Marcelo Adnet, Indiretas Já e o humor brasileiro no século 21

Tanta piada interna, tanto cutucão, tanta referência na entrelinha… Mais uma bola dentro do Comédia MTV.

Palmas! E alguém se arrisca a esmiuçar tudo que é citado ou referido no vídeo? holl0wm1nd e YCK já começaram a decifrar, olha só:

É bueno a boca calar – referencia ao Cala a boca Galvão
Liberta a raposa do cabo = briga para que a Fox Sports saia da tv a – cabo e vá para a tv aberta
Tem cenoura no angu do Gomes = o Angu do Gomes era uma barraquinha muito famosa no Rio de Janeiro nas décadas de 50 a 80, mas esse trecho se refere ao boato de 2008 onde o ator Mário Gomes teria ido para o hospital com uma cenoura entalada no rabo.
Todo mundo já foi pra band, tem argentino, tem arregao = ida do Pânico pra band onde o argentino é o Bolinha e o arregao é o Ceará.
Quem mexeu com os garis… = Boris Casoy falando mal dos garis e virou piada na net
Nem tudo é possivel sem flores = Chris Flores saiu do Tudo é possivel por causa de a briga com o marido da Ana Hickman
Tem gente que não é criativa, copia faz mix por lá – Indireta para a mix tv que copiou os (conceitos dos) programas da mtv;
Saturday é sunday – O SNL brasileiro vai ser no domingo;
A tarde é suja de sangue – A tarde é sua, da Sonia Abraão só mostra morte e sangue nas tardes;
Pastor só sai de madrugada, rebanho não pode enxergar – Fala que te escuto, que passa de madruga;
Dizem-me (dízimo) que quem não paga, mais cedo ou mais tarde cai cai – referência às idas e vindas de José Luiz Datena, que saiu da Record sob multa, foi para a Band, depois voltou para Record, foi limado pela diretoria, que colocou ele em horários estranhos, voltou para a Band e hoje apresenta, além do Brasil Urgente, o Quem fica em pé, programa em que os perdedores caem em um alçapão;
ET massageou minhas costas, desculpe errei de tv (redetv)O caso Bilu no Domingo Espetacular;
Está a maior zorra na praça, só pra agradar a classe C – A praça é nossa e Zorra Total, que tem a classe C com público-alvo;
Anãozinho, bunda gigante, tem dançarino, competição, vai já pro sofá figurante, reality vale um milhão – A Fazenda?
Um belo monte de artistas, pra gota d’água não cair – Referência ao projeto gota d’água, contra a construção da usina belo monte, que contava com a presença de muitos artistas e que fez um certo buzz na internet.
Mas no delta da cachoeira, tucano não pode sorrir – Fala sobre o imbróglio das suspeitas de corrupção da Construtora Delta, do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Tucano é o símbolo do PSDB.
Calou-se o prefeito na sombra, o André deu perda total – Sobre o escândalo Celso Daniel, que morreu por supostamente não concordar com a corrupção petista em Santo André e seu (suposto amante) assessor Sombra, que é réu nas investigações;
Ai que (Eike) bom ter o mapa da mina – Dizem que o pai do Eike batista soltou alguns mapas de minas de ouro para ele, antes de serem públicos;
Paris quem descobriu foi Cabral – Sergio Cabral, o dono da Delta, toalhas na cabeça, blog do Garotinho, Paris.

Valeu, caras… Será que tem mais?

Malditos Cartunistas

Falando em Laerte e Chiquinha, é bom ficar de olho no documentário Malditos Cartunistas, que está para ser lançado (nem sei direito, se alguém souber certinho, dizaê). O doc, como diz o Mini, “supre uma lacuna histórica ao documentar, de forma direta, com uma simples e bem sacada edição de entrevistas, um pedaço fundamental porém pouco valorizado na cultura brasileira”. Ele continua:

Não estamos falando de gente que simplesmente desenha, mas de uma categoria que ajuda a moldar a forma como o país se diverte, se pensa e se enxerga. Quando não é pelas invisíveis cordas das publicações underground, que colocam os malditos cartunistas na posição de influenciadores indiretos da cultura (como a finada revista Animal que pautou editores, diretores de arte, designers, escritores, jornalistas durante sua vida), temos a atuação direta no mainstream, como Angeli e suas 100 mil edições de Chiclete com Banana vendidas em banca, o pequeno império de Mauricio de Sousa, as tiras diárias de Caco Galhardo, Ota, Arnaldo Branco e outros espalhados por jornais brasileiros, o Reinaldo com o Casseta e Planeta na Globo (por sua vez filhotes do Pasquim de Jaguar e Ziraldo) e, claro, não podemos esquecer, da época em que o Laerte e o Adão Iturrusgarai faziam parte da equipe de roteiristas do TV Colosso.

É mais do que uma tradição, é um cânone. Ó o trailer:

Parece foda. E é bom pra esse povo que aprendeu a rir com o CQC e com LOLcats aprender que o buraco, no caso do humor brasileiro, é beeeem mais embaixo…

Instruções de vôo à brasileira

Sem noção? Alto astral? Ambos?

Cinema nacional, programas de celebridades, música brasileira…

Hermes e Renato não respeita nada.

Não desligue antes de ver a Tássia Kiss.

“Leite com pera, Ovomaltino”

Sobre a importância de Hermes e Renato

Eu tenho uma leve impressão que Hermes e Renato já é mais importante hoje do que a TV Pirata foi nos anos 80. Tudo bem, a TV Pirata era um ninho de cobras de altíssimo calibre (além do elenco e da direção, como falar mal de um programa que tinha Angeli, Laerte e Luís Fernando Veríssimo entre os roteiristas? – me corrijam se eu estiver errado). Mas foi tipo o rock dos anos 80, uma espécie de alívio coletivo pós-ditadura. No caso do rock, ele deixava de ser perigoso, maluco, bandido e começava a usar bermudas e a sorrir sem parar; no caso do humor, tudo que era insinuado pela geração Pasquim agora era ligalaize pra turma do Chiclete com Banana. Mas, no fundo, a TV Pirata foi mais um upgrade no humor de TV do Brasil, que andava defasado e não tinha sentido o impacto do Monty Python e do Saturday Night Live (como o rock dos anos 80 funcionou pra todo o rock que nasceu com o punk).

Já o Hermes e Renato tem o tipo do humor que o Zorra Total finge fazer e que não evolui desde os tempos do rádio (o mesmo vale para a sitcom da família – que só fugiu do padrão duas vezes, com Bronco, do Ronald Golias nos anos 80, e Sai de Baixo, da Globo): brasileiro, tirador de onda, escrotizador, vira-lata. Mas é preciso em sua descaracterização – pelo simples fato dos personagens não serem vividos por atores, mas pelos próprios roteiristas. Assim, eles se parecem muito mais com o Casseta e Planeta, mas os Casseta tiveram tempo e experiência para aperfeiçoar seu produto – eles mesmos – com muita desenvoltura na TV.

Hermes e Renato é quase amador, tosco, malfeito. Eis a graça. Todo mundo conhece pelo menos um cara que é assim, que curte esse tipo de humor, que faz vídeos toscos com os amigos e bota no YouTube. E acredito que esse seja o principal motivo da importância do Hermes e Renato. É o elemento 2.0 misturado com o reality show, o “yes we can” da choldra. Fora isso eles ainda materializam piadas e brincadeiras que não têm registro oficial, piadas de fundo de sala de aula e de ônibus que são pura história oral, fadada ao esquecimento não fosse isso que chamamos de arte. Eis o papel dos caras, é mais ou menos o motivo do sucesso do Mamonas Assassinas, mas com piadas legais.

Acredito que em pouquíssimo tempo teremos uma nova geração de humoristas, diretamente influenciadas por esses caras, uma geração que vai mostrar que essa safra de stand-up sem graça que está hoje no CQC é só isso – uma geração sem graça. Que venham os bárbaros!

E tudo isso só pra falar que essa piada idiota do “professor nãoseioque-nãoseioque-nãoseioque-amanhã”-“QUÊ?”-“PRRLL” é uma das minhas favoritas.

PS – O André e o Bruno citaram o óbvio que esqueci de lembrar: Trapalhões. Um tipo de humor essencialmente que foi quem realmente sentiu o baque da TV Pirata e do Casseta e Planeta (embora o Casseta seja responsável pela última grande fase do grupo, a fase do “Oooos pirata!”). E como pude esquecer: justo eu que nasci no dia em que o Renato Aragão fazia 40 anos…