Gil de novo em São Paulo

Sim, teremos mais um show para nos despedir de Gilberto Gil em grande escala em São Paulo, quando ele anuncia mais uma apresentação de sua última turnê Tempo Rei para o dia 18 de outubro, novamente no Allianz Parque. Os ingressos começam a ser vendidos na semana que vem neste link. Mas lembre-se que essa mesma excursão ainda vai passar por várias cidades do Brasil: Rio de Janeiro (também pela segunda vez, 31 de maio e 1º de junho), Brasília (7 de junho), Belo Horizonte (14 de junho), Curitiba (5 de julho), Belém (9 de agosto), Porto Alegre (6 de setembro), Fortaleza (15 de novembro) e Recife (22 de novembro). E se você não foi, dá um jeito de ir porque é um deleite: uma catarse de pura emoção, uma celebração à altura da importância de Gil, um espetáculo de entretenimento com tudo funcionando como tem que ser e um dos melhores shows que eu já vi na vida. Sério mesmo.

O último show de Gilberto Gil em São Paulo foi o mais emocionante

Ainda impactado pela maravilha que foi o segundo show da turnê Tempo Rei que Gilberto Gil faz para despedir-se dos palcos. Ciente do assombro inicial que tive no primeiro show que vi, o primeiro dessa excursão que fez em São Paulo, pude assistir À passagem da tour pela cidade em sua última vinda com um olho mais clínico, uma vez que não havia mais a surpresa. Mal sabia que seria a noite se tornaria a mais emocionante da turnê quando Gil trouxe, depois de chamar Nando Reis para o palco como primeiro convidado da noite (com o qual dividiu “A Gente Precisa Ver o Luar”), mais uma filha para o palco – e ninguém menos que Preta Gil. A aparição improvável da filha mais conhecida do clã tinha essa característica pois ela atravessa a fase mais grave do câncer que descobriu há dois anos e esteve hospitalizada há pouquíssimo tempo. E embora tenha chegado amparada pela irmã Nara Gil e pela cunhada Mariá Pinkusfeld (“a Nara e a nora”, como brincou depois o próprio Gil mais tarde), ela perdeu a aparente fragilidade ao sentar-se ao lado do pai e cantar uma versão emocionante para “Drão”, música que seu pai compôs ao separar-se de sua mãe, Sandra Gadelha, a quem preta dedicou a canção. Um momento único, central, que conseguiu arrebatar ainda mais a emoção da noite, igualmente intensa à outra que assisti. Como no primeiro show, Gil também atravessou duas horas e meia sem parar no palco, desfilando a mesma sequência de hits com a mesma precisão (e mesmíssimo roteiro) e disposição que nos shows anteriores. E é tão bom vê-lo fazendo isso sem apelar para o peso da idade ou gabar-se da sabedoria e da experiência – Gil prefere fazer do que falar (embora adore falar). Entendo a decisão do mestre de despedir-se dos palcos nessa escala, de shows contínuos apresentados em estádios, ainda mais com a idade passando dos 80, mas duvido muito que ele aposente-se dos palcos definitivamente. É uma desconfiança que parte de sua destreza e familiaridade com o palco e, claro, uma torcida, para que possamos nos reencontrar com Gil muitas outras vezes..

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Um milagre chamado Gilberto Gil

Permita-me o clichê: é muito bom viver na mesma época em que Gilberto Gil. O baiano não apenas construiu-se como um monumento humano à brasilidade, triangulando forrós, rocks, sambas, reggaes e afoxés para descrever sua leitura de Brasil, misturando inúmeros sentimentos relacionados a quem vive aqui. Vê-lo por duas horas e meia do alto de seus 82 anos reger uma multidão de súditos com um rosário formado por dezenas de sucessos que poucos nomes na história da música pop conseguem dispor, tocando violão e guitarra como poucos ao mesmo tempo em que cantava como na flor da idade é presenciar um milagre. O primeiro show de sua turnê Tempo Rei em São Paulo foi um acontecimento mágico em que ele colocou no bolso as recentes turnês gigantescas de seus contemporâneos, Milton Nascimento e a dupla de irmãos Caetano e Bethânia. Diferente do primeiro, trouxe uma banda novíssima e completamente devota de sua obra, composta em boa parte por seus filhos e netos. Diferente dos dois últimos, jogo para a galera e trouxe uma seleção de sucessos invejável, cantada por todos a plenos pulmões. Temperando as músicas com vinhetas de outras que não entraram na íntegra, atravessou todas as fases de sua carreira em ordem relativamente cronológica, tocadas com arranjos dinâmicos e próximos dos originais numa banda que tinha naipe de metais, time de percussão, quarteto de cordas, vocais de apoio, sanfona, guitarra, baixo, teclado e bateria (cada um deles apresentado espertamente em músicas diferentes). Os telões (incluindo uma tela em espiral hansdonneriana) conversavam bem com todas as músicas e a iluminação deixava sempre Gil no centro, à luz branca, enquanto a banda era iluminada com outras cores. Difícil escolher o melhor momento porque o show foi quase todo foda (as participações desta primeira noite, o funkeiro MC Hariel e a neta Flor Gil, de 16 anos, foram as mais fracas de toda a turnê até aqui), mas a transição entre “Cálice” (com participação em vídeo de Chico Buarque e coro improvisado do público clamando “sem anistia!”) e “Back in Bahia” foi daqueles instantes pra carregar no peito peloresto da vida. Obrigado por existir, mestre!

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Vida Fodona #828: Antonio Cicero (1945-2024)

Tolice é viver a vida assim, sem aventura.

Ouça abaixo:  

Vida Fodona #826: Todo ano é assim

Aquela boa véspera de viagem.

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Vida Fodona #820: Agosto intenso

E não dá pra ficar parado.

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Vida Fodona #805: Pegando fogo

Vambora que o ano já começou quente!

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Vida Fodona #803: Um outro gênero

Há um estilo brasileiro musical que às vezes parece MPB, outras parece brega, outras parece rock dos anos 80, outras parece new wave, mas não é nada disso…

Ouça aqui:  

Vida Fodona #801: Lanny Gordin (1951-2023)

Minha homenagem a esse deus de seu instrumento. Viva Lanny!

Ouça abaixo:  

80 anos e dando tudo!

O anúncio da “última canção dos Beatles”, que será lançada na semana que vem com as duas coletâneas clássicas do grupo (a vermelha e a azul) em versões expandidas, é mais um exemplo que a geração baby boom, nascida durante a Segunda Guerra Mundial e responsável por mexer na história da cultura e do comportamento nos anos 60, segue à toda e sem dar sinal de aposentadoria à vista. Nomes como Rolling Stones, Pink Floyd, Roger Waters e os brasileiros Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ney Matogrosso e Paulinho da Viola endossam sua vida criativa mesmo entrando na oitava década de vida. Foi sobre isso que escrevi na matéria que fiz nesta quinta-feira para o site da CNN Brasil.

Leia abaixo: