Vida Fodona #836: Aquela vibe que você já conhece

Cá estou.

Ouça abaixo:  

O indie come-quieto de Belo Horizonte

“Eu acho que BH, por não ser uma cidade tão imensa quanto São Paulo, acaba tendo uma convergência de público sempre em locais e contextos específicos”, explica Fernando Motta, um dos principais nomes da nova cena indie da capital mineira, que nos últimos dez anos tem passado por uma transformação considerável. “É uma cidade que não entra tão frequentemente na rota dos grandes shows, principalmente shows de rock, que obviamente não tem sido foco principal de grandes produtoras. Minha teoria é de que talvez isso ironicamente acabe fortalecendo os rolês independentes. Quem se interessa por rock uma hora ou outra se encontra.”

A teoria de Fernando, literalmente às vésperas de lançar um novo disco, Movimento Algum, nesta terça-feira, faz sentido – e o próprio disco é fruto disso, como prova na faixa “Elegia”, que gravou com outra atração de destaque da nova cena, a dupla Paira, que ele liberou para ser ouvida em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. E continua: “Há alguns anos isso acontecia nos shows n’A Obra, ou no Matriz, mas hoje temos um local surgindo com muita força, que é o Estúdio Central, onde a galera tem se juntado, montado bandas e inclusive gravado suas coisas com uma qualidade muito superior ao que a gente conseguia fazer há uns 10 anos, quando era tudo na raça.”

Da geração rock triste que estabeleceu-se na cidade antes da pandemia – da qual Fernando pertence – ao novo contexto pós-pandêmico que traz novos artistas como os próprios Paira e a artista Clara Bicho, há uma nova sonoridade pairando na cena mineira, que aos poucos reúne um novo público e faz a cena da cidade tornar-se cada vez mais presente, não só em termos locais como nacionais, fazendo valer a velha fama mineira de comer pelas beiradas, como se ninguém estivesse vendo – o famoso come-quieto. Motta conta como conheceu a conterrânea: “Eu já conhecia o Dedeco de rolês pré-pandemia e a gente até fazia parte de um grupo de estudos políticos juntos; enquanto a Clara era amiga de outros amigos e, por termos muita empatia e interesses em comum, acabamos virando grandes amigos depois da pandemia, quando as coisas voltaram a fervilhar com um público bem jovem colando muito nos shows”, continua. “A gente estava sempre juntos, fazendo karaokê, tocando muito Beatles e Clube da Esquina no violão”, ri ao fazer pouco do que é um clichê da sonoridade desta cena. “Clichês que podem trazer muita afinidade e ser de grande serventia, nsse contexto, vi a Paira se formar e começar a fazer as primeiras demos e por admirá-los e saber que eles curtiam muito meu som também, fiz essa música já pensando na participação deles, com a delicadeza da voz da Clara e com os ritmos que o Dedeco poderia somar.”

Ouça abaixo: