Enorme prazer de conversar nesta edição do Tudo Tanto, meu programa semanal sobre música brasileira, um papo com o papa do rock gaúcho, mister Frank Jorge, que está para lançar seu novo disco em parceria com o produtor carioca Kassin. Aproveitei a deixa para, claro, falar do disco novo mas também voltar no tempo e fazer uma radiografia de sua carreira a partir dos Cascavallettes e Graforreia Xilarmônica e falar sobre a importância do humor, da canção e da estranheza em seu trabalho.
Kassin e Frank Jorge, dois pilares do rock independente dos anos 90 que se tornaram referências musicais nas respectivas cenas de suas cidades, já se conheciam há tempos. “Eu conheci o Frank assistindo ao Graforreia Xilarmônica no festival SuperDemo, se eu nao me engano em 1992”, o produtor carioca puxa pela memória. O gaúcho complementa: “Fui conhecer conhecer mesmo foi quando o Kassin e o Berna produziram o disco da Graforreia Xilarmônica Ao Vivo, lançado pela Senhor F Discos, gravado em Porto Alegre num bar chamado Manara, que não existe mais nem a edificação, inclusive, e foi lançado em 2006”, lembra Frank sem precisar a data do show.
Os dois se reencontraram em 2020 para começar a trabalhar num disco em dupla, mas o coronavírus obrigou a mudança de planos. “Inicialmente haveria encontro no disco , eu iria a Porto Alegre e Frank viria ao Rio , eu pensava em um disco mais tocado com sintetizadores e baterias eletrônicas e acústicas juntas quando vimos que isso não seria possível resolvi fazer tudo programado”, lembra Kassin. “Inicialmente, seria uma fusão de composições autorais inéditas ao estilo de músicas bregas brasileiras com rock internacional da mesma época, tipo bandas do CBGBs…”, lembra Frank, “mas o rumo que foi tomando as composições e produções a partir das guias mostrou um universo diferente, mais rico ainda, bem brasileiro, bem diversificado, com bastante programações de bateria eletrônica, baixos synth ou ‘tocados no dedão’, arranjos maravilhosos do Kassin para sopros, enfim… Um álbum muito único que me deu muito prazer em fazer.”
Ainda sem data de lançamento precisa – os dois falam no começo de 2021 -, o disco Nunca Fomos Tão Lindos começa a ser mostrado esta semana, quando o single “O Que Vou Postar Aqui” chega às plataformas digitais na sexta, mas os dois antecipam a faixa, que mistura as melodias básicas de Frank à fissura de Kassin por música eletrônica avançada, ao mostrar o clipe primeiro aqui no Trabalho Sujo. “É uma canção tipicamente ‘frankeana’, composta com certo DNA do velho e famigerado iê-iê-iê que existe incrustrado em mim – e adoro!”, descreve Frank. “Mas a liberdade de criação foi o princípio básico do trabalho e o que o Kassin trouxe de contribuições foi sempre surpreendente; apontou para direções muito diferentes em termos rítmicos, soluções harmônicas bacanas e de bom gosto. Um resultado final bem diferente dos respectivos trabalhos solos, e em alguma medida, modestamente falando, muito único, muito raro”. Kassin reforça que a faixa é uma boa introdução ao disco: “O disco vai pra muitos lados sonoramente, mas dá pra entender o que esperar do álbum.”
Frank detalha como foi a criação do disco: “Fiz uma guia inicial em fevereiro deste ano com violão, baixo, teclado, guitarra, vozes, para 14 músicas com o Beto Silva no Estúdio Marquise 51. Tiveram umas dinâmicas de deixar algumas de lado e inserir outras no decorrer do processo, de abril em diante. Em síntese, dez composições do álbum foram escritas entre novembro e fevereiro e duas já existiam no meu repertório próprio, não lançadas. Kassin produziu as gravações via software Zoom a partir do seu estúdio ou sua casa no Rio de Janeiro. Beto e eu em Porto Alegre no estúdio Marquise 51, gravando a partir das orientações do Kassin. Trocamos vários telefonemas e algumas vídeo chamadas para discutir as músicas, buscar soluções, cortes… Fluiu tudo de modo muito legal, cooperativo, colaborativo. Conversamos bastante sobre música em geral. Celly Campelo, High Llamas, Paulo Sérgio, Jackson 5, documentários sobre música, etc. Tudo isto impactou no resultado e no astral geral do álbum. ”
Cada um segue seus projetos individuais. Enquanto Kassin prepara mais um disco solo, Frank segue dando aula de Produção Fonográfica na universidade Unisinos, em Porto Alegre “e compondo canções em espanhol; lendo Jonathan Franzen, Henry Jenkins, jornal e revistas Bizz antigas; sempre ouvindo muita música; assistindo seriado sobre o Império Romano”, conclui.
Um dos pais do rock gaúcho como o conhecemos hoje, o mestre Frank Jorge está prestes a gravar um novo disco produzido por ninguém menos que Kassin: “Quero revisitar brega brasileiro 1970 com referências do rock mundial da mesma época, CBGB’s… Se conseguiremos fazer? Boa questão”, ele me antecipa. Enquanto o disco toma forma antes das gravações começarem, ele compartilha uma sessão que fez ao vivo no início do ano, contando com seus dois filhos como músicos de sua banda: Érico, de 20 anos, na guitarra e Glória, 15, na bateria. Foi a segunda vez que tocaram juntos – a primeira foi em dezembro do ano passado (na foto acima). Na sessão abaixo, gravada em janeiro deste ano, além de Frank, Érico e Glória, está o baixista Regis Sam.
Pai coruja, Frank reforça que os dois tocam juntos na banda Flanelas Desbotadas (que, olha só, tem futuro) e “a Glória toca na Orquestra de Bateria e Percussão Batucas, organizada pela Biba Meira, há quatro anos”, comenta orgulhoso da filha tocando no projeto da primeira baterista do Defalla.
O bardo gaúcho Frank Jorge faz as pazes com o passado e revê a própria carreira em seu novo álbum, Histórias Excêntricas ou Algum Tipo de Urgência, que chega às plataformas digitais no início de junho mas já pode ser baixado no site do Selo Fonográfico 180, que está lançando o trabalho do músico. Gestado a partir do show de abertura que Frank fez quando Paul McCartney passou por Porto Alegre no ano passado, o novo álbum revisita sonoridades que ele havia deixado em segundo plano – como a Jovem Guarda e a música romântica brasileira -, bem como ecos de outros gêneros que não faziam parte de sua sonoridade, como o lado roqueiro setentista da faixa de abertura “Tirando pra Rei”, que dá pra ouvir abaixo, e vocais de Cazuza, como ele mesmo confessa (em “O Baile Segue Adiante”). Conversei com o Frank sobre o novo álbum e sobre seu envolvimento comum com o saudoso Miranda, grande influência em sua carreira. Ele ainda dissecou o disco faixa a faixa, mais lá embaixo.
Como você começou este novo disco?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/frank-jorge-2018-como-voce-comecou-este-novo-disco
Histórias Excêntricas é um apanhado de toda sua carreira?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/frank-jorge-2018-historias-excentricas-e-um-apanhado-de-toda-sua-carreira
Você vê a necessidade de lançar álbuns em 2018?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/frank-jorge-2018-voce-ve-a-necessidade-de-lancar-albuns-em-2018
Qual foi a influência da morte do Miranda neste disco?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/frank-jorge-2018-qual-foi-a-influencia-da-morte-do-miranda-neste-disco
Fale sobre sua experiência com o Miranda.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/frank-jorge-2018-fale-sobre-sua-experiencia-com-o-miranda
Quando foi a última vez que você falou com ele?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/frank-jorge-2018-quando-foi-a-ultima-vez-que-voce-falou-com-ele
Qual é o grande legado do Miranda?
O gaúcho Frank Jorge fala sobre seu novo disco, Histórias Excêntricas ou Algum Tipo de Urgência.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/frank-jorge-2018-qual-e-o-grande-legado-do-miranda
Histórias Excêntricas ou Algum Tipo de Urgência, faixa a faixa
Dias depois de realizar um sonho – abrir um show de Paul McCartney -, Frank Jorge trancafiou-se no estúdio com o velho cúmplice Thomas Dreher e pariu uma canção de natal sem necessariamente falar da data festiva. “É uma influência direta das sonoridades que sempre ouvi e gosto muito de bandas de rock dialogando com orquestra: The Beatles, The Zombies, The Jam, Eletric Light Orchestra, dentre outras tantas”, explica o epitômico roqueiro gaúcho, que mostra sua “Vida na Vidade (Allegro ma non Tanto)”, que lança oficialmente nesta segunda-feira pelo selo 180 , em primeira mão para o Trabalho Sujo.
“A tecnologia da informação através da internet e das redes sociais, nos proporciona facilidades de acesso aos conteúdos, assim como, avanços comunicacionais. Os governos relapsos e corruptos sonegam à população boas condições de vida e convivência”, teoriza o eterno líder da Graforréia sobre a música nova. “‘Vida na Vidade (Allegro ma non tanto)’ é uma canção sobre esta equação: seguir vivendo e sendo um ser humano em cidades tensas/ superpovoadas e paradoxalmente, abandonadas.”
Temperada por um cravo bachiano surrupiado por Dreher, a faixa se inspira no compositor barroco como ponto de partida. “O tema predominante, a cidade, traz também minha inquietação sobre como deveria ser a vida de do compositor J.S. Bach nos séculos 17 e 18, que mesmo com adversidades do contexto histórico, nos deixou um legado impressionante de concertos, missas, cantatas…” O apego ao pop em relação ao erudito é influência direta da psicodelia mccartneyana na canção do bardo gaúcho.
Conversei com o papa do rock gaúcho Frank Jorge sobre seu novo disco, Escorrega Mil Vai Três Sobra Sete, que está sendo lançao nesta sexta-feira – um disco conceitualmente de rock que soa propositadamente datado (embora ele discorde) – e aproveitei para conversar sobre a demora para lançar um novo álbum, o que ele anda ouvindo e sobre a morte de Júpiter Maçã, além de pedir para que ele dissecasse o novo disco:
Por que o disco demorou para sair?
Rock gaúcho enquanto conceito
Disco de época?
O que você anda ouvindo?
As pessoas estão menos interessadas por música?
Sobre a morte Júpiter Maçã
A morte de Júpiter influenciou o disco novo?
Show de lançamento?
“Não é Tão Real”
Ouça “Não é Tão Real”
“No Horizonte”
Ouça “No Horizonte”
“Sempre Procurando”
Ouça “Sempre Procurando”
“Mais Além”
Ouça “Mais Além”
“O Viajante”
Ouça “O Viajante”
“Só Distância”
Ouça “Só Distância”
“Nicodemo”
Ouça “Nicodemo”
“Dor e Silêncio”
Ouça “Dor e Silêncio”
“Turma 8”
Ouça “Turma 8”
“Quinze Minutinhos”
Ouça “Quinze Minutinhos”
“Hey Hey”
Ouça “Hey Hey”
“Até o Sol Aparecer”
Ouça “Até o Sol Aparecer”
E o papa do rock gaúcho Frank Jorge lança seu quarto disco solo esta semana – e já disponibilizou online a faixa “Não é Tão Real”, que abre o disco, batizado de Escorrega Mil Vai Três Sobra Sete.
Essa é a capa do disco:
Ele explica o título ao mesmo tempo em que fala do conceito do novo álbum: “Tinha uma expressão meio anos 70, meio hippie no Rio Grande do Sul, que era ‘escorrega mil pra eu comprar um pastel e uma pepsi’… Meus irmãos mais velhos iam a Uruguaiana e diziam que o pessoal falava isto por lá, tipo, ‘consegue uma grana pra um lanche’. O Didi Mocó por vezes fazia uns cálculos malucos nos sketches dos Trapalhões e soava algo como este título, uma frase como uma equação matemática nonsense”, explica. “Nas voltas dos shows, na van, desde tempos da Graforreia, íamos fazer borderô com o cache e eu também usava esta frase e como o disco é mais focado no rock e tem um tom um pouco mais serio de um modo geral, trouxe esta frase que tem certa jocosidade, galhofa, pra fazer um contraponto e gerar possibilidades de interpretação, acionamentos… Curto uns bordões, neologismos… Os outros títulos dos meus discos e da Graforreia têm um pouco deste modus criandi” O disco será lançado nessa sexta, pelo Selo 180.
Retomando o ritmo…
Nicolas Godin – “Orca”
Ornette Coleman – “Lonely Woman”
Luiz Melodia – “Pra Aquietar”
Criolo – “Plano de Voo”
Tulipa Ruiz – “Oldboy”
Hot Chip – “Burning Up”
Quarto Negro – “Ela”
Courtney Barnett – “Small Poppies”
Delgados – “Clarinet”
Spoon – “New York Kiss”
Frank Jorge – “Tempo pra Viver”
Curumin – “Selvage”
Of Montreal – “Gallery Piece”
Mercúrias – “Desse Jeito”
M.I.A. – “Can See Can Do”
Florence & the Machine – “What Kind of Man (Nicolas Jaar Remix)”