade e ficção. Na história de Millar, um garoto resolve virar super-herói por conta própria – mas só se torna notado depois que uma briga em que se envolve é filmada por celular e vai parar no YouTube.
Estes pequenos detalhes mostram que Millar está atento não apenas às novidades, mas também disposto a não tratá-las como coisas de outro mundo, mas partes do cotidiano de cada um. O protagonista mede sua popularidade ao comparar o número de amigos em seu perfil do My-Space com o da identidade secreta que criou. E quando ele pergunta à pequena heroína de 10 anos, a adorável Hit Girl, onde ela conseguiu um lança-chamas, sua resposta é direta: “Ebay.”
Desta forma, Millar é o primeiro autor a pular dos quadrinhos para o cinema sem ser um mero contratado. Produtor executivo do filme, Kick Ass não é a primeira obra sua a ganhar vida na telona (a série Wanted virou o filme O Procurado, com Angelina Jolie). E não deverá ser a última.
Um mashup para a Copa do Mundo
http://365mashups.wordpress.com. Segue a árdua tarefa do produtor João Brasil que vai fazer um mashup por dia durante todo o ano de 2010. Uma das novidades dele é a mistura da nova versão de Umbabarauma de Jorge Ben com Mano Brown com Uma Partida de Futebol, do Skank.