Já acompanhava a carreira de Kate Tempest, mas do ponto de vista dos discos, tanto que elenquei seu Everybody Down como um dos meus discos favoritos de 2014. Mas seu trabalho vai muito além da música – ela é poeta, dramaturga e escritora, tem o completo domínio da palavra, seja escrita ou falada. Pude acompanhá-a de perto durante sua primeira vinda ao Brasil, primeiro durante a Flip, em que trabalhei pela terceira vez consecutiva cuidando das mídias sociais do evento. Lá pude vê-la em três momentos: o primeiro deles no sarau de abertura da festa literária, quando ela recitou seu épico “Brand New Ancients”, após ser apresentada pela mestra de cerimônias Roberta Estrela D’Alva:
Kate Tempest – “Brand New Ancients”
Depois foi quando ela participou da mesa O Palco é a Página, ao lado do poeta carioca Ramon Nunes Mello (que segurou bem a onda do lado dela, uma grata surpresa). Lá, Kate recitou, de cabeça, o início de seu romance, lançado no Brasil com o título de Os Tijolos nas Paredes das Casas, lançado pela editora Leya:
Kate Tempest – “The Bricks That Built the Houses (introduction)”
E depois emendou seu incrível poema “Hold Your Own”, que batiza uma coletânea de suas poesias mas nunca foi publicado:
Kate Tempest – “Hold Your Own”
A terceira vez foi durante a mesa de encerramento da Flip, Livro de Cabeceira, em que ela leu um trecho do romance Murphy, do irlandês Samuel Beckett. Peguei pela metade, como vocês podem ver:
Kate Tempest lê Murphy, de Samuel Beckett
Encontrei com ela duas outras vezes, uma em Paraty, à noite, entre uma festa e outra, mas preferi deixá-la à vontade. E depois no restaurante Bica do Curió, em Taubaté, quando não resisti ao papparazzismo para registrar o encontro improvável dela e do norueguês Karl Ove Knausgård no restaurante de beira de estrada mais Wes Anderson que conheço:
Tive que comentar sobre a inusitada foto quando a encontrei pessoalmente pela primeira vez, na quarta vez que pude vê-la ao vivo, quando fiz conversei com ela na livraria Saraiva do Shopping Pátio Paulista, durante o lançamento do seu livro em São Paulo. Na conversa, ela recitou outras duas vezes. Na primeira delas, ela recitou um poema sem nome, que fez em homenagem à importância do hip hop para sua descoberta como artista:
Kate Tempest – “Hip Hop”
E mais uma vez ela recitou o início de seu romance, que é tão envolvente e cativante quanto suas performances, vale muito à pena ler:
Kate Tempest – “The Bricks That Built the Houses (introduction)”
Dali ela ia pra Bahia, fugir das pessoas, depois de quatro meses incessantes de turnê. Já tinha composto seu próximo disco, que iria lançar logo depois das férias e lamentou não ter vindo ao Brasil fazer shows devido à pressa, mas amou o país e disse que quer voltar. Vale à pena acompanhá-la.
Converso nessa segunda-feira com um dos grandes destaques desta edição da Flip 2016, a jovem rapper, poeta, romancista e dramaturga inglesa Kate Tempest, em uma das atrações do pós-Flip. O encontro acontece na Livraria Saraiva do Shopping Paulista, às 19h, em São Paulo, e é só chegar. Mais informações no aqui. Sente o drama:
Essa foto incrível aí em cima é do compadre Walter Craveiro.
Diminuo a marcha por alguns dias para escapulir para Paraty, na minha terceira Flip. Escrevi um guia sobre o evento para o Itaú, patrocinador da festa, que pode ser baixado gratuitamente na Amazon (meu segundo livro, rá!). Durante o evento, cuido das mídias sociais da festa pelo terceiro ano consecutivo – acompanhe tudo pelo site oficial, pelo Facebook, Twitter, Instagram e YouTube. Segue aê! ; )
Conversei com o Paulo Werneck sobre seu terceiro ano consecutivo como curador da Flip logo após a coletiva de anúncio da programação desse ano (que terá Irvine Welsh, Karl Ove Knausgård e Kate Tempest, entre outros) e ele fez um balanço do rumo de suas escolhas, para aproximar a festa literária de Paraty a discussões mais contemporâneas. Esta é a primeira de uma série de matérias sobre a Flip que estarei fazendo para as redes sociais do Itaú, patrocinador do evento.
Uma Flip voltada para o século 21
Moderna, feminina e com espaço aberto ao debate, a Festa Literária de Paraty se transforma em sua 14ª edição
Com a celebração da obra da poetisa carioca Ana Cristina César, homenageada da Festa Literária de Paraty (Flip) deste ano, a terceira curadoria consecutiva feita por Paulo Werneck consagra um olhar atual sobre a produção literária brasileira.
Esta fuga para o século 21 começou com a escolha de um artista contemporâneo (Millôr Fernandes, em 2014, o primeiro homenageado a ter participado de uma Flip), de um novo olhar sobre a obra de um autor clássico (Mario de Andrade, no ano passado, quando sua homossexualidade foi trazida à pauta) e agora a consagração de uma mulher (a segunda homenageada na história da Flip, a primeira foi Clarice Lispector, em 2005), que navega pelas águas da poesia.
O anúncio da programação deste ano aconteceu nesta terça, três de maio, no Museu do Futebol, em São Paulo, e a escolha de uma mulher como homenageada também contribuiu para o peso feminino no evento — dos 39 convidados, 17 são mulheres.
“Tem esse movimento desde o Millôr, de fato”, concorda Werneck, em entrevista exclusiva logo após a coletiva de apresentação. “Mas, realmente, depois de explorar os grandes autores do século 20, a Flip se volta para um tipo de autor menos pertencente ao panteão literário. A Ana Cristina César sem dúvida era consagrada, mas talvez ela não estivesse neste panteão. E isso é muito interessante pois consegue colocar em questão o valor da obra de um escritor. É interessante vê-la lado a lado com um Drummond, com um Manuel Bandeira e ver o que significa isso, quais são as diferenças, quais são as semelhanças”.
Entre as mulheres convidadas da 14ª edição da festa, que acontece em Paraty, no Rio de Janeiro, entre os dias 29 de junho e 3 de julho, estão nomes de diferentes abordagens e estaturas. Há desde a vencedora do Nobel de Literatura do ano passado, a bielorrussa Svetlana Aleksiévitch à neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, passando pela inglesa pop Kate Tempest, a historiadora britânica Helen Macdonald, a cronista peruana Gabriela Wierner e a ensaísta brasileira Heloísa Buarque de Hollanda. A curadoria também provoca questões atuais ao trazer temas como jornalismo, ciência, sexo, urbanidade e o cérebro humano.
“Você pegou um ponto importante”, continua o curador, “de fato está trazemos mais para esse momento atual e trazendo novas sensibilidades literárias. A gente não tem compromisso com uma cena cultural do passado. E quando você vai homenagear o Graciliano Ramos você tá falando dos anos 1930, quando eram poucas representantes mulheres, como a Raquel de Queiroz, a Cecília Meirelles. O desafio é fazer essas homenagens e trazer para um contexto contemporâneo”.
Além das mulheres, os homens que marcam presença no evento também são de renome, como o escocês Irvine Welsh (autor do livro pop Trainspotting, que deu origem ao filme), o norueguês Karl Ove Knausgård (da série Minha Luta), o brasilianista Kenneth Maxwell, o jornalista Caco Barcellos e o artista plástico Guto Lacaz, que, como grande parte dos nomes da edição deste ano, também trazem as discussões do evento para este século.
A programação completa pode ser vista no site da Flip, que está de cara nova. Acesse: www.flip.org.br