Polimatias: Especial Fernando Pessoa

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Eu e Polly Sjobon nos perdemos nos desertos da alma desta figura enigmática, misteriosa e sedutora que é o grande poeta português Fernando Pessoa. Juntamos nossas experiências pessoais com a obra do gajo para nos aprofundar em seus heterônimos, suas incertezas e suas constatações – e aproveitando para falar sobre nossas conexões lusitanas e comentar sobre a disparidade entre estes dois países em mais uma edição do Polimatias.

Patti Smith lê Fernando Pessoa

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Patti Smith está vivendo um 2015 e tanto: além de excursionar com a íntegra de seu Horses que completa 40 anos, ela está prestes a lançar o livro M Train, que funciona como uma continuação para seu celebrado livro de memórias Só Garotos (que vai virar série). Ela passou por Portugal no final de setembro e, a convite da Casa Fernando Pessoa, visitou a biblioteca particular do autor e também recitou trechos em inglês do gigantesco poema Saudação a Walt Whitman, que Pessoa assinou como Álvaro de Campos.

Esses são os trechos lidos em inglês por Patti Smith em sua versão original:

“Sei que cantar-te assim não é cantar-te — mas que importa?
Sei que é cantar tudo, mas cantar tudo é cantar-te,
Sei que é cantar-me a mim — mas cantar-me a mim é cantar-te a ti
Sei que dizer que não posso cantar é cantar-te, Walt, ainda…

(…)

Para cantar-te
Para saudar-te
Era preciso escrever aquele poema supremo,
Onde, mais que em todos os outros poemas supremos,
Vivesse, numa síntese completa feita de uma análise sem esquecimentos,
Todo o Universo de coisas, de vidas e de almas,
Todo o Universo de homens, mulheres, crianças,
Todo o Universo de gestos, de actos, de emoções, de pensamentos,
Todo o Universo das coisas que a humanidade faz,
Das coisas que acontecem à humanidade —
Profissões, leis, regimentos, medicinas, o Destino,
Escrito a entrecruzamentos, a intersecções constantes
No papel dinâmico dos Acontecimentos,
No papirus rápido das combinações sociais,
No palimpsesto das emoções renovadas constantemente.

(…)

Para saudar-te
Para saudar-te como se deve saudar-te
Preciso tornar os meus versos corcel,
Preciso tornar os meus versos comboio,
Preciso tornar os meus versos seta,
Preciso tornar os versos pressa,
Preciso tornar os versos nas coisas do mundo
Tudo cantavas, e em ti cantava tudo —
Tolerância magnífica e prostituída
A das tuas sensações de pernas abertas
Para os detalhes e os contornos do sistema do universo.”

O vídeo foi divulgado no início da semana passada pela própria Casa Fernando Pessoa. E por que raios ninguém traz o show dessa mulher pro Brasil?