E a minha coluna nessa edição do Link foi a continuação da coluna da semana passada…
Só melhora: o otimismo é a mola mestra de nossa evolução
A ficção científica não previu o celular
Engraçado ver como um assunto repercute. Na coluna da semana passada, me referi a um texto do comediante norte-americano Louis C.K. para comentar como passamos o tempo todo reclamando e não percebemos como a época em que vivemos é fantástica. Muitos aplaudiram, outros contestaram e a discussão ficou dividida entre os que consideraram o texto deslumbrado e os que se identificaram com meu otimismo. E, claro, muitos apenas reclamaram, uns com argumentos, outros só por prazer.
E, no meio da repercussão, um link me foi enviado quatro vezes. Ele remetia ao site do escritor inglês Warren Ellis, autor de quadrinhos que já são clássicos modernos, como Transmetropolitan, Authority e Frequência Global (todos lançados no Brasil). Ellis usa os quadrinhos como veículo para discutir temas que ainda são ficção científica, mas que ele trata como realidade iminente, justamente pela onipresença da tecnologia em nossos dias (como robótica, inteligência artificial, transferência de consciência, a fusão homem-máquina).
O texto, chamado Como ver o futuro, foi apresentado durante a conferência de ficção científica Improving Reality, que foi realizada no início do mês passado na Inglaterra. Ele começava o texto explicando que a obsessão tecnocêntrica de nossos dias tem nos deixado apáticos em relação aos avanços do presente e, desta forma, desiludidos em relação a qualquer tipo de futuro melhor.
E, em dado momento, cita uma das principais passagens do pensador maior da era digital, Marshall McLuhan: “Olhamos para o presente pelo espelho retrovisor. Marchamos de ré para o futuro. Devido à invisibilidade de qualquer tipo de ambiente durante este período de inovação, o homem só passa a perceber conscientemente o ambiente que veio anteriormente. Em outras palavras, um ambiente só se torna inteiramente visível quando é substituído por um novo ambiente. Assim, estamos sempre um passo atrás de nossa visão do mundo. O presente é sempre invisível porque ele é o próprio ambiente em que vivemos e assim acaba saturando todo nosso campo de atenção de forma implacável. É por isso que vivemos no dia de ontem.”
Isso foi escrito em 1969. E Warren Ellis destrincha o tema no texto: “Você não consegue ver o presente propriamente pelo retrovisor. Ele está à sua frente. Bem aqui.”
E descreve o nosso presente fantástico e invisível: “Exatamente agora, há seis pessoas morando no espaço. Há pessoas imprimindo protótipos de órgãos humanos e pessoas imprimindo tecidos compostos por nanofios que vão misturar a carne humana com o sistema elétrico humano. Já fotografamos a sombra de um único átomo. Temos pernas mecânicas controladas por ondas cerebrais.”
Ele continua: “Nos últimos dez anos, descobrimos duas espécies desconhecidas ao ser humano. Conseguimos fotografar erupções na superfície do Sol, aterrissagens em Marte e até mesmo na lua de Titã. Isso parece sem graça para você? É porque está acontecendo agora, neste exato momento. Olhe as horas no seu relógio, pois este é o presente e essas coisas estão acontecendo. O telefone celular mais simples é, na verdade, um dispositivo de comunicação que envergonharia toda a ficção científica, todos os rádios no pulso e comunicadores portáteis. O Capitão Kirk tinha de sintonizar seu comunicador, que não conseguia mandar mensagens de texto, nem tirar fotos em que ele poderia colocar um filtro Polaroid por cima. A ficção científica não antecipou a chegada do telefone celular.”
Mais uma citação para encerrar a coluna dessa semana (mas não o assunto). O escritor de ficção científica inglês Arthur C. Clarke repetia que “toda tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia”. Imagine nossos avós no começo do século passado, antecipando a nossa rotina do século 21. Mais do que comemorar feitos fantásticos, eles ficariam espantados a nos ver vivendo como… magos.
O otimismo é a mola mestra de nossa evolução, e não o pessimismo. Digo e repito meu mantra: só melhora.
O grande Xkcd faz projeções sobre os anos em que esqueceremos acontecimentos que hoje são importantes pra gente.
Só não acho que o Facebook vá durar tanto tempo…
Cada uma…
Er…
• O Feice e sua autobiografia • Como ativar a nova Timeline • Aplicativo apaga atualizações antigas do histórico no Facebook • O fim do futuro • Portáteis: carregue o seu • Google Music, ligação de Tim Cook, iTunes no Brasil, PayPal e Skype no Facebook…
Publicamos na edição do Link desta segunda-feira um artigo do Peter Thiel – que é um dos nomes mais importantes do Vale do Silício hoje – que fala sobre um problema sério: a estagnação da inovação no século 21. Um trecho:
Responder à questão de se houve ou não uma desaceleração tecnológica está longe de ser uma tarefa tranquila. A questão crítica de por que tal desaceleração parece ter ocorrido é ainda mais difícil, e não há espaço para tratá-la por completo aqui. Encerremos com a questão correlata de o que pode ser feito agora.
Mais sucintamente, será que nosso governo pode religar o motor parado da inovação? O Estado pode impulsionar com sucesso a ciência; não há por que negá-lo. O Projeto Manhattan e o programa Apollo nos lembram dessa possibilidade.
Mercados livres podem não financiar tanta pesquisa básica quanto necessário. Um dia após Hiroshima, o New York Times pôde, com alguma razão, pontificar sobre a superioridade do planejamento centralizado em matérias científicas: “Resultado final: uma invenção (a bomba nuclear) que foi dada ao mundo em três anos teria tomado talvez meio século para se desenvolver se tivéssemos que depender de pesquisadores ‘primmas donnas’ que trabalham sozinhos”.
Mas isso era outra época. A maioria de nossos líderes políticos não é formada por engenheiros ou cientistas e não ouve engenheiros ou cientistas. Hoje, uma carta de Einstein ficaria perdida na sala de correio da Casa Branca, e o Projeto Manhattan nem seria começado; ele com certeza não poderia ser concluído em três anos. Não conheço um único líder político nos EUA, seja ele democrata ou republicano, que cortaria gastos com saúde para liberar dinheiro para pesquisa em biotecnologia – ou, mais geralmente, que faria cortes sérios no sistema de previdência para liberar dinheiro sério para grandes projetos de engenharia. Robert Moses, o grande construtor da cidade de Nova York dos anos 1950 e 1960, ou Oscar Niemeyer, o grande arquiteto de Brasília, pertencem a um passado em que as pessoas ainda tinham ideias concretas sobre o futuro.
Os eleitores hoje preferem casas vitorianas. A ficção científica ruiu como gênero literário. Homens chegaram à Lua em julho de 1969 e Woodstock começou três semanas depois. Com o benefício do olhar retrospectivo, podemos ver que foi aí que os hippies se apoderaram do país e que a verdadeira guerra cultural sobre o progresso foi perdida.
Os hippies envelhecidos de hoje não compreendem mais que existe uma grande diferença entre a eleição de um presidente negro e a criação de energia solar barata; em suas mentes, o movimento pelos direitos civis caminha em paralelo ao progresso geral em todos os lugares.
O artigo inteiro você lê aqui. Se prepara, porque não é pouca coisa. E abaixo, segue o texto de apresentação sobre Thiel, que escrevi para acompanhar seu texto original.
***
Peter Thiel: O nome mais importante do Vale
Mestre de xadrez aos 13 anos e aluno número 1 de sua turma até o fim do segundo grau, Peter Thiel talvez seja o nome mais importante no Vale do Silício hoje, ainda mais após a morte de Steve Jobs. Mas ao contrário do fundador da Apple, Thiel não é muito afeito aos holofotes, preferindo agir nos bastidores e como arauto de novas tendências, em longos artigos como o desta página.
Nascido em 1967 em Frankfurt, na Alemanha, a carreira de Thiel começou a deslanchar ainda na faculdade. Estudante de filosofia na Universidade Stanford, na região de São Francisco, ficou irritado com a onda do politicamente correto que tomava conta do câmpus no final dos anos 80 e resolveu criar a Stanford Review em 1987, publicação que existe até hoje. Foi ali que recrutou alguns nomes que o acompanhariam em seu principal feito, quando resolveu bancar a ideia de um recém-conhecido que apareceu em uma de suas palestras, Max Levchin. Ele queria criar uma forma prática de conexão entre computadores portáteis, mas a conversa entre os dois evoluiu para outro rumo e, em 1998, os dois fundaram o PayPal.
Foi a partir da criação do site de pagamentos online que a carreira de Thiel decolou. Sua fama de visionário começaria a crescer logo em seguida, quando vendeu o serviço para o eBay e, com os US$ 50 milhões que levantou com a transação, começou a fase atual de sua carreira, a de investidor.
Começou a colocar dinheiro em empresas de ex-funcionários do PayPal, startups que, graças a seus investimentos, saíram do papel e se transformaram em titãs do mundo online, como o YouTube, o LinkedIn e o Yelp. Passou a ser conhecido como “o chefão da máfia PayPal” e logo abriu seu próprio fundo de investimentos, o Clarium Capital. Foi por meio dele que Thiel investiu meio milhão de dólares no Facebook em 2004, o mesmo ano em que ele foi criado.
Mas os negócios digitais são apenas parte dos interesses de Thiel. Ele também aposta pesado no desenvolvimento científico e abriu o Breakout Labs, um fundo de investimento apenas para financiar pesquisas de acadêmicos independentes, de preferência os que tenham ideias mais radicais.
Mas talvez o passo mais ousado do investidor tenha sido ao bancar um sonho de um ex-funcionário do Google, Patri Friedman, neto do ganhador do prêmio Nobel de economia Milton Friedman – um país startup. “Grandes ideias começam como ideias esquisitas”, disse Friedman, ao explicar o conceito por trás do Instituto Seastanding: criar plataformas móveis em alto-mar que funcionem como países, com sua própria legislação, governo e soberania. É isso mesmo: Peter Thiel, agora, quer fundar novos países.