Impressão digital #0028: A cultura do remix

, por Alexandre Matias

Minha coluna para o Caderno 2 que eu fiz antes de sair de férias…

A arte de recombinar
Remix: Parte da cultura popular

“Tudo é remix”, diz o diretor nova-iorquino Kirby Ferguson no título da série de minidocumentários que lançou online nesta semana, Everything Is a Remix. “O ato de remixar sempre fez parte da cultura popular, independentemente do tipo de tecnologia usada”, explica o diretor no site do projeto, everythingisaremix.info. “Mas coletar material, combiná-los e transformá-los são ações que fazem parte de qualquer nível de criação.”

Mas antes que você torça o nariz achando que Ferguson está se referindo às intervenções que DJs fazem em músicas alheias, tome tento. O próprio diretor começa o primeiro capítulo de seu documentário explicando isso: o remix de músicas é só a parte mais conhecida de um evolução criativa que acompanhou a história da humanidade e, devido às leis de direitos autorais criadas durante o século 20, foi interrompido pois ficou impossível usar partes de obras alheias sem que isso significasse
pagamento ao artista original. Mas o pequeno filme conta duas situações que ocorreram no século passado que ajudaram a arte a se livrar da proibição que passou a pairar sobre o processo de criação.

Primeiro, ele cita o escritor beat William Burroughs, que, no início dos anos 60, em Paris, inventou um novo método para escrever livros. Ele datilografava páginas e páginas, depois as recortava e grudava umas nas outras, fazendo nascer, desta forma, novas palavras, frases e expressões – muitas sem sentido, mas e daí? Ferguson sai de Paris em direção a Londres, no final da mesma década, quando surge a banda Led Zeppelin. Incensada em seu país de origem, o grupo, no entanto, demorou para ser
levado a sério nos Estados Unidos porque boa parte de suas músicas “pegava emprestado” riffs, letras e melodias de clássicos do blues. Everything Is a Remix mostra as semelhanças entre velhos blues e músicas do Led Zeppelin.

E frisa que a diferença entre o que a banda de Jimmy Page fazia e o conceito de remix atual é que hoje a recombinação e recontextualização das obras quase sempre apontam quem é o autor original – ao contrário da banda inglesa. Que, por sua vez, teve trechos de suas músicas usados à exaustão por diversas bandas de hip hop – citados no filme.

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