Tendo idéias…
Pavement – “Grounded”
Chico Buarque – “Vai Trabalhar Vagabundo”
Fiona Apple – “Relay”
Mombojó – “Discurso Burocrático” / “A Missa”
Edgar – “O Amor Está Preso”
Velvet Underground – “The Murder Mystery”
Raul Seixas – “Tu És O MDC Da Minha Vida”
Serge Gainsbourg – “Je Suis Venu Te Dire Que Je M’En Vais”
Beatles – “Blue Jay Way”
Cure – “Lullaby”
Astromato – “Não Sei Jogar”
Happy Mondays – “Loose Fit”
Chico Science & Nação Zumbi – “Criança de Domingo”
Cidadão Instigado – “Dói”
Carole King – “Way Over Yonder”
Pink Floyd – “Wots … Uh The Deal”
“Pegue os alicates”, Fiona Apple canta o refrão da faixa que batiza seu novo álbum como se estivesse capturando a sensação de pressão interna e desespero em relação ao futuro em 2020, “estou aqui há muito tempo”. Ela não está falando da quarentena ou da pandemia – pelo menos não diretamente. Em Fetch the Bolt Cutters ela segue seu papel que mistura a trovadora e a cronista, passando por aquela brecha entre a divindade etérea de Tori Amos, Björk e Kate Bush e a mundanidade rock Patti Smith, PJ Harvey e Cat Power em que poucas – Sharon Van Etten, St. Vincent, Angel Olsen, Lykke Li e Letrux, só pra citar algumas – conseguiram se esgueirar, e segue cantando sobre relações conturbadas, que podem ser, ao mesmo tempo, entre música e celebridade, arte e mercado ou sobre casos e casamentos que tomaram rumos inesperados – muitas vezes drásticos.
Mas ao apressar o lançamento de um disco que vinha sendo prometido há oito anos no meio da quarentena, ela entendeu que havia captado a essência dessa angústia ambígua que marca este 2020 confinado. São canções cujas melodias evidentemente nasceram ao piano, mas no estúdio renasceram percussivas, tornando crucial o ritmo das batidas – sintéticas ou analógicas – para o andamento de todo o disco, que também conversa com o canto cada vez mais falado da cantora nova-iorquina. A estranha mas familiar proximidade de Fetch the Bolt Cutters com o rap torna o disco ainda mais incisivo, mesmo nos momentos mais sutis, embora estes sejam poucos. Quase sempre Fiona canta com um riso no canto da boca e sangue nos olhos, pronta para virar o jogo ao menor deslize do adversário, seja quem ele for: “Pode me chutar embaixo da mesa o quanto quiser, eu não vou me calar”, vocifera em “Under the Table” para depois lamentar à distância “você e eu seremos como alguns cosmonautas, exceto que com muito mais gravidade do que quando começamos” em “Cosmonauts”. E os versos centrais de “Relay” e “For Her” (“O mal é um esporte de revezamento, quando aquele que está queimado volta para passar a tocha” e “Como você sabe que deveria saber, mas não sabe onde é”) parecem comentar especificamente a trágica política deste ano bizarro, acertando em cheio nas caricaturas que deixamos tomar conta de nossas vidas como se mirasse em nós mesmos, sem aliviar nada pra ninguém, enfiando o dedo na cara e na ferida ao mesmo tempo. Um disco tão maravilhoso quanto, desculpem o clichê, necessário.
Não pode parar.
Adamski + Seal – “Killer”
Paramore – “Hard Times”
!!! – “Heart of Hearts”
Phoenix – “If I Ever Feel Better”
Duran Duran – “Hungry Like the Wolf”
The Sound – “I Can’t Escape Myself”
Fiona Apple – “Criminal”
Moraes Moreira – “Desabafo e Desafio”
Instituto + Sabotage + Nação Zumbi + Otto + Sombra – “Alto Zé do Pinho”
Kaytranada + Syd – “You’re The One”
Rincon Sapiencia – “Ponta de Lanca (Verso Livre)”
Skylar Spence – “Can’t You See”
Babe Ruth – “The Mexican”
Parliament – “Up for the Down Stroke”
Patti Labelle – “Lady Marmalade”
Sandra Sá – “Olhos Coloridos”
Jorge Ben – “África Brasil (Zumbi)”
Não sou chegado nela (mais respeito do que gosto), mas sei que tem uma galera que curte – e como tão esperando há um tempão pelo novo disco da Fiona Apple, achei por bem dizer que ele já está em streaming no site da NPR.