A intensa quarentena da música brasileira em 2020

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O Sesc Pinheiros está começando um projeto chamado Radar Sonoro, que irá registrar a movimentação da música brasileira durante a quarentena de 2020. O projeto trará textos e vídeos que dissecam como anda nossa produção nesta época tão estranha e para inaugurar a série, me chamaram para escrever um panorama de como foram estes primeiros quatro meses de clausura e como artistas de diferentes cidades e gêneros musicais estão conseguindo trabalhar neste período. Escrevi sobre esta intensa quarentena e pincei vinte artistas que lançaram seus trabalhos desde que entramos neste estado de suspensão. Confere lá no site do Sesc. E na sexta, às 11 da manhã, entrevisto o Felipe S., do Mombojó, sobre seu disco Deságua, cujos planos de lançamento tiveram que ser redesenhados por conta da pandemia.

Vida Fodona #649: Arqueologia recente

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Previously, on Trabalho Sujo

PJ Harvey – “Sheela-Na-Gig (Demo)”
Burt Bacharach + Daniel Tashian – “Bells of St. Augustine”
Crime Caqui – “Your Forehead”
Sharon Van Etten + Josh Homme – “(What’s So Funny Bout) Peace, Love and Understanding”
Michael Stipe + Big Red Machine – “No Time For Love Like Now”
Jarv Is – “Save the Whale”
Àiyé – “Pulmão”
Jair Naves – “Irrompe (é quase um milagre que você exista)”
Gang of Four – “Forever Starts Now”
Flaming Lips – “Flowers of Neptune 6”
Tika + Kika + João Leão + Igor Caracas – “Astronauta”
Zé Manoel – “História Antiga”
Cat Power – “Toop Toop (A Tribute to Zdar)”
Mano Mago – “Estrelas Mortas”
Angel Olsen – “New Love Cassette (Mark Ronson Remix)”
Chromeo – “6 Feet Away”
Poolside -“Around The Sun (Body Music Remix)”
Kassin – “Relax (DJ Memê Remix)”
Guilherme Held + Letieres Leite – “Sorongo”
Hatchie + The Pains of Being Pure at Heart – “Sometimes Always”
Elvis Costello – “No Flag”
Bob Mould – “American Crisis”
Black Pantera – “I Can’t Breathe”
Stooges – “T.V. Eye (Radio Edit)”

Guilherme Held convoca Letieres Leite

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O guitarrista Guilherme Held está preparando lentamente seu primeiro disco solo, chamado de Corpo Nós, projeto que vem acalentando há uma década. “O cara que mais me pôs pilha pra gravar esse disco foi o Rômulo Froes, que vem me falando sobre isso há uns dez anos. Quando o chamei para fazer a direção artística do disco, ele topou”, me conta o guitarrista, que está lançando o terceiro single deste seu disco de estreia, “Sorongo”, uma homenagem ao mítico percussionista autor do clássico Krishnanda, que conta com a participação de ninguém menos que o maestro baiano Letieres Leite, que não só fez o arranjo da banda como providenciou metais e percussão para este afrossamba à paulistana, que será lançado nesta sexta-feira nas plataformas digitais e que ele antecipa em primeira mão no Trabalho Sujo, num vídeo dirigido por Luan Cardoso.

“‘Sorongo’ é uma faixa instrumental que veio como um afrossamba e eu já tinha a ideia de fundir isso com elementos de música eletrônica e timbres que remetessem aos anos 80, apesar de ela soar bem setentista, porque eu uso um fuzz na parte do final que sugere aquela onda na psicodelia setentista nigeriana”, ele me explica, antecipando como convidou o maestro baiano para participar da faixa. “O Let é um amigo de longa data, a gente trabalhou pela primeira vez juntos no disco Cavaleiro Selvagem da Mariana Aydar e ficamos amicíssimos, ele é um ídolo e um cara que tenho uma consideração muito grande. E com isso a gente teve a ideia de chamar a Orquestra Rumpilezzinho, que é um projeto que ele tem em Salvador, que reúne jovens carentes com um talento musical inacreditável – as percussões e os metais são deles. A ideia desta fusão de Bahia com São Paulo, trazendo elementos do synthbass do Marcelo Cabral, da linguagem da bateria do Serginho Machado, para entender essa sacada da música africana com elementos de música eletrônica, foi o time perfeito.” A capa do single (abaixo) foi feita por Diego Max.

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“Sorongo” é o terceiro single que o guitarrista já lançou do novo disco, depois de “Pólvora” (que contava com as participações de Tulipa e Gustavo Ruiz) e “Direito Humano” (com Ná Ozzetti e Juliana Perdigão) e as participações em cada single são só uma amostra do time que ele conseguiu reunir um time de artistas, músicos e intérpretes que resumia sua trajetória musical. “Desde o começo, a gente já sabia que era um disco do meu lado compositor mais que guitarrista”, ele continua. “Até porque eu já toquei tanto esse meu lado em tantos discos e shows, que faltava mostrar esse outro lado. Nisso, observando as músicas, percebi que cada música remetia a pessoas que eu já acompanhei, cantores e músicos que fazem parte da minha caminhada. Na empolgação disso tudo, a gente acabou cedendo pra ser um disco de confraternização de meus amigos da música, que tem uma ficha técnica extensa, tem cinco bateristas, cinco baixistas, dezessete cantores…”

Ele começa a enumerar: “Criolo, Maria Gadu, Lanny Gordin, Letieres Leite, Rodrigo Campos, André Lima, Simone Sou, Pedro Fontes, Cuca Ferreira, Daniel Gralha, Thalma de Freitas, Iara Rennó, Douglas Antunes, Thomas Harres, Tulipa Ruiz, Juçara Marçal, Rubel, Curumin, Mariana Aydar, Ná Ozzetti, Péricles Cavalcanti, Fernando Catatau, Ròmulo Froes, Felipe Catto, Juliana Perdigão, Beto Bruno, Marcelo Mitsu, Kika, Thiago França, Sérgio Machado, Décio 7, Felipe Roseno, Dustan Gallas, Fabio Sá, Bruno Buarque, Marcelo Cabral, Rômulo Nardes, Maurício Badé… Até eu canto!”, ri, falando sobre a faixa de abertura do disco.

O processo de produção foi um mergulho naquilo que Rômulo chamou de “o baú do Gui Held”, uma pasta no computador do guitarrista em que ele ia gravando várias ideias musicais. “São inúmeras músicas, completas, incompletas, fatias e pedaços de músicas, só harmonias, riffs, cacos sortidos, que a gente pra juntava um caco de um ano com um caco de outro. Somando tudo devem dar uns três mil arquivos de uns dez, doze anos que venho juntando, sempre guardando daquele jeito que músico compõe e guarda. A gente fez uma peneira, chegamos em 75 músicas, depois em 35 e fechamos em 17”, fechando o disco que é produzido pelo próprio guitarrista, que está começando a mexer com isso.

“É o primeiro disco que eu produzo e foi quase um ano de agendas”, ele explica. “Apesar de não ser um disco tão guitarrístico, ele tem um polimento e cuidado com timbres e escolhas de caminhos de linguagem a partir dos equipamentos que tenho, pedais antigos, guitarras de décadas e estilos diferentes, microfones… Ele tem todo um cuidado estético”.

Marcelo Cabral: Influxo Cabralha

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Quando Marcelo Cabral avisou que estava voltando da Alemanha para passar um tempo de volta no Brasil, cogitamos rapidammente uma temporada ao redor do universo musical do baixista e de sua recente experiência artística na Alemanha. Próximo à cena de improviso livre de Berlim, Cabral foi descobrindo um método de criação artística que permite fluir por outras linguagens, incluindo literatura, teatro e spoken word e entender como isso influencia diretamente o resultado musical. E assim ele pensou em Influxo Cabralha, uma reunião de amigos e magos da música instrumental que atravessa quatro segundas-feiras de abril no Centro da Terra. Na primeira, dia 8, ele toca ao lado de Mauricio Takara, Thomas Rohrer e Mariá Portugal. No dia 15 ele chama Guilherme Held, Thiago França, Juliana Perdigão e Angélica Freitas. Dia 22 é dia de Kiko Dinucci, Rodrigo Brandão e Juçara Marçal. E a temporada termina no dia 29, com as participações de Thomas Harres, Bella, Patrícia Bergantin, Maria Beraldo e Ná Ozzetti (mais informações aqui). Bati um papo com o Cabral sobre esta safra de shows e a influência de sua estada na Alemanha neste novo projeto.

Sambas do Absurdo e Nabase de graça no CCSP

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Mais uma atração do Bicho de Quatro Cabeças de graça nesta quinta-feira, no CCSP. De um lado, Juçara Marçal, do Metá Metá, chama seus Sambas do Absurdo, projeto ao lado de Rodrigo Campos e Gui Amabis; do outro, Décio 7, do Bixiga 70, estreia o projeto Nabase, montado ao lado dos guitarristas Guilherme Held e Pipo Pegoraro, do baixista Fábio Sá, do percussionista Rômulo Nardes e dos diretores de clima Gustavo Lagarto e Junior Zorato. O show começa às 21h e há mais informações sobre o evento aqui.

Tudo Tanto #30: Lanny Total

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Outra coluna da Caros Amigos atualizada por aqui – esta da edição do mês de março, sobre o incrível show em homenagem ao mestre Lanny Gordin. Abaixo, os vídeos que fiz desse show:

Reverência ao mágico
Guilherme Held, Tulipa e Gustavo Ruiz reúnem ícones do pop brasileiro para saudar a importância do guitarrista Lanny Gordin

O que une “Chocolate” de Tim Maia a “Kabaluerê” de Antônio Carlos e Jocafi? Os discos Expresso 2222 de Gilberto Gil e o primeiro disco de Jards Macalé? “Atrás do Trio Elétrico” e “Não Identificado”? Além de ícones da música brasileira, todos eles contaram com o toque elétrico de um dos grandes instrumentistas brasileiros, o guitarrista Lanny Gordin. Comumente referido como “o Jimi Hendrix da Tropicália”, Lanny, felizmente, é muito mais do que isso. Mas, infelizmente, como a maioria dos músicos no Brasil, não tem o reconhecimento público de sua importância, o que inevitavelmente se traduz em condições financeiras. E a aposentadoria do músico – quando ela acontece – quase sempre é precária, devido a inúmeros percalços da prática que não se enquadram exatamente nas leis trabalhistas. Se o artista já anda na corda bamba entre o prazer e a remuneração, a arte e o comércio, o músico é quem mais sofre nesta dicotomia, quase sempre a linha de frente desta batalha.

Lanny não é reconhecido como compositor, mas por sua personalidade musical. O timbre elétrico rasgado até poderia ser característico dos grandes guitarristas de sua geração, mas Lanny o temperava com música brasileira, música erudita, free jazz e músicas do leste europeu, o que torna o título que o compara ao grande guitarrista da história do rock limitado. Enquanto Hendrix buscava as profundezas do blues de forma vertiginosa, Lanny ampliava o horizonte de sua paleta, mais próximo de um guitarrista de jazz do que de rock. Mais do que o timbre gritado ou os voos audazes que o músico fazia pelas cordas de seu instrumento, era o fraseado pontual, solos transformados em melodias (e vice-versa), riffs que praticamente abriam um diálogo com o resto da canção. Era uma voz presente que, uma vez percebida, torna-se uma das assinaturas musicais mais importantes daquele período, entre os anos 60 e 70, da música brasileira.

Um de seus discípulos, o guitarrista Guilherme Held, resolveu mexer-se para consertar esta falha da história. Em vez de esperar o reconhecimento póstumo que é caracteristicamente reservado a grandes artistas que morrem no ostracismo, o jovem músico começou a pensar numa homenagem em vida ao músico com quem morou junto em dois endereços diferentes – na Vila Mariana e em Perdizes -, além de ter tido uma banda com o mestre, no início do século.

A homenagem contou com a adesão imediata de outro discípulo ferrenho, o também guitarrista Gustavo Ruiz, irmão da cantora Tulipa Ruiz, e responsável pela presença do próprio Lanny no disco mais recente da irmã, Dancê, de 2015, produzido por Gustavo. É de Lanny o solo de “Expirou”, registro mais recente do guitarrista até agora, que está impossibilitado de tocar devido a problemas de saúde. Gustavo chamou a irmã de bate-pronto e em menos de um mês, os três levantaram o show Lanny Total, a homenagem hiperbólica que o músico merecia.

A vida de Lanny Total começou em um show na antiga choperia do Sesc Pompeia – que agora chama-se de Comedoria – que aconteceu em duas noites. Só a banda base já era de arregalar os olhos: Guilherme e Gustavo cada um com uma guitarra, Fábio Sá no baixo, Sérgio Machado na guitarra, Pepe Cisneros nos teclados, José Aurélio (que foi da banda de Lanny e Held, Projeto Alfa, no início da década passada) e Maurício Badé na percussão, além dos metais que incluíam Thiago França (sax alto e barítono), Amilcar Rodrigues (trompete e flugel), Filipe Nader (sax alto e barítono) e Allan Abbadia (trombone). Além destes subiram no palco Chico César, Mariana Aydar, Negro Leo, Péricles Cavalcanti, Rômulo Fróes, o irmão de Lanny Tony Gordin e Tulipa Ruiz, acompanhados também por Arnaldo Antunes, o hermano Rodrigo Amarante e Edgard Scandurra no primeiro show – o que assisti – e Heraldo do Monte, Juçara Marçal e Kiko Dinucci, no segundo. A discotecagem de abertura ficou por conta do DJ Nuts, um dos maiores especialistas em música brasileira do país, e a apresentação da banda a cargo do apresentador Luiz Thunderbird, além de uma performance do artista Aguillar.

No repertório, uma aula de psicodelia brasileira: “Back in Bahia” de Gilberto Gil, “Eu Vou Me Salvar” de Rita Lee, a versão que Caetano fez de “Eu Quero Essa Mulher Assim Mesmo” de Monsueto em seu Araçá Azul e várias de Gal Costa, de quem Lanny era uma espécie de arma secreta durante sua fase de ouro – “Hotel das Estrelas”, “Não Identificado” e “Love ,Try and Die”, além de composições de Lanny com os novos músicos, como “O Peixinho Triste” com Rômulo Fróes, “Evaporar” com Rodrigo Amarante e a já citada “Expirou” de Tulipa Ruiz.

Mas a descrição do espetáculo não chega próximo da intensidade do sentimento. Mais do que celebrar a personalidade de um músico ímpar, o que acontecia naquele palco era uma conexão intensa com a música em si. Todos os envolvidos canalizados e conectados tanto com a musa – entidade maior que parece magnetizar músicos e espectadores – como entre si. A catarse mútua do rompante dionísico da canção de Monsueto transformava Scandurra, Arnaldo, Rômulo, Péricles e Amarante numa mesma voz. Tulipa e Mariana Aydar canalizavam a energia mais roqueira de Rita Lee e a mesma Tulipa hipnotizava o público num dueto jazzy com Negro Leo. O público se esbaldava extasiado com aquele delírio coletivo. A impressão que dava era que todo mundo ia sair se abraçando.

A última música – “Chocolate”, de Tim Maia – foi cantada por todos os convidados inclusive por um Criolo penetra, que não havia sido escalado oficialmente mas deixou-se levar pela força da música. Todos com seus maiores sorrisos, surfando na onda boa que o mestre guitarrista provocou há décadas. E agora o show pode ir para outros palcos e outras praças, tornando mais gente consciente da importância deste músico mágico.

Guitar hero tropical

Lanny, na boate Stardust, tocando com Hermeto Pascoal (de costas) (Divulgação)

Lanny, na boate Stardust, tocando com Hermeto Pascoal (de costas) (Divulgação)

Conversei com o Guilherme Held sobre o show tributo que ele está organizando para celebrar a importância de Lanny Gordin, o mago guitarrista do tropicalismo. O show deve dar início às comemorações do centenário de sua carreira, que está completando cinquenta anos e ainda terá dois filmes sobre sua importância – falei sobre tudo isso no meu blog no UOL.

Por mais que Lanny Gordin seja festejado como um dos grandes músicos brasileiros e um dos principais personagens da psicodelia brasileira, tal reconhecimento não está à altura de sua importância. Guitarrista de timbre e frases ímpares, Lanny não só é um dos principais temperos do tropicalismo como esteve envolvido com artistas, discos e canções que estão na fundação da música brasileira da segunda metade do século passado. Esteve presente em discos como Expresso 2222 de Gilberto Gil, Carlos, Erasmo de Erasmmo Carlos, Araçá Azul de Caetano Veloso, Fa-tal de Gal Costa, além de ter tocado com Rita Lee, Elis Regina, Jair Rodrigues, Antonio Carlos e Jocafi (é sua a guitarra de “Kabaluerê”) e Itamar Assumpção, entre outros.

Mas um fiel escudeiro do guitarrista quer resolver essa pendência com o mestre e reuniu-se com outros dois discípulos. “Acredito que o merecido reconhecimento, à altura da genialidade do Lanny, ainda não aconteceu”, explica o guitarrista Guilherme Held, que gravou dois discos ao lado de Lanny numa banda chamada Projeto Alfa, no início do século. “Porém ele influencia diversas gerações da música brasileira deixando uma discografia respeitada no mundo todo”, continua o músico, que se reuniu aos irmãos Tulipa e Gustavo Ruiz para agendar um show que celebra a importância do guitarrista.

O espetáculo deve acontecer no próximo mês e reunirá grandes nomes da música brasileira para cantar sua obra em dois shows, nos dias 2 e 3 de fevereiro, na Comedoria do Sesc Pompeia, em São Paulo. “Vamos formar uma banda com direção musical minha e do Gustavo Ruiz para acompanhar artistas que tiveram ligação ou tem afinidade com o mestre. A banda será formada por mim e Gustavo tocando guitarra, Sérgio Machado na bateria), Fábio Sá no baixo, Pepe Cisneros no teclado, Mauricio Badé e José Aurélio na percussão e o DJ Nuts”, conta o guitarrista, em primeira mão. Fábio e José Aurélio também integraram o Projeto Alfa ao lado de Held. O show ainda deve contar com participações especiais de nomes como Jards Macalé, Tulipa Ruiz, Chico César, Rodrigo Amarante e o grupo Metá Metá.

Lanny Gordin e Gui Held

Lanny Gordin e Gui Held

Lanny – Alexandre é seu nome de batismo – começou sua carreira tocando na casa noturna Stardust, que era de seu pai, em São Paulo, e com isso pode tocar, ainda adolescente, ao lado de feras como Hermeto Pascoal e Heraldo do Monte, com quem gravou o mítico disco instrumental Brazilian Octopus. Ele é sempre referido como “o Jimi Hendrix brasileiro”, um título injusto por limitar suas influências musicais ao rock e ao rhythm’n’blues norte-americano. Diferente de Hendrix, Lanny bebia tanto no jazz mais experimental quanto na música erudita e entre seus guitarristas favoritos estão nomes como Jeff Beck, Syd Barrett e Jimmy Page. A cancha de músico de noite elevou sua musicalidade a um patamar que ia muito além da melodia e da canção.

“Lanny é um músico com muita personalidade artística e muito desprendimento de regras” coninua Held, “esta busca dele pelo transe musical influencia quando você o ouve tocar e isto com certeza faz parte da minha busca também”. Os dois músicos compartilham a mesma data de aniversário (28 de novembro) e moraram juntos por quatro anos, primeiro em um apartamento na Vila Mariana e depois numa casa em Perdizes, em São Paulo. Entre os discípulos diretos e indiretos do guitarrista, Held cita nomes como Sergio Serra, Toninho Horta, Luiz Chagas, Fábio Sameshima, Kassin, Pedro Sá, além do próprio Gustavo. Irmão e produtor dos discos de Tulipa, Gustavo pode trazer Lanny para o estúdio, quando o guitarrista participou da música “Expirou”, do disco Dancê, de 2015.

Lanny Gordin

Lanny Gordin

Além dos shows, ainda há dois documentários que falam da importância do guitarrista nascido em Xangai, na China. “São dois projetos diferentes”, continua Held. “Participei do longa Herois da Guitarra, no qual me encontro com o Lanny em uma cena, foi muito especial. Foi um dos dias mais marcante e especiais da minha vida. Já o filme Inaudito: Com/Por Lanny Gordin, de Gregorio Gananian, é um filme/ensaio com Lanny que estimula o lado criativo dele hoje. Metade do filme foi rodado em Xangai e metade em Sao Paulo. Fui consultor no Inaudito, o que deu origem a uma amizade com Greg, que inclusive será responsável pelo kinografia – o projeto de projeção e luz – do show comemorativo.”