Homem de Ferro 2: Devagar com a louça…
Fui ver o Homem de Ferro 2 e… o filme é ótimo, mas se é pra ter mais de duas horas, que as encham com cenas de ação. Dá pra contar quase uma hora de blábláblá durante todo o filme, cenas que você nem sequer precisa olhar para a tela para saber o que está acontecendo. Em alguns aspectos o filme melhora o que já era ótimo no primeiro.
O principal mérito é o elenco: Robert Downey Jr. está confiante ao nível do insuportável, Gwyneth Paltrow finalmente pode atuar, o diretor Jon Favreau faz sua ponta crescer sem sair do segundo plano, Samuel L. Jackson é Samuel L. Jackson sempre, Don Cheadley segura bem a onda de sidekick, Sam Rockwell está ótimo como vilão e até Mickey Rourke e Scarlett Johansson estão bem. Favreau aos poucos está dominando a técnica dos efeitos especiais misturados a cenas de ação e nos presenteia com algumas cenas de abrir sorrisos – a chegada do Homem de Ferro na Stark Expo, a cena de luta com discotecagem e até o completo nonsense se passa no Grande Prêmio de Mônaco são pequenos espetáculos do cinema moderno, com doses equilibradas de humor, ritmo, cinematografia, edição, diálogos, efeitos e trilha sonora. Cinemão americano em grande escala, um título que infelizmente recai sobre os insossos Ron Howard, James Cameron e o próprio Spielberg, que de vez em quando sai do trivial. Mas Favreau está chegando lá.
O problema é que um filme desses não pode ser conduzido apenas com três ou quatro pontos de ação e esticado na marra com diálogos que teoricamente sustentam uma trama complexa – afinal, não há trama complexa. Não existe nem atrito entre os personagens de verdade, a profundidade do roteiro é a de uma piscina de crianças. Porque afinal de contas o que é um filme de super-herói senão uma piscina de criança? Não é cinema existencialista, reflexivo, denso. Não há mergulho ou submersão – é apenas um toboágua. Mas imagine se, no meio do toboágua, você tivesse que parar para discutir se é melhor descer pelo túnel A, B ou C. Se o ritmo das cenas de ação é perfeito, o do filme tem muitos altos e muitos baixos – alguns destes que até sugerem o sono.
Isso faz com que Homem de Ferro 2 funcione como um sinal de alerta para os filmes de super-herói. Não que o filme não vá faturar alto, mas pode fazer com que a série que perca o fôlego logo – e Favreau tenha que apelar para recursos ridículos como os que Sam Raimi apelou no terceiro Aranha (você sabe, todo aquele papo emo, aquela cena da dança no bar, o comercial de margarina na outra cena do café da manhã) e se ver o nerd Peter Parker passar por essa transformação foi bisonho, não queiramos ver algo do tipo com o querido Tony Stark do Downey Jr.
Uma das melhores cenas dura menos de cinco minutos e acompanha Scarlett em sua primeira incursão à ação. E nem é pelo fato de ter uma gostosa dando pernada – é só mais um exibicionismo de Favreau como diretor, desta vez acompanhando de perto uma cena que é basicamente uma coreografia. Se Homem de Ferro 2 alternasse entre efeitos especiais desproporcionais e cenas mais “intimistas” como esta com a Johansson (em vez de perder tempo com o drama risível do personagem de Rourke ou cenas extras só para justificar o cachê de Samuel L. Jackson), seria do nível do primeiro filme.
Mas não é.
(E depois eu falo do próximo filme da Marvel – se você não viu o Homem de Ferro 2 no cinema e sabe ainda, tem uma cena escondida no final dos créditos, que nem no primeiro)
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