Sobre a bolha dos festivais

coachella2014

A Bruna falou com o Ali Hedrick, da agência Billions, sobre uma possível bolha de festivais que vem por aí, a partir do momento em que a quantidade de festivais parece crescer mais do que a quantidade de bandas que fazem sucesso. Um trecho do papo:

“O calendário global de festivais de 2015, publicado pela Pollstar, lista mais de 1.200 eventos em 70 países. É um registro esmagador, ainda assim o guia é incompleto devido ao grande crescimento dessa indústria. E ao mesmo tempo em que surgem oportunidades a cada dia, é ai que o problema começa, pois diversos festivais são pressionados para reservar bandas similares com antecedência e dentro de um prazo limitado, e com esse “desespero”, muitos artistas são capazes de cobrar um preço mais elevado do que eles geralmente cobram para tocar no mesmo mercado. Ou seja, eles cobram mais do que realmente valem (lei da oferta e da procura). Hedrick explica que os grandes festivais já garantem seus artistas para o próximo ano logo que o evento é concluído. E mais do que entre si, estes festivais competem com eventos municipais gratuitos que têm muito mais apelo para as bandas – festas em praças publicas, shows em parques, entre outros. Para um festival conseguir um bom line-up e boa divulgação, precisa começar a organização cedo, mesmo que isso fique caro. Os festivais, além de pagarem os artistas, precisam pagar pelo lugar, mídia, transporte, luz e som, segurança e saneamento.”

A reflexão continua lá no site da Rio Music Conference.

O ingresso de R$ 12.500 e a lógica do “tem quem pague”

Um dos assuntos que pintaram quando o show do Sabbath no Brasil foi anunciado dizia respeito à sua localização – quais seriam os palcos que abrigariam a turnê dos pais do heavy metal? É papo pra estádio, mas em ano pré-Copa e estádios pela metade, as opções são bem restritas – não apenas para o Black Sabbath, mas também para outros artistas de médio e grande porte que podem passar por aqui.

A outra questão que surgiu, claro, diz respeito sobre o preço do ingresso. A discussão sobre o mercado de shows no Brasil, com o cancelamento do Sónar e a transferência do Cure do Morumbi para o Anhembi, voltou à pauta no último mês e, inevitavelmente, cai-se no círculo vicioso que, não importa quanto for o ingresso, “tem quem pague”. Até que chega o Skol Sensation desse ano com um ingresso que custa

RS12500

R$ 12.500. Doze mil e quinhentos reais. Isso é o equivalente a quantos salários mínimos? “Mas é pra seis pessoas”. Ah tá, fica só dois mil e oitenta e três reais por cabeça. E isso não parte de um evento “diferenciado”, em que o clima importa mais que as atrações estrangeiras. Poderia vir num musical da Broadway adaptado para São Paulo e Rio de Janeiro. Num concerto de música erudita ou num show de dance music qualquer. O “tem quem pague” não existe sem o “tem quem cobre” – e neste caso o Skol Sensation ultrapassou a barreira dos cinco dígitos no preço de um ingresso. Infelizmente, não vai parar por aí.

Há quem urubuze e diga que a bolha dos shows internacionais vai estourar e o país vai sair da escala de muitos artistas, caso os cachês diminuam, por exemplo. Sim, há uma bolha financeira, principalmente no que diz respeito ao preço que se paga pelos artistas e aos preços de ingressos repassados para o público, mas isso não significa que os shows internacionais vão parar de acontecer no Brasil, principalmente às vésperas de Copa do Mundo e Olimpíada.

E essa bolha financeira não tem a ver apenas com shows, claro. Tem a ver com ascensão da nova classe C também, mas também tem a ver com o tal “capital cultural” que eu citei outro dia. Mas o principal é essa elite de araque que se mede por dinheiro, que escaneia qualquer pessoa pelas marcas que ela tem ao seu redor, do relógio no pulso ao carro na garagem. Gente que usa o dinheiro para se diferenciar dos outros. Devíamos fazer como sugeriu o Knife naquele quadrinho que linkei ontem – tratar essas pessoas como portadoras de um problema psicológico, uma compulsão psicótica por acumular dinheiro e precificar tudo.

Isso também não é restrito ao Brasil, é um problema mundial. Que tem mudar.