O cantor cearense Jonnata Doll finalmente começa a mostrar o novo disco de sua banda, Os Garotos Solventes, ao lançar o primeiro single, “Trabalho Trabalho Trabalho” em primeira mão no Trabalho Sujo. Batizado de Alienígena, o disco tem produção de Fernando Catatau, que também participa do primeiro single, bem como a cantora Ava Rocha e o trumpetista Guizado.
“O disco nasceu da minha experiência em São Paulo”, conta o cantor e compositor. “Cheguei aqui em 2013 e morei em vários lugares, em situações e pessoas diferentes, tendo uma amostra do que é a vida em São Paulo da perspectiva de alguém pobre, sem grana nenhuma, sem pai, dependendo de favores, amigos e bicos – atualmente eu passeio com cachorros e com um porco, o George. Pretendo até fazer um clipe com o George, se o dono dele deixar”, ri, antes de voltar para o assunto do disco.
“Observei essa onda de extrema direita efervescente aqui em São Paulo, aqueles seres bizarríssimos na Paulista e isso fez de Alienígena o disco mais político da gente”, continua. “Ao contrário dos outros, pude utilizar minha autobiografia como relato, usando o meu eu em relação ao outro, à cidade. Nunca o foco sou eu mesmo, tentei estabelecer esse método beatnik, que o Kerouac e o Burroughs faziam muito bem.” Este método é ilustrado na intervenção que a banda fez no centro de São Paulo para realizar o clipe.
A relação com São Paulo também está expressa ao chamar o guitarrista do Cidadão Instigado para produzir o álbum. “Foi o cara que me trouxe pra São Paulo e é um grande parceiro. Ele influenciou também na sonoridade quanto na composição, falava pra fugir de fórmulas, de repetições, me mostrando como cantar de forma livre, sem pensar numa regra, o que deixou as músicas bem psicodélicas.” A própria sensação expressa no título do disco traça um parentesco direto com o conceito do Cidadão Instigado de Catatau – alguém que se muda do Ceará para tentar a sorte em São Paulo, mas ao chegar em São Paulo sente saudades do Ceará. É como se Fernando estivesse passando este bastão para Jonnata.
“Escolhi ‘Trabalho Trabalho Trabalho’ para começar porque é uma música bem diferente da gente e mostra bem o que é o disco. É uma crônica sobre o trabalhador”, explica o compositor. “O alienígena quando chega de fora vê esse ritmo de São Paulo, a pressa, a indiferença e a liberdade de poder fazer o que quiser sem que as pessoas se importem muito, mas também a solidão.” O disco será lançado pelo selo Risco no próximo dia 21 de agosto.
Em seu novo disco, O Multiverso em Colapso, coproduzido pelo Miranda, o trompetista Guizado visita os anos 80 e… canta! Falo sobre isso na minha coluna Tudo Tanto, que ressuscitou no Reverb – leia lá.
Guizado antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo “Cidade Neon”, o segundo single de seu mais novo álbum, O Multiverso em Colapso, que ele desenvolveu na temporada que fez no Centro da Terra em maio deste ano e que será lançado na semana que vem. Ele também me chamou para escrever o release do disco, que reproduzo abaixo.
Não lembro quem falou primeiro, mas tanto Guizado quanto Miranda me avisaram mais ou menos na mesma semana que estavam começando a trabalhar juntos. O trompetista já é um dos principais nomes no Brasil em seu instrumento e o dividiu palco com alguns dos principais nomes da nossa música neste século, além de ter desenvolvido uma sólida carreira solo pop e instrumental, artefato raro na paisagem musical daqui. Imaginar que ele entregaria um capítulo de sua carreira a um dos grandes produtores da história da nossa indústria fonográfica abria inúmeras possibilidades sonoras. Um universo em expansão – multiversos!
Duas cabeças intensas e prolíficas, Guizado e Miranda bateram de frente para entender o rumo que iriam tomar juntos. Nesta colisão, o produtor gaúcho puxou o músico paulistano do free jazz e do espaço sideral para trazê-lo de volta à Terra. Embarcaram em uma jornada para um passado que ambos viveram e curtiram: os anos 80 que viram a formação do músico e do produtor em suas respectivas cidades e áreas de atuação.
Com isso, as referências contínuas das duas cabeças começaram a jorrar uma sobre a outra: discos, filmes, quadrinhos e livros daquele período acabaram dando uma tônica de ficção científica completamente diferente da viagem interestelar que Guizado havia feito em seu disco anterior, Guizadorbital. Juntos, partiram para um viagem no tempo que lhes valeu uma completa invertida na sonoridade do músico.
Este ainda vinha acompanhado por uma banda magistral: Richard Ribeiro na bateria, Meno Del Picchia no baixo, Allen Alencar em uma guitarra, Regis Damasceno na outra e Zé Ruivo nos teclados talvez seja um dos melhores conjuntos instrumentais de São Paulo, cada um com suas referências e backgrounds que se fundem em uma sonoridade pesada e límpida, livre e pop, agressiva e reluzente. Encontrei com Guizado no início do ano e ele me falou sobre os rumos do novo disco, que vinha com influência de quadrinhos apocalípticos dos anos 80 e deveria se chamar O Multiverso em Colapso. No mesmo encontro, o convidei para tomar conta de uma das temporadas de segunda-feira no Centro da Terra, espaço de resistência cultural escondido no bairro paulistano do Sumaré, em que atuo como curador de música, dando-lhe a oportunidade de concluir o processo que estava realizando no disco antes de sua gravação.
Entre o encontro e a temporada, veio a morte de Miranda, sobre quem havíamos conversado naquele papo no início do ano. Guizado me contou que o produtor gaúcho já andava mal de saúde e só conseguia acompanhar aquela etapa do processo em conversas remotas, mas sua influência paira por todo disco O Multiverso em Colapso, que leva as duas assinaturas na produção e foi gravado em uma das semanas de maio de 2018, no meio do mês em que celebrava o final daquele processo na temporada batizada com o nome do disco.
Nas apresentações de segunda-feira, Guizado recebeu a presença de nomes ilustres da nova música brasileira, como o rapper Edgar, o grupo instrumental Ema Stoned, o guitarrista Kiko Dinucci, o baterista Maurício Takara, o guitarrista Júnior Boca, além de outros que acabaram entrando nas gravações do próprio disco, como Ava Rocha, Sandra Coutinho, Rômulo Froes, Lucas Santanna, Thiago França, Angela Merkel e Negro Léo.
O resultado é um disco noturno e paranoico, pop e frenético – e com muitos vocais. É o disco de Guizado com mais canções tradicionais, incluindo refrões que poderiam estar no rádio. Por todo o percurso, Guizado mostra o rumo com seu trompete como se ele fosse um cursor de um velho computador, abrindo programas e pastas de passados remotos que ainda se mostram atualíssimos. Os timbres das guitarras são prateados ou néon, como o caminho traçado pelo trompete, e brilham num escuro que não para de ferver composto por uma cozinha por vezes fria e robótica, por outra esparsa e vulcânica.
No meio de tudo, o instrumento de Guizado funciona como holofote para sua própria voz (que canta em “Sobre Deuses e Demônios”, “Sonho Delírio”, “Tengo Piel”, “Coração Caverna” e no primeiro singfle, “Modern Fears”) e para as de Negro Léo, Ava Rocha e Sandra Coutinho, bem como para as presenças cortantes dos músicos de sua banda.
O Multiverso em Colapso é um passeio por um futuro que não aconteceu, em que carros voadores e jazz fusion coexistem com corporações sem rosto e vendedores de rua. Resvala pelos futuros tech noir de Blade Runner e cyberpunk de Akira, mas sem perder uma identidade brasileira, urbana e cerebral. Um robô que sonha ser uma pessoa – ou justo o contrário. É nesta zona intermediária que faz seu coração binário pulsar.
Maior satisfação em deixar o grande Guizado tomar conta das terças-feiras de maio, com a temporada O Multiverso em Colapso, feita durante a gravação de seu próximo disco, no Centro da Terra. O disco foi pré-produzido pelo grande Miranda e deverá ser gravado exatamente no meio do mês, quando a banda formada por Guizado (um time de peso que inclui nomes como os guitarristas Regis Damasceno e Allen Alencar, o baixista Meno Del Picchia no baixo, Zé Ruivo nos sintetizadores e Richard Ribeiro na bateria) recebe diferentes convidados para visitar os multiversos abertos pelo trompetista durante estas quatro terças: na primeira, dia 8, ele reúne Maurício Takara, Negro Leo e Kiko Dinucci; para a segunda, dia 15, ele chamou o rapper Edgar, de Guarulhos; na terceira terça é a vez de uma sessão descarrego com Junior Boca e Thiago França; para terminas na última terça do mês com as presenças de Ava Rocha, Sandra Coutinho das Mercenárias e as meninas do Ema Stoned (mais informações aqui). Conversei com o Guizado sobre este novo trabalho, com influência de free jazz, política e histórias em quadrinhos.
O que é o Multiverso em Colapso?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/guizado-multiverso-em-colapso-o-que-e-o-multiverso-em-colapso
Como a temporada se relaciona com o seu próximo disco?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/guizado-multiverso-em-colapso-como-a-temporada-se-relaciona-com-o-seu-proximo-disco
Fale sobre as noites. Como será a primeira terça-feira?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/guizado-multiverso-em-colapso-fale-sobre-as-noites-como-sera-a-primeira-terca-feira
Quem é o convidado da segunda terça?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/guizado-multiverso-em-colapso-quem-e-o-convidado-da-segunda-terca
Quem fará as participações na terceira terça?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/guizado-multiverso-em-colapso-quem-fara-as-participacoes-na-terceira-terca
Quem são as convidadas da última terça?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/guizado-multiverso-em-colapso-quem-sao-as-convidadas-da-ultima-terca
Quem são os músicos que tocarão em todas as apresentações?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/guizado-multiverso-em-colapso-quem-sao-os-musicos-que-tocarao-em-todas-as-apresentacoes
Em todas as noites vocês tocarão o mesmo repertório?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/guizado-multiverso-em-colapso-em-todas-as-noites-voces-tocarao-o-mesmo-repertorio
Fale sobre o papel do Miranda na pré-produção deste disco?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/guizado-multiverso-em-colapso-fale-sobre-o-papel-do-miranda-na-pre-producao-deste-disco
Guizado está prestes a finalizar seu novo álbum e começa a mostrar as novidades a partir desta quinta-feira, às 21h, no Centro Cultural São Paulo, reunindo uma banda de cobras (Regis Damasceno na guitarra, Zé Ruivo nos teclados, Meno Del Picchia no baixo e Richard Ribeiro na bateria), além de contar com a presença ilustre do mago Negro Leo (mais informações aqui). Vamos lá?
É com imensa satisfação que anuncio os donos das temporadas no Centro da Terra neste primeiro semestre de 2018: em março temos a querida Bárbara Eugenia às segundas e o grande MdM Duo dos irmãos Fernando e Mario Cappi, guitarristas do Hurtmold; em abril às segundas temos o sagaz Rico Dalasam e às terças e a forte Luedji Luna; em maio as segundas são do mestre Edgar Scandurra e as terças do voraz Guizado; em junho as segundas são da deusa Cida Moreira e as terças dos ótimos Garotas Suecas e julho tem o sensacional Vitor Araújo nas segundas e o CORTE de Alzira Espindola nas terças. O Pedro Antunes conta mais em seu blog no Estadão.
O trompetista Guilherme Mendonça – que todos conhecem por Guizado – começa mais uma jornada rumo a um novo disco neste domingo, em São Paulo. Depois de pairar sobre o chão com o Voo do Dragão (de 2015) rumo ao espaço sideral em seu Orbital (do ano passado), ele agora conta com a supervisão do produtor Carlos Eduardo Miranda para a produção do novo disco, a primeira vez que Guizado abre mão de produzir seus próprios discos. O show de início desta nova fase acontece neste domingo, dia 5, na Casa do Mancha (mais informações aqui), quando ele mais uma vez divide o palco com o guitarrista Allen Alencar, o tecladista Zé Ruivo ,o baixista Meno Del Pichia e o baterista Richard Ribeiro e descolou cinco pares de ingressos para sortear por aqui. Basta dizer nos comentários deste post que música que ele poderia interpretar ao vivo e porquê. As cinco respostas mais simpáticas ganham os pares de ingressos. Não esqueça de deixar seu email. Ele escreveu para o Trabalho Sujo sobre sua nova fase:
A preocupação com timbres específicos, como os sintetizadores analógicos da década de 70 e 80, baterias eletrônicas clássicas como a 808 e a Linndrum, o uso de processamentos eletrônicos no som do trompete, o cuidado com uma gravação e mixagem especial, que fuja do convencional: tudo isso junto representa parte fundamental de tudo fui descobrindo e se tornando parte de meu estilo de produção musical.
No meu disco O Voo do Dragão, essa preocupação se mantém super presente: timbres especiais, detalhes interessantes na mixagem e tudo mais. No entanto, esse disco marca uma preocupação maior com a composição, harmonias mais complexas, formas musicais mais estruturadas com diferentes partes. Considero esse disco o início de uma evolução do meu lado compositor.
E a partir do segundo semestre do ano de 2016 até agora venho me dedicando ao trabalho de preparar o meu quinto disco, para ser lançado em 2017. E venho sentindo um claro desenvolvimento em minha forma de criar nesse novo trabalho, uma evolução natural de razões multifatoriais no processo de criação.
Em 2007, mais ou menos na época da concepção do Punx, meu primeiro disco, aprendi a usar samplers e sequenciadores no palco tocando junto com a banda, isso me deu inúmeras possibilidades sonoras, possibilitando criar camadas densas de sinths, baterias eletrônicas e diversos sons sampleados. Isso criou nossa identidade de som: massivo e pesado.
Porém para a arte se desenvolver é necessário agir de forma desconstrutiva, para chegar a lugares aonde a mente com sua racionalidade e logica não são capazes de atingir. Esse pensamento esta bem claro no momento de produção atual, estou pensando muito mais como compositor e como integrante de uma banda, usando menos a máquina, trabalhando de forma muito mais humana, resolvendo questões de timbre junto com meus parceiros durante o ensaio, ao invés de chegar com uma série de sons processados e sequenciados em um sequenciador. Com isso as possibilidades de composição se tornaram ilimitadas, pois a máquina por ser máquina dificulta muito a disrupção da criação, a variação humana, a respiração.
É como na mensagem principal do filme Metrópolis de Fritz Lang que diz que a mente – robô – e a ação devem ter como intermediário o coração. Então, dentro dessa forma disruptiva de criar, descriar e recriar estamos juntos encontrando uma forma muito bonita e estimulante de fazer música.