Quando reuni a sofrência pernambucana ao dance desconstruído paulistano no último Inferninho Trabalho Sujo de maio sabia que, por mais díspares que fossem as experiências ao vivo dos novos discos do Tagore e do Lauiz, havia um ponto em comum nessa formação. Algo que misturava uma sensibilidade fora do comum à necessidade de explorar novos caminhos sonoros atrairia públicos distintos (inclusive no quesito etário), mas prontos para aceitarem-se mutuamente. Dito e feito. Tagore começou a noite celebrando lembranças de sua juventude no início dos anos 90, mostrando principalmente as novas canções do disco Barra de Jangada, feito em homenagem a duas figuras importantes em sua formação que o deixaram recentemente: seu pai, o artista plástico Fernando Suassuna e o guitarrista Paulo Rafael, que tocou no Ave Sangria e acompanhou boa parte da carreira de Alceu Valença. Acompanhado de uma banda formada pelo guitarrista Arthur Dossa, o baixista e principal parceiro musical João Cavalcanti e pelo baterista Arquétipo Rafa, Tagore não só passou o disco recém-lançado como visitou pérolas de seu repertório como a já clássica “Movido a Vapor” e a bela “Olho Dela”, tocada num bis improvisado, como convidou o vocalista do Mombojó, Felipe S, para dividir os vocais do maior hit do mestre Alceu Valença, “Morena Tropicana”. Que vibe boa.
Depois foi a vez de Lauiz mostrar – a caráter, vestido de caubói – o repertório de seu disco lançado nessa sexta, Perigo Imediato. Cantando canções irônicas que perdem o cinismo ao serem desconstruídas num formato indie dance, o produtor dividiu-se entre piadas sem graça (como de praxe), vocais com vocoder e um keytar enquanto seu dupla, o DJ Marquinhos Botas-de-Ferro, disparava bases e tocava guitarra, sempre mantendo a seriedade que contrapunha à autodepreciação promovida pelo vocalista. Com timbres sintéticos que soam simultaneamente cafonas e modernos, os dois mantiveram o público sempre animado, mesmo quando zoavam da própria postura no palco. O show só pecou por ser curto e durou apenas meia hora. Mas o foi o suficiente para deixar o Picles em ponto de bala para que eu e Bamboloki, que estava completando seu primeiro aniversário como DJ, fizéssemos um dos nossos melhores sets, misturando Kasino e Siouxsie & The Banshees, Yo La Tengo e Arrigo Barnabé, Gang of Four e Jonata Doll e os Garotos Solventes. Quem foi sabe.
Encerrando sua temporada Decantar e Decompor no Centro da Terra, Lulina já anunciou que irá reunir as músicas improvisadas pelo tecladista Chiquinho Moreira quando fez os agradecimentos nas quatro segundas-feiras que formaram esta obra em movimento, transformando-as em um EP que marcará este maio de 2023, que viu seu retorno aos palcos depois do período pandêmico com uma banda dos sonhos – além de Chiquinho, o grupo contava com Hurso Ambrifi, Katu Haí, Lucca Simões e Bianca Predieri (esta infelizmente não pode comparecer para encerrar a safra de shows nesta última apresentação). Nesta quarta segunda, Lu convidou Felipe S, vocalista do grupo Mombojó e conterrâneo de bairro da cantora no Recife, com quem dividiu o vocal por duas canções, além de fazer dois duetos com Hurso, baixista e diretor musical desta nova fase, que chegou ao fim com doses de cachaça que a cantora levou para esquentar a despedida.
Que prazer poder abrir o Centro da Terra para uma temporada inteira para a querida Lulina, que aproveitou o convite para rever velhas canções que nunca foram lançadas e canções novas que quem sabe ainda serão no que a cantora e compositora pernambucana chamade “processo de análise intuitiva de células musicais”. Ela visita discos recentes que não foram lançados ao vivo (por motivos pandêmicos), como Vida Amorosa Que Segue e do Wi-Sci-Fi, e trabalhos anteriores como Desfaz de conta e Cristalina em quatro apresentações para matar a saudade dos palcos, sempre acompanhadas de uma banda formada por Hurso Ambrifi (baixo, synths e voz, que também faz a direção musical do projeto), Chiquinho Moreira (synths e MPC), Bianca Predieri (bateria e SPD), Katu Haí (flauta, trompete e synths) e Lucca Simões ((guitarra), e a cada segunda-feira traz um convidado: nesta primeira, dia 8, ela recebe Bruno Morais, no dia 15 é a vez de Fabrício Corsaletti, depois, dia 22, vem Romulo Fróes, e a temporada chega ao fim com a presença de Felipe S, no dia 29. Os espetáculos começam pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados com antecedência neste link.
Abril nem acabou mas já temos a programação de maio do Centro da Terra definida. E quem ocupa das segundas-feiras do teatro é a querida Lulina, com sua temporada Decantar e Decompor, em que visita diferentes momentos de sua carreira com convidados conhecidos de épocas diferentes, trazendo a público inclusive canções que nunca foram lançadas. A temporada começa no dia 8 de maio (pois dia 1°, segunda-feira, o teatro não abre porque é feriado) e a cada dia ela chama um nome diferente para acompanhá-la: no dia 8 ela recebe Bruno Morais, dia 15 é a vez de Fabrício Corsaletti, dia 22 vem Rômulo Froes e Felipe S. encerra a temporada da cantora e compositora pernambucana no dia 29. As terças-feiras de maio estão marcadas por estreias. No dia 2 reunimos a Meia Banda dos cariocas Bruno Manso e Bruno Di Lullo à voz da alagoana Tori, em Murmúrios, o primeiro show desta formação em São Paulo. Uma semana depois, dia 9, é a vez da Rotunda, novo projeto da artista sonora Bella com o músico e produtor Thiago Nassif e o percussionista Cláudio Brito, fazer sua estreia em palcos paulistanos. Dia 16 quem também faz sua estreia em São Paulo é o cantor e compositor Gabriel Milliet, que está preparando-se para lançar seu primeiro disco solo depois de uma temporada na Europa, com o espetáculo Longe de Casa. Dia 23 é a vez do quarteto de cordas Risco, formado por Carla Raiza (viola), Erica Navarro (violoncelo), Mathilde Fillat e Mica Marcondes (violinos), mostrar a mistura de música erudita e popular proposto por estas musicistas na apresentação Cor da Corda. E, finalmente, dia 30, Manu Pereira faz sua estreia musical ao trazer suas Epifanias Noturnas para o palco do Centro da Terra. E como se não bastasse tudo isso, às quartas-feiras seguimos com a programação de cinema em parceria com o festival de documentários sobre música In Edit, que preparou uma seleção sensacional: no dia 3 exibiremos Adoniran – Meu Nome É João Rubinato, de Pedro Serrano, sobre o maior nome do samba paulistano; dia 10 é traremos Onildo Almeida – Groove Man, de Helder Lopes e Cláudio Bezerra, sobre um dos maiores nomes da história do baião, que relembra suas histórias; dia 17 é a vez A Música Natureza de Léa Freire, de Lucas Weglinsk, sobre uma das maiores compositoras do Brasil, que, mesmo sendo comparada a Villa-Lobos, Tom Jobim ou Hermeto Pascoal nunca teve sua reputação festejada como deveria; e no dia 24 vem Pipoca Moderna, de Helder Lopes, que conta a história de Sebastião Biano, líder e único remanescente da formação original da Banda de Pífanos de Caruaru. Os espetáculos começam sempre às 20h e os ingressos já estão à venda neste link.
Em uma entrevista a convite do programa Radar Sonoro, do Sesc Pinheiros, pude conversar em vídeo com o vocalista do Mombojó, Felipe S., sobre como seu projeto mais recente, Deságua, foi impactado pela quarentena – e aproveitamos para falar como ele vem atravessando este período.
Que satisfação receber o cantor e compositor pernambucano Felipe S., vocalista do grupo Mombojó, que está terminando de fazer seu segundo disco solo e começa a mostrá-lo nesta terça, dia 2 de março, no Centro da Terra. Ele apresenta o que chama de um “teste cego” ao apresentar o Notícias Recentes, mostrando, em sua maioria, canções que nunca foram apresentadas ao vivo. Para isso, ele recebe a presença de alguns convidados, artistas com quem vem trabalhando, como a cantora Barbarelli, o slammer Lucas Afonso e o tecladista Bruno Bruni. Felipe é acompanhado pela banda formada por Arthur Dossa (guitarra), Habacuque Lima (baixo), Rafael Cunha (bateria), Iran Ribas (baixo) e Julio Epifany (bateria) e eu bati um papo com ele sobre o que esperar desta apresentação.
A programação de fevereiro do Centro da Terra invade o próximo mês quando Beto Villares encerra a sua temporada Amostras Emocionais no dia 2 de março, mostrando pela primeira vez seu novo disco, Aqui Deus Andou, ao vivo. No dia seguinte, na terça, dia 3, Felipe S., vocalista do Mombojó, começa a mostrar músicas inéditas no espetáculo Notícias Recentes (mais informações aqui), quando divide o palco com nomes como Habacuque Lima, Bruno Bruni, Barbarelli, entre outros. Na outra segunda, dia 9, é a vez do produtor e percussionista Guilherme Kastrup começar a temporada Feminino Fatorial (mais informações aqui), quando convida as artistas visuais Edith Derdik e Carol Shimeji, as percussionistas Beth Belli e Jackie Cunha e a dançarina Morena Nascimento para um espetáculo contínuo, que vai mudando a cada nova segunda-feira. A programação do mês se encerra com chave de ouro, quando mais uma vez recebemos a deusa Juçara Marçal para recriar seu Encarnado no palco do Centro da Terra, só que em versão acústica (mais informações aqui), convidando Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Thomas Rhorer para recriar este marco da música brasileira deste século ao vivo. Que mês!
O vocalista do Mombojó Felipe S. apresenta seu trabalho solo Cabeça de Felipe nesta quinta-feira no Centro Cultural São Paulo (mais informações aqui), que terá participações especiais de Alessandra Leão, China e Ayrton Montarroyos.
Estes são os 25 brasileiros escolhidos na categoria melhor disco do primeiro semestre deste ano pelo júri da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), do qual faço parte.
Aláfia – SP Não é Sopa
Boogarins – Lá Vem a Morte
Corte – Corte
Criolo – Espiral de Ilusão
Curumin – Boca
Do Amor – Fodido Demais
Domenico Lancellotti – Serra dos Órgãos
Don L – Roteiro Pra Aïnouz vol.3
A Espetacular Charanga do França – Chão Molhado da Roça
Felipe S. – Cabeça de Felipe
Giovani Cidreira – Japanese Food
Hamilton de Holanda – Casa de Bituca
João Donato + Donatinho – Sintetizamor
Juliana R – Tarefas Intermináveis
Kiko Dinucci – Cortes Curtos
Lucas Santtana – Modo Avião
Luiza Lian – Oya Tempo
Matéria Prima – 2Atos
Mopho – Brejo
My Magical Glowing Lens – Cosmos
Rincon Sapíencia – Galanga Livre
Rodrigo Campos – Sambas do Absurdo
Trupe Chá de Boldo – Verso
Vermes do Limbo + Bernardo Pacheco – Berne Fatal
Zé Bigode – Fluxo
Muita coisa boa sendo lançada este ano – e vem mais coisa boa neste semestre. O júri é composto por mim, José Norberto Flesch e Marcelo Costa e no segundo semestre escolheremos mais outros 25 discos. O Pedro antecipou a lista e publicou os links para ouvir os 25 discos em seu blog no Estadão.
Duas horas de programa misturando músicas velhas e hits recém-lançados de 2017…
Jetta – “I’d Love to Change the World (Matstubs Remix)”
Spoon – “Hot Thoughts”
Felipe S – “Anedota Yanomami”
Chaz Bundick + The Mattson 2 – “Star Stuff”
Xx – “Too Good”
Arctic Monkeys – “Cornerstone”
Boogarins – “Tempo”
Flaming Lips – “Sunrise (Eyes of the Young)”
Garotas Suecas – “Bucolismo”
BaianaSystem – “Invisível”
MC Beijinho – “Me Libera Nega”
Amadou + Mariam – “Ce N’est Pas Bon (A JD Twitch edit)”
Akase – “Under the Pressure”
Nicolas Jaar – “Killing Time”
Pink Floyd – “Pigs (Three different Ones)”
Television – “Marquee Moon”
Stephen Malkmus + The Jinks – “Real Emotional Trash”
Wilco – “Impossible Germany”
Warpaint – “Heads Up”
Lô Borges – “Faça Seu Jogo”
Kiko Dinucci – “Uma Hora da Manhã”
Rakta – “Raiz Forte”
Coruja BC – “Modo F”
Flora Matos – “Quando Você Vem”
Mahmundi – “Meu Amor”
Abaixo a versão do Spotify, com menos músicas.