Icky Thump – White Stripes

, por Alexandre Matias

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A entrevista com o Jack White tá no post anterior a esse – e essa resenha também saiu na Rolling Stone.

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Sem hit, a dupla anda pelo vale da sombra

O novo século dividiu os artistas em dois grupos: gênios do entretenimento, que sintetizam em poucos minutos o que o zeitgeist e o mercado anseiam, sejam hits de pista, riffs de guitarra, diálogos precisos ou cenas de tirar o fôlego; e operários da proposta, que lançam discos, livros e filmes com constância, cultivando seu universo particular de imagem, conceitos e sons que serão seus templos de descanso na terceira idade. Depois que o rock viu que o envelhecimento era inevitável, a cultura pop separou-se em projetos de prazos curtíssimo ou extenso, de acordo com o que seus autores queiram – sejam hitmakers ou auteurs, dependendo de sua postura. Jack e Meg White são dos poucos que caminham por ambos rumos. O White Stripes é sim um projeto de arte, uma carreira pensada como obra e não há demérito nenhum nesta afirmação. Mas Icky Thump sente o baque pós-Raconteurs. Dividido entre duas bandas, Jack White gastou alguns de seus cartuchos como hits para seu novo grupo e deixou sua banda original andar sozinha pelo vale da sombra. Assim é o novo disco dos irmãos de mentira. Caso não flertasse com o primeiro time do mercado com singles-bordoadas como “Fell in Love with a Girl”, “Seven Nation Army” ou “I Just Don’t Know What to Do with Myself”, seriam uma das milhares de bandas que florescem na América do Norte à sombra do mercado global americanizado, como o Bright Eyes, os Decemberists, o Death Cab for Cutie, Postal Service, Shins ou Modest Mouse. Assim é o novo disco, que deve mais a esta cena indie rocker do que ao sempre citado Led Zeppelin (mais presente na psicodelia celta do terceiro disco do grupo em “Prickly Thorn, But Sweetly Worn”, do que nos riffs da faixa que batiza o disco), e mostra como seria a vida do grupo caso Jack White fosse apenas um carpinteiro conceitual – não apenas um jovem mestre do mercado. Um disco menor – basicamente pela ausência do hit -, que oculta sua grandeza de propósito.