Serial: um podcast fenômeno em 2014

Você já deve ter ouvido falar nesse podcast sensação chamado Serial, né? A Gi Ruaro tá tão viciada no programa que pediu pra escrever sobre ele pra cá – afinal, faltam apenas dois episódios pro fim da primeira temporada. Fala Gi:

serial

“Support for Serial comes from Mailchimp. Mailchimp. Mail-kimp?” Todas as quintas-feiras mais de um milhão e meio de pessoas ao redor do mundo esperam  ansiosamente o iTunes atualizar e ouvir a frase acima. É o começo do podcast-fenômeno Serial, que em dois episódios chegará ao final da primeira temporada. O equivalente ao “Previously, on Lost” de 2014.

Dos mesmo produtores de This American Life, Serial é um podcast sobre um crime que aconteceu em 1999. Hae Min Lee, estudante na cidade de Baltimore, Estados Unidos, foi encontrada morta e seu ex-namorado, Adnan Syed, foi considerado culpado e condenado a prisão perpétua. A jornalista americana Sarah Koenig investiga o que aconteceu no dia da morte de Hae e como que Adnan foi sentenciado.

A construção da narrativa, sem utilizar imagens, apenas vozes, entrevistas e storytelling no seu momento mais cru, é hipnotizante. Como se fosse uma amiga te contando uma história, Sarah compartilha sua investigação, conclusões e dúvidas em tempo real.

Em uma internet que está migrando para o vídeo, o podcast Serial faz parte de um novo movimento de storytelling. Alguns chamam de a Renascença do Podcast. Não importa o meio, o que nos fascina mesmo são as histórias de gente como a gente. E nenhuma história é mais fascinante do que a de um rapaz, preso em prisão perpétua, que jura que não cometeu o crime. Que tinha 17 anos. Que era que nem eu e você: estudava, tinha namorada, bebia de vez em quando, fumava de vez em quando, aprontava, mas era uma pessoa boa, tinha família e amigos que o amavam. Que não tinha motivo para matar a ex. Que jura que não a matou. E mesmo assim, acabou na prisão. Como?

São várias os envolvidos em Serial. São várias as versões do dia em que Hae Lee morreu. Temos Adnan, Jay, Asia, Jenn… Mas depois de 15 anos, é difícil lembrar o que aconteceu em uma época em que não existia mídias sociais, celulares eram raros, pagers eram o meio de comunicação mais popular. Quando Adnan foi preso, seis semanas tinham se passado desde o crime. Você lembra o que fez seis semanas atrás? Com quem falou no telefone? Qual caminho fez ao trabalho? Com quem falou no caminho do trabalho? Sobre o que falou? Mas lembra mesmo? Tem certeza? Poderia contar o seu dia em detalhes na frente de um júri? Difícil.

Outro motivo que ajudou Serial e virar fenômeno foi o reddit. Envolvido em outros casos controversos de detetivão da internet, o subreddit /r/serialpodcast se tornou o ponto de encontro dos fãs Serial e também o local ideal para postar e discutir as mais variadas teorias sobre o caso. A maior parte das discussões são sobre Adnan ser culpado ou inocente. Tem usuário ali que está achando pêlo em tartaruga, mas a popularidade do reddit chegou até a família de Hae e de amigos de Adnan. Todos querem dar seu pitaco e contar a sua versão dos fatos.

O podcast não é mais de SK (como reddit chama Sara Koenig), mas de todos. A história já era pública, os detalhes não são de posse somente dos produtores, a internet virou o grande e incontrolável fórum de debate. Somos todos SK, todos queremos saber o final, todos queremos saber se Adnan é culpado ou inocente. No episódio nove e dez de Serial, SK fala que com ajuda de e-mails e novas informações, ela pôde tirar dúvidas da narrativa. Serial precisa dos detetives reddit tanto quanto a recíproca.

Outro motivo da popularidade de Serial é a conexão que podemos fazer com outros fenômenos da cultura pop. Você sabia que os detetives que investigaram o crime também trabalharam como consultores da série The Wire? E a cena em que Bunk e Lester procuram por corpos no meio da mata foi filmada no mesmo local em que o corpo de Hae Lee foi encontrado. Outra coincidência é que o filme Blair Witch Project foi filmado no mesmo parque. Coincidência? Para alguns redditors, é motivo para mais uma teoria de conspiração.

Há vários artigos contra Serial, contra os artigos contra Serial, mas a maior verdade que podemos tirar desta história é: a vida não é, nem nunca será preto no branco. Acho difícil que SK chegue a uma conclusão satisfatória no último episódio, que saberemos finalmente se Adnan é inocente ou não. E teremos que viver com isso, para sempre. Que nem o final de Lost.

(Mas graças ao Mailchimp e uma vaquinha online, teremos uma segunda temporada. Novo caso, novos personagens. Eu estou mais empolgada com a segunda temporada de Serial do que True Detective!)

Alan Turing e a imitação da vida

the-imitation-game

Além do filme novo do Jason Reitman, a Gi Ruaro também viu outro filme promissor no London Film Festival, The Imitation Game, em que o nosso querido Benedict “Sherlock” Cumberbatch vive o maior nome inglês da história da computação (desculpa, Tim Berners-Lee) – Alan Turing. Eis o trailer e, a seguir, o comentário da Gi sobre o filme:

Sabe o Turing? Morreu. Faz tempo, mas o mundo está redescobrindo o matemático e herói da Segunda Guerra no novo filme The Imitation Game. Benedict Cumberbatch é o jovem Alan Turing, contratado em 1939 para quebrar o código Enigma e salvar a humanidade. Parece coisa de filme de Hollywood.

Colocando em miúdos: os nazistas usavam a máquina Enigma para codificar todas as mensagens na Segunda Guerra. Era até então a máquina perfeita, capaz de encriptar comunicação e modificar o segredo a cada 24 horas com 150 trilhões de regulagens. Os ingleses conseguiam ver as mensagens, sem entender o sentido.

Turing, fã de palavras-cruzadas e desafios lógicos em geral, acreditava que para possamos entender uma máquina temos que criar uma outra máquina. Elas conversam melhor entre si do que conosco.

Depois de três anos construindo uma máquina automática, apelidada no filme carinhosamente de Christopher, Turing conseguiu desvendar o segredo em 1943. Mas, ainda em meio a guerra, este virou o maior segredo. Afinal, se os nazistas soubessem que os Aliados tinham a solução do Enigma, inventariam uma nova versão.

Ou seja, todos os movimentos de Hitler entre 1943 e 1945 estavam sendo interceptados pelos aliados e monitorados. Havia também um grande cuidado de inteligência para justificar ações que vinham das mensagens do Enigma. O Dia D não teria sido possível sem Turing. A Guerra teria se arrastado por mais alguns anos. A blitz poderia ter acabado com Londres. Hitler poderia ter vencido. 150 trilhões de possibilidades de um futuro bem diferente.

A Segunda Guerra acabou em 1945, então era hora de contar pro mundo como Turing salvou a pátria. Mas o medo de uma nova guerra mundial fez os ingleses destruírem todos os registros de guerra de Turing, para que os nazistas não soubessem que Enigma era kaput.

De maneira simplista como o meu texto, é essa a história que The Imitation Game quer contar. E conta de maneira bem Escola Weinstein de Oscar Garantido, tipo O Discurso do Rei. Ruim, não é. É breguinha. Fofinho. Bonitinho.

Mas vamos falar do que o filme quase não fala. Além de quebrar o Enigma, Turing era gay. Christopher era o nome do seu amor de adolescência e o apelido da máquina (será isso real ou invenção do filme?). Turing se encontrava com garotos de programa em Londres e em 1952, foi condenado a dois anos de prisão por sair com um garoto. A alternativa ao tempo em prisão era tratamento hormonal – ou castração química. Turing optou pela castração porque na prisão ele não poderia continuar seu trabalho, e depois de um ano de tratamento, os efeitos colaterais ficaram cada vez mais difíceis de aceitar. Tremores, dificuldade de concentração ou de raciocínio. Turing não aguentou e em 1954, se suicidou.

Nesta época, 49 MIL gays foram condenados a prisão ou castração química por serem homossexuais. Em 2013, a rainha finalmente o perdoou pelo seu crime. Em 2013, ano passado. Ser homossexual era ilegal na Inglaterra até 1967, na Escócia até 1980 e Irlanda do Norte, 1982.

É claro que os direitos LGBT evoluíram muito na última década, mas há ainda 76 países onde ser gay é ilegal. A Europa é o único continente em que nenhum país tem leis contra homossexualidade. O fato de ser ilegal ser gay destruiu a carreira de um dos grandes heróis ingleses e no fim acabou matando-o. Turing tinha 41 anos e muitos anos de estudos pela frente – num mundo que parece tão distante, mas na verdade está tão perto. Nossos pais cresceram neste mundo.

Uma máquina entende outra máquina e apenas uma pessoa pode entender outra pessoa (filosoficamente falando, tipo Samantha em Her). O grande jogo da imitação foi de Alan Turing, que usou seu autismo para criar uma nova maneira de entender o mundo. Imitando colegas, amigos e familiares, conseguiu se ver normal numa sociedade em que não era.

A máquina automática de Turing evoluiu e agora você está lendo este texto dentro dela. Com inúmeros uns e zeros, Turing criou o primeiro computador.

The Imitation Game é um filme mais baunilha pra agradar uma audiência maior e este é o primeiro passo: conhecer Turing e reconhecer seu trabalho.

O novo filme de Jason Reitman

men-women-and-children

Filho de Ivan Reitman (diretor de sessões da tarde clássicas como Caça-Fantasmas 1 e 2, Dave – Presidente por um Dia, Irmãos Gêmeos, Um Tira no Jardim de Infância e Space Jam), Jason Reitman aos poucos vem se firmando como um dos diretores-cronistas desse início de século, pai de alguns filmes que cutucam veias específicas de nossos dias, como Juno, Obrigado por Fumar, Amor Sem Escalas e Jovens Adultos. Seu novo filme, Homens, Mulheres e Crianças, parece vir como um bom comentário sobre nossos dias digitais, veja:

Mas a Gi Ruaro assistiu ao filme no London Film Festival que está rolando essa semana, não gostou e, desapontada, pediu para escrever um texto sobre o filme pra cá. É a velha história: a internet sendo tratada como um universo à parte, não como parte de nós. Fala Gi:

Voyager. Em 1977, NASA enviou uma sonda para o além-sistema-solar. Dentro desta sonda, Carl Sagan fez a curadoria da cultura de nosso planeta azul para o infinito e além. O material é feito para durar bilhões de anos e para que um dia seja encontrado por alguém ou algo ou sei lá. Quem sabe? Estamos lidando com uma escala de tempo e distância que não podemos imaginar. Músicas, ‘olá’ em 59 línguas diferentes, o som das ondas na praia e do vento nas árvores. O som de um beijo. Uma foto da Terra como um pontinho azul. Nossa existência.

Assim começa Men, Women & Children, o novo filme de Jason Reitman. Mas o filme não é sobre Sagan, Voyager ou o universo, é sobre o nosso mundo conectado e as consequências em nossos relacionamentos. Realmente estamos vivendo uma revolução tecnológica e Hollywood ainda não conseguiu capturar em filme como usamos mídias sociais no cotidiano. Então que maneira melhor de demonstrar isso do que reduzir o zeitgeist a uma série de histórias sobre a classe média americana, com educação superior, branca, hétero e egoísta?

O filme tem seus méritos. Talvez seja a primeira vez que vemos World of Warcraft retratado como uma mídia social, que falam sobre as consequências de thinspo na autoestima de meninas, que casais são mostrados jogando Words With Friends na cama, trolling, sexting, cultura de celebridades, paranoia dos pais preocupados com segurança online, pornografia, “let’s occupy Facebook with art”, e “rape culture” – tudo em um só filme. Só faltou #gamergate. Mas ao tentar abordar tanta informação, o filme virou isso mesmo: um monte de referencias perdidas num emaranhado de clichês americanos.

Talvez seja esse o verdadeiro zeitgeist: Hollywood, Jason Reitman e o personagem da mãe preocupada (Jennifer Gardner, mais insípida que nunca) realmente não conseguem acompanhar as importantes mudanças que comunicação online traz a nossa cultura e vida social. Ou ainda, o processo de filmar é longo demais para sobreviver um mundo sempre a busca do Ello perdido.

Dá pra perdoar alguns detalhes, mas nossos avós já estão no Facebook e e vamos continuar fingindo que “os jovens estão fora de controle”? Que videogames são do mal? Que tumblr é só uma plataforma para selfies? Que a grande experiência de viver está offline? Sério mesmo? Sérião, Jason?

O filme é tão desconectado da nossa conectividade (perdão pela pieguice) que é difícil analisar a atuação de Adam Sandler, ou a narração de Emma Thompson falando “titty fuck cum queen” com sotaque britânico, ou Hank de Breaking Bad perdidão.

E que o Carl Sagan tem a ver com tudo isso? Sei lá. Ele não gostou da adaptação de Contatos com Jodie Foster, questionando a ressonância emocional e veracidade do roteiro. Mas esse, esse é o filme que Carl estava esperando. Hashtag só que não.

Go Home Productions: “Imagine the Band”

this-is-not-here

Mark Vidler, um dos ases da cena mashup, acelera um tico “Imagine” do John e diminui um pouco a velocidade da versão a capella de “Band on the Run” dos Wings do Paul e mistura numa só faixa…

Dica da Gi, sempre precisa.

Hitler “Gangnam Style”

Tem horas que a internet me deixa de queixo caído…

Dica da Gi, tão passada quanto eu.

Um aperitivo do Amazing Spiderman

E por falar na Gi, ela viu algumas cenas do novo filme do Homem-Aranha lá em Londres e avisou pra gente ficar tranquilo que o filme tá ficando foda. Abaixo, o relato que ela mandou com exclusividade pra cá. Valeu, Gi!

Ufa – The Amazing Spider-Man tá ficando… Incrível
Por Giovana Ruaro

The Amazing Spider-Man chega aos cinemas apenas seis anos depois do último filme da trilogia de Sam Mendes Raimi. Seria mesmo necessário um reboot da franchise que fez US$ 2,5 bilhões nos cinemas? Os dois primeiros filmes eram realmente muito bons e o terceiro – aquele do Homem-Aranha emo que dançava, eca – foi uma decepção. Mas mesmo assim: por que queremos um novo filme sobre Peter Parker em um ano que teremos The Avengers, Dark Knight Rises, The Hobbit e Prometheus nos cinemas?

O primeiro trailer era promissor, mas não mostrava muito. O hype ao redor do Homem-Aranha não era dos melhores, então a Sony resolveu contra-atacar e chamou alguns jornalistas e vários fãs do herói para uma espiada no novo filme no mesmo dia que o segundo trailer era lançado.

Chegando ao cinema, a estrutura era grande: várias câmeras filmando tudo, fotógrafos e um clima de segredo. Logo via-se que não era apenas uma preview comum – e não foi mesmo. O evento estava sendo transmitido ao vivo para 20 cidades, e em quatro delas tinham apresentadores: Londres, Los Angeles, Rio de Janeiro e, claro, a cidade onde o filme se passa, Nova York. Em Los Angeles estava o diretor Marc Webb, no Rio a gatinha da Emma Stone desfilava um visual super acabei-de-sair-da-praia e estava acompanhada dos produtores, em Londres tínhamos a prata da casa Rhys Ifans e em NY podíamos ver a estrela da noite – Andrew Garfield.

Emma falou sobre Gwen Stacey e como a relação dela com Peter é diferente. “Mary Jane se apaixonou pelo Homem-Aranha, a diferença de Gwen é que ela se apaixonou por Peter”. O pai de Gwen é um policial que está em busca do herói-vigilante: “Gwen tem uma relação muito próxima com o pai – de novo, o oposto de Mary Jane – e isto vai causar um conflito de sentimentos no filme”.

Andrew Garfield não falou muito sobre o filme, apenas agradeceu aos fãs por estarem neste evento mundial e disse que era uma honra ser o novo Aranha. Quando perguntaram porque ele aceitou o papel, Garfield respondeu na lata: “Eu não sou idiota, né?”

Em Londres, Ifans falava com seu sotaque carregado: “O Lizard é diferente de todos os outros vilões do Homem-Aranha porque há um elemento emocional nunca explorado antes – o Lizard e o pai de Peter Parker eram amigos e trabalhavam juntos. Isso vai mexer com a cabeça de Peter”.

Depois de todas as perguntas respondidas, foram apresentado oito minutos do filme em 2D – já que os efeitos especiais em 3D ainda não estão finalizados. “Não se preocupem, o filme foi feito com câmeras 3D, aquelas bem grandes e difíceis de usar. Os efeitos vão ser 3D de verdade”, disse Webb, tranquilizando a audiência.

Se quiser evitar spoilers, pule os próximos dois parágrafos.

Uma das cenas que vimos foi o primeiro encontro de Gwen e Peter nos corredores do colégio. “Que tal a gente fazer alguma coisa um dia desses, ou talvez um outro treco, sei lá.” Gwen diz que ok, bora lá. Peter sai de cena saltitando. Esse estilo de romance da vida real vem da experiência em comédias românticas de Webb – (500) dias de Homem-Aranha? O romance é um gancho muito importante no filme, como podemos ver na cena em que Peter vai jantar na casa de Gwen para conhecer os pais dela e nos outros momentos da transformação de Peter em Spidey.

O momento em que Peter descobre seus novos poderes é muito diferente da versão de Raimi, mais natural, desajeitado e engraçado. Depois mostraram várias sequencias do homem-Aranha pulando de prédio em prédio, lutando contra bandidos, correndo em pontes (alguns momentos ainda com a tela azul atrás dos atores) e – surpresa – várias falas e cenas engraçadas! É uma nova maneira mais ‘vida real’ de mostrar um adolescente que, erm… sobe em paredes.

Final dos spoilers.

Conclusão: tá ficando massa. Andrew Garfield é bem mais charmoso e natural do que Toby Maguire – e o cabelo dele é um sonho (N. do Matias: “kkkkkkkkk”). Webb é descolado e divertido, aliás se a trilha sonora for semelhante a de 500 dias de Verão vai ser um bônus. Emma Stone está linda e engraçada como sempre. Rhys como vilão foi um acerto na mosca – nada como um vilão charmoso a la Magneto em X-Men: First Class. O filme está se vendendo como “a história do Homem-Aranha nunca antes contada” – já que eles vão tratar da relação de Peter Parker com seus falecidos pais.

Interessante… Ou seja, bring it on. O Aranha voltou ao topo da lista de filmes para ver em 2012 junto com o Morcego, a liga dos Avengers e os seres da Terra Média. O meio do ano promete!

Impregnado pelo zeitgeist

A Gi Ruaro mandou, lá de Londres, sua opinião sobre esse tal Scott Pilgrim, que por aqui só estréia em novembro. Estou lendo o quadrinho agora, o máximo que conheço do filme são as carreiras dos dois principais envolvidos – Cera e Wright. Vamos às suas impressões:

“Fui ver Scott Pilgrim vs The World com um amigo meu que é fanático pelos quadrinhos. Eu não tinha lido nada e, assim como Kick-Ass, fui ver o filme sem saber muito sobre o que esperar – o que foi bom. Mas também, ruim, pois não posso dar opinião sobre a adaptação. Não curto quadrinhos, mas gosto de filmes baseados neles, além de gostar de games, cultura pop e… bem, cinema pipoca. Ou seja, adorei Scott Pilgrim bem massa.

Michael Cera faz papel de… Michael Cera. Vamos combinar: ele não consegue fugir da estigma Socially Akward Penguin ambulante. Calhou de Scott Pilgrim ser como o Michael Cera e, pronto, funciona – até mesmo quando ele está lutando.

Ramona é realmente a garota mais cool do planeta e os sete exs tem visuais e ‘poderes’ que os transformam em ícones instantâneos. Levando em conta que o filme é baseado num quadrinho com uma legião de seguidores, o filme é bem bom e funciona para fãs e não-iniciados.

O diretor, Edgar Wright, é conhecido pelos seus filmes anteriores Hot Fuzz e Shaun of The Dead. Mas aqui nas terras britânicas, o trabalho que o tirou do anonimato foi Spaced. A série de TV não teve muita repercussão na época pois foi lançada no mesmo período que The Office (de Ricky Gervais), mas tem roteiro brilhante de Simon Pegg (que também atua nos dois filmes de Wright) e sua direção ficou famosa pelas cenas surreais, edição rápida, referências pop jogadas na tela a cada ângulo – além do humor completamente nonsense. Ops, acabei de definir Scoot Pilgrim também!

Foi ótimo ter visto Spaced antes de ver Scott Pilgrim porque eu entendi que o visual e cadência do filme não eram gratuitos, mas fazem parte da bagagem de Wright. Aliás, li no Twitter que Scott Pilgrim é Spaced com Street Fighter. Concordo.

Mas como é que o filme fez tão feio nos Estados Unidos na semana de estréia se tem tantos elementos a seu favor? Na minha opinião é que Scott Pilgrim é um filme para quem tem menos de 25 anos. Não é tão nauseante quando Speed Racer, mas é colorido e veloz – talvez rápido demais para os que não fizeram parte da geração dos games. Há referências sonoras o tempo todo: Mario, Zelda, Sonic, Street Fighter, erro no Mac, start-up do Windows. E os vilões se transformam em moedas. E músicas que te fazem se sentir triste e pensar sobre a morte e tals. Meu pai não ia entender nada mesmo.

É um filme tão contemporâneo, tão impregnado pelo zeitgeist de agora, tão pop que infelizmente será considerado datado ano que vem. Juro. Sabe a cena em Kick-Ass, quando o vídeo faz sucesso no YouTube, quantos hits tinha? 3 milhões. Hoje em dia qualquer vídeo de gato andando em esteira rolante tem mais do que isso. O mundo avança rápido ao próximo meme e o tempo de finalização de um filme já é demorado demais para acompanhar as mudanças de uma geração que não pára.

E como disse Jason Schwartzman (que faz o papel do vilão Gideon Gordon Graves), Scott Pilgrim nunca poderia ter sido feito em 3D. Ainda bem, porque a quantidade de informação na tela ia furar os olhos protegidos pelos óculos de plástico.”

Kick-Ass, you cunt!

Não vi ainda, mas a Gi foi na cabine em Londres e conta o que podemos esperar do provável filme de super-herói do ano. Contaê, Gi:

Presa a um embargo como se fosse uma bola de ferro acorrentada aos meus pés, eu vi Kick-Ass no dia 23 de fevereiro na primeira cabine mundial e não pude dar nem um parecerzinho sequer sobre o filme. Ok, eu já disse via Twitter e afins que era foda, mas sem revelar porquê, como, quando, onde. O embargo caiu e finalmente posso relaxar e falar que sim, Kick-Ass é o filme do ano e explico agora. Sem dar muitos spoilers, espero.]

Batman é provavelmente o super-herói mais “provável” que poderíamos ter na vida real porque ele é apenas um rico que sai a noite pra bater nos pobres (estou me apropriando de uma citação que não lembro de quem). Mesmo assim, é irreal gastar tanto dinheiro em cintos de utilidade e um carro tunado em forma de morcego. E Kick-Ass é brilhante por partir de uma premissa básica que todo fã de super-heróis já pensou: e se eu pudesse ser um?

Claro que a premissa é básica e a execução é complicadíssima. Há armas de grande porte, acidentes de carro e a difícil tarefa de perder a virgindade antes do fim do segundo grau. Mesmo com lutas incríveis nas quais facas cortam pernas ao meio – e nada de Tarantino style em Kill Bill de sangue jorrando, é meio real e violento demais -, Kick-Ass é crível, no sentido em que não precisa de mais do que uma fantasia boba e cojones para salvar os frascos e comprimidos. Há uma química entre os personagens, os atores e a história que faz o filme bem rendondinho: engraçado, violento e com uma história que te prende do começo ao fim.

Hit-Girl é uma pirralhinha adorável em sua mente perturbada prefere armas a filhotinhos de labrador. Big Daddy é Nick Cage fazendo o que sabe fazer melhor: over-acting. Mas nesse caso funciona maravilhosamente. McLovin é ótimo como Red Mist e na verdade todo o cast funciona direitinho. Kick-Ass é Aaron Johnson – também conhecido como John Lennon de Nowhere Boy. E se você pensar que Aaron é noivo e pai do futuro filho de Sam Taylor-Wood aos 19 anos, Aaron combina mais com Kick-Ass do que com seu real eu. Mas filosofo – de volta ao filme.

O que mais me impressionou no filme foi a Hit-Girl. Chloe Moretz, no auge dos seus 13 aninhos, usa roupas de colegial que nem os mangás japoneses e carrega armas de calibres gigantes – que nem… bem, os mangás japoneses. E cada perna esfaqueada, cada braço cortado é com precisão e detalhes bem gráficos. Fuck não é mais um palavrão forte nos Estados Unidos ou na Inglaterra. Então seria meio grandsbosta se Hit-Girl falasse fuck tentando ser durona. Em vez disso, ela fala cunt. E cunt é o pior xingamento que existe em inglês. É pior que motherfucker. É pior que cocksucker. É bem bem bem ofensivo. E lá pelas tantas, Hit-Girl olha para um bando de bandidos rosnando sangue e fala: “Okay you cunts let’s see what you can do now!” E uma sala de cinema inteira perdeu o chão – uma menininha de 13 anos acabou de falar a c-word?

E acho que esta cena da c-word resume Kick-Ass muito bem: é irresponsável, é violento, é irreverente, mas ao mesmo tempo muito engraçado, cheio de surpresas e repleto de referências pop – até uma ótima piada sobre a temporada final de Lost! Acho que não posso falar mais sobre o filme sem entregar detalhes importantes. Eu vi Kick-Ass sem ler o quadrinho, sem saber mais do que o trailer mostrou e fiquei grata por descobrir a aventura junto com o nosso herói. Veja o filme no cinema, vale a pena pelo todo, mas especialmente pelo visual comic book colorido. Se eu tivesse que apontar uma falha no filme, eu diria que a edição caiu brevemente ao quadrinho estilo Hulk do Ang Lee (lembra que merda que era aquilo?). Se eu tivesse que falar qual a melhor cena, eu diria que é a cena da luz estrobo – que grudou na minha mente por dias após ter visto no cinema.

Meu colega que viu o filme comigo escreveu a resenha aqui (em inglês). Leia aqui o que foi falado depois da primeira cabine. Veja também a galeria de fotos aqui. Penso que pra quem esperou tantos anos pela temporada final de Lost, esperar por Kick-Ass até 11 de Junho nem parece tão longe assim. E lembre-se: “with no power comes no responsibility”.

Valeu pela resenha, Gi!