DM: Sobre a importância de Fabio Bianchini

Finalmente vi Barbie, mas atropelo o comentário sobre o filme de Greta Gerwig para falar sobre o novo filme de Kleber Mendonça Filho, que Dodô usa como gancho para falar sobre museus e acervos – neste caso, pessoais. E em mais um DM emotivo, mergulhamos na coleção de lembranças que cada um de nós carrega e usa como autoficção para definir quem somos, cada um de nós. Isso é deixa para mergulharmos em amizades que nos deixaram, como a do meu querido irmão Fred Leal – que Dodô só conheceu pela internet, como pode? -, a trágica história de seu compadre de adolescência Elmer e, vamos festejar nossos amigos em vida, do grande Fabio Bianchini, o Mumu, uma das melhores pessoas que conhecemos (e olha que conhecemos muita gente boa).

Assista aqui:  

13 de 2013: Fred Leal

fredleal

Já perdi a conta de quantas vezes comecei a escrever esse texto. Comecei a rascunhá-lo como um processo de exorcismo à péssima notícia que meu amigo e irmão de coração Fred Leal havia sofrido um AVC, em Paracambi, a cidade que ele colocou em nosso mapa mental, no primeiro dia do mês de setembro deste ano. Danilo me ligou tenso, dizendo não ter mais informações além de que ele já estava internado no Rio de Janeiro e perguntando, já sabendo da resposta, se podia me incluir numa troca de emails de um grupo de amigos mais próximos que estavam acompanhando o fato trágico. Tatu, outro irmão dessa pequena família que construímos além da amizade, estava acompanhando tudo direto do hospital e nos mantinha informados sempre que podia. Não dava pra fazer nada a não ser esperar. Foi quando comecei a escrever esse texto, como uma carta para ser lida por ele quando saísse do hospital.

Cheguei a ir ao Rio de Janeiro dias após o acontecido, fiquei horas na sala de espera do hospital em que ele estava internado, mas não consegui visitá-lo. Os médicos não disseram na hora, mas depois fiquei sabendo que o quadro dele havia piorado enquanto o esperava e não seria possível ninguém vê-lo naquela quarta-feira. Tatu continuava mandando notícias sobre os altos e baixos típicos de alguém que estava internado naquelas condições. Cada dia uma nova leva de novidades, boas ou ruins. Até que, alguns dias depois, na meia-noite do sábado 7 para o domingo 8 de setembro, recebo uma mensagem no celular, com a Bia pedindo para que eu ligasse para ela urgente – estava na praia e o celular não pegava direito, embora houvesse wi-fi. Fui correndo para a beira da praia onde o sinal do celular pegava melhor, já temendo o pior – e com ela a drástica notícia. Fred não havia resistido. Nunca havia perdido alguém tão próximo. Entrei em estado de choque e não consegui sequer ir ao enterro de um dos meus melhores amigos, naquele domingo triste em Paracambi.

Fred Leal era uma das melhores pessoas que todos nós conhecíamos. Como muitos amigos que conheci primeiro online, não me lembro de nosso primeiro contato virtual, mas lembro finalmente te-lo conhecido pessoalmente no show de lançamento do primeiro disco dos Los Hermanos, no saudoso Ballroom, no Rio de Janeiro, em 1999. Fred, ainda adolescente, era uma dos muitos fãs de primeiríssima hora do grupo carioca e já havia perdido a conta de quantos shows do grupo já havia assistido antes daquele, mas estava especialmente animado com o show daquela noite – afinal era a consagração de uma intuição que já havia sido percebida por um pequeno grupo de cariocas do qual Fred fazia parte. E, como acontecia com a maioria das pessoas que conheceu Fred, o primeiro contato offline com foi de empatia instantânea. Nos dias seguintes já o tratava como alguém que conhecia há anos e nossa diferença etária (era seis anos mais velho que ele, diferença significativa quando flutuamos ao redor dos vinte) havia simplesmente desaparecido.

Desde então o contato online tornou-se permanente – há mais de dez anos trocava informações sobre discos, livros, filmes e frilas com Fred, sempre o chamando nas diferentes empreitadas que me envolvia. Coloquei-o para entrevistar personagens no site da velha revista Play, chamei-o para cobrir shows do saudoso projeto Trama Universitário, convidei-o para escrever no livro 300 Filmes para Ver Antes de Morrer, que editei para a revista Época em 2006 e quis o destino que ele não escrevesse nada pra Galileu – era questão de tempo para que o chamasse. Mas não era só troca de conhecimento – Fred era um coração gigantesco pronto para ouvir seus lamentos e desventuras e muitas vezes segurei suas barras emocionais depois de pés na bunda ou ressacas morais. Trocávamos links pra shows inteiros no YouTube enquanto um lia o outro falando sobre as desilusões e esperanças recentes, indicações de novos autores vinham misturadas de confissões hilárias ou de sermões intensos. Uma dica de culinária lembrava velhas namoradas, brigas com parentes, a monotonia do emprego. Exercícios de futurologia, filmografias completas, ombro amigo, artistas desconhecidos, filosofias de vida – qualquer meia hora conversando com Fred via email, MSN, ICQ, Gtalk ou mensagens do Facebook valia por cursos intensivos das coisas que importam na vida.

O contato online, a poucos toques e cliques do teclado, se tornou uma amizade de coração, e, mesmo na maior parte do tempo morando em cidades diferentes, pudemos conviver proximamente em vários momentos. Desde as temporadas que eu passava no Rio no início da década passada aos shows de Paul McCartney que assistimos juntos em Buenos Aires, quando ele havia se mudado para a capital argentina. Mas dois períodos de convivência foram intensos: 17 dias em Recife no início de 2006 e o quase ano que trabalhamos juntos em São Paulo no Estadão, entre 2009 e 2010.

O primeiro foi em fevereiro de 2006, quando fui convidado para palestrar na segunda edição do Porto Musical, em Recife, uma semana antes do carnaval. Eu havia acabado de sofrer o acidente que me deixou parado por seis meses, braço direito na tipóia e sem movimentar a mão devido a um estiramento de nervos e uma das conversas mais frequentes que tinha com Fred à época era sobre a produção de conteúdo feita pelo usuário comum através da recombinação de mídias já existentes – a cultura do remix que é a base da produção cultural na internet, aquela feita por qualquer um (no final daquele ano a revista Time escolheria “você” como “pessoa do ano”). Pensei em apresentar este tema no simpósio e convenci a organização do evento a pagar a passagem de Fred, que havia topado desenvolver melhor a palestra comigo. Como estava de licença médica, poderia emendar o período da palestra com o carnaval pernambucano, uma velha utopia. Ao ir em dupla para Recife com Fred ainda tivemos a vantagem de descolar um apartamento no bairro de Boa Viagem, onde passamos duas semanas em dos carnavais mais psicodélicos da minha vida. Foi quando eu criei o Vida Fodona, que começou a princípio como um podcast de entrevistas – aproveitamos a movimentação cultural promovida pelo Porto Musical e, claro, pelo carnaval, e saímos entrevistando artistas, produtores e amigos sobre aquele momento. Na véspera da viagem, passei antes por seu apartamento no Leme (o clássico Tchose Inn), onde editamos o vídeo que apresentamos na palestra pouco antes de irmos ao histórico show que os Rolling Stones fizeram em Copacabana. Os causos e lendas deste carnaval (o misterioso segundo disco do Mombojó, a festa que Dani Arrais – que ainda morava no Recife – conseguiu agitar para que tocássemos antes de irmos embora, o famoso caso do psy às quatro da manhã) estão entre alguns dos meus melhores momentos pessoais. Vida Fodona indeed – e sempre ao lado do Fred.

O segundo aconteceu depois que me tornei editor do Link e consegui convencer o Estadão a contratar um repórter que não tinha diploma – Fred veio com a chinfra de “personal nerd”, título criado por ele que usei para atualizar a antiga seção “Saiba Como”, e logo encantou a todos, se tornando uma peça central em uma das melhores equipes que já fiz parte, a equipe que conduzi a partir de 2009. A convivência diária com Fred nos presentava com doses cavalares de gentileza e bom humor – Fred sempre tinha aquela tirada na hora certa, seja com um link, uma citação, uma lembrança inusitada ou apenas seu senso de humor ao mesmo tempo sisudo e sacana (sempre seguido daquele “HEHEHEHE” rido com força na garganta). Ele morava do lado de casa, no mesmo prédio que a Tati, e várias vezes emendávamos um terceiro tempo pela região – seja dividindo o táxi ou trocando idéia até altas em seu apartamento, bebendo, fumando, ouvindo música e jogando Beatles Rock Band. Foi em sua passagem pelo Estadão que ele conseguiu entrevistar dois de seus ídolos na música – Robert Schneider, dos Apples in Stereo, e Bill Withers. “Direto eu lembro das nossas conversas de fumódromo”, foi uma das últimas coisas que ele me escreveu, “hahaha, grandes momentos”. Grandes momentos :~

Essa convivência foi interrompida pelo próprio Fred que, em sua segunda passagem por São Paulo, havia percebido que não nascera para morar nesta cidade. Abandonara mais uma carreira, entre tantas, desta vez para morar em Buenos Aires. Seis meses depois me chamava no Gtalk – “estou te devendo um uísque, vou voltar pro Brasil”. Mas em vez de voltar para o Rio enfurnou-se em Paracambi. Logo depois vieram as notícias da morte de sua mãe e de seu pai (mesmo que não falasse mais com o pai, a notícia lhe baqueou, embora não transparecesse) e cada vez mais Fred foi se escondendo em Paracambi. Por trás da extrema simpatia havia uma tristeza que pairava sob sua personalidade. Era essa tristeza que o tornava tão doce e sentimental, mas ao mesmo tempo arrastava-o para baixo com força. Aos poucos, a ida para Paracambi parecia uma fuga da realidade para os mais próximos, que de algum jeito tentavam trazê-lo de volta à convivência. Mas ele parecia disposto a ir. Meu último gesto nesse sentido foi dar-lhe um blog nOEsquema – uma forma de contribuir não apenas aos anos que me deixou hospedado na Fubap (que antes chamava-se Badtrip) como também de fazê-lo voltar a escrever, mas o Axioma teve apenas quatro posts. Num deles, deslumbra-se com o grande disco de Frank Ocean do ano passado e cita uma entrevista do rapper para definir sua amplitude lírica. Sem querer, Fred estava falando de si mesmo:

“Quando você está feliz, você curte a música. Mas quando você está triste, você entende a letra.”

Fred era letra e música – e todos cantávamos com ele. Quem sente, sabe. Vamos seguir cantando-o.

As baladas dos Paralamas do Sucesso, por Fred Leal

A partida do Fred ainda não foi assimilada direito por ninguém, estou debruçado num texto sobre a importância deste amigo há mais de uma semana e está sendo difícil colocar tanto sentimento em palavras. Na paralela, uma boa alma ressuscitou a coletânea que ele fez apenas com as baladas dos Paralamas do Sucesso, batizada de “Paraladas“, um primor de seleção que foi até citada no site dos caras. E com vários versos que só fazem aumentar a saudade do cara, que ajudou um monte de gente a entender que “saber amar é saber deixar alguém te amar”.

Saudades 🙁

Trabalho Sujo + Casa do Mancha: QUE NOITE!

foto: Helena Yoshioka

Quem foi sabe! Já já pintam as fotos da Helena por aqui, mas por enquanto deixo esses dois videozinhos que fiz na festa – dois rolês pelos corredores da Trackers para registrar os ótimos shows do Bonifrate e dos Soundscapes. Saca só aí embaixo:


Bonifrate – “Vertigem de uma Festa Interestelar”


The Soundscapes – “You Are Love”

É hoje! TRABALHO SUJO + CASA DO MANCHA!

trabalho_mancha

Nosso experimento pop dá um passo além. Depois de anos de dedicação à música reproduzida, a versão Trackers das Noites Trabalho Sujo começa a apostar em apresentações ao vivo – e, para isso, chamamos um dos especialistas nestes eventos performáticos com música na cidade de São Paulo, o senhor Mancha, responsável pelo estabelecimento iniciático Casa do Mancha, que também é conhecida singelamente – e hermeticamente – como “A Casinha”. Nesta primeira experiência, o senhor Mancha conseguiu convocar dois grupos de pesquisas musicais sérios e reconhecidos por seus trabalhos sônicos. O primeiro deles, liderado pelo doutor Pedro, atende pelo sobrenome do líder, e chama-se apenas Bonifrate, dedicado à pesquisas psicodélicas em baixas vibrações e alto astral – sua apresentação será no início da madrugada. Horas adentro será a vez de chamarmos os Soundscapes, que exercitam freqüências elétricas a partir do dinamismo da troca de acordes. Além dos dois conjuntos, Mancha e seu time – composto por Tom e Lu – também tocarão músicas pré-gravadas para ajudar a festa a entrar em alfa. Do outro lado, os pesquisadores Danilo Cabral, Luiz Pattoli e Alexandre Matias (a doutora Bárbara Scarambone não pode comparecer a esta sessão) elevam consciências a partir de memórias e ritmo, sempre induzindo ao delírio a partir do bom gosto – além de uma celebração à vida do nosso recém ido irmão Fred Leal. Estas experimentações acontecerão a partir das 23h45 do próximo sábado, dia 14 de setembro, na sede da Associação Brasileira de Empresários de Diversões também conhecida como Trackers (R. Dom José de Barros, 337), no centro da cidade de São Paulo, maior cidade da América Latina. Os voluntários a participar deste experimento devem enviar seus nomes para o email noitestrabalhosujo@gmail.com até às 20h do dia do evento. Sem o anúncio via email anteriormente não é possível entrar no recinto.

Repetindo:
TRABALHO SUJO + CASA DO MANCHA
Shows: Bonifrate (1h) e Soundscapes (3h)
DJs: Alexandre Matias, Luiz Pattoli e Danilo Cabral (Trabalho Sujo); Mancha, Tom e Lu (Casa do Mancha)
Sábado, 14 de setembro de 2013
R. Dom José de Barros, 337, Centro, São Paulo
A partir das 23h45.
Entrada: R$ 25 (até a 1h) e R$ 35 (em diante) apenas com nome na lista através do email noitestrabalhosujo@gmail.com

Quatro novos blogs nOEsquema: Esquina, Axioma, Entretenedor e Vitralizado

A correria, a pressa, a falta de tempo, a mudança na rotina, a preguiça, a procrastinação… Tudo isso pode servir de desculpa para o fato de eu não ter apresentado os novos blogueiros dOEsquema, que já estão em plena produção (se você freqüenta nossa home, já deve ter reparado). Peço desculpa aos novatos, que já deviam ter sido apresentado há eras, e aos leitores, que trombaram com estes novos blogs sem entender direito o que estava acontecendo. Vamos aos quatro:

A única menina desta leva, a vinda da Tati prOEsquema também foi uma maneira de não perder o contato diário com esta que é um dos grandes talentos do atual jornalismo brasileiro – e uma das pessoas mais fodas que eu conheço. A descobri nos tempos em que trabalhava na Trama, onde foi estagiária da agência de notícias que eu coordenada no projeto Trama Universitário, e acompanhei seu trabalho de conclusão de faculdade tornar-se o livro fundamental que ainda não havia sido escrito sobre a psicodelia brasileira. Chamei-a para trabalhar no Link assim que virei editor do caderno e pilhei-a para ter um blog que logo tornou-se a coluna que leva seu nome no jornal. Esta semana ela tornou-se editora-assistente do Link, mesmo cargo que eu tinha quando entrei no Estadão, e seu Esquina, já com atualizações à toda, mostra um lado mais íntimo e trivial de uma autora que, aos poucos, gabarita-se nos Grandes Temas. É ótimo ser vizinho dela.

Outro novo vizinho que também era colega de Estadão é o Ramon Vitral, mais um talento em ascensão no jornalismo brasileiro – e suas especialidades, como pode-se perceber pela pauta de seu veloz Vitralizado, são quadrinhos, cinema e a extensão área de intersecção entre estas artes irmãs (ou, como ele descreve no subtítulo do blog, “conteúdo aleatório justaposto em sequência deliberada”). Ramon já era leitor e comentarista do Sujo muito antes de sair de sua Juiz de Fora em Minas Gerais rumo a São Paulo, mas só o conheci pessoalmente nos corredores do Limão, quando dividimos algumas pautas no Divirta-se (o caderno de programação cultural do jornal em que Ramon trabalha), como a capa sobre as referências do Super , do J.J. Abrams.

O terceiro integrante da nova turma é velho conhecido dos leitores de blog no Brasil e parceiro de longa data. O jovem mestre Fred Leal também passou pelo Estadão e ficou por quase dois anos no Link e depois de uma temporada por Buenos Aires voltou à sua cidade-natal, a mítica Paracambi no interior do Rio de Janeiro, de onde posta seu Axioma. Fred é um dos capos da Fundação para o Amparo e Bem Estar Psicodélico – a Fubap, onde mantenho o Vida Fodona, e depois de roubar alguns talentos e amigos de seu celeiro de talentos (Babee, Pattoli e Silvano tinham blogs por lá antes de vir para OEsquema) resolvi cooptar o próprio dono do time. Bom estar mais uma vez ao lado de Fred.

O caçula da leva eu só conheci pessoalmente – e brevemente – este ano, mas acompanho de perto o trabalho de Tomás Pinheiro tanto em seu Tumblr original (o Entretenedor, que virou o nome oficial de seu site nOEsquema) quanto suas contribuições para o carioca Party Busters (ele também era, ao lado de mim, do Pattoli e do Bracin, um dos entusiastas das t-girls – quem lembra delas?). Seu faro para a boa música e antena ligada para novidades pop e cabeça na mesma medida tornam seu Entretenedor – sua “chautauqua pessoal”, como descreve – uma visita obrigatória pra quem quer saber quem faz música boa hoje em dia.

Devidamente apresentados, eis nossos novos blogueiros, sejam bem-vindos, sintam-se à vontade e, leitores, tratem-os bem. Eles, no entanto, não serão os últimos a entrar em 2012. Completamos, com o fim deste ano, o primeiro ano de expansão dOEsquema, em que deixamos de ser apenas quatro vozes (eu, Bruno, Arnaldo e Mini, os Founding Fathers deste Novo Mainstream) e nos tornamos um coletivo de indivíduos incríveis. Outros nomes virão até o fim do ano – quando terminaremos nossa fase 2.

E a fase 3 começa em 2013…

Impressão Digital #131: Saindo do Link Estadão


A última encarnação do Link que comandei (em sentido horário a partir da esquerda): eu, Camilo, Thiago, Murilo, Vinícius, Carol, Filipe e Tati. sdds glr :~

Minha coluna de despedida da edição do Link. A coluna segue no caderno, toda segunda, mas desde a sexta-feira passada eu não frequento mais os corredores do sexto andar do prédio ocre perto da ponte do Limão na Marginal Tietê. Foi foda – saio com dorzinha no peito por perder determinadas convivências diárias, mas com a sensação de dever cumprido. Depois eu escrevo mais sobre isso…

Jornalismo, tecnologia, web e o que eu tenho a ver com isso
Sou feliz de trabalhar com quem trabalhei

Foi num jornal diário que comecei minha carreira e tomei gosto pelo jornalismo. A redação em que diferentes egos e perspectivas conversam e se chocam é um ambiente fantástico, circo-hospício seríssimo. Os assuntos mais pedestres trombam com as Grandes Questões da Humanidade, tudo correndo contra o relógio do fechamento, segundos contados para terminar o texto, chegar a foto, tratar a imagem, exportar a arte, pensar na página.

A primeira redação em que trabalhei tinha acabado de aposentar as máquinas de escrever e as trocado por PCs, mas não havia e-mail nem internet. Filmes eram revelados. Fumava-se na redação. Parece Mad Men, mas era 1994.

Lembro do primeiro PC com acesso à internet na redação, abandonado na sala de produção, ao lado dos computadores com matérias das agências de notícias, faxes e até uma máquina de telex. Eu era o único jornalista que me dedicava mais do que meia hora online, fuçando sites, listas de discussão e e-zines, antes de ter acesso à web em casa. Não à toa instiguei o próprio jornal a ter sua própria página na rede, ainda em 1996.

Mudei para a redação do jornal concorrente e tornei-me editor do caderno de cultura no mesmo ano em que o Napster popularizou o MP3. Foi quando percebi que internet não era só tecnologia – era cultura. Que baixar MP3 era o primeiro indício da transformação que o meio digital trazia. Não era só uma forma nova de “consumir cultura”, mas uma nova camada de experiência que atravessaria nosso cotidiano em breve.

E aconteceu: vieram os blogs, o Google cresceu, depois o YouTube, as redes sociais e o celular passou a acessar a internet. Passei por outras redações e cheguei a esta do Estadão no mesmo ano em que Steve Jobs mostrou seu iPhone. Novamente num jornal diário, mas o digital se impunha: fatos podiam ser checados online, fontes e personagens podiam ser descobertos em redes sociais, repórteres mandavam informações por celulares, todo mundo tinha e-mail, uma parte (pequena) da redação tinha blog. Ainda havia a máquina de fax e não era possível fumar no computador, mas ainda havia o fumódromo.

Quando comecei no Link, ainda editor-assistente, era relativamente fácil separar quem cobria que área no caderno. Mas os assuntos se misturaram e, ao ser promovido a editor em 2009, implodimos essas barreiras. Como passamos a escrever tanto para um caderno semanal quanto para um site diário – em vez de separar quem é do impresso com quem é do online. A mesma equipe também assumia o caderno em outras plataformas, que experimentou com as redes sociais antes do próprio jornal ter suas contas. Falamos do Twitter, do Marco Civil, do Facebook, da pirataria política e de impressão 3D antes de esses assuntos entrarem na pauta brasileira.

Mas a melhor coisa nestes cinco anos e meio de Link, que terminam nesta edição (estou deixando o Estadão esta semana) foi estar junto a pessoas ótimas, amigos dispostos a encarar desafios e a aprender, sempre de bom humor. Pessoalmente é a principal dívida que tenho com o jornal: ter trabalhado com pessoas tão fodas que vocês conhecem pelo nome e sobrenome, mas que me refiro como amigos – Filipe, Tati, Camilo, Murilo, Carol, Vinícius, Thiago, Helô, Carla, Rafa, Fernando, Ana, Fred, Rodrigo, Bruno, Ju, Lucas, Gustavo, Marcus. Juntos, transformamos não apenas o suplemento de tecnologia em um caderno central para o jornal como aceleramos a mudança na cobertura de tecnologia no Brasil. Além de termos aprendido e nos divertido muito, neste processo.

Quis o destino que meu último Link viesse na mesma semana em que o primeiro jornal que trabalhei acabou; o Diário do Povo, de Campinas, parou de circular no primeiro domingo deste mês. Mas isso não significa que o impresso irá acabar – estamos começando a ver uma transformação bem interessante no que diz respeito ao jornalismo, à tecnologia e, claro, à cultura humana. Vamos ver o que virá.

Saio da redação, mas sigo nestas páginas. A Impressão Digital segue aqui, toda segunda. Foi muito bom, aprendi muito. E não se esqueçam: só melhora.

Como foi a Noite Trabalho Sujo com o Fred Leal

Alguém anotou a placa daquela sexta-feira? A última coisa que eu lembro vagamente foi aquela sequência de meia hora de Beatles… Depois tudo vira um borrão de delírio, dança e êxtase que, pelo que conferimos abaixo nas fotos da Bárbara, não rolou só comigo. E nessa sexta temos a querida Manu Barem, na última Noite Trabalho Sujo em que toco pelos próximos dois meses. Semana que vem eu explico melhor isso.

 

Noites Trabalho Sujo apresenta Fred Leal

Olha a surpresa de hoje à noite: Mr. Fred Leal é quem me ajuda a dissolver pernas e arregaçar sorrisos numa Noite Trabalho Sujo memorável – e pra quem conhece o meu compadre, sabe que essa sexta-feira vai ser de muito groove pesado – e indieces marotas, como não? Sempre a favor da acabação feliz na pista de dança… As coordenadas para a festa, caso você não ainda saiba, se encontrakm tanto no site do Alberta quanto na página do evento no Facebook – e para mandar nomes para lista de desconto, é só enviar para o email noitestrabalhosujo@gmail.com até às oito de hoje. Vambora que a noite promete!

Em busca da batata frita perfeita

Nem sou dos maiores fãs deste prato, mas o método apresentado pelo Bruno no Hipster Channel parece bem elucidativo para quem curte uma batatinha. Vê .

Vi na Liv, que aproveitou para desenterrar a já clássica receita do Fred para o bife perfeito.