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A última vez do Planet Hemp?

Não foi brincadeira o que o Planet Hemp fez em seu show de despedida neste sábado, no estádio do Palmeiras. No mesmo ano em que celebram os 30 anos de seu disco de estreia, o grupo decide pendurar as chuteiras no maior show que fizeram em sua carreira e foi impressionante ver que o estádio lotar para compartilhar a Última Ponta (título do show) com eles. O show começou com vinte minutos de dados históricos que misturavam eventos da história recente do Brasil (da ditadura militar ao plano Collor), eventos ligados à maconha no país e a história do próprio Planet Hemp, que só aumentou a expectativa para o início do show, incendiada pelo grupo com “Dig Dig Dig (Hempa)”, “Ex-Quadrilha da Fumaça”, “Fazendo a Cabeça” e “Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga”, pesando a mão desde a introdução. E por mais que estejamos acostumados às presenças de Marcelo D2 e BNegão, vê-los juntos no palco ergue suas personalidades para um outro patamar – estamos vendo super-heróis, personagens de desenho animado e protagonistas históricos bem na nossa frente, com suas personalidades opostas e complementares. Isso aumenta ainda mais quando vemos quem são os músicos que estão ao redor deles – de Daniel Ganjaman nos teclados aos DJs Castro e Zégon, além do fundador Formigão e os jovens Planet Pedrinho e Nobru, é um supergrupo carismático no nível do Parliament/Funkadelic – tornando a noite ainda mais emotiva. Entre rodas gigantescas de pogo, celebração a grandes compadres de sua história (da casa de shows Garage a Chico Science) e densas nuvens de fumaça branca, a apresentação se estendeu por mais tempo que deveria – duas horas e meia de show é tempo pacas, ainda mais depois de mais de uma hora de BaianaSystem – mas veio com uma carga de emoção que até o fã mais enlouquecido da banda não estava preparado. E nem estou falando das participações de João Gordo (no bis), Seu Jorge (que tirou onda ao tocar flauta na instrumental “Biruta”), Emicida e Pitty (estes dois últimos vislumbrando eles mesmos fazer seus próprios shows em estádio), mas da presença-surpresa do próprio Mister Niterói, Gustavo Black Alien, que vem passando por uma má fase e por isso não esteve na turnê final do grupo. O anúncio da presença de Gustavo só não foi o melhor momento da noite porque logo em seguida o próprio começou a rimar, reforçando ainda mais o aspecto mitológico, uma vez que três dos principais MCs do Brasil estavam juntos no mesmo palco depois de tanto tempo. A vibração do sábado terminou tão alta que acho pouco provável que este seja mesmo o último show do grupo. Devem tirar um tempo pra descansar mas mostrando, nesse sábado, que o Brasil tem seu Rage Against the Machine pronto para entrar na briga. É só chamar.

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BaianaSystem gigantesco

A noite era do Planet Hemp, mas o BaianaSystem apavorou na abertura do show A Última Ponta, em que os veteranos rappers do Rio de Janeiro despediram-se dos palcos no sábado passado. Recém-chegado dos Estados Unidos com um Grammy Latino no bolso, o grupo baiano pisou no palco do estádio do Palmeiras como se fosse a atração principal. Num show multimídia com direito a banda completa – incluindo sopros -, o grupo não se intimidou com as dimensões gigantescas da noite e fez um show à altura, casando sua usina de som com imagens e palavras de ordem no telão da noite. E mais impressionante do que a química entre os músicos, sua intimidade com as multidões e o dínamo humano chamado Russo Passapusso (de onde esse cara consegue tirar tanta energia e carisma ao mesmo tempo?) foi a forma como casou imagens com músicas sem precisar enfileirar inúmeros dados ou informações verborrágicas sem deixar o público esquecer que está num show (viu Massive Attack?). Com participações especiais de ouro (BNegão, velho companheiro da banda desde os primórdios, esteve no início do show, que ainda contou com a presença fulminante do sagaz Vandall em “Ballah de Fogoh”), o grupo não teve dificuldades em domInar a plateia fazendo todo mundo chacoalhar sem parar alem de, o tempo todo, saudar a importância do Planet Hemp em sua história, usando o grupo como deixa pra um dos momentos mais bonitos e intensos da noite, quando, no meio de “Lucro (Descomprimido)”, Russo invocou a imortal “Cadê o Isqueiro?” de Mr. Catra convocando todos a erguerem suas tochas – mas não os celulares e sim os isqueiros – fazendo milhares de chamas amarelas surgirem no meio do público em vez das luzes brancas das telas de celular, tão comuns nos shows atualmente – e com elas a névoa branca. Foi o maior e mais intenso show do BaianaSystem que vi – e mostram que eles já estão prontos para uma nova fase. E não tocaram “Playsom”! Só vem!

#baianasystem #allianzparque #trabalhosujo2025shows 264

Bad Bunny no Brasil?

Bad Bunny no Brasil? O Twitter do Allianz Park publicou a foto dessas duas cadeiras de plástico na frente do estádio perguntando se o jovem Benito Antonio teria alguma coisa a ver com isso. Vem aí?

Veja abaixo:  

Dois irmãos

Foi histórica a apresentação que Caetano Veloso e Maria Bethania fizeram neste domingo no estádio do Palmeiras, quase encerrando a grandiosa turnê que os dois irmãos montaram para celebrar sua parceria e trajetória em quase duas horas ininterruptas com quatro dezenas de canções, mas ficou faltando um tanto para que ela se tornasse épica à altura das duas carreiras. O repertório irregular parecia mais privilegiar temas caros às duas biografias do que seus principais sucessos, escolhendo músicas que o público não conhecia para abordar assuntos como Bahia, terreiro, Mangueira ou Gal Costa do que passar por músicas emblemáticas das carreiras dos dois (até agora não me conformo de não ter ouvido Caetano cantar “Maria Bethania” que compôs no exílio em Londres para a irmã ao lado da própria). E escolhas menos óbvias não chegaram a acrescentar tanto à noite, embora certamente Caetano tenha justificativas apolíneas para tais opções – e por mais que “Gita” de Raul Seixas (por quê?), “Vaca Profana” e a versão para a o hit “Fé” da novata Iza soem deslocadas, nada justifica a inclusão da horrorosa “Deus Cuida de Mim”, louvor gospel crente que parece mais uma caricatura de música do que uma bela canção (não é possível que não haja uma música evangélica melhorzinha para referendar a improvável celebração de Caetano à ascensão dessa corrente religiosa no Brasil). Felizmente logo em seguida Bethania veio com uma sequência de pérolas que ergueu a noite ao status que esperávamos ao enfileirar “Brincar de Viver” com “Explode Coração”, “As Canções Que Você Fez Pra Mim” e “Negue”, mostrando porque é uma das grandes damas da canção brasileira esbanjando voz e carisma. Caetano também estava bem e teve seus momentos (como a versão para “Você é Linda” irretocável), mas nenhum tão catártico quanto tal sequência da irmã. A noite terminou com a celebração familiar “Reconvexo”, que foi emendada como “Tudo de Novo”, uma passagem rápida por “Sampa” e uma “Odara” versão discoteca que embalou bem o público na saída. Mas fora a citada sequência de músicas de Bethania, durante todo o resto do show fiquei pensando na surra de hits que Gil dará em sua versão estádio no ano que vem (mesmo que nos entube os projetos dos mil filhos). Ficou um gostinho de quero mais…

Assista abaixo:  

Agora e sempre

Chega um momento em que as pessoas parecem desdenhar do privilégio que é receber Sir Paul McCartney cada vez mais no Brasil. Piadinhas que falam sobre o número de seu CPF ou a casa que comprou no litoral paulista fazem parecer que o ex-beatle é um artista decadente que sobrevive fazendo shows em países subdesenvolvidos. Nada mais distante da realidade: Paul frequenta o Brasil constantemente há mais de dez anos porque descobriu que tem um público fiel e cativo no país, que vai assisti-lo sempre. E mesmo que só tenha atinado para isso no que muitos vão assinalar como “fim de carreira”, encantou-se com o país que conheceu ainda na última década do século passado, quando fez dois shows no Rio de Janeiro (em 1990, no Maracanã) e em São Paulo (em 1994, no Pacaembu, minha estreia em uma de suas apresentações). Nove shows depois daquele histórico momento no Pacaembu, cá estou eu mais uma vez lendo o setlist antes de começar meu décimo show do Paul McCartney, e me perguntando se ele faria alguma alteração no repertório que vinha apresentando. As mudanças foram mínimas. O show foi idêntico ao último que fui, em dezembro do ano passado, no mesmo estádio do Palmeiras, sob chuva de canivetes, mas havia surpresas: “All My Loving” tocada pela primeira vez ao vivo desde a pandemia, a estreia de “Day Tripper” nesta turnê e, claro, a rendição de “Now and Then”, última música lançada pelos Beatles, no ano passado. E esse pequeno detalhe final foi a pedra solta no dique das emoções, me fazendo chorar copiosamente como há muito não havia chorado num show do senhor McCartney. E mesmo saudando sua esposa atual (em “My Valentine”) e a anterior (em “Maybe I’m Amazed”), seus colegas falecidos de banda (John em “Here Today”, George em “Something”) e tendo mais de dois terços da apresentação dedicadas à maior banda de todos os tempos, Paul reforçava o tempo em que estamos vivendo, seja fazendo piadinhas infames em português, atiçando o público para cantar junto e repetindo várias vezes o nome do país e da cidade em que estava (sem tomar um mísero copo d’água nas quase três horas de show que fez). A voz por vezes falha, mas segue tocando muito tanto guitarra, piano e baixo – além do indefectível assobio. “Meu tempo é hoje”, parece sublinhar citando outro Paulo, mesmo nadando num mar de nostalgia. Não por acaso termina o show citando nominalmente os músicos e sua equipe, ignora seu grande hit “Yesterday” e despede-se dizendo “até a próxima!”. Estaremos lá – agora e sempre.

Assista abaixo:  

Lauryn Hill vem ao Brasil pro aniversário de 50 anos da Chic Show

Nossa senhora essa notícia! Não bastasse a célebre marca de meio século de existência da clássica festa black paulistana Chic Show ser comemorada em grande estilo com um festival em um estádio, o evento ainda contará com as presenças de Lauryn Hill, Wyclef Jean (dois terços dos Fugees, vem também Will I.Am!) e Yg Marley, Mano Brown, Jimmy “Bo” Horne, Criolo, Sandra Sá, Rael e os DJs Luciano, Preto Faria e Grandmaster Ney. A festa absurda acontece no dia 13 de julho no estádio do Palmeiras e os ingressos começam a ser vendidos na segunda que vem neste link.

Veja o flyer abaixo:  

Paul n’água

“Well, the rain exploded with a mighty crash…” Caiu um temporal daqueles (você não tá entendendo…) e o show é igualzinho a todos os outros (tirando as infames intervenções de tiozão – ou vovôzão – em português), mas nem por isso menos maravilhoso. O calor no coração de todos aqueceu a alma dos presentes, encharcados mesmo de capa de chuva. É sempre bom ver o Paul McCartney ao vivo, ainda mais agora que os boatos sobre sua aposentadoria têm aumentado consideravelmente, e o show deste domingo não foi diferente: emocionalmente intenso, ainda teve espaço para lágrimas em “Maybe I’m Amazed”, “Band on the Run”, “Something”, “Here Today”, e no dueto virtual com John Lennon em “I’ve Got a Feeling”. Vai Paul!

Assista aqui:  

Sem poupar alvos

Roger Waters encerrou a perna brasileira de sua primeira turnê de despedida neste domingo, no estádio do Palmeiras, quando celebrou seus 80 anos em ótima forma ao misturar o repertório pós-Dark Side of the Moon do Pink Floyd com algumas músicas solo e ticar em praticamente todos os itens da esquerda no século 21 no espetáculo audiovisual que acompanhou o show. A apresentação já começou com esse tom no talo, em uma mensagem no telão em que o próprio Roger mandava quem acha que sua antiga banda não falava de política para fora do show. E como o assunto não é (apenas) política institucional, o velho inglês fez das suas ao abrir o show com um dos principais números de sua antiga banda, “Comfortably Numb”, retirando cirurgicamente (e politicamente) um dos grandes momentos do hino à dor, o solo de guitarra feito pelo ex-amigo David Gilmour. Isso não chegou a comprometer o show, mas é meio triste ver que Waters prefere se referir à antiga banda apenas no período de 1973 em diante, quando tornou-se o único letrista. E por mais que se refira ao fundador da banda, seu amigo de infância Syd Barrett, de forma tenra, é chato não ouvirmos músicas que o grupo fez antes do disco que completa meio século neste 2023. Em vez disso, tome músicas do The Wall e até uma do último disco do grupo, o fraco The Final Cut. Mas por outro lado, fomos presenteados com uma apoteótica versão de “Sheep”, a íntegra do lado B do Dark Side (mas sem “Time”? Pô) e quase todas do Wish You Were Here, enquanto o telão misturava o imaginário que o grupo criou nos anos 70 com animações e frases de efeito, que Roger Waters disparava sem poupar alvos – até Barack Obama apareceu no telão como “criminoso de guerra” (como todos os presidentes dos EUA desde Reagan), mas não falou nada sobre os líderes de seu país, Benjamin Netanyahu (embora tenha falado sobre o genocídio palestino constantemente) ou talvez uma alfinetada em seu desafeto local. Por outro lado, citou George Floyd e Marielle Franco, fez porco e ovelha infláveis passearem pelo estádio e segurou um showzaço de mais de duas horas – que certamente não será o último que fará por aqui. Toca “Dogs” na próxima, Roger!

Assista aqui:  

Todo o show: Radiohead em São Paulo, abril de 2018

soundhearts-radiohead

O projeto Soundhearts juntou vídeos feitos por fãs que estiveram no dia 22 de abril do ano passado no estádio do Palmeiras para registrar o segundo show que o Radiohead fez em São Paulo, quase dez anos depois do primeiro, em 2009. O resultado é um mergulho multicâmera naquele que foi sem dúvida um dos melhores shows da década na cidade.

https://www.youtube.com/watch?v=ywX202-fx6o

Coisa fina. Olha o setlist:

“Daydreaming”
“Ful Stop”
“15 Step”
“Myxomatosis”
“You And Whose Army?”
“All I Need”
“Pyramid Song”
“Everything in Its Right Place’
“Let Down’
“Bloom”
“The Numbers’
“My Iron Lung”
“The Gloaming”
“No Surprises”
“Weird Fishes/Arpeggi”
“2 + 2 = 5”
“Idioteque”

Primeiro bis

“Exit Music (For A Film)”
“Nude”
“Identikit”
“There There”
“Lotus Flower”
“Bodysnatchers”

Segundo bis

“Present Tense”
“Paranoid Android”
“Fake Plastic Trees”