Cine Ensaio: Esse tal de “pós-horror”

Uma nova fase de ouro do cinema de horror fez surgir uma percepção que só recentemente a produção destes filmes sempre usa o sobrenatural, o medo e a tensão como forma de fazer referências sócio-políticas à realidade que habitamos – e a isso deram o rótulo de “pós-horror”. Mas eu e André Graciotti discordamos deste rótulo e nesta edição do Cine Ensaio falamos sobre como o horror sempre fez isso desde o início do cinema e tentamos decifrar o que realmente há de novo nesta nova safra de filmes, puxando, como gancho, o ótimo O Que Ficou Para Trás, que estreou no Netflix no final do ano.

Cine Ensaio: O reconhecimento que falta ao terror

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Um dos marcos iniciais do cinema, o cinema de terror sempre esteve renegado à segunda divisão da sétima arte, mesmo com clássicos imbatíveis, sucessos de crítica e de público. Eu e André Graciotti, no Cine Ensaio desta semana, debruçamo-nos sobre a história desta tradição para honrar seus principais marcos e criticar os desvios criados para não se celebrar este estilo como o que ele realmente é: um dos principais gêneros da história do cinema.

A Morte do Demônio virou seriado

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Bruce Campbell volta a reviver o clássico sobrevivente Ash, protagonista dos filmes que lançaram a carreira de Sam Raimi, a trilogia iniciada no clássico do horror A Morte do Demônio. Ash x Evil Dead é uma série criada por Raimi para o canal Starz e a primeira temporada terá dez capítulos, começando a partir do dia das bruxas, dia 31 de outubro. E se o clima gore lançado pelo filme original hoje é rotina na televisão, pelo visto a aposta da nova série é no humor infame e explícito, característica das duas continuações de Evil Dead, como vemos no trailer abaixo.

O impacto cultural de O Exorcista

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Um dos grandes filmes de terror de todos os tempos, O Exorcista que William Friedkin lançou em 1973 também foi um dos grandes campeões de bilheteria da história, dando origem a filas gigantescas formadas por pessoas que passavam horas na fila para abandonar as sessões de cinema pela metade, assustadas ou com nojo. Esse pequeno curta, desenterrado pelo AV Club reúne algumas reações do público norte-americano na época do lançamento.

Um documentário de terror do mesmo diretor de Quarto 237

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O diretor Rodney Ascher fez fama contando as múltiplas teorias a respeito do filme O Iluminado, de Stanley Kubrick, no documentário Quarto 237. Em seu segundo filme, The Nightmare, ele continua em dois territórios que abordou em sua produção anterior: o documentário e o horror. Desta vez o tema do filme é a paralisia no sono, um mal que trava todos os músculos da pessoa que um pouco antes de dormir ou de acordar ao mesmo tempo em que lhe aflige com a consciência dos sonhos: neste caso, pesadelos.

O melhor é que dizem que o filme é assustador ao evocar a sensação que aborda nos próprios espectadores.

A volta do Goblin

Goblin

Fãs de filme de terror e de rock progressivo são entidades quase paralelas que se encontram em raros momentos – um deles está na existência da banda italiana Goblin, que já tinha uma carreira estabelecida em seu país quando começou a aceitar serviços de um certo diretor que a fizeram atingir um novo público, além de influenciar diretamente na evolução de seu som. O Goblin era a banda favorita do mestre Dario Argento, que a convidou para fazer a trilha sonora de vários de seus clássicos (como Suspiria, Profondo Rosso e Tenebre) e mostrou um caminho sonoro que a banda ainda não havia cogitado, ao propor-lhes que instigasse o medo e a paranoia através de suas músicas.

O grupo sobrevive até hoje como cover de si mesmo como três bandas com diferentes formações: o New Goblin contava com o tecladista Claudio Simonetti e o guitarrista Massimo Morante, mas brigas internas fizeram o tecladista montar seu próprio Simonetti’s Goblin, enquanto a cozinha do Goblin original (o baxista Fabio Pignatelli e o baterista Agostino Marangolo) seguiam como Goblin Rebirth. Este grupo agora anunciou seu primeiro disco de composições próprias, batizado com seu próprio nome e com lançamento previsto para o fim de junho. Abaixo, uma amostra do que vem por aí.

Um novo Poltergeist

poltergeist

Alguém ainda aguenta outro remake de um clássico de terror? Se o remake for feito por um dos caras que mudou a cara do cinema de horror como a gente conhece – como é o caso de Sam Raimi, na batuta desse novo filme -, tá valendo.

Mas fico com a impressão de que esses trailers novo contam tudo…

Franz “gore” Ferdinand

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Bem bom esse clipe novo do Franz, feito como se fosse um filme de terror dos anos 70 (não assista no trabalho, a não ser que você seja o cara que curte vídeos nojentos do escritório):

O trailer original de Carrie – A Estranha

Outro dia eu reclamei que o teaser do remake de Carrie – A Estranha mostrava o fim do filme, mas o trailer do primeiro filme, do Brian De Palma, já entregava o ouro, olha só aí embaixo:

 

O Iluminado, por Kiko Dinucci

E já que o papo tá no Kubrick, vocês conhecem o blog do Kiko Dinucci, o Olho Derramado, em que ele fala um monte sobre cinema? Olha ele falando sobre O Iluminado:

Sempre que vou para Recife, dou um jeito de passar no Cine São Luiz, situado na rua da Aurora, Centro. O antigo cinema foi comprado e reformado pela prefeitura, sua arquitetura original foi mantida. Assisti, na primeira visita a essa sala, ao filme pernambucano A Filha do Advogado, com música ao vivo, executada por Arrigo Barnabé, durante a Mostra de Cinema Silencioso. Voltei à sala novamente durante a VI Janela Internacional de Cinema do Recife. Sem saber da programação, fui informado sobre uma retrospectiva da obra de Stanley Kubrick. O filme da noite seria uma cópia devidamente restaurada de The Shining (O Iluminado). Comprei o ingresso duas horas antes, corri até o Centro Antigo para beber um tradicional “maltado cubano” bem gelado e retornei à sala. Costumo dizer às pessoas que a sala do Cine São Luiz, com seus vitrais laterais, é tão bonita e mágica que até assistir a tela em branco já é um evento. Eu poderia ficar horas naquela sala, frente à tela em branco. Durante a sessão lotada, tive uma leitura do filme inédita para mim.

Além de todo terror presente em O Iluminado, há uma trajetória marginal do personagem Jack Torrance, interpretado por Jack Nicholson. Esse trajeto, talvez, passe despercebido para a maioria dos espectadores. Vou tentar reproduzir aqui a reflexão que tive naquele espaço lúdico chamado Cine São Luiz.

Continua lá no blog dele.