Impressão digital #0037: WikiLeaks
Minha coluna no Caderno 2 ontem foi sobre o Wikileaks.
O futuro do segredo
Wikileaks e a geração digital
A lista de documentos distribuídos pelo site Wikileaks foi o principal assunto da semana passada, quando uma série de arquivos antes confidenciais causaram uma crise diplomática mundial sem precedentes – transformando seu porta-voz, o jornalista australiano Julian Assange, no nome mais importante do mundo agora.
Mas fora a polêmica instantânea, há implicações nesta história que dizem muito mais respeito a como o mundo funcionará no século que começa. É uma questão que não fala somente a estadistas e governantes, mas também para cada um de nós.
“Imagina se tivesse um Wikileaks revelando DMs, e-mails e SMSs de qualquer pessoa que você escolhesse? Na boa, o mundo acabava em meia hora”, twittou o escritor Antonio Prata, colunista do caderno Metrópole. Não acho que o mundo acabaria (mais provável que ele se tornasse uma mistura de filme de Woody Allen com Ingmar Bergman, numa discussão sobre relacionamentos global interminável), mas, por baixo da brincadeira de Prata, repousa uma mudança que já está acontecendo na cabeça da geração digital.
Lembra quando, nas festas da sua época da escola, alguém trazia uma máquina fotográfica? Quem não queria ser fotografado sumia – e o fotógrafo era acompanhado à distância por quem quisesse ficar longe de seus registros. Que eram mínimos: o melhor filme permitia apenas 36 fotos, que custavam caro para serem reveladas.
A geração eletrônica, no entanto, anda com câmeras nos bolsos. Toda ela – afinal, hoje em dia qualquer celular tira foto. E as fotos são instantâneas – como não é mais preciso revelá-las, basta clicar e subir para a internet de onde quer que você esteja. Fotos são tiradas o tempo todo e parte delas aparece online, nos Orkut e Facebook da vida. O mesmo vale para registros de áudio e vídeo – e assim temos uma geração que passou toda sua vida no holofote, mesmo que particular.
Há quem aposte que o futuro será assim e cada uma de nossas vidas será um reality show pronto para ser assistido por quem se dispuser a nos procurar. Google e Facebook são os primeiros a levantar essa bandeira, com seus respectivos CEOs (Eric Schmidt e Mark Zuckerberg) afirmando categoricamente que a privacidade acabou.
É claro que essa é uma discussão interminável, mas com vidas publicadas em blogs, YouTube e redes sociais numa ponta e o Wikileaks na outra, uma coisa está ficando cada vez mais clara: será muito difícil manter segredos nos anos que vêm por aí. Não que isso seja especificamente ruim…
Narrativa 2.0
Tim Burton brinca com o Twitter
No fim de novembro, o diretor Tim Burton propôs a seus fãs uma experiência conjunta: escrever uma história no Twitter. Criou o site BurtonStory.com, que redireciona todos os tweets marcados com a hashtag #BurtonStory para lá. O tweet de abertura, escrito por Burton, dizia que “Stainboy, usando sua óbvia expertise, foi chamado a investigar a misteriosa gosma brilhante no chão da galeria” – e daí em diante, a história seguiria em modo 2.0. E sempre que uma parte é aprovada pelo autor, ela aparece no site, dando gancho para uma nova leva de sugestões.
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