Impressão digital #110: Microsoft e Apple, de novo
Minha coluna na edição de segunda do Link foi como a Apple pós-Steve Jobs pode entrar em decadência por falta de inventividade e do futuro estranho da Microsoft…
A Apple pode virar a Microsoft. E a Microsft, pode virar o quê?
MS fará anúncio misterioso nesta segunda
Com o anúncio de uma série de melhorias em software e hardware feito na segunda-feira passada em São Francisco, Tim Cook praticamente encerrou o que Steve Jobs iniciou ao lançar o iPhone. Um plano que começou em 2007, com o evento que reinventou o conceito de smartphone (quando o iPhone foi mostrado pela primeira vez) e que culminou com a apresentação do iPad, há dois anos. Plano que envolvia a criação da economia dos aplicativos e a criação da App Store e que, de acordo com Jobs, terminaria com o lançamento da Apple TV. Com sua própria smartTV, seu smartphone e seu tablet, a Apple tornaria o computador tradicional obsoleto. Tanto que Jobs apresentou o iPad como o primeiro capítulo da “era pós-PC”.
A Apple TV e o novo iPhone devem ser os últimos componentes da fase final de Steve Jobs na empresa. O anúncio da segunda passada apenas azeitou o que já estava engrenado. E, uma vez que as peças finais se encaixarem neste novo ecossistema, a Apple entra definitivamente na era Tim Cook. E resta saber o que o atual CEO fará a partir do plano original de Jobs.
Pois Cook é reconhecido como bom administrador, mas não tem o carisma nem o caráter visionário de seu antigo patrão. Por isso, ele tem duas opções adiante. Numa delas, apenas administraria o que já foi criado, lançando upgrades e afinando soluções anteriores aos problemas do futuro. Na outra, tentaria reinventar a roda da empresa, lançando novos produtos e serviços que tentariam, como Jobs gostava de dizer, “revolucionar” a vida das pessoas.
Aposto que Cook deverá ir pela primeira opção, sem sair de sua zona de conforto para não dar com os burros n’água caso alguma novidade ousada demais não funcionar depois do lançamento. Entre o certo e o duvidoso, a Apple optaria pela primeira opção e perderia o posto de empresa líder para assumir o papel de gigante corporativo de vez.
Foi algo que já aconteceu com a Microsoft. A empresa de Bill Gates nunca teve a aura cool da rival de Steve Jobs, mas houve um momento, lá pela metade dos anos 90, que seu ecossistema era onipresente, principalmente quando embutiu seu Internet Explorer no Windows 95 e estrangulou o primeiro browser gráfico da história, o Netscape. Mas à medida em que a internet foi se tornando mais popular, a empresa patinou em suas escolhas, cresceu demais e suas subdivisões pareciam empresas diferentes. Lançou o Xbox como uma tentativa de criar seu próprio hardware, mas acabou segmentando seu público. De um lado ficaram os usuários do Hotmail e do MSN, do outro os da rede Live (que funcionava através do console de games da empresa), sem contar os do Windows Mobile.
Ao mesmo tempo, o Windows foi perdendo a onipresença, o Office foi ficando para trás com os softwares online, o Firefox e, depois, o Chrome fizeram o Explorer perder mais usuários… e a Microsoft foi ficando cada vez menos relevante. Ela foi o equivalente do Google e do Facebook (ao mesmo tempo) da última década do século 20 e passou a década passada inteira tentando dar alguma cartada para garantir seu futuro.
Tentou por duas vezes comprar o Yahoo, sem sucesso. Fez o mesmo com o Facebook e Mark Zuckerberg desdenhou a proposta. Se associou à Nokia para recuperar terreno no mercado de celulares (e até hoje especula-se que a MS pode comprar a empresa finlandesa de vez). Seu único acerto nos últimos anos foi o dispositivo Kinect. Muito pouco para uma empresa tão grande.
E semana passada viu aparecer mais boatos. Que a Microsoft poderia comprar a rede social Yammer pelo mesmo preço que o Facebook pagou no Instagram. Até que jornalistas de tecnologia dos EUA receberam um convite para um evento que acontecerá na tarde desta segunda-feira. Nem o local foi revelado, só iriam anunciar na segunda pela manhã. E as especulações indicavam que a empresa poderia lançar um serviço de música online de peso ou até mesmo seu Windows Tablet.
Será que a última década da Microsoft funcionará como uma parábola da próxima década da Apple?
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