Tudo Tanto #007: Os clássicos do Radiola Urbana

o-terno-loki-2014

Falei do projeto do site Radiola Urbana de recriar ao vivo discos clássicos com bandas novas – que ano passado rendeu noites incríveis como o Emicida celebrando Cartola e O Terno reverenciando Arnaldo Baptista – na minha coluna Tudo Tanto na revista Caros Amigos do mês passado.

Clássicos revisitados
A iniciativa do site Radiola Urbana de reunir novos artistas para tocar discos históricos chega ao terceiro ano rendendo ótimos frutos

Há três anos um site paulistano vem desenhando um panorama de discos clássicos reinterpretados por nomes da nova música brasileira que já pode ser considerado histórico. Um programa sem nome definido, pois o mesmo vai mudando de acordo com o ano celebrado. Desde 2012 o site Radiola Urbana, tocado pelos amigos Ramiro Zwetsch e Filipe Luna, volta 40 anos no tempo para homenagear álbuns históricos de artistas célebres, negociando repertório e arranjos com alguns dos maiores nomes da música brasileira deste século.

A ideia do Radiola Urbana começou em 2012 como uma consagração de uma tendência recente que vinha valorizando o ano de 1972 como um dos grandes anos da história do disco, pareando com outros anos clássicos como 1967, 1969, 1977 e 1991. Assim, o site propôs celebrar discos daquele ano no projeto 72 Rotações, que aconteceu no segundo semestre daquele ano, em shows gratuitos no no Centro Cultural da Juventude, na Vila Nova Cachoerinha. Entre os primeiros artistas estavam Bruno Morais (para cantar o mágico Sonhos e Memórias, do Erasmo Carlos), Romulo Fróes (que revisitou Transa de Caetano Veloso), Rodrigo Campos (que se arriscou no clássico funk Superfly, de Curtis Mayfield) e Curumin ao lado da banda Rockers Control (para recriar a trilha sonora de The Harder They Come, de Jimmy Cliff).

No ano seguinte o show foi transposto para o Sesc Santana e subiu um degrau no escalão dos artistas. Era a vez de Karina Buhr, Céu, Cidadão Instigado e Fred Zeroquatro (vocalista do grupo Mundo Livre S/A) homenagearem discos de 1973. Karina aventurou-se pelo primeiro disco do Secos & Molhados, o Cidadão Instigado se desafiou a tocar o Dark Side of the Moon do Pink Floyd, Céu foi convocada para homenagear o primeiro disco de sucesso de Bob Marley, Catch a Fire, e Fred celebrou o homônimo disco de estreia de Nelson Cavaquinho. A edição de 2013 teve um efeito colateral interessante na carreira de três dos artistas escolhidos: tanto Céu, quanto Cidadão Instigado e Karina Buhr passaram a oferecer os shows do evento como alternativa para tocar em lugares que nunca haviam tocado. Ao sair de uma semana na zona norte de São Paulo para várias apresentações espalhadas pelo Brasil, o projeto garantia seu principal intuito: fazer que o público dos novos artistas conhecessem os discos clássicos e os fãs dos álbuns homenageados descobrisse os novos nomes da cena brasileira deste século.

A edição do ano passado aconteceu no calar de dezembro, novamente no Sesc Santana, e mais uma vez surpreendeu. Os homenageados desta vez eram apenas discos brasileiros, todos clássicos absolutos de 1974: o primeiro disco solo do mutante Arnaldo Baptista (Lóki?), a estreia em disco de Cartola, o encontro de Elis Regina com Tom Jobim e o disco psicodélico de Jorge Ben, Tábua de Esmeralda. Para tomar conta de cada um desses discos, artistas de diferentes abordagens. Elis & Tom ficou a cargo do Marco Pereira Trio – um dos grandes conjuntos da nova cena de jazz de São Paulo – ao lado da cantora Luciana Alves e a Tábua de Jorge Ben ficou com o projeto paralelo da Nação Zumbi chamado Sebosos Postizos, que já há anos revisita diferentes músicas do repertório de Babulina nos anos 70.

Os dois shows que vi – dos melhores shows de 2014 – celebravam Cartola e Arnaldo Baptista. Foram shows que intimidaram seus intérpretes. O trio O Terno, liderado pelo filho de Maurício Pereira, Tim Bernardes, ficou responsável pelo mergulho emotivo na obra confessional do ex-Mutante e o rapper Emicida deixou de rimar pela primeira vez para cantar os versos imortais do sambista parnasiano.

O show de Emicida foi um atordoo. Não apenas por colocar o rapper num universo familiar ao seu (o samba) desafiando-o a cantar músicas que fazem parte do DNA do samba. Mas também pelo grupo musical que havia reunido. O desafio, na verdade, foi proposto pelo saxofonista Thiago França, uma das forças da natureza da nova cena musical paulistana. Ele tocou com Criolo e é um terço do Metá Metá, a melhor banda de São Paulo atualmente, além de ter inúmeros projetos paralelos, muitos deles com o compadre Kiko Dinucci, outra usina musical da nova São Paulo. França convocou pesos pesados pra compor o time: da banda de Emicida surrupiou o percussionista Carlos Café, o violonista Doni Jr. e o DJ Nyack. Depois convocou o ás baixista Fábio Sá, o grande Rodrigo Campos para o cavaquinho e guitarra e o próprio Thiago entre o sax, a flauta transversal e outras engenhocas e pedais de efeito.

O resultado foi um show que por vezes soava reverente, mas na maior parte do tempo era abertamente desafiador, levando a obra de Cartola para territórios completamente diferentes – o free jazz, o hip hop mais pesado, a gafieira, um samba mais quadrado e até para releitura quase literais. A curta duração do disco homenageado (pouco mais de meia hora) fez o conjunto estender a homenagem para Adoniran Barbosa (contrapondo “Saudosa Maloca” e “Despejo na Favela” com as desocupações feitas recentemente em São Paulo) e para Candeia (numa versão brutal para “Preciso Me Encontrar”), além do delicioso sambão “Hino Vira Lata”, do próprio Emicida. Um show daqueles de tirar o fôlego.

Dois dias depois era a vez do Terno, no mesmo palco do Sesc Santana, defender sua homenagem ao disco Lóki?, o tocante espasmo emocional traduzido através do piano rock de Arnaldo Baptista, logo que ele saiu dos Mutantes. Um disco de fossa devido ao fim de relacionamento com Rita Lee, mas também um disco de uma psicodelia introvertida, que às vezes sonha alto ou cogita possibilidades impensadas no meio de canções que cortam o coração ao mesmo tempo que provocam sorrisos.

A responsabilidade do Terno não era apenas etária – o guitarrista e vocalista Tim Bernardes deixou seu instrumento em segundo plano para assumir o teclado, mas manteve-se preciso e sem firulas, no mesmo nível de emoção que percorre pelos sulcos do vinil original. O desafio duplo foi vencido com alguma facilidade – mesmo nas músicas tocadas com guitarra, canções feitas originalmente para o piano ganhavam uma desenvoltura de parentesco psicodélico.

Agora é esperar 2015 para ver se (e quais) os artistas do ano passado levarão os shows de 2014 para novos palcos e o que o Radiola Urbana armará para a versão deste ano. “Pensamos em Fruto Proibido (Rita Lee & Tutti Frutti), Horses (Patti Smith), Expensive Shit (Fela Kuti & Afrika 70), Estudando o Samba (Tom Zé)…”, me disse Ramiro, que planeja uma novidade para este ano – voltar 50 anos no tempo em vez de 40. “Aí se virar 65, temos planos malignos e infalíveis para A Love Supreme (John Coltrane), Coisas (Moacir Santos), Highway 61 Revisted (Bob Dylan)…”. De qualquer forma, não tem erro.

Noites Trabalho Sujo apresenta Talco Bells

noites11abril2014

Nossa segunda noite na Rua Augusta recebe duas presenças ilustres, quando Luiz Pattoli, Danilo Cabral e Babee recebem os DJs da antológica festa soul Talco Bells e os hits do mestre carioca Dodô Azevedo – tudo para estabelecer que a melhor sexta-feira de São Paulo agora tem novo endereço, no Da Leoni, o antigo Studio SP. A casa abre às 23h30, vamos lá?

Noites Trabalho Sujo apresenta Talco Bells e Dodô Azevado
Sexta-feira, dia 11 de abril de 2014, a partir das 23h30
DJs: Alexandre Matias, Luiz Pattoli, Babee, Danilo Cabral, Dodô Azevedo e Talco Bells DJs
Da Leoni: Rua Augusta, 591. São Paulo.
R$ 25,00 (entrada) e R$ 60,00 (consumação)
Descontos na entrada pelo email noitestrabalhosujo@gmail.com

Radiola Urbana em 1973

cidadarkside-1

Karina Buhr tocando o primeiro disco dos Secos & Molhados, Cidadão instigado relendo a íntegra do Dark Side of The Moon do Pink Floyd, Céu visitando Catch a Fire do Bob Marley & The Wailers e Fred Zeroquatro apresentando a clássica estréia em disco de Nelson Cavaquinho. É um pequeno festival dos sonhos, mas não é tão sonho assim, pois irá acontecer: a nova encarnação do projeto 72 Rotações, realizado no ano passado pelos compadres do Radiola Urbana, ganha uma versão 2013 e mais uma vez o palco do Sesc Santana recebe nomes da nova música brasileira reinterpretando clássicos com 40 anos de idade, no final de setembro. Os shows do evento 73 Rotações acontecem entre os dias 26 a 29 do mês que vem, sempre às 21h (à exceção do último show, no domingo, às 18h), e conversei com os compadres Ramiro Zwetsch e com o Filipe Luna, capitães tanto do Radiola Urbana quanto do festival, sobre o evento que já pode ser considerado histórico. A entrevista segue abaixo:

 

É HOJE: Trabalho Sujo + Talco Bells @ Trackers

trabalho_talco_bells

O que acontece quando um experimento pop se encontra com os grooves da soul music? Foi pensando nessa conjunção astral que a nova edição da Noite Trabalho Sujo chamou os DJs da Talco Bells para transformar aquele andar mágico no centro de São Paulo em um happening coletivo em prol do alto astral. Nossa acabação feliz do bimestre começa a partir das 23h45 deste sábado, dia 20 de julho, na sede da Associação Brasileira de Empresários de Diversões também conhecida como Trackers (R. Dom José de Barros, 337), no centro da cidade de São Paulo, maior cidade da América Latina. Quem se dispor a conferir ao vivo, basta desembolsar R$ 25 até a 1h da manhã ou R$ 30 a partir deste horário. Sua presença deverá ser anunciada através do email: noitestrabalhosujo@gmail.com até às 20h do dia citado.

Vai ser épico!

Repetindo:
TRABALHO SUJO + TALCO BELLS
DJs: Alexandre Matias, Luiz Pattoli, Babee e Danilo Cabral (Trabalho Sujo); Elohim Barros, Filipe Luna e Bruno Torturra (Talco Bells)
Sábado, 20 de julho de 2013
R. Dom José de Barros, 337, Centro, São Paulo
A partir das 23h45.
Entrada: R$ 25 (até a 1h) e R$ 30 (em diante) apenas com nome na lista através do email noitestrabalhosujo@gmail.com

Trabalho Sujo + Talco Bells @ Trackers

trabalho_talco_bells

O que acontece quando um experimento pop se encontra com os grooves da soul music? Foi pensando nessa conjunção astral que a nova edição da Noite Trabalho Sujo chamou os DJs da Talco Bells para transformar aquele andar mágico no centro de São Paulo em um happening coletivo em prol do alto astral. Nossa acabação feliz do bimestre começa a partir das 23h45 deste sábado, dia 20 de julho, na sede da Associação Brasileira de Empresários de Diversões também conhecida como Trackers (R. Dom José de Barros, 337), no centro da cidade de São Paulo, maior cidade da América Latina. Quem se dispor a conferir ao vivo, basta desembolsar R$ 25 até a 1h da manhã ou R$ 30 a partir deste horário. Sua presença deverá ser anunciada através do email: noitestrabalhosujo@gmail.com até às 20h do dia citado.

Repetindo:
TRABALHO SUJO + TALCO BELLS
DJs: Alexandre Matias, Luiz Pattoli, Babee e Danilo Cabral (Trabalho Sujo); Elohim Barros, Filipe Luna e Bruno Torturra (Talco Bells)
Sábado, 20 de julho de 2013
R. Dom José de Barros, 337, Centro, São Paulo
A partir das 23h45.
Entrada: R$ 25 (até a 1h) e R$ 30 (em diante) apenas com nome na lista através do email noitestrabalhosujo@gmail.com

Baloji no Brasil

Cruzei o Tejo no show do Marginals (ou foi na Arkestra?) e ele me falou que esse Baloji, MC do Congo, está vindo pro Brasil. Saca esse som…

Dias depois o Luna publicou uma entrevista com ele no Caderno 2, confirmando a vinda pro Brasi e definindo o tipo de música que ele faz…

“Toda a música que faço é baseada nessa ideia de que estar entre dois mundos não significa estar perdido. Eu tinha uma educação, um gosto e uma visão de europeu, mas ainda era um negro na Europa. Não dava pra fingir que não existia uma grande diferença. Quando volto ao Congo, também sou diferente por ter vivido na Europa. A maioria de nós tem problemas para voltar à África porque tentam agir como se não fossem.”

Baloji toca nas quatro noites do Festival Internacional de Francofonia, que rola no Sesc Pompéia, no final de março.