Volto a colaborar com a Ilustrada da Folha de S. Paulo depois de cinco anos e publico uma entrevista que fiz em 2018 com o guitarrista do Gang of Four, Andy Gill, morto no início do mês, quando ele falou sobre a abordagem política das letras de sua banda, sobre a nova onda de extrema direita que assola o mundo (“os conservadores estavam preocupados com a ascensão do nacionalismo que poderia tomar seus votos, então resolveram que era melhor abraçar alguma destas filosofias. Não se faz esse tipo de escolha…”), sobre o estado do jornalismo atual e sobre a possibilidade de não conseguir visto para tocar nos EUA devido às letras de seu grupo – dá pra ler a entrevista toda aqui.
O Guia da Folha me convidou para votar nos três melhores shows internacionais que fui este ano em São Paulo – votei no Radiohead, Nick Cave & The Bad Seeds e Roger Waters, nesta ordem -, mas no cômputo geral do júri escolhido (que ainda contava com a Fabiana Batistela, o Thiago Ney, o Rafael Gregório e o Thales de Menezes) deu Nick Cave.
Fui convidado pelo Guia da Folha para escolher quais foram os grandes shows gringos em São Paulo neste ano – só pude escolher as apresentações que aconteceram na cidade, por isso alguns dos meus shows favoritos de 2017 (Aphex Twin e John Cale na Inglaterra, The Who, Nile Rodgers e Grandmaster Flash no Rock in Rio) não entraram na lista. Os três shows – e o pior “show” do ano – que escolhi foram os seguintes:
PJ Harvey, no Teatro Bradesco
“Finalmente o indie rock recebe tratamento de gala.”
Kamasi Washington, no Sesc Pompeia
“Um vulcão free jazz – com os pés no hip hop.”
Acid Mothers Temple, no Sesc Belenzinho
“Vórtice de psicodelia garageira rumo a outra dimensão”.
O pior do ano:
O preço ridiculamente alto de quase todos os shows internacionais e a inacreditável taxa de (in)conveniência, uma forma bem direta de chamar o público de trouxa.
Mais detalhes neste link.
Foi o que apurou a Folha de S. Paulo, na matéria de capa da Ilustrada de hoje, sobre como a crise econômica está afetando a programação do Sesc.
Diante dos números negativos, o Sesc SP decidiu “rever” sua programação, sobretudo atrações estrangeiras, atingidas pela disparada do dólar. Negociações que estavam avançadas, como a da vinda da banda americana de rock Wilco, estão em compasso de espera, segundo a Folha apurou. Oficinas culturais foram canceladas.
Perceba: não quer dizer que eles não vêm mais – e sim que estão em compasso de espera.
Atualiza lá Is Wilco Comingo to Brazil?, vai que…
Neste dia 14 de fevereiro o YouTube completou sua primeira década de existência e eu escrevi uma linha do tempo ressaltando os grandes momentos na história do site e seu impacto em nosso dia a dia pra Ilustrada deste sábado.
Aperte o play
Maior arquivo de vídeos do mundo completa dez anos hoje; lembramos de alguns feitos do YouTube que mudaram nossa relação com a cultura
No começo era só um site em que qualquer um podia subir seu vídeo. Três ex-funcionários do serviço de transferência digital de dinheiro PayPal apostaram no formato que permitia ao usuário divulgar conteúdo sem intermediários, num tempo em que o vídeo on-line era uma lentidão cheia de engasgos.
Quando, no dia 14 de fevereiro de 2005, Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim ativaram o domínio YouTube.com, eles não podiam imaginar que no final do ano seguinte estariam sendo comprados pelo Google por US$ 1,65 bilhão e teriam sua criação na capa da revista “Time”.
O fato é que o YouTube mudou completamente a nossa relação com a internet graças à popularização da comunicação em vídeo. Se antes ela era oligopólio de poucos grupos de comunicação, emissoras de TV, produtoras de conteúdo e estúdios de cinema, a partir da explosão do site o mundo redefiniu o modo como consome e produz vídeos.
Virais intencionais ou não, trailers e músicas que estreiam longe dos cinemas, das TVs ou das lojas de disco, anúncios políticos, diferentes formas de se contar uma história, protestos, esquetes de humor: o YouTube tornou-se um dos canais mais assistidos do mundo todo, nos acostumou a consumir conteúdo via streaming em vez de download e mudou completamente o planeta nos últimos dez anos.
Fonte interminável de inspiração, o blog Letters of Note (sempre comentado aqui no Trabalho Sujo) virou livro e foi lançado no Brasil. Escrevi sobre o belíssimo Cartas Extraordinárias – A Correspondência Inesquecível de Pessoas Notáveis do inglês Shaun Usher para a Ilustrada deste sábado. E a imagem que ilustra esse post é uma carta que Charles Schulz mandou para uma fã irritada com uma nova personagem chamava Charlotte Brown, que era o oposto do protagonista da tira Peanuts, Charlie Brown. Schulz concordou com a morte, não antes sem responsabilizar sua leitora pelo feito, ilustrado pelo pai do Snoopy como um machado da cabeça da ex-personagem.
Livro reúne pérolas emocionantes do universo das cartas
Versão em papel do blog Letters of Note, compilação traz correspondência enviada por pessoas notáveis
Um jovem chamado Leonardo oferece seus préstimos para o governador de Milão. Para isso, cita suas aptidões numa lista, sendo que só o décimo item comenta suas inclinações artísticas.
O líder de um movimento pela independência de um país asiático escreve para o líder de um país europeu, pedindo para que não vá além com suas intenções imperialistas.
O mundo digital ilude com a ideia da hiperconexão. Não é que não estejamos cada vez mais interligados graças à troca compulsiva de mensagens eletrônicas de toda espécie.
Mas nos esquecemos que, antes da internet, as pessoas também viviam conectadas.
E não deixa de ser irônico que um site tenha que virar livro para reforçar a importância das cartas. “Cartas Extraordinárias – A Correspondência Inesquecível de Pessoas Notáveis” é a versão impressa do blog “Letters of Note”, criado pelo inglês Shaun Usher.
Desde 2009, ele reúne pérolas emocionantes do universo da correspondência. A maioria delas é escrita por personalidades históricas de toda a sorte –políticos, artistas, cientistas, escritores, atores– em diferentes períodos de suas vidas, além de relatos anônimos de cortar o coração.
Dez dólares
Não faltam momentos históricos. Lemos um jovem Fidel Castro, aos 12 anos, em 1940, pedindo, em inglês, uma nota de dez dólares ao recém-reeleito presidente norte-americano Franklin Roosevelt.
Duas cartas são endereçadas a Marlon Brando: numa delas, de 1957, o escritor Jack Kerouac suplica para que o ator faça parte da adaptação de seu recém-lançado livro “Pé na Estrada”. Noutra, de 1970, Mario Puzo faz pedido semelhante para a versão cinematográfica de “O Poderoso Chefão”.
Há relatos tocantes, como uma carta de um ex-escravo para seu antigo dono. Outros hilários, como o do gerente de produto da Sopa Campbell a Andy Warhol, comentando o uso das latas da empresa em suas obras. Ele lhe oferece caixas com o enlatado.
Alguns outros são repugnantes, como a carta em que Jack, o Estripador, se apresenta à polícia londrina enviando um pedaço de uma de suas vítimas. Outros curiosos, como o de uma criança que sugere ao presidente norte-americano Abraham Lincoln que deixe a barba crescer.
Algumas cartas não são manuscritas. Um telegrama avisa aos militares na base de Pearl Harbor que as sirenes que estavam ouvindo não eram um teste –e sim o ataque que motivou a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial.
“Cartas Extraordinárias”, que traz fac-símile da maioria das 125 epístolas reunidas, é prazer tanto para ser folheado e lido casualmente quanto para ser devorado.
E entre as inúmeras surpresas pelo caminho, descobrimos que foi graças à uma carta que o governador de Milão contratou Leonardo da Vinci em 1483 e, dez anos depois, lhe encomendou a “Última Ceia”.
E que Gandhi tentou, por meio de uma carta, fazer com que Hitler desistisse de dominar a Europa e não provocasse a Segunda Guerra Mundial. “Pelo bem da humanidade.”
CARTAS EXTRAORDINÁRIAS
Organização Shaun Usher
Tradução Hildegard Feist
Editora Companhia das Letras
Quanto R$ 99,90
O autor Mario Puzo escreve ao ator Marlon Brando, 1970.
Caro sr. Brando, Escrevi um livro chamado “O Poderoso Chefão” que teve algum sucesso e acho que o senhor é o único que pode fazer o papel Chefão com a força e a ironia (o livro é um comentário irônico sobre a sociedade americana) que o papel exige. Espero que o senhor leia o livro e goste dele o suficiente para usar todo o seu prestígio para conseguir o papel. Com essa finalidade estou escrevendo para a Paramount; pode ser que ajude. Sei que é muita presunção de minha parte, mas o mínimo que eu posso fazer pelo livro é tentar. Acho que o senhor seria fantástico. Não preciso dizer que admiro sua arte. Mario Puzo Um amigo comum, Jeff Brown, me deu seu endereço.
Carta enviada pelo gerente de produto das sopa Campbell ao artista Andy Warhol, em 1964.
Prezado sr. Warhol: // Venho acompanhando sua carreira há algum tempo. Sua obra tem despertado grande interesse aqui na Campbell Soup Company por motivos óbvios. Já tive a esperança de adquirir um de seus trabalhos com o rótulo de Campbell Soup, porém receio que seja caro demais para mim. Quero dizer-lhe, no entanto, que admiramos sua obra e que eu soube que o senhor gosta de sopa de tomate. Tomo a liberdade de enviar-lhe algumas caixas de nossa sopa de tomate, que serão entregues nesse endereço. Desejamos-lhe constante sucesso e boa sorte. Cordialmente, William P. MacFarland // Gerente de produto
“Era a concepção deles, um jornal satírico onde o exagero era parte de sua ideia. Se você diz que eles exageram, diz que eles não têm razão de ser. Estavam convencidos de que a liberdade de expressão é atacar de Cristo a Maomé. Era a concepção de liberdade deles. Pode-se achar isso babaca ou bom. Mas é parte do jogo. Uma sociedade livre é justamente aquela que suporta o excesso.”
Daniel Cohn-Bendit, um dos grandes nomes do maio de 68 francês, comenta o tipo de humor anárquico defendido pelo jornal Charlie Hebdo, em entrevista ao Rodrigo Vizeu, na Folha. A foto que ilustra o post é do Facebook do Daniel e o retrata durante sua visita ao Brasil no ano passado.
Voltei a colaborar com a Folha e pra começar fiz essa matéria pra revista Sãopaulo sobre festas com cara de bazar e vice-versa.
Festas ou bazar?
Designers, estilistas e quituteiros vendem seus produtos com drinques, DJs, bandas e atrações de dia e ao ar livre
Há algo no ar de São Paulo -e não é poluição- que tem feito os moradores da cidade saírem de casa.
Desde as passeatas anteriores aos protestos de junho de 2013 às recentes e polêmicas ciclofaixas, há um ímpeto para ir às ruas em vez de ficar preso em shoppings, engarrafamentos e condomínios fechados, como rezava o antigo clichê paulistano.
O novo passo nessa direção ganhou força com o passar do ano e é a cara desta primavera: festas com jeito de bazar ou bazares com jeito de festa.
O movimento reúne duas tendências já estabelecidas. As festas diurnas deixaram de ser continuações de noites viradas e ganharam contornos com menos cara de balada. Reúnem um público mais velho, mas disposto a sair de casa para dançar -embora não tão tarde.
Os exemplos vão desde a pioneira Green Sunset, no MIS (Museu da Imagem e do Som), aos encontros na finada pracinha da loja Tag and Juice, na Vila Madalena, região oeste.
A outra tendência é a reunião de produtores locais para vender itens artesanais, veganos e vintage em festas-bazares e eventos de maior porte, a exemplo das feiras de vinil, dos encontros gastronômicos e da Feira Plana, de fanzines.
A história do Jardim Secreto, uma dessas novas festas, reflete bem essa fusão. A designer Claudia Kievel, 26, já tinha uma festa, a Uuh Baby!, desde 2012, e a garçonete Gladys Maria, 27, tocava o Bazar Dançante desde 2011.
“Partimos do princípio de que chega de só ter balada como diversão. Queríamos eventos diurnos, ao ar livre, verde, e espaço para novas ideias também de amigos e artistas que admiramos”, resume Claudia.
A próxima edição do Jardim Secreto está marcada para dezembro, em local a ser definido.
Outro evento, o YardSale, nasceu de uma “venda de quintal” -como na tradução do nome para o português-, em março do ano passado. Tamali Reda, 27, que trabalha com cenografia, queria se desfazer de coisas de seu armário.
Ela juntou amigos a fim de fazer o mesmo e a primeira edição deu tão certo que tornou-se regular: ocorre a cada dois ou quatro meses. “Agora chamo designers novos, com propostas diferentes, além de reservar espaço para a arte: fanzines, quadrinhos, tipografia, gravuras.”
A YardSale, que, para Tamali, “é um grande festão”, reúne bazar, DJs, banda e comida (“sempre tentar trazer aquela que tenha cara de comidinha de vó, sabe?”), é itinerante e já passou por vários lugares, como hostel, bar, boate e até “um jardim absurdo do casarão da avó de uma amiga”. A próxima edição está marcada para sábado (27), no restaurante Lorena 1989.
O Bazar Pop Plus Size, da jornalista Flavia Durante, vai além das compras e diversão: “É um evento para celebrar a diversidade e incluir quem sempre foi excluída do mercado da moda, onde é possível comprar roupas, bater papo, fechar negócios, degustar comidinhas, beber e ouvir música, sem ninguém te olhar estranho por você não vestir 38.”
A festa traz marcas e gente de fora de São Paulo e sua edição mais recente aconteceu no fim de semana passado. A próxima será em dezembro.
Uma das inspirações para o Bazar Pop Plus Size é o Mercado Mundo Mix, nome de peso do mercado alternativo dos anos 1990 que ressurge. O evento estará de volta nos dias 8 e 9 de novembro, gratuitamente, no parque da Água Branca, região oeste, com periodicidade mensal. No último domingo (14), a Casa das Caldeiras, também na Água Branca, abrigou a terceira edição da festa anual C.R.I.A., sigla para Coletivo de Realização e Integração Artística, organizada pela Freak Produtora e Estúdio, de Antonio Carvalho, 26, Gustavo Prandini, 25, e Antonio Pauliello, 25, integrantes da banda Mel Azul e da festa Foggiorno.
O evento, gratuito, pela primeira vez abriu suas portas para vendas de produtores locais, inspirados pela festa brasiliense PicniK, com quem dividiram a edição deste ano. Segundo Carvalho, a festa reuniu 1.800 pessoas.
“A ideia é fortalecer a economia criativa local, aproximando os pequenos negócios da área gastronômica, produção de moda e artesanato aos novos artistas independentes, para criar um público consumidor”, diz o organizador Antonio Carvalho.
Como no Brooklyn
Já a novata Feirinha Pantasma, criada pela jornalista Taís Toti, surgiu do sucesso da Feira Plana, de fanzines. “Curto esse lance do Brooklyn [distrito de Nova York], de incentivar a produção artesanal. Não entendia porque isso não pegava aqui. Gosto de saber quem fez as coisas que eu estou comprando, me sinto bem com isso”, afirma Taís, que organiza a feirinha no sobrado do Neu, na Água Branca.
Apesar de o foco ser a produção local, ela não discorda que a feirinha é uma festa, “já que é um evento para que as pessoas possam passar um dia agradável, curtindo as ‘good vibes’. Tem DJ e bebida, então as pessoas se animam”.
“Acho que a tendência são espaços com lojas, restaurantes, cafés e música: tudo misturado”, constata Inara Corrêa, organizadora do Mercado das Madalenas, que ocorre três vezes ao ano na Vila Madalena e teve uma edição no fim de semana passado. A próxima será em dezembro.
Além das compras, há a retomada da rua como espaço de convívio. Carvalho, do C.R.I.A., atribui isso à Virada Cultural. “Abriu precedentes.”
“Acredito que tem aumentado a sensação de pertencimento das pessoas em relação à cidade”, continua Amauri Terto, da festa-exposição-bazar Escambau, que acontece no Puxadinho da Praça, na Vila Madalena.
“Não tenho mais fôlego para ficar batendo cabelo até as 6h e voltar para a casa de metrô”, resume Tamali, da festa YardSale. “Tem rolado um ‘êxodo baladesco’. Parece que existe uma vontade coletiva de aproveitar a cidade de dia.”
Mercado Mundo Mix
Hit nos anos 1990, “o Mercado Mundo Mix nunca parou”, conta o dono da marca, Beto Lago. “De 2002 a 2012, ele ocorreu anualmente em Portugal.” No Brasil, teve breves aparições na Virada Cultural de São Paulo e no Festival de Inverno de Bonito (MS). A temporada portuguesa, no castelo de São Jorge, um dos pontos turísticos de Lisboa, ampliou os horizontes do organizador. “Quero fazer o mesmo modelo que organizamos na Europa: lugares públicos e com entrada gratuita.” Daí a escolha do parque da Água Branca para inaugurar essa nova etapa. Lago aponta a internet como um fator importante para a reformulação. “As marcas que se apresentaram ao mundo no boom do consumo de moda pela internet hoje sentem necessidade de sair do mundo on-line para se aproximar do público.”
Agenda primaveril
Setembro
YardSale (dia 27): www.facebook.com/yardsalesp
Brooklin Coletivo (dias 27 e 28): www.facebook.com/brooklincoletivo
Outubro
Feirinha Pantasma (dia 18): www.facebook.com/neuclubsp
Novembro
Mercado Mundo Mix (dias 8 e 9): www.facebook.com/pages/Mercado-Mundo-Mix/481991788604564
Dezembro
Jardim Secreto (dias 6 e 7): www.facebook.com/jsecreto
Bazar Pop Plus Size (a definir): www.facebook.com/bazarpopplussize
O beijaço nos quadrinhos da Folha ontem foi um protesto contra a atuação do deputado Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, que não parou no jornal e continuou no Facebook com a participação de quem quisesse mandar sua contribuição. Tem muito mais lá.
Bem boa a capa do Ilustríssima dessa semana, em que o compadre Cardoso vê-se obrigado a passar uma semana desconectado. Justo ele…
“Minha droga favorita sempre foi o e-mail. Não sei precisar quantos já escrevi no total, mas só de 2004 pra cá foram mais de 300 mil. Estimo que na época do “CardosOnline”, fanzine por e-mail (!) que editei entre 1998 e 2001, deve ter sido muito mais.
Eu passava de 8 a 10 horas por dia apenas lendo e escrevendo e-mails. A média caiu um pouco nos últimos anos, mas ainda hoje passo mais tempo lendo e respondendo e-mails do que fazendo qualquer outra coisa quando estou on-line. Até porque, no fundo, é como diz aquela gostosa canção cheia do groove sensual que exsuda dos muitos lábios de Janet Jackson: “You don’t know what you’ve got ‘till it’s gone” (algo como “você só sabe o que tem em mãos quando a coisa acaba”).
Uma semana sem internet. Tentei me lembrar das várias vezes em que isso devia ter me acontecido, mas não consegui. Muitos anos atrás, quando ainda existia uma separação bem visível entre os mundos on-line e off-line, era mais possível.
Internet só no computador, conexão discada, planos de horas (eu tinha 30 por mês). Atualmente, com internet sem limites no celular, no videogame, nos parques, restaurantes e até na geladeira, difícil é não estar conectado.
Quer dizer, difícil pra você. Pra mim beira o impossível.
A íntegra do texto segue no site da Folha e a foto que ilustra o post é a foto que o Cardoso tirou, via Instagram, da ilustração que o Laerte fez para seu texto – e que não sei porquê não está na versão online do caderno. Vacilo, ajeitem aê.