Voltamos às salas de cinema para assistir a uma obra-prima: Homem-Aranha: Através do Aranhaverso é um dos melhores filmes de super-herói de todos os tempos, senão o melhor. A continuação do desenho animado de 2018 supera o filme original em vários níveis, mesmo que você faça algumas ressalvas – e claro que eu e André Graciotti fazemos algumas em mais uma edição do nosso programa sobre cinema. Os saltos dados neste filme tanto no que diz respeito ao futuro dos super-heróis na telona, às possibilidades infinitas da animação e como este formato parece só estar começando são consideráveis e dedicamos um programa inteiro a essa discussão.
Homem-Aranha: De Volta para Casa insiste em mostrar que faz parte do cânone da Marvel no cinema e não empolga – escrevi sobre o filme no meu blog no UOL.
Baixe sua expectativa. O novo filme do Homem Aranha – De Volta ao Lar – é um bom filme, mas não é nem o melhor filme de super-herói do ano, nem o melhor filme com um personagem da Marvel do ano (Logan e o segundo Guardiões das Galáxias seguem à frente). Mas ele peca justamente por sustentar-se nesses dois pilares, quando deveria ser algo a mais. Como o próprio personagem era. Ele está longe de ser o filme de John Hughes de Kevin Feige, uma alusão ao espírito juvenil que mistura nostalgia e cinismo de filmes como Curtindo a Vida Adoidado, O Clube dos Cinco ou Gatinhas e Gatões que parecia antecipar esta terceira vinda do herói. Mesmo citando literalmente Ferris Bueller em determinada cena, De Volta ao Lar não é um filme sobre adolescentes ou sobre a adolescência – o que é a essência do personagem Peter Parker.
Em vez disso, o filme prefere escorar-se no Universo Cinematográfico Marvel fazendo parecer que era aquilo que faltava às encarnações anteriores do Aranha. De Volta ao Lar, que é um filme da Sony como as versões anteriores do herói, mas que agora pode usufruir do universo da Marvel, é uma enorme propaganda dos outros filmes do estúdio concorrente, mostrando como o personagem se encaixa naquele novo universo. O vilão surge a partir dos acontecimentos do primeiro Vingadores. Os próprios Vingadores já entraram no inconsciente coletivo das pessoas. E aí aparece o Homem de Ferro. E olhamos pra cima, oh, a torre dos Vingadores. É o Capitão América naquele televisão? Constantemente somos lembrados que aquele filme está dentro do universo da Marvel e que tudo vai se interligando aos poucos, mas são referências tão artificiais que cansam.
Como a relação entre Tony Stark e Peter Parker. Nos quadrinhos, o Homem de Ferro e o Homem Aranha não são propriamente amigos – vivem soltando farpas um no outro quando têm de lutar juntos -, mas o vínculo estabelecido entre os heróis também é bastante forçado – e paternalista. É como se, sem a tecnologia Stark, o Homem Aranha nunca existisse. E embora seu novo uniforme renda boas piadas e situações, ele praticamente extingue o sentido aranha, um dos principais superpoderes de Peter Parker. Em dado momento, parece que a relação entre Stark e Parker é uma metáfora da relação entre a Marvel e a Sony, quando o estúdio bem sucedido entrega parte de seu arsenal para o estúdio que não consegue fazer seus filmes de herói irem tão bem: “Toma, eu deixo você brincar.”
Mas o que diferenciava o Homem Aranha dos heróis tradicionais, quando surgiu há cinquenta anos, é que ele tinha um cotidiano adolescente típico de seus leitores. E essa parecia a grande promessa do novo filme (principalmente porque seu título original – Homecoming – está ligado ao baile de formatura do segundo grau e não a nenhuma volta ao lar). Mas toda a adolescência de Peter Parker é coadjuvante ao fato de que ele quer ser um super-herói, quer lutar contra o crime e fazer o bem. Mais de um terço do filme é dedicado a falar sobre seus colegas de classe, do hilário Ned (Jacob Batalon) à paixonite Liz (Laura Harrier), passando pela ácida Michelle (Zendaya) e pelo mala Flash (Tony Revolori), mas o protagonista mal interage com o grupo, que funciona mais como um acessório para provar que ele tem uma turma na escola do que como uma turma de fato. Em outras palavras, ele nem funciona como um filme de adolescentes dos anos 80 nem como um filme adolescente deste século (Harry Potter, Jogos Vorazes, Divergente), em que os coadjuvantes ajudam a reforçar a personalidade do protagonista.
Não é culpa de Tom Holland. O ator que faz o Homem Aranha faz o seu melhor para parecer um adolescente maravilhado com a possibilidade de ser um herói. É realmente o melhor Homem Aranha do cinema. Mas talvez tenha uma ingenuidade e entusiasmo exagerados, que me lembrou um Mickey em carne e osso ou uma espécie moderna de Tintin, me fazendo sentir falta das piadas, até as ruins, do personagem original. É um personagem bem construído (e graças a deus não precisamos mais assistir à cena da picada da aranha), mas sem humor, sem malícia, sem picardia. Consigo imaginar ele abaixando a cabeça e falando “sim senhor” para um J.J. Jameson num filme futuro.
Mais uma vez: o filme não é ruim. Michael Keaton surpreende como o melhor vilão em um filme da Marvel desde o Loki de Tom Hiddleston, há várias pontas e participações especiais bem vindas (da incrível Tia May de Marisa Tomei às aparições inesperadas de Martin Starr, Hannibal Buress, Gwyneth Paltrow, Donald Glover, Bookem Woodbine ou Chris Evans) e as cenas de ação… funcionam. Elas não forçam a barra nem constrangem, mas não chegam a empolgar. São bem feitas, bem dirigidas e bem previsíveis.
Como todo o filme. Não há grandes surpresas e apenas alguns momentos inspiram sorrisos. De Volta pra Casa expõe os filmes de super-herói como uma enorme propaganda de si próprios e funciona como um prequel indesejado, um trailer longo (demais) para o próximo filme, que, aí sim, veremos o Homem Aranha completo – dizem. Mas vamos esperar até lá? É o que o estúdio espera.
E o trailer do novo Capitão América revelou o tão guardado Homem Aranha do universo Marvel no cinema – e dá pra ver bem lá no meu blog no UOL.
Depois de fantasiar heróis de umas melhores eras da música pop com os trajes da DC, o curitibano Butcher Billy agora volta-se para os alter egos da Marvel, saca só:
Chama-se A Lonely God essa série de pinturas do ilustrador francês Belhoula Amir, também conhecido como Cosmosnail. Aí embaixo tem mais:
Nos encontramos no ano que vem, quando a lista das 75 melhores músicas de 2012 começa em contagem regressiva no dia 2 de janeiro. Boa virada!